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Incorporar os Estudos Anteriores e Superar para Atingir a Essência

CAPÍTULO I CONSTRUINDO UM CAMINHO TEÓRICO-METODOLÓGICO PARA

1.2. Incorporar os Estudos Anteriores e Superar para Atingir a Essência

A tradição de investigação sobre o sistema esportivo, seja no Brasil ou na Europa, tem partido de diversas interpretações do conteúdo e forma do sistema, em que pesem os estudos europeus se concentrarem no sujeito praticante ou não de esporte.

Conhecer a formação do sistema esportivo, seu conteúdo e forma, identificando seus principais elementos passa a ser fundamental, se quisermos entender o desenvolvimento desse sistema com radicalidade, rigorosidade e conjunto, como antes aqui antecipado.

Segundo Cheptulin (1982, p.264), esse par dialético, conteúdo e forma, está em constantes mudanças, sendo que o conteúdo é instável, encontra-se em permanente movimento, renovando-se é constituído pelos elementos que se manifestam como parte e como todo organicamente ligado, que nas suas relações e ligações constituem uma

determinada forma, estrutura. Assim, as mudanças ocorridas nos elementos, alterando o conteúdo em uma determinada etapa de seu desenvolvimento, produzem uma nova forma e estrutura.

Nesses termos, conhecer os elementos fundamentais do sistema, identificando suas particularidades e o grau de contribuição em sua formação, torna-se fundamental.

No Brasil, a partir da II Conferência Nacional do Esporte, promovida pelo Ministério do Esporte em 2006, estabeleceu-se um conceito para o sistema esportivo brasileiro que inclui o lazer, assim definida:

O Sistema Nacional de Esporte e Lazer compreende o esporte educacional, o esporte de participação e o esporte de alto rendimento, não excludentes entre si, articulados de forma equânime em uma estrutura aberta, democrática e descentralizada, que envolve os Municípios, os Estados e a União, nos âmbitos públicos e privado, primando pela participação de toda a sociedade. (BRASIL, 2006, RELATÓRIO FINAL DA II CONFERÊNCIA DO ESPORTE).

A estrutura desse sistema precisa ser conhecida na sua realidade, levando em consideração as relações, ligações e nexos. Nesse sentido, se faz necessário conhecer a singularidade e particularidade constituintes da sua totalidade, identificando, a partir da sua unidade, suas contradições (CHEPUTLIN, 1982. p. 286), bem como quais elementos estão presentes que exercem dominância sobre os outros, e que são determinantes para formação do sistema esportivo, que na sua relação de causa e efeito7 pode democratizar o acesso às práticas esportivas, universalizando-as, ou oferecer uma estrutura fechada, elitizando essas práticas.

Buscando conhecer o conteúdo e forma do sistema esportivo brasileiro, esse estudo parte do modelo existente e formulado pelo Centro de Estudos de Instalações Esportivas do Comitê Olímpico Italiano - CONI (ROSSI MORI, 1979), definido como “Conjunto de todos os praticantes e de todos os serviços”. Segundo Mussino (1997, p.29), esse modelo que apresenta um sistema aberto, também foi utilizado nos estudos de Nuria Puing em Barcelona – Espanha, entre os anos de 1980-1981; na Alemanha, por Klaus Heinemann, da Universidade de Hamburgo a partir de 1986 e de Luder Bach, da Universidade de Nuremberg em 1988.

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Causa designa a interação dos corpos ou dos elementos, dos aspectos de um mesmo corpo, que acarreta em mudanças correspondentes nos corpos, elementos e aspectos em interação. Já o efeito é constituído pelas mudanças que aparecem nos corpos, elementos e aspectos em interação, em decorrência de sua interação (CHUPTULIN, 1982. p. 232).

Adotaremos essa definição em nossos estudos, por se aproximar da definição do sistema esportivo, aprovado na II Conferência Nacional do Esporte, em 2006, o qual incorpora as diversas manifestações esportivas e todos os elementos que possam constituí-lo.

Para Mussino (1997, p.29), esse conceito traz uma definição operativa e simples, mas serve como ponto de partida para futuros aprofundamentos, e classifica o sistema a partir do esporte em: a) PROCURA – que aqui definiremos como a necessidade objetiva e subjetiva posta ao sujeito (indivíduo) para sua prática esportiva; e b) OFERTA – todos os serviços e política existente que contribuem para a concretização da prática esportiva do sujeito.

Analisando o sistema esportivo, a partir dessa classificação, encontraremos em primeiro plano o que foi definido como PROCURA, o sujeito, os homens e mulheres brasileiros, que na sua relação como ser social influencia e é influenciado nas suas práticas sociais, a partir do modo que produz e reproduz sua vida. Nesse sentido, torna- se fundamental conhecer quem é esse sujeito, e quais as condições objetivas e subjetivas estão postas para sua participação em práticas esportivas ou não.

Como segundo plano nessa classificação, apresentamos o que foi definido como OFERTA, todo serviço e política existentes para a concretização da prática esportiva do sujeito, entre eles destacamos como elementos imprescindíveis a um diagnóstico: a) Infraestrutura, que para efeito didático foi dividida em: Hardware (instalações) sua estrutura física, local da prática; e SOFTWARE, relacionado às políticas de gestão, recursos humanos e organização das práticas esportivas, ou seja, as relações e ações que permitem e oportunizam a prática do esporte, seja de forma direta ou indireta (MUSSINO, 1997); b) os recursos econômicos, financiamento (investimentos e custeios) aplicados ao esporte; c) a legislação esportiva existente que estabelece a política de programa e ações para o setor; e d) gestão e recursos humanos oferecidos para a prática esportiva.

Buscando conhecer o sistema esportivo brasileiro na sua totalidade, com rigorosidade e radicalidade, que exponha esse sistema nos seus nexos e relações, um diagnóstico precisa levar em consideração, na perspectiva de estabelecer uma política de estatística básica e indicadores de desenvolvimento do esporte, os seguintes elementos na sua investigação: o sujeito que pratica ou não esporte, a infraestrutura utilizada para essa prática, os recursos públicos disponibilizados (financiamento), a legislação esportiva existente, a formação, gestão e recursos humanos disponibilizados.

Esses elementos são os elos principais e fundamentais na constituição do sistema de esporte aberto ou fechado à universalização das práticas esportivas e o aumento do padrão esportivo do povo brasileiro. Através deles podemos conhecer a essência, as causas e efeitos, bem como o conteúdo e forma que determinam o seu perfil, além de serem elementos debatidos e aprovados na II Conferência de Esporte, que os aponta como fundamentais para a criação do Sistema Nacional do Esporte no Brasil.