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Inclusão e exclusão digital: sua interligação

2. INCLUSÃO E EXCLUSÃO DIGITAL: UM MESMO LADO DA

2.3 Inclusão e exclusão digital: sua interligação

A questão da inclusão e da exclusão digital apresenta-se ligada a uma proposta de política pública clara e eficiente, que contemple todos os aspectos aqui levantados. Algumas iniciativas já estão sendo colocadas em prática, mas o certo é que ainda há muito que se fazer para se alcançar inclusão digital plena, que é a promoção de programas que levem ao cidadão conectividade e formação ao mesmo tempo.

O conceito de exclusão digital elaborado no item anterior auxilia a chamar a atenção do público para uma questão social importante: a extensão pela qual a difusão das TIC fomenta a estratificação e a marginalização ou o desenvolvimento e a igualdade. “Com a atenção mundial focalizada nesse problema, este é o momento de formular uma estrutura conceitual mais refinada para a questão e uma agenda política e de pesquisa mais informada.” (WARSCHAUER, 2006, p. 282)

52 O antídoto para a exclusão digital estaria disponível nas próprias tecnologias que se estabelecem como uma das principais fontes da desigualdade social contemporânea. A inclusão social seria facilitada por meio da inclusão digital e da utilização de novas mídias e tecnologias, mobilizando políticas públicas, sobretudo nos países em desenvolvimento. É nesse contexto que se faz necessário um estudo aprofundado de projetos existentes, suas denominações e configurações para o que vem se chamando de cidades digitais, como em Palmas - TO.

Com relação ao conceito de inclusão digital, o termo é abordado de diversas formas, por vários autores e várias áreas de conhecimento. O foco neste trabalho é abordar a inclusão digital como forma de mudança social e intelectual dos indivíduos. Após perceber a importância de democratizar o acesso e a informação e combater a desigualdade social, foi criado, em 1998, o Programa da Sociedade da Informação como parte das ações do Ministério de Ciência e Tecnologia. Uma das etapas do programa, definido pelas lideranças, foi a publicação do Livro Verde, em 2000.

O programa apresentado no livro busca contribuir, de forma efetiva, para a construção de uma sociedade mais justa, em que sejam observados princípios e metas relativos à preservação da identidade cultural, fundada na riqueza da diversidade. Também volta à sustentabilidade de um padrão de desenvolvimento que respeite as diferenças e busque o equilíbrio regional e a efetiva participação social, para a democracia política (TAKAHASHI, 2000).

De acordo com Pretto (2005), importantes políticas públicas começaram a ser implantadas desde a década de 1990, e a discussão ganhou destaque no cenário brasileiro em 2001, muito por conta da aprovação e da regulamentação do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações – FUST que deveria movimentar mais de 1 bilhão de reais a partir daquele ano. Todo o movimento de inclusão digital no Brasil, desde a primeira Oficina, que aconteceu em 2000, defendia que as ações de inclusão digital só teriam sentido se envolvessem a comunidade.

53 Não apenas com objetos da ação, mas garantindo que eles não sejam simplesmente consumidores de informações, bens e serviços, mas também produtores de informação, cultura e conhecimento. (FALAVIGNA, 2011, p. 129)

Já se somam mais de nove oficinas em que se discutem e socializam as propostas de inclusão digital no Brasil, desde 2000. Mediante a tantas propostas, em 2009, o governo resolveu lançar o programa Telecentros.br, como forma de estruturar as propostas já existentes, dando apoio aos projetos sem que eles perdessem a sua característica individual. O programa oferece equipamentos, conexão, qualificação e formação de monitores, com parceria de municípios, Estados, sociedade civil e entidades.

Em 2010, ocorreu a décima oficina de inclusão digital em Brasília, que teve como objetivo discutir os dez anos de inclusão digital no Brasil como política pública. Foram debatidos os rumos para os próximos dez anos, focados nos principais programas governamentais (FALAVIGNA, 2011).

Foi na oficina de 2010 que o Plano Nacional de Banda Larga – PNBL foi lançado, visto que um dos maiores problemas é o custo elevado para acesso à internet. A iniciativa visa a atingir 4.283 municípios até 2014 e forçar a redução do preço do acesso à banda larga que, em 2009, estava em torno de R$ 96,00 para o valor médio de R$ 35,00 (FALAVIGNA, 2011).

Com essa expansão, é possível se chegar à escola com mais facilidade para que se possa cobrar maior efetividade no uso de laboratórios que muitas vezes ficam trancados por falta de manutenção ou acesso à internet. É na escola que a inclusão digital pode acontecer também, principalmente em regiões mais fragilizadas economicamente e na zona rural.

Em pesquisa feita na zona rural, 50% informaram que a indisponibilidade do serviço é a principal razão para a ausência da internet no domicílio. Já na área urbana, esse percentual é de 19%. O alto custo da banda larga é apontado por 50% dos entrevistados na área urbana e por 35% na área rural, considerando o total de domicílios que têm computador, mas não têm acesso à internet. Além disso, 59% das pessoas ouvidas pela pesquisa informaram que gostariam de ter acesso à internet com mais

54 velocidade (CGI.br TIC DOMICÍLIOS 2009, 2010). Falavigna (2011, p. 129) conclui que “[...] a comunidade deve ser apta a conhecer a sua realidade e indicar os caminhos para seu desenvolvimento, e esses agentes devem ter como foco a inclusão social [...]”.

A partir disso, fazem-se necessárias mudanças significativas nos processos de gestão e na efetivação de políticas públicas como forma de minimizar a exclusão social, por meio da inclusão digital. Toda e qualquer ação esbarra em ordens estruturais que muitas vezes atrapalham o bom andamento dos projetos. Para que um projeto de inclusão digital seja implementado, é necessário que haja uma estrutura técnica, como linha telefônica, equipamento, espaço físico, pessoal capacitado e verba para continuidade do projeto.

Ao se pesquisarem dados do Censo de 2010, observou-se que eles retratam que 398.367 domicílios particulares têm energia elétrica, também mostram que 1.380.208 pessoas residem em domicílios particulares. Já com relação à alfabetização, o mesmo Censo identificou que 995.428 pessoas de 10 anos ou mais são alfabetizadas. Dessas, 809.793 são da área urbana e 185.635 são da área rural. A partir desses dois dados, é possível observar, na tabela 9, o quantitativo do acesso à internet e posse de telefone móvel celular para uso pessoal em 2008.

Tabela 9 - Acesso à internet e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2008

Descrição Porcentagem

Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de

referência dos últimos 3 meses. 31,3%

Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas, que utilizaram a internet no

período de referência dos últimos 3 meses. 29,2% Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de

referência dos últimos 3 meses, no domicílio em que moravam. 34,3% Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de

referência dos últimos 3 meses, no local de trabalho. 33,2% Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de 29,1%

55

Descrição Porcentagem

referência dos últimos 3 meses, em estabelecimento de ensino.

Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de

referência dos últimos 3 meses, em centro público de acesso gratuito ou pago. 47,0% Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de

referência dos últimos 3 meses, para educação e aprendizado. 81,7% Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de

referência dos últimos 3 meses, para comunicação com outras pessoas. 74,2% Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de

referência dos últimos 3 meses, como atividade de lazer. 60,4% Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de

referência dos últimos 3 meses, para leitura de jornais e revistas. 48,1% Pessoas de 10 anos ou mais de idade que não utilizaram a internet no período

de referência dos últimos 3 meses, porque não tinham acesso a microcomputador.

27,7%

Pessoas de 10 anos ou mais de idade que não utilizaram a internet no período de referência dos últimos 3 meses, porque não achavam necessário ou não

queriam. 32,2%

Pessoas de 10 anos ou mais de idade que não utilizaram a internet no período

de referência dos últimos 3 meses, porque não sabiam utilizar a internet. 37,3% Pessoas de 10 anos ou mais de idade que possuíam telefone celular para uso

pessoal. 46,3%

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Acesso à internet e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2008

Um dado apresentado na tabela e que chama a atenção é que 47% utilizaram centros de acesso público ou pago para acesso à internet; 74% utilizaram para entretenimento e para falar com outras pessoas e, pelo que parece indicar que, essas comunicações são realizadas pelo uso das redes sociais. Outro dado que não pode ser ignorado é que 37,3% não utilizaram a internet porque não sabiam usá-la. Isso leva a crer que as ações de políticas públicas para acesso e disseminação da inclusão digital devem vir atreladas a cursos de formação para o cidadão e não somente a disponibilização de máquinas e provedor de internet, conforme já mencionado. Uma das

56 possibilidades para a efetivação seria os Telecentros comunitários, tema que será abordado a seguir.