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Da imprensa para o livro: novos horizontes para a divulgação doutrinária doutrinária

3.1 – O Primeiro Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas

De 15 a 25 de Novembro de 1939 realizou-se, no Rio de Janeiro, o Primeiro Congresso de Jornalistas Espíritas, cuja sessão inaugural ocorreu na sede da Associação Brasileira de Imprensa. A iniciativa partira de Deolindo Amorim, então 1º secretário da Liga Espírita do Brasil, a partir de um artigo que publicou no jornal Vanguarda em 22 de Julho daquele ano. Objetivavam, com o evento, a “fundação de uma associação de imprensa espírita destinada a reunir em seu organismo os jornais e as revistas espíritas de todo o Brasil” 1

. Deolindo Amorim e os demais espíritas reunidos em torno da iniciativa, consideravam necessária a criação de um organismo que congregasse em seu seio os periódicos espíritas então existentes no país. Partindo de alguém vinculado a uma entidade federativa – a Liga Espírita do Brasil – a proposta capitalizaria dividendos políticos para o papel que ela desempenhava, qual seja, o de congregar e organizar os espíritas.

Em Setembro de 1939, o jornal A Nota, onde atuava Leal de Souza, noticiou uma das sessões preparatórias, realizada na sede da Liga Espírita do Brasil. Na oportunidade, além de A Nota, representada por Leopoldo Machado, estiveram presentes representantes de órgãos da

imprensa doutrinária e leiga da Capital2. No entanto, a FEB manteve-se afastada. Acusaram o

recebimento do convite para participarem no Reformador de Agosto de 1939. A Diretoria da federativa, reunida, teria decidido

embora com pesar, que não lhe era possível deixar de declinar de tão honroso convite, por se lhe afigurar, de um lado, que o momento, se não é o menos oportuno para a realização dessa

interessante iniciativa, também não se mostra muito propício a que ela dê os frutos que naturalmente esperam os que a propugnam e, de outro lado, a Federação importaria afastar- se mais ou menos, esta instituição, da órbita que às suas atividades traça o programa de tarefa que lhe incumbe, cotidianamente assinalada pelos seus dirigentes do plano espiritual. 3

De acordo com os espíritas da FEB, o momento não seria adequado. Realmente, era um tempo difícil para os espíritas, uma vez que poucos meses antes sofreram ataques da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, que se voltou contra o programa de rádio “Hora Espírita Radiofônica”, iniciado em 1º de Junho de 1939, que contava com vários espíritas ligados à FEB. Era um tempo, também, onde os espíritas tinham dificuldades de manterem funcionando suas instituições e seus periódicos, estes últimos sufocados pelos

1 “Congresso de Jornalistas Espíritas”. Revista Espírita do Brasil. Rio de Janeiro, Agosto de 1939, p. 486. 2 “Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas”. A Nota. Rio de Janeiro, 26 de Setembro de 1939, p. 5. 3

181 custos de sua produção bem como inibidos e calados pela censura do D.I.P.. Por fim, a FEB alegou que a participação no Congresso demandaria o afastamento do seu programa de atividades, invocando, para legitimar seu argumento, as diretrizes traçadas pelos Espíritos. A mim parece que a não adesão tem a ver com o fato da iniciativa não ter partido dela. Escusando-se participar – e dando publicidade à sua decisão – parece-me que contava esvaziar o evento. Não por acaso acionam, como uma das justificativas, as dificuldades do momento que se vivia, como a declarar, de antemão, que o evento estaria fadado a não produzir frutos. Também é válido recordar que o Reformador, provavelmente o periódico espírita mais antigo em circulação naquele momento, não se faria representar num Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas. Ora, as atividades na imprensa estavam na pauta da FEB praticamente desde a sua fundação. Tão logo ela foi criada, em Janeiro de 1884, o Reformador passa à sua responsabilidade. Como, então, alegar que participando do Congresso para o qual foi convidada se afastaria de seu programa?

A postura dúbia da FEB frente ao Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas se evidencia, também, pela ausência de referências a ele nas páginas de seu periódico. Em Agosto de 1939 foi a única vez que se manifestaram a respeito. Depois, apenas o silêncio, afinal, se lhe acompanhasse os preparativos e desdobramentos, através de suas páginas, além de promovê-lo, evidenciaria sua contradição: por que tratar de um evento que declarava não acreditar em suas potencialidades? Chamo a atenção disso porque na única referência que fez ao evento, afirma que

acompanharácom a melhor simpatia e os melhores votos (...) os trabalhos do Congresso de Jornalistas Espíritas, para os quais almeja completo exito, pronta a proclamar a excelência dos

resultados que dele se evidenciem e a aplica-los á obra em que ela esforçadamente se empenha, rendendo deste modo justa homenagem aos que o tenham conseguido. 4

Prometeu acompanhar o evento e torcer pelo seu sucesso. No entanto, o Reformadornão cobriu os preparativos e muito menos sua realização. Sequer atreveu-se a fazer um balanço daquilo que foi discutido nele, a fim de avaliar seus resultados. Não teria acontecido nada de aproveitável no Congresso para os representantes da FEB? “Crônica

Espírita”, coluna de Frederico Fígner no Correio da Manhã, também ignorou5

.

A Revista Espírita do Brasil de Dezembro de 1939 noticiou a realização do Congressono qual estiveram presentes“autoridades civis e militares, pessoas do nosso mundo

4 Idem. Grifos meus.

5Dos jornais diários que analisei, além de A Nota, apenas o Diário da Noite tratou da realização do Congresso, divulgando o seu programa de trabalhos.“Installa-se hoje o Congresso de Jornalistas Espíritas”. Diário da Noite. Rio de Janeiro, 15 de Novembro de 1939, p. 12.

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social, numerosos representantes de associações espíritas e jornalistas” 6. Dentre estes, encontramos espíritas que tinham relações com a FEB: Ismael Gomes Braga, Lins de Vasconcellos, Luiz Autuori (da coluna “„Correio‟ Espírita”, do Correio da Manhã), Carlos Imbassahy (na época, secretário do Reformador) e Leopoldo Machado. Se a FEB não se faz representar oficialmente, nem por isso espíritas ligados a ela deixam de participar do evento. De todos estes, apenas Carlos Imbassahy detinha cargo na federativa7.

Perpassa o Primeiro Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas um esforço de afirmação política onde os espíritas buscam legitimidade para suas diferentes atividades doutrinárias, com destaque, naquele ambiente, para a imprensa, reconhecendo nela papel importante na autoafirmação deles. Os espíritas da Liga Espírita do Brasil destacam trechos da fala do presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Herbert Moses, presente na abertura do evento.

A “Casa do Jornalista”, acentuou o ilustre presidente, não distingue jornalistas, sejam

católicos, espíritas, positivistas ou de quaesquer outros credos, porque a classe é uma só. Ali

estava, finalisou, ao lado da classe, sem encarar o credo religioso, porque a “Casa” é de todos os jornalistas. O discurso do Presidente da A.B.I. foi muito brilhante, e por isso constantemente aplaudido. 8

Aquele ambiente – fazem questão de destacar da fala do presidente da A.B.I. – não faria distinção de pessoas em função de seus credos religiosos. Ali todos seriam considerados jornalistas, ainda que muitos daqueles espíritas levassem a atividade de maneira amadora, não profissional, desenvolvendo-a nos espaços de tempo livre que possuíam entre a luta pela sobrevivência material e as demais atividades doutrinárias. O presidente da maior associação de imprensa do país legitimava a prática jornalística dos espíritas, igualados aos demais.

Deolindo Amorim, presidente do Congresso, em seu discurso de abertura destacou que “a imprensa espírita deve ter um papel essencialmente construtivo”9

. Segundo ele, “o homem de imprensa deveria estar possuído de grande espírito de renúncia”10. Destaca, por fim, que

“duas coincidências concorrem para maior magnanimidade do ambiente”: a instalação do Congresso dentro da “Casa do Jornalista” e a celebração do cincoentenário da República, fato histórico que recorda grandes conquistas espirituais, dentre estas ressaltou o Presidente com entusiasmo “a liberdade de culto para todos os creados” (sic). 11

6

“Primeiro Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas”. Revista Espírita do Brasil. Rio de Janeiro, Dezembro de 1939, p. 576.

7 “Federação Espírita Brasileira”. Reformador. Rio de Janeiro, Fevereiro de 1939, p. 35.

8 “Primeiro Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas. A oração do presidente da „Casa do Jornalista‟”.

Revista Espírita do Brasil. Rio de Janeiro, Dezembro de 1939, p 577 e 578. Grifos meus.

9 “Primeiro Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas. Fala do Presidente”. Revista Espírita do Brasil. Rio de Janeiro, Dezembro de 1939, p 576.

10 Idem. 11

183 Penso que quando ele fala do papel construtivo da imprensa espírita pode ser no sentido de não resumir-se à elaboração de artigos de cunho doutrinário. Não deve ser sido casual que, em sua fala, destacasse a liberdade de credo, que naquele momento vinha sofrendo ataques por parte da Polícia e que poderia ter nas páginas dos periódicos um canal para manifestar-se. A renúncia que ele esperava do homem de imprensa devia ser bem aquela do investimento de esforço, persistência, tempo e recursos materiais na execução da tarefa. A de quem contaria, para manter seus periódicos, com ajuda financeira abaixo do que esperava, além das cobranças e discordâncias que sua produção na imprensa pudessem gerar no seio dos espíritas e demais leitores.

Esse caráter político, de luta e afirmação dos espíritas, já estava evidente durante os preparativos do Congresso. Em A Nota, destaca-se que as teses definidas para o debate versariam“sobre vários assumptos, definindo o Espiritismo perante a sciencia, as leis, a educação e a medicina”12

. Os quatro assuntos elencados tinham importância fundamental para os espíritas. A Doutrina Espírita afirma-se, também, como ciência, sendo que alguns espíritas preferiam, mesmo, esse aspecto. Os espíritas buscavam desenvolver suas atividades doutrinárias sem impedimentos legais, sendo, para eles, a vigilância em torno do receituário mediúnico – interpretado como exercício ilegal da Medicina – uma porta aberta para a repressão Policial. Além disso, poucos anos antes, em 1937, os Centros Espíritas foram fechados pela Comissão Executora do Estado de Guerra sob a alegação de estarem abrigando comunistas. A liberdade de culto, conforme Deolindo Amorim destacou em sua fala de abertura do Congresso, era um anseio. Ainda aqui, no capítulo das leis, dialogavam com a Medicina, apresentando as alternativas terapêuticas espíritas: o receituário mediúnico, o passe e a água fluidificada, que no entendimento deles não se enquadraria nos rigores da lei. Segundo os espíritas da FEB, “o Código Penal ainda vigente se tornou o broquel com que se cobrem os mais ferrenhos e violentos inimigos do Espiritismo”13

. Por fim, a respeito da questão da educação, recordemo-nos dos esforços dos espíritas a fim de evitarem o ensino religioso nas escolas, o que era visto por eles como o ensino da religião hegemônica, a católica. Essa luta foi um dos gatilhos para a criação da Liga Espírita do Brasil, instituição cujo organizador do Primeiro Congresso de Jornalistas Espíritas, Deolindo Amorim, militava. As teses apresentadas foram: “O Espiritismo e seus fundamentos científicos”, do Dr. Francisco Luiz de Azevedo Silva; “Obsessão e Psiquiatria”, do Dr. Inácio Ferreira; “Espiritismo e Medicina”, do Dr. Levindo Melo; “O Espiritismo e as demais religiões”, de

12 “Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas”. A Nota, op. cit.. 13

184 Carlos Imbassahy; “O Espiritismo e o Direito”, de Henrique Andrade; “O Espiritismo e o Esperanto”, de Ismael Gomes Braga; “Espiritismo e Educação”, de Leopoldo Machado; “O Espiritismo e a ideia de Pátria”, de Luiz Autuori14

. Além destas, assinalam que foram apresentadas duas outras teses que não estavam programadas: “O jogo e o aborto em face das leis divinas”, do jornalista Domingos Antonio de Angelo Neto, de São Paulo e “O Espiritismo

é a Religião”, do Dr. Noraldino de Mello Castro, de Minas Gerais15

.

A primeira resolução do Congresso é uma apelo dirigido ao governo federal.

Declarar que, amigo da Ordem e da Paz empreendedor e realisador, o Espiritismo é tão

patriota e tão digno como os que mais o sejam dentro do conjunto de homens que constituem a Pátria a qual não é por ele tomada apenas no sentido geográfico, no seu esforço de mante-la

bem alto no conceito dos povos, dos quais se respeita o dever a que não fugirá, e nunca fugiu,

de defende-la, por todos os meios, quando ameaçada nos seus direitos, quaisquer que eles

sejam.16

Os espíritas reunidos no Congresso afirmam que são amigos das instituições que mantém a ordem social e que estariam prontos a colaborar sempre que requisitados pelas autoridades, quando esta enxergasse ameaças ou inimigos de seus interesses, travestidos de interesses da nação. E os espíritas ali presentes também se utilizam de expedientes semelhantes aos dos governantes que falam de seus interesses como sendo os da nação. Falam em nome do Espiritismo, como se todos os espíritas estivessem, ali, representados. Deveriam existir espíritas que apoiassem o regime de exceção que se vivia? Provavelmente. Entretanto, a oposição, num regime dessa natureza, tem dificuldades de manter-se e vive sob

14

“Primeiro Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas. As teses”. Revista Espírita do Brasil. Rio de Janeiro, Dezembro de 1939, p. 579. Inácio Ferreira era médico psiquiatra de Minas Gerais responsável pelo Sanatório Espírita de Uberaba. Curaria doentes considerados loucos através de sessões espíritas. De acordo com Allan Kardec, a obsessão é “o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca é praticada

senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar. Os bons Espíritos nenhum constrangimento infligem”.

Os espíritas acreditavam (e acreditam ainda) que muitos casos de loucura podem ser provocados pela obsessão. Em suas reuniões de “Desobsessão” ou de “esclarecimento”, procuravam conversar com esses Espíritos desencarnados que promoviam o domínio ou perseguição sobre alguém, a fim de tentarem convencê-los a desistirem de seus propósitos. Sobre Inácio Ferreira, ver: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Inácio

Ferreira. Disponível em: http://www.febnet.org.br/ba/file/Pesquisa/Textos/In%C3%A1cio%20Ferreira.pdf

Último acesso em 25 de Março de 2014. Sobre a obsessão, ver: KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, op. cit., p. 306. Francisco Luiz de Azevedo Silva foi advogado, escritor e jornalista. AUTORES CAMPISTAS.

Francisco Luiz de Azevedo Silva. Disponível em: http://autorescampistas.blogspot.com.br/2012/12/francisco- luiz-de-azevedo-silva.html Último acesso em 25 de Março de 2014.

15 “Primeiro Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas. Encerramento do Primeiro Congresso de Jornalistas Espíritas”. Revista Espírita do Brasil. Rio de Janeiro, Dezembro de 1939, p. 579 e 580. Noralndino era advogado e teria ajudado a fundar instituições espíritas, bem como sociedades de assistência à infância e à velhice. Sobre ele, ver: AUTORES ESPÍRITAS CLÁSSICOS. Noraldino de Mello Castro. Disponível em:

http://www.autoresespiritasclassicos.com/Biografias%20Espiritas/N/Noraldino%20de%20Mello%20Castro.doc

Último acesso em 25 de Março de 2014. Domingos Antonio de Angelo Neto era um dos redatores do jornal O

Kardecista, de São Paulo. Ver: RIZZINI, Jorge. Campanha do livro espírita no Teatro Municipal. Disponível

em: http://www.herculanopires.org.br/apostolo-abertura/286-teatromunicipal Último acesso em 25 de Março de 2014. Infelizmente não tive acesso aos textos das teses.

16 “1º Congresso de Jornalistas Espíritas”. Revista Espírita do Brasil. Rio de Janeiro, Janeiro de 1940, p. 605. Grifos meus.

185 constanterisco. Acenam, então, como aqueles que respeitariam as regras vigentes, em pé de igualdade com os outros que assim se posicionassem. E ao fazê-lo, desejam o mesmo tratamento dispensado aos que colaboravam como regime. Tanto os espíritas da Liga Espírita do Brasil quanto da FEB procuram manter um canal de diálogo aberto com as autoridades policiais que fiscalizavam suas atividades doutrinárias17.

Outra sinalização de que estes espíritas tentavam alinhar-se com as autoridades é evidenciada na terceira resolução do Congresso. Recomendava a conjugação de esforços, não só aos jornalistas, que deviam ser

os orientadores da opinião pública, como também as melhores organizações espíritas, no

sentido de que não seja permitido pelas autoridades públicas a organização de agremiações

espíritas que pretendam fazer sessões públicas, sem que sejam seus dirigentes julgados perfeitamente idôneos, intelectual e moralmente, como tal reconhecidos no meio espírita e no

conceito público pelo seu passado.18

Os congressistas tinham a expectativa que, tanto os jornalistas espíritas, tidos como formadores de opinião, quanto os Centros Espíritas, tidos por eles como melhores, demandassem às autoridades que elas criassem impedimentos à fundação de Centros Espíritas que desejassem realizar suas sessões espíritas públicas sem que seus dirigentes fossem considerados, pelas autoridades públicas – a Polícia, provavelmente – e por eles, pertencentes ao “meio espírita”, como pessoas idôneas. A solicitação deles concretiza-se e, a partir de 1941, as autoridades policiais exigiriam dos Centros Espíritas da cidade do Rio de Janeiro os

antecedentes político-sociais dos seus componentes19. Os espíritas envolvidos com o

Congresso de Jornalistas Espíritas antecipam, de certa forma, a medida, como proposta às autoridades policiais. Em alguns dos Boletins de Informações para Agregação de Centros Espíritas, a Liga Espírita do Brasil perguntava se a instituição postulante à adesão era registrada na Polícia. No processo de adesão do Grupo Espírita Antonio de Pádua, de Botafogo, a Procuradoria da Liga coloca, como necessidade para a concretização da adesão,

17Em Junho de 1937, as duas federativas entregaram, ao Primeiro Delegado Auxiliar da Polícia Anésio Frota Aguiar, atendendo à sua solicitação, as suas relações de Centros Espíritas adesos, fazendo-o através de seus presidentes, respectivamente João Torres e Guillon Ribeiro. Sobre a visita de João Torres ao Delegado Frota Aguiar, ver: TORRES, João. “O Espiritismo e a Polícia”. Revista Espírita do Brasil. Rio de Janeiro, Julho de 1937, p. 246. Sobre a visita de Guillon Ribeiro, ver: RIBEIRO, Luiz Olímpio Guillon. “Relatório, apresentado pelo seu presidente, á Assembléia Deliberativa, na sua reunião ordinária de 1937, sobre os trabalhos da instituição e contas da sua administração, durante o ano social de 1º de Julho de 1936 a 30 de Junho do ano seguinte”. Reformador. Rio de Janeiro, 16 de Setembro de 1937, p. 413. De acordo com o Decreto nº. 24.531, de 2 de Julho de 1934, competiria à Primeira Delegacia Auxiliar: “I – Processar a cartomancia, mistificações, magias, exercício ilegal da medicina e todos os crimes contra a Saúde Pública. II – Ter sob sua vigilância o meretrício (...). III – Reprimir e processar o proxenetismo e o caftismo”. CÂMARA DOS DEPUTADOS.

Decreto nº. 24.531, de 2 de Julho de 1934. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930- 1939/decreto-24531-2-julho-1934-498209-publicacaooriginal-1-pe.html Último acesso em 25 de Março de 2014. 18“1º Congresso de Jornalistas Espíritas”. Revista Espírita do Brasil. Rio de Janeiro, Janeiro de 1940, p. 605. Grifos meus.

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que o Centro Espírita prove “o desfecho de seu licenciamento na Polícia” 20. A preocupação

de manter boas relações com as autoridades policiais poderia capitalizar, para as duas federativas existentes, a confiança de seus fiscalizadores e faria com que tivessem, junto a eles, autoridade moral e legitimidade para negociarem caminhos, alternativas e possibilidades para o funcionamento dos Centros Espíritas a elas vinculados. Porém, a quantidade de exigências a serem atendidas pelos espíritas que quisessem colocar em funcionamento ou legalizar suas instituições espíritas certamente asfixiaria financeiramente aqueles mais

pobres21. O delegado Anésio Frota Aguiar, no encontro que teve com João Torres em Junho

de 1937, teria afirmado que os passes e a água fluidificada poderiam ser ministrados publicamente nas reuniões espíritas, “desde que disso não se valham os médiuns para exercer exploração em torno dos que a esses meios recorrem sob os princípios de fé” 22. Além disso,

ressaltou que “a acção policial visa, sobretudo, combater o baixo espiritismo” 23. Desejavam,

os espíritas congressistas, marcarem posição como legítimos espíritas e afastarem-se daqueles considerados praticantes do dito “baixo espiritismo”, acabando, com semelhante posicionamento, respaldando a atividade policial repressora àqueles que não eram considerados por eles tão espíritas assim.

As resoluções do Congresso, evidentemente, abordavam a atividade de espíritas na

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