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3 BIG DATA, ALGORITMOS E CAMPANHAS ELEITORAIS

4.3 O impulsionamento de conteúdo na Internet

4.3.1 Impulsionamento de conteúdo nas Eleições de 2018:

Dentre os provedores de aplicações na internet mais usados pelos brasileiros, o Twitter anunciou que não permitira o uso do Twitter Ads para realizar publicações pagas de natureza política no país (os únicos outros países em que ele não admite impulsionamento desse conteúdo são Marrocos, Paquistão e Coréia do Sul)618. No entanto conforme já exposto, a plataforma ainda pode influenciar o debate político por meio de publicações de usuários que gerem trending topics – ou assuntos do momento – de cunho político.

Assim, o Departamento de Ciência da Computação da UFMG criou o projeto “Eleições Sem Fake”, com diversas iniciativas voltadas à melhoria do ambiente político on- line. No que tange o Twitter, destaca-se o “Bot ou Humano?”, um sistema que identifica se os usuários que promovem hashtags nos trending topics Brasil no Twitter são bots ou humanos, ajudando a verificar se movimentos populares nas redes sociais surgiram espontaneamente ou foram artificialmente providos619.

Facebook e Instagram, por sua vez, admitem a propagação de conteúdos políticos, embora – inclusive devido às polêmicas relacionadas ao papel do primeiro nas eleições americanas – com algumas restrições e adaptações. A política é relacionada a esses anúncios é a mesma para ambas as plataformas e inclui, de modo geral: (i) a exigência de um aviso legal que mostra o nome da pessoa ou entidade que pagou pelo anúncio e; (ii) podem ser armazenados na biblioteca de anúncios por um período máximo de sete anos. 620

Especificamente em relação ao Brasil, é necessário que os usuários anunciantes de conteúdo político passem pelo processo de autorização de anúncios, de forma a evidenciar quem está por trás dos anúncios visualizados. Esse processo somente está disponível para

<https://www.youtube.com/watch?v=Z-ucXudrBL4> em <https://www.youtube.com/watch?v=seiSCHo8-k0> e em <https://www.youtube.com/watch?v=JLsPW5RoOZo>. Acesso em: 03 de janeiro de 2018.

617 MACEDO, Fausto. Conselho do TSE sobre fake news vai procurar gigantes da área de tecnologia. Estadão.

15 de janeiro de 2018. Disponível em: < http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/conselho-do-tse-

sobre-fake-news-vai-procurar-gigantes-da-area-de-tecnologia/>. Acesso em: 15 de janeiro de 2018.

618 TWITTER. Campanhas de propaganda política. Políticas de conteúdos restritos. Negócios. Disponível em

<https://business.twitter.com/pt/help/ads-policies/restricted-content-policies/political-campaigning.html>. Acesso em: 13 de outubro de 2018.

619 ELEICOES SEM FAKE. Site Oficial. Disponível em: <https://www.eleicoessemfake.dcc.ufmg.br/>. Acesso

em: 20 de dezembro de 2018.

620

FACEBOOK. Sobre anúncios relacionados a política ou temas de importância nacional. Ajuda para anunciantes. Disponível em <https://www.facebook.com/business/help/167836590566506>. Acesso em: 20 de dezembro de 2018.

anunciantes que residam no Brasil e pretendam direcionar anúncios a pessoas residentes no país e exige a apresentação de uma carteira de identidade brasileira, carteira de motorista ou passaporte, bem como da existência de um CPF vinculado a esses documentos, embora esse não precise ser enviado. O prazo de avaliação é de 48 horas, e pode ser acelerado pela apresentação de passaporte621.

Uma vez aprovada a autorização, poderá ser utilizado qualquer formato de anúncio, exceto anúncios dinâmicos622 e vídeos ao vivo contínuos impulsionados. Ou seja, ao contrário da interpretação inicial da doutrina, foi considerada possível a realização de anúncios segmentados, com visualização restrita a determinados usuários, e que não apareça na página do anunciante623.

Não obstante, de forma a garantir a transparência desse conteúdo, o Facebook impôs que “os anúncios declarados como de conteúdo político pelo anunciante serão exibidos na Biblioteca de Anúncios” 624 Esta está disponível para todos e é pesquisável por qualquer termo, como o nome de candidato ou partido. Além disso, consta: se o anúncio está ativo ou inativo; se foi reprovado por violação à política ou mesmo deletado pelo usuário; a faixa do número de impressões, isto é reações, ao anúncio (por exemplo, entre 1 e 5 mil); a faixa do valor gasto; informações demográficas de idade e gênero que geraram uma impressão/reagiram ao anúncio; informações sobre a localização onde este foi visualizado625.

No que se refere à aparência dos anúncios, tem-se que, ao criar determinado anúncio será disponibilizada uma caixa de seleção para informar que “o anúncio está relacionado à política ou tema de importância nacional”, a qual já será a opção padrão após o processo d autorização. Marcada a caixa, na parte superior do anúncio constará um aviso legal que especifica a pessoa ou organização que pagou por ele. Esses anúncios continuam sujeitos a eventual análise relacionada à violação de política de publicidade626 Ademais, pode haver vinculação entre os anúncios do Facebook ou Instagram, desde que os perfis tenham nomes idênticos.

621 Ibid.

622

Os anúncios dinâmicos promovem produtos automaticamente para as pessoas que mostraram interesse no seu site, no seu aplicativo ou em outro local da Internet. Ibid.

623 Ibid. 624

Ibid.

625

FACEBOOK. Sobre a Biblioteca de Anúncio. Ajuda para anunciantes. Disponível em <.https://www.facebook.com/business/help/2405092116183307 >. Acesso em: 20 de dezembro de 2018.

626 FACEBOOK. Qual será a aparência dos anúncios relacionados a política ou temas de importância nacional.

Ajuda para anunciantes. Disponível em <https://www.facebook.com/business/help/1256706951128601#>. Acesso em: 20 de dezembro de 2018

Especificamente no caso do Brasil, o aviso legal deve: (i) representar com precisão a organização ou pessoa que paga pelo anúncio, incluindo CNPJ/CPF; (ii) cumprir os padrões da comunidade e políticas de publicidade – o que inclui a proibição de palavrões, erros de gramática, caracteres e pontuação em excesso627; (iii) não incluir uma URL como parte do aviso legal; (iv) não representar um país ou uma figura política estrangeiros; (iv) não fazer referencia a nenhuma marca de propriedade da Facebook Inc; (v) não incluir o termo “pago por”. A plataforma destaca, assim, que é de responsabilidade do anunciante editar o aviso legal – que passará então pelo processo de revisão do Facebook – aos parâmetros do TSE. Ela registra ademais que, quando uma publicação realizada na página do candidato é compartilhada como publicação orgânica, o rótulo e aviso legal do anúncio não são exibidos na publicação compartilhada628.

Nesse ponto, Francisco Cruz e outros ensinam que existem na plataforma duas ferramentas de direcionamento de publicidade: (i) o “Customize Públicos Personalizados” por meio do qual equipes de marketing podem subir à plataforma seus próprios bancos de dados, que serão então associados aos perfis no Facebook; e (ii) o “Encontre Públicos Semelhantes” que, com base nos dados e cálculos algorítmicos do próprio Facebook, os anúncios são direcionados a “pessoas com interesses e hábitos semelhantes a um público previamente conhecido e identificado”629. No caso, deverá selecionar-se o Brasil como localização.

Em relação aos candidatos às eleições de 2018, o Facebook informou que os perfis dos candidatos deverão ser reconhecidos como perfis públicos, “os dados informados serão cruzados com os dados cadastrados no TSE e só assim eles serão autorizados a usar a nova opção”630

.

627 A autora não encontrou por qual razão erros de gramática e o excesso de símbolos, caracteres e pontuação em

excesso são vedados.

628

FACEBOOK. Como funcionam os avisos legais para anúncios relacionados a política ou temas de

importância nacional. Ajuda para anunciantes. Disponível em

<https://www.facebook.com/business/help/198009284345835?helpref=search&sr=3&query=candidato##>. Acesso em: 20 de dezembro de 2018

629 CRUZ, Francisco Brito; DA SILVEIRA, Hélio Freitas de Carvalho; ABREU, Jacqueline de Souza;

ANDRADE, Marcelo Santiago de Pádua; VIEIRA, Rafael Sonda; OLIVA, Thiago Dias. op. cit. p. 172.

630 GARCIA, Janaina. Especialistas alertam para “caixa 2” em impulsionamento de posts. UOL Notíciais. 25 de

julho de 2017. Disponível em

<https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/07/25/especialistas-alertam-para-caixa-2- digital-em-impulsionamento-de-posts.htm>. Acesso em: 23 de agosto de 2018.

Segundo publicação de Mark Zuckerberg de 06 de abril de 2018: First, from now on, every advertiser who

wants to run political or issue ads will need to be verified. To get verified, advertisers will need to confirm their identity and location. Any advertiser who doesn't pass will be prohibited from running political or issue ads. We will also label them and advertisers will have to show you who paid for them. We're starting this in the US and expanding to the rest of the world in the coming months. For even greater political ads transparency, we have also built a tool that lets anyone see all of the ads a page is running. We're testing this in Canada now and we'll launch it globally this summer. We're also creating a searchable archive of past political ads. Second, we will also require people who manage large pages to be verified as well. This will

Ainda assim, no contexto pré-eleições, o projeto Eleições sem Fake desenvolvera um monitor de anúncios, um plug-in instalado nos navegadores de voluntários que envia informações aos servidores do grupo e permite que ele divulgue as propagandas visualizadas por quem o instalou631.

O grupo desenvolveu ainda um sistema que “identifica aspectos demográficos e comportamentais dos seguidores de cada político no Facebook” identificando “quais os políticos preferidos ou preteridos por homens, mulheres, ou por pessoas com diferentes faixas de idade, nível escolar, renda, etc” 632. Nesse âmbito, usando a própria ferramenta de anúncios do Facebook, eles desenvolveram “um sistema que mostra o público que seria alcançado em uma propaganda segundo estimativa do próprio Facebook”: eles fingiram criar um anúncio para determinada página, obtiveram assim o resultado de “alcance do público”, automatizaram a ação e traçaram perfis dos grupos633.

A reportagem da BBC Brasil exemplifica a especificidade dos critérios possibilitados pela propaganda634:

make it much harder for people to run pages using fake accounts, or to grow virally and spread misinformation or divisive content that way. In order to require verification for all of these pages and advertisers, we will hire thousands of more people. We're committed to getting this done in time for the critical months before the 2018 elections.

ZUCKERBERG, Mark. Publicação de 06 de abril de 2018. Disponível em:

<https://www.facebook.com/zuck/posts/1010478412552589>. Acesso em: 20 de outubro de 2018.

631

ELEICOES SEM FAKE. Op. cit.

632 Ibid.

633 GRAGNANI, Juliana. O que estudo de anúncios pagos no Facebook revela sobre quem 'curte' Bolsonaro,

Doria e outros políticos. BBC Brasil. Londres. 15 de abril de 2018. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-43824463>. Acesso em: 20 de outubro de 2018.

634 Outros critérios seriam: "Amigos de homens que fazem aniversário em 7 a 30 dias", pessoas que acessam o

Facebook "via iPad 2", "amigos de pessoas que ficaram noivas recentemente" ou as próprias "pessoas que ficaram noivas recentemente", "pessoas que preferem produtos de valor alto no Brasil", pessoas que têm interesse em "Power Rangers", "J.K. Rowling", ou que têm nível de renda de "R$ 5.001 a R$ 6.000", pessoas que gostam "jogos de tiro em 1ª pessoa" (uma categoria de videogame). (Ibid.)

Figura 5 – Criação de público para anúncio no Facebook

Fonte: BBC Brasil

Contudo, analisando a possibilidade de direcionar anúncios aos públicos dos candidatos, um dos criadores do projeto observou a época que, “o Facebook não permite enviar propagandas para as pessoas que estão interessadas em alguns dos candidatos. Isso coloca um viés nessa plataforma”635. Ele sugeriu assim que “o Facebook deveria olhar quem são os candidatos e colocar todos ou não colocar nenhum”.

635 Isto é, determinados candidatos não estão incluídos nos critérios de direcionamento exemplificados na

Por fim, interessante destacar os mecanismos desenvolvidos pelo projeto “Eleições sem Fake” para cuidar da veiculação de notícias no período eleitoral: (i) o monitor de audiência dos sites, que, de modo semelhante ao dos candidatos, “exibe dados demográficos da audiência de vários desses sites de notícias no Facebook”, mas por ora, foi desenvolvido para jornais internacionais e; (ii) o notícias lado a lado, um sistema que permite uma pessoa comparar o conteúdo postado por dois jornais brasileiros em relação a um determinado tema636.