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Capítulo III Construir no Construído: Novas Soluções para a Zona Industrial de Alcântara

3.2. O Homem e Alcântara

3.2.2. Início da industrialização

Porém, é a partir do século XVIII que se começam a registar as maiores alterações deste território, com o início da fixação de indústrias neste local, bem como, pelos efeitos causados na cidade pelo terramoto e maremoto que destruiu o antigo centro da cidade em 1755.

Os topos das encostas, e as margens da ribeira de Alcântara, eram marcadas pela presença de moinhos de vento e moinhos de maré, que conviviam com a actividade desenvolvida nas pedreiras e nos fornos de cal, e com o enorme estaleiro naval que se desenvolvia ao longo de toda a frente ribeirinha, desde Belém a Xabregas, o que confirma quem, ainda antes da industrialização, o vale de Alcântara já era considerado um local propício para o desenvolvimento de actividades produtivas (Bártolo, 2005). Deste modo, a escolha deste local para a instalação das primeiras unidades industriais deve-se às condições aqui reunidas, que se prendem com, a proximidade de um grande centro urbano, Lisboa; as boas condições de acessibilidade, quer a nível fluvial, quer a nível terrestre; a presença de água, essencial para a indústria, quer como fonte de energia, quer para outros fins; e a disponibilidade de espaço livre essencial ao desenvolvimento destas actividades.

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Estes motivos justificam que, em finais do século XVII, se assista à construção da primeira grande unidade fabril construída em Alcântara, a Fábrica da Pólvora15, movida pela energia hidráulica providenciada pela ribeira. Após a construção desta fábrica, e também por ordem da coroa, assiste-se ao longo do século XVIII, à instalação em Alcântara de diversas manufacturas, tal como é o caso da Real Fábrica das Sedas e da Real Fábrica de Serralharia, bem como da Real Cordoaria num novo edifício construído na praia da Junqueira nas proximidades de Alcântara. A iniciativa régia foi acompanhada pela iniciativa privada, através da fixação sucessiva de pequenas indústrias em Alcântara, nomeadamente de estamparias e de manufacturas de curtumes, ao longo de todo o século XVIII (Bártolo, 2005). No entanto, o grande impulso para a expansão da actividade industrial em Alcântara dá-se após o terramoto de 1755, pela mão do Marquês de Pombal, com a reconstrução e reestruturação da cidade.

É por esta altura, que se regista o aumento do número de habitantes deste território devido à concentração neste local de população desalojada pelos efeitos devastadores da catástrofe que se abatera sobre o centro da cidade, e que tinha conduzido à sua destruição. Deste modo, a existência de mão-de-obra disponível no local, associada às características já referidas que legitimam a escolha deste do Vale de Alcântara para o desenvolvimento de actividades industriais, contribuem pra que se inicie o processo de profunda alteração desta zona.

A evolução das actividades industriais em Alcântara, quer na sua dimensão, quer no desenvolvimento dos processos tecnológicos empregues, contribuem para que se assista ao início da construção de novos edifícios, com o intuito de albergar processos que antigamente se faziam ao ar livre, tendas ou telheiros, bem como dos novos processos de produção. Este facto contribui para a mudança da imagem da paisagem desta zona, que, a partir desta altura, vê as suas atingas quintas e propriedades rurais ou de recreio, sucessivamente transformadas pela ocupação de unidades industriais e de edifícios de habitação, imprescindíveis para albergar uma população crescente. No decorrer deste processo de industrialização, nem as propriedades da coroa em alcântara ficam a salvo, uma vez que até o antigo Palácio Real, votado ao abandono e à degradação após o terramoto de 1755, vem a ser arrendado já no reinado de D. Maria I para a instalação de uma fábrica têxtil.

15 Inicialmente localizada no morro de Santa Catarina, esta fábrica foi transferida para este local com o intuito de tentar livrar o centro da cidade dos perigos inerentes ao fabrico e ao armazenamento deste produto, sendo que com o crescimento do núcleo urbano de Alcântara ao longo do século XVIII, o fabrico da pólvora foi de novo transferido, desta vez para Barcarena.

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Figura 11 – Planta do sítio do Calvário em 1807

Após o impulso dado por Pombal durante a segunda metade do século XVIII, as invasões francesas e a subsequente fuga da família real para o Brasil, seguida pela pela disputa da coroa entre Liberais e Absolutistas que devastou o país numa guerra civil no início do século XIX, contribuem para que se assista a um abrandamento do desenvolvimento da actividade industrial, não só em Alcântara, como em todo o país. No entanto, passados os tempos de instabilidade política e económica vivida durante estes anos, o crescimento actividade industrial em Alcântara a partir de meados do século XIX é exponencial.

Entre as personalidades que neste período contribuíram para a expansão da actividade industrial de Alcântara figuram nomes que marcaram o panorama industrial nacional. Nomes como Ratton, Daupiás, Burnay, Stephens, Barão de Quintela, ou Conde Farrobo são alguns dos que, nesta altura vêm a substituir os nomes das antigas famílias instaladas na zona de Alcântara, através da aquisição das suas antigas quintas de recreio, bem como das antigas propriedades pertencentes às ordens religiosas16 (Bártolo, 2005). Com a mudança de mãos dos terrenos Alcântara, muitos destes industriais procedem ao loteamento das antigas propriedades, procedendo à venda ou à construção de novas fábricas, ou de novos bairros habitacionais, contribuindo para a expansão da actividade industrial e do núcleo urbano de Alcântara.

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