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Impostação vocal 1 Respiração

4. O PROFESSOR DE CANTO COMO PREPARADOR VOCAL EM AULAS DE CORO

4.1. Preparação corporal e vocal

4.1.2. Impostação vocal 1 Respiração

No decorrer das aulas, no que respeita à preparação da técnica vocal, deve-se realizar exercícios respiratórios, explicando verbalmente a anatomia e fisiologia do aparelho respiratório. Assim se vai interiorizando a teoria de forma experiencial. É importante que o preparador vocal ou maestro, através de exemplos práticos, exemplifique os mesmos, localizando as questões anatómicas no seu próprio corpo, desafiando, de seguida, os elementos do coro a fazerem o mesmo. “ [...] o perfeito funcionamento do mecanismo de expiração durante o ato de cantar [...] o enchimento dos pulmões expande o diafragma que é uma membrana elástica. Cria-se, neste instante, uma energia em potencial, pronta para produzir trabalho. No momento seguinte, inicia-se a expiração com fonação e pode ocorrer o canto. Cabe ao cantor controlar o esvaziamento do ar dos pulmões que é conseguido pelo retorno do diafragma à posição de repouso, controle possível graças ao uso da musculatura abdominal” (Martinez, 2000, p. 185).

Relativamente ao ato de inspirar e expirar Nelson Mathias explica que mais importante que inspirar é saber expeli-lo (expirar), “Na inspiração se produz o aumento da caixa torácica, e na expiração a diminuição” (Mathias, 1986, p. 34).

O ato da respiração trata-se de um movimento involuntário do ser Humano. Na prática do canto, existe uma imposição da vontade humana sobre o ato espontâneo do ritmo da respiração.

Raquel Coelho refere ainda que a errada utilização do ar provoca, em grande parte dos cantores, sensação de falta de ar, levando à dificuldade da sustentação respiratória. A principal problemática de quem exerce a função de cantor não está na inspiração, mas sim na expiração. Esta conclusão leva-nos a procurar duas opções de resolução do problema.

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Inicialmente, torna-se necessário internalizar a confiança de que o ar inspirado é sempre suficiente e a quantidade de ar necessária para viver, é menor do que aquele que habitualmente está enraizado na cultura da sociedade atual.

Uma inspiração correta não se trata de proceder à sucção do ar, mas sim, permitir que ele entre nos pulmões, consequência da elasticidade da região do diafragma, da abertura da glote e vias respiratórias superiores e ainda devido à postura correta. (Coelho, 1994). Seguidamente, é importante que o cantor perceba a relevância da utilização do ar inspirado, tanto para reserva vital, quanto para produzir pressão necessária na produção e projeção do som. A pressão é controlada pelo diafragma. “Na respiração vital, após o repouso inspiratório, o diafragma sobe e empurra o ar para fora. Na respiração vocal, esse retorno precisa ser dominado e controlado” (Coelho, 1994, p. 36).

A postura correta, segundo Raquel Coelho, vai tornar possível ao cantor o apoio correto e a respiração adequada para o canto. A autora baseia-se na ideia de “eutonia muscular” método de auto-desenvolvimento, proposto por Gerda Alexander.1

“Eutonia é um neologismo que define o estado de tonicidade muscular em que a tensão é agradável e elástica, dando ao músculo um estado de prontidão para a finalidade a que se destina. Apoio, portanto, é o controle elástico e consciente da força retrátil passiva e espontânea do movimento de elevação do diafragma ao promover a expiração, e é conseguido, pelo domínio de seus antagônicos – os músculos abdominais e intercostais – com a finalidade de manter o equilíbrio da coluna de ar e aplicá-la à fonação” (Coelho, 1994, p. 37).

4.1.2.2. Articulação

A importância do estudo da articulação está no fato de se ter ou não uma boa pronúncia, na hora de transformar a letra de uma música em som. Estes mecanismos naturais do nosso corpo são: laringe, faringe, língua, maxilar, palato mole ou duro e lábios.

É de vital importância para o bom êxito de uma performance, entende-se claramente o texto que o cantor está a executar quando canta. O estudo da articulação permite-nos melhorar e facilitar o uso dos mecanismos que são responsáveis pela

1 Professora de dança, fundadora da primeira escola de Eutonia, bem como autora da conhecida Técnica

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pronúncia. Para Coelho o termo “articulação” “(...) denota a clareza da interpretação musical inteligente veiculada pela separação equilibrada e coerente do trecho musical em pequenas unidades” (Coelho1994, p. 43).

4.1.2.3. Ressonância

Relativamente ao ponto referente à ressonância, e citando ainda Raquel Coelho, ficamos a saber que no fundo a ressonância se refere ao aproveitamento das cavidades de ressonância do ser humano, tais como, ressonadores faciais (seios da face, boca, interior do crânio) e ressonadores do corpo (interior da laringe, peito). É extremamente importante realizar um trabalho vocal nos alunos, seguindo este conceito, e efeito para a boa qualidade do timbre, do volume e da projeção da voz. “(...) as ressonâncias de peito são úteis para a auscultação clínica do tórax, mas jamais para a fonação... tanto os sons agudos quanto os graves devem ser projetados para cima, na direção das cavidades de ressonância supraglóticas, pois somente estas conferem consistência e rendimento sonoro resguardando a saúde vocal” (Coelho, 1994, p. 60). Raquel Coelho, aponta, ainda, premissas básicas sobre a ressonância para o cantor, tais como, a aquisição da postura, a respiração, a articulação, construção dos espaços ressonadores, a perceção do cantor com o seu corpo, como um instrumento musical e o seu timbre individual, o saber da “voz da máscara”. “Determinados fonemas, quando devidamente modelados e emitidos sobre a sensação de bocejo, parecem veicular maior energia que outros: são, portanto, mais adequados para o estudo dos ressonadores.” (Coelho, 1994, p. 63).

4.1.3. Vocalizos

Já se discutiu vários aspetos importantes para a atividade coral, mas certamente um dos mais importantes é certamente a preparação vocal e a aquisição da unidade de grupo na sua emissão vocal. Para tal, julgo ser preciso encontrar um resultado sonoro único entre todos os coralistas, de forma equilibrada, dentro da diversidade das suas características de naipe.

Alguns teóricos, como Nelson Mathias, intitulam os vocalizos como “Exercícios básicos para impostação da Voz” (Mathias, 1986, p. 53). No entanto, Raquel Coelho

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apresenta, para a criação de um vocalizo, alguns aspetos básicos, para a realização dos mesmos, tais como: exercitar uma dificuldade nova de cada vez, sendo elas de extensão, ressonância, articulação, duração e expressividade. O principal objetivo de um vocalizo é exercitar e desenvolver possibilidades técnicas da habilidade vocal, sendo estes de aquecimento vocal ou de virtuosidade. Os vocalizos de aquecimento normalmente concentram-se em exercícios para a voz média, sendo o seu foco de trabalho as articulações e a ressonâncias. Os vocalizos de virtuosidade conferem importância à extensão e à agilidade vocal. Estes devem vir precedidos de vocalizos de aquecimento, e são mais adequadas para os momentos de ensaio e estudo, do que, antecedentes aos concertos (Coelho, 1994, p. 68).

Os exercícios iniciam-se numa tessitura grave, ascendentemente evoluindo para a região aguda (Dó 3 ao Dó 4) e, posteriormente, descendentemente até à altura de início. Segue-se numa ordem sequencial, onde a Colocação da voz esteja dentro da tessitura vocal do aluno, região onde todos pudessem fazer facilmente a emissão tonal da voz. São ainda escolhidas vogais, para que os vocalizos favoreçam o trabalho, que é a emissão adequada das vogais e da dicção das palavras.