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Neste sentido, é importante evidenciar que a prática da carcinicultura é altamente poluidora causando um nível de degradação ambiental muito alto, além do mais, é uma iniciativa privada que utiliza um bem

A construção das experiências da Agenda 21 Local em Florianópolis e da Lagoa de Ibiraquera

DATA LOCAL 9/10/99 Região

41 Neste sentido, é importante evidenciar que a prática da carcinicultura é altamente poluidora causando um nível de degradação ambiental muito alto, além do mais, é uma iniciativa privada que utiliza um bem

ambientais. A atuação da FATMA neste processo não foi convincente, pois a mesma considerou que a água que retornava dos tanques para a lagoa podia ser considerada isenta de material poluente.

Assim, para resolver o impasse, representantes das comunidades localizadas no entorno da lagoa mobilizaram-se no âmbito do Fórum da Agenda 21 Local. De acordo com Fabiano (2004), o processo movido pelo Ministério Público apontou que o empreendimento estava funcionando de maneira irregular e dispondo, além disso, da conivência da FATMA (órgão licenciador estadual), que concedeu o licenciamento ambiental. O desfecho do caso foi resolvido mediante uma Ação Civil Pública acionada pelo Ministério Público Estadual e o embargo da empresa.

Outras questões polêmicas também foram debatidas no âmbito do Fórum, tais como o caso do loteamento Rosa Norte e o caso da Praia Vermelha.

O loteamento Rosa Norte recebeu licenciamento da FATMA e foi aprovado pela Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (no município de Imbituba não existe um Sistema Municipal de Meio Ambiente). No entanto, o IBAMA apontou irregularidades no empreendimento que estava sendo construído em área de preservação ambiental (GOULART, 2005:38).

O caso da Praia Vermelha diz respeito a um empreendimento pertencente ao Grupo Gerdau que teve o acesso à praia vetado por este grupo. O livre acesso à praia era impedido por muros, portões e seguranças particulares. Neste contexto, a Associação Comunitária Ibiraquera Gramense – ACIG com o apoio do Fórum, conseguiu por meio de um acordo em audiência de conciliação, que o acesso fosse liberado a população em geral.

3.3.4 – Contexto atual do Fórum da Agenda 21 Local

Atualmente, este espaço público participativo agrega grupos de trabalho, que têm como atribuição a construção de propostas para o local de acordo com suas especificidades. São três grupos de trabalho: Saúde e Educação, Cultura e Saneamento, Pesca e Turismo buscando em seu horizonte a preocupação com a qualidade de vida dos moradores, tendo em vista sua relação com a lagoa.

O primeiro grupo de trabalho teve seu início com discussões na área da educação. Cabe evidenciar que, nesses três anos na área, o Núcleo de Meio Ambiente e Desenvolvimento – NMD, já prestou assessoria técnica para capacitação de professores vinculados a rede pública de ensino local em educação para o ecodesenvolvimento42 (FREITAS, 2003).

Os grupos temáticos da Saúde, assim como da Cultura e o Saneamento, iniciaram suas atividades com a aprovação do projeto pelo Fundo Nacional de Meio Ambiente, onde se pretende fazer um diagnóstico da saúde do pescador, das mulheres da comunidade e do sistema público de saúde.

Com relação ao Grupo de Trabalho da Cultura, está previsto a produção de um vídeo documentando a Memória Social da Pesca e a confecção de cartilhas acerca da cultura da pesca na região.

No que diz respeito ao Grupo da Pesca, este é talvez o que tem mais necessidade e dificuldade de se estruturar por fatores tais como: dificuldades de comunicação e a falta de uma cultura de diálogo entre os pescadores com os demais interessados para

42 Já foram realizados dois cursos - 45 horas/aula - para os professores da Escola da comunidade de Ibiraquera, um curso - 16 horas/aula - para os alunos da Escola da comunidade de Araçatuba, um curso - 16 horas/aula - para os professores da comunidade de Alto Arroio e Arroio e um curso - 16 horas/aula - para os professores da comunidade de Araçatuba (Freitas, 2003).

resolução dos problemas. Há em geral, uma cultura de clientelismo, onde os políticos tradicionalmente resolvem os problemas a través da troca de votos nas eleições (AVELLAR, 1993).

Por outro lado, o Grupo do Turismo pretende realizar um convênio com o Departamento de Turismo da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), o qual vai utilizar o local como um campo de estudos. Existe a intenção de se pensar em atividades de ecoturismo ou turismo rural, ou seja, alternativas ao turismo de massa até agora realizado no local.

É importante ressaltar que, mesmo não havendo uma participação efetiva do poder público neste processo, pois como já foi evidenciado, o prefeito nega apoio para esta iniciativa, o Fórum proporcionou um diálogo mais efetivo entre as instituições do entorno da Lagoa de Ibiraquera.

Em síntese, o Fórum desencadeou diversos resultados positivos para a melhoria das condições de vida destas comunidades, tais como: a criação da Associação de Pescadores da Lagoa de Ibiraquera – a ASPECI; realizou cursos sobre educação ambiental para professores das Escolas de Araçatuba, Alto Arroio, Sambaqui e Ibiraquera e, no que diz respeito ao caso da fazenda de camarão Lagamar, depois de muitas discussões, por um pedido feito pelo Fórum ao Procurador da República, o Juiz determinou que a fazenda fosse fechada até que se ponha de acordo com as exigências do CONAMA, fazendo um estudo de impacto ambiental. Esse ocorrido fortaleceu a credibilidade do Fórum frente às comunidades, ao poder público e ao setor privado como espaço de discussão dos problemas da lagoa e de construção de propostas.

Recentemente vem sendo discutido - nas reuniões do Fórum - uma alternativa de desenvolvimento sustentável para a área tendo os recursos pesqueiros como tema gerador através da implementação de uma Reserva Extrativista (RESEX) na Lagoa.

Como este assunto ainda é novo no âmbito do Fórum, um dos entrevistados comentou que:

Em todas as reuniões, a gente aproveita sempre para esclarecer uma coisa aqui e outra ali, como por exemplo, agora a idéia de transformar a Lagoa de Ibiraquera numa RESEX. Se tiver uma lei para normalizar todas as fossas e outras coisas mais. Por isso este tema da RESEX está sendo bem complicado porque muita gente não sabe o que isso implica e daí é uma questão de esclarecimento. O que isso vai trazer de benefícios para a comunidade, problemas, existem leis já elaboradas para área de marinha e que não estão sendo aplicadas. A gente sabe que não pode parar o crescimento de Ibiraquera, mas a gente sabe que estas leis não estão sendo aplicadas (Entrevista realizada em 2004).

Neste sentido, o Fórum teria o papel de um comitê responsável pela organização da RESEX, posto que as regras para seu funcionamento não são previamente definidas por lei (FREITAS, 2004).

Por fim, na Reunião da 21ª Plenária realizada no dia 27 de novembro de 2004 houve a eleição da nova diretoria que foi formada exclusivamente pelas principais lideranças locais, pois a partir desse momento, a Universidade, que teve um papel importante na construção do Fórum se retirou da diretoria, evidenciando, portanto, uma maior autonomia do Fórum.

A construção de espaços públicos democráticos: As Agendas 21 Locais