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Ao considerar que a escola pública tem o papel de carro chefe na função de garantir os direitos ao atendimento educacional, buscando a formação plena dos sujeitos, retomamos Frigotto (1995, p. 105) que defende uma formação que seja “[...] unilateral e politécnica, levando em conta as múltiplas necessidades do ser humano”. Assim, um cidadão deve, mais do que apenas ler e escrever, saber trabalhar operações básicas repetidamente, pois são complementos funcionais exigidos pela vida. Por isso devemos valorizar a formação, para que possa de fato completar as necessidades de

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aprimoramento dos sujeitos envolvidos, quer sejam professores ou alunos. Deve-se, assim, buscar o cuidado efetivo, agir considerando o aprimoramento das competências, tanto do professor quanto do aluno, levando em conta um rebuscar dos aprendizados dos sujeitos com um olhar para as inovações.

Enfim, compreendendo o conhecimento conforme pontua Koch (2009, p. 29):

O conhecimento científico surge da necessidade de o homem não assumir uma posição meramente passiva, de testemunha dos fenômenos, sem poder de ação ou controle dos mesmos. Cabe ao homem, otimizando o uso da sua racionalidade, propor uma forma sistemática, metódica e critica da sua função de desvelar o mundo, compreendê-lo, explicá-lo e dominá-lo.

Dominar o mundo exige o despertar de uma prática de ensino inclusiva e que supere, entre outros aspectos, as representações sociais que influenciam ações e modelos e colaboram para o surgimento de preconceitos contra as classes ou etnias, dificultando sempre novas decisões.

Quando se tenta justificar a evasão, é comum argumentar que o sujeito é fruto do fracasso escolar, premissa que cria a crença histórica de culpa do indivíduo. A ideia do sujeito como culpado vem se repetindo em chavões, apelidos que se apresentam vulgarizando o trabalhador e favorecendo a ausência do Estado com suas obrigações. Os chavões preconceituosos vão se reproduzindo nas classes populares, criando preconceitos em suas representações sociais de tamanha envergadura, tão devastadora a ponto de gerar a crença para justificar as dificuldades de escolarização.

Esperar que os sujeitos dominarem os conhecimentos científicos exige ações administrativas do Estado e dos educadores, bem como movimentos renovadores da educação, o que requer ações e compensações alternativas. Segundo Vasconcelos e Lima (2009), essas ações devem ser uma política educacional, atenta à organização dos trabalhadores (SINDUTF-PR ), que tem:

A tarefa ou função mais importante da escola no atual contexto de transformações (mudanças) tecnológicas é, portanto, contribuir para “humanizar” os indivíduos. E tal processo de humanização, mais do que nunca, torna-se urgente em vista do constante processo de aviltamento das condições

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materiais de existência impostas pelo capitalismo. (VASCONCELOS; LIMA, 2009, p. 41).

Apontar o papel da escola no cuidado com seus sujeitos, vítimas de abandono ou quase sempre vestidos de preconceitos próprios do sistema, disfarça o papel omisso do Estado desertor, que no parecer de Aguilar (2000, p. 47): “[...] é abandono do que é público, um omitir-se, renunciar e deixar de atender a uma parcela da realidade social que lhe é inerente.”.

Considerando que o tempo não se repete, o que podemos então é propiciar outras condições em um tempo próprio para a assimilação de conteúdos por parte dos adultos e dos jovens, que geralmente possuem o seu tempo distribuído em múltiplas tarefas domésticas ou em trabalhos com exaustivas horas de ocupação, que exigem longas horas de locomoção, enfim, com barreiras e desafios para vencer no sustento da família. Quase sempre esses sujeitos não possuem tempo livre para as tarefas escolares de casa e nem tempo extra na escola para tirar as dúvidas.

Demo (2010, p. 75) afirma que: “[...] para dar conta deste século – principalmente para aprender durante a vida toda – o aluno carece saber pesquisar no sentido de saber produzir conhecimento próprio, partindo de conhecimentos existentes.”. Assim, para o autor, um verdadeiro técnico não pode estar despreparado no domínio de conteúdos que são renovados constantemente pelos avanços das tecnologias:

Quando se trabalham conteúdos, não é menos crucial motivar habilidades reconstrutivas, combinando domínio de conteúdos com perene renovação. Essa combinação é hoje o centro da expertise profissional. Vê-se mais facilmente em profissões com contato mais claramente tecnológico, como engenheiros, médicos, agrônomos: sem atualização constante de seus conteúdos, perde-se qualidade profissional. Outras profissões mais distanciadas, como educadores, por exemplo, profissionais das ciências humanas e sociais, correm o risco de se alienar, ficando para trás. Este desafio depende sumamente da montagem dos cursos. (DEMO, 2010, p.77).

Assim, em qualquer tempo, há motivos para revisões, visando criar condições favoráveis que mantenham a motivação dos sujeitos com o estudo. O analfabetismo ou a falta de letramento não são circunstâncias únicas do Brasil. Podemos lembrar o panorama mundial da Educação de Jovens e Adultos nas conferências internacionais

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dos anos de 1972 (Japão), 1985 (Paris) e 1997 (Alemanha), cujos propósitos foram discutir, criar a educação permanente e vencer os atropelos que a insegurança e o desequilíbrio na educação faziam emergir em seus países. A educação permanente aparece como destaque importante na III CONFINTEA, ocorrida no Japão, que defende que a

[...] educação para a vida (permanente), a Educação de Adultos seja reconhecida como componente especifico e indispensável da Educação e que medidas legais e outras medidas sejam tomadas para que apoiem o desenvolvimento amplamente baseado em serviços da Educação de Adultos. (III CONFINTEA,1972, p. 5 ).

Os dados sobre a educação apontam sempre o olhar sobre as qualificações, as competências, as habilidades e os conhecimentos dos sujeitos em suas probabilidades de sucesso profissional, que lhes permitam interagir com as constantes evoluções tecnológicas no mundo do trabalho.

A contínua ação motivadora dos professores deve premiar o entusiasmo dos alunos na continuação dos estudos, no fortalecimento profissional e inclusão social como seu complemento de cidadania.

Considerando o Parecer MEC-PROEJA-2007, como também estudos das Literaturas, Congressos sobre Educação de Jovens e Adultos apontam para a importância de uma discussão, com posicionamentos e tomadas de decisões das instituições de ensino profissionalizantes e propedêuticas, sobre a forma como encaram as políticas inclusivas, considerando-as como um projeto de Estado, não apenas um programa de governo.

De acordo com Dayrell (2007, p. 64-65), querer evitar a crise das escolas passa pela responsabilidade de muitos. Fica evidente que a escola vive uma crise, com alunos e professores se perguntando a que ela se propõe. E essa crise se aprofunda quando se constata que a instituição escolar ainda se pauta por uma visão reiterada de futuro, na lógica do “adiantamento das gratificações”, ou seja, ela não tem sentido em si pelo acesso a uma formação no presente, mas pelas recompensas que supostamente trará a médio ou a longos prazos numa sociedade que fecha as possibilidades de

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mobilidade social. Segundo o parecer do MEC, o Programa PROEJA reporta-se como uma política inclusiva que pode permitir aos exclusos do ensino médio e profissional uma oportunidade inovadora única, oportunidade revolucionária que deve ser vista como inédita e promissora.

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