• Nenhum resultado encontrado

Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs) e rede Rede

4. MAPEANDO AS ORGANIZAÇÕES QUE PROMOVEM A

4.9. Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs) e rede Rede

Finalmente, existem também as ITCPs e as incubadoras da rede Unitrabalho, embora tenham atuação menor junto às cooperativas agrárias, dado que, como o próprio nome indica, elas geralmente “incubam” empreendimentos que não estão ainda legalmente instituídos.

As ITCPs surgem na década de 90, como umas das respostas ao aprofundamento dos problemas sociais ocasionados pela globalização da economia, sentidos principalmente pela população marginalizada da sociedade, os excluídos da dinâmica do sistema capitalista e que nem sempre conseguem se beneficiar deste processo, sendo um dos principais indicativos o aumento da massa de desempregados, que passam a engrossar o mercado de trabalho informal.

Esta realidade promove o florescimento da estruturação de empreendimentos solidários no Brasil, tendo como uma de suas principais vertentes o cooperativismo popular57. Essas experiências de cunho econômico, mas com objetivos sociais, recebem o apoio de estudantes e professores universitários de todo o país. Os pioneiros destas ações foram os estudantes e professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), integrantes do Programa de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), que se organizaram em 1995 para fundar a ITCP/COPPE/UFRJ, no intuito de estimular e desenvolver iniciativas econômicas que tivessem como base os princípios da autogestão e do cooperativismo popular. Inicialmente, concentraram suas forças na organização, formação e requalificação dos trabalhadores historicamente excluídos do mercado de trabalho formal, por meio de empreendimentos coletivos e autogestionários. Em um momento posterior, porém, ampliaram

57

Cansado (2007, p.66) define cooperativas populares como “organizações autogestionárias de grupos populares, onde a propriedade dos meios de produção é coletiva, integrando três dimensões: econômica, social e política”.

seus objetivos, apoiando de igual modo os trabalhadores que perderam o vínculo com o mercado, seja pela privatização de empresas públicas ou reestruturação produtiva, mas sempre com foco direcionado, como mencionado anteriormente, para a organização coletiva e autogestionária (GUIMARÃES, 2000).

A partir de então, outras universidades públicas, com a participação do seu corpo discente, docente e com apoio também dos técnicos administrativos, aderem a essa proposta de integração universidade-sociedade, em reposta ao agravamento do desemprego e miséria de uma parcela significativa da população e da má distribuição de renda (OLIVEIRA e DAGNINO, 2003). Nesta direção, Cruz (2004) ressalta que, mesmo sendo a presença dos docentes fundamental neste processo, o trabalho realizado nas ITCPs é levado adiante, especialmente pelos estudantes, com a participação por vezes de pós-graduandos no desenvolvimento das atividades.

As incubadoras de cooperativas estão articuladas em duas redes: a) a rede universitária de ITCPs, criada em 1999, composta por umas 40 Instituições Brasileiras de Ensino Superior, que estão concentradas em algumas regiões do país, possuindo em média 400 empreendimentos solidários em processo de incubação (SOUZA, 2008); e b) a Rede Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (Unitrabalho) fundada em 1996, que congrega na atualidade 92 Universidades e Instituições de ensino superior localizadas também em diversas partes do Brasil. Ambas as redes funcionaram conjuntamente até 2002. A Unitrabalho foi criada com a proposta de contribuir

(...) para o resgate da dívida social que as universidades brasileiras têm com os trabalhadores”. Assim é identificado, como sua missão, fazer o exercício de integrar universidades e sociedade civil, por meio do desenvolvimento de projeto que auxiliem os indivíduos em prol de melhores condições de vida e trabalho. Para tanto, é acionada a síntese do saber acadêmico com o saber dos trabalhadores, para que seja possível nesta direção, qualificar a organização, e da mesma forma, a ação social (Retirado do site http://www.unitrabalho.org.br em março de 2009).

As incubadoras pertencentes a essa rede são dirigidas por docentes e pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento, que desempenham um papel central de coordenação da Incubadora, auxiliados pelos técnicos administrativos e estudantes (estagiários). Observa-se que os estudantes aqui, diferentemente do que ocorre nas ITCPs, possuem um espaço de atuação secundário, sendo os professores as figuras centrais no desenvolvimento dos trabalhos.

Nas incubadoras predominam as intervenções de caráter educativo participativo, com utilização de metodologias participativas de diagnóstico, planejamento, controle e avaliação, empregadas em todo o processo de incubação. Dentre os métodos participativos, podem-se

citar o Diagnóstico Rápido Participativo Emancipador (DRPE), Método Altadir de Planificação Popular (MAPP), Plano de Negócios para Associações e Cooperativas (PEREIRA, 2007).

A maioria das incubadoras se encontra vinculada, de alguma forma, a entidades da sociedade civil, relacionadas às iniciativas de economia solidária, que funcionam como parceiras ou até mesmo fomentadoras de suas atividades. Como exemplo, citam-se a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e sua Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS-CUT), a Anteag (Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão) e o MST (Movimento dos Agricultores Sem-Terra), entre os parceiros mais mencionados por essas instituições. Incrementam essa lista as prefeituras municipais, governos estaduais e Agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que têm sido também um dos seus principais financiadores. Pinho (2003, p. 147) opina que é preciso superar a falta de articulação verificável entre as ITCPs e o Movimento Cooperativo Brasileiro, “já que seria desejável a cooperação entre ambos tendo em vista a semelhança de objetivos entre o Movimento Cooperativo e o Movimento de Economia Solidária”.

Prosseguindo um pouco mais, Barros (2003) aponta dois eixos que impulsionam as discussões nas redes de incubadoras e que muitas vezes servem de norte para os trabalhos que são realizados. O primeiro está relacionado com o desenvolvimento das atividades no que concerne à implantação e formação de novos empreendimentos, é o processo de incubação propriamente dito, este geralmente composto por três fases distintas: pré-incubagem, incubagem e desincubagem. O segundo eixo destas discussões e preocupações demonstradas pelas incubadoras é referente à avaliação da assessoria do trabalho de incubagem que é desempenhado e o desenvolvimento da cooperativa incubada, esta última vista sob dois principais aspectos

a) autonomia: legalização, aquisição de Sicaf, sede, relação com outros atores sociais, relação com a comunidade, relação com outras instituições/fomento, relação como o cliente, relação intercooperativa/fóruns/redes, conquista e manutenção de mercado;

b) autogestão: gestão administrativa e financeira, organização do trabalho, socialização de informações, relações de liderança, espaço e opção por educação (formal, profissional, cooperativista e política) (BARROS, 2003, p.113 e114).

No que corresponde à parte relativa à formação cooperativista, os conteúdos primordialmente trabalhados são a legislação, constituição, doutrina, identidade cooperativista

e a gestão empresarial destas organizações. Os conteúdos pormenorizados destas atividades de formação/assessoria contemplam os seguintes pontos:

Legislação cooperativista (contexto histórico da elaboração da lei e seus aspectos superados); definições sobre pontos que constituem a essência da identidade cooperativista (princípios, conceituação de ato cooperativo, procedimentos básicos para a formação de uma cooperativa); orientação do processo de legalização (registro, etapas, exigências, órgãos) e outros procedimentos legais, orientação na elaboração/implantação dos estatutos e regimentos internos (compreensão do papel das instâncias e suas eleições, os principais procedimentos para Assembleia Geral Ordinária e Assembleia Geral Extraordinária, orientação sobre capital social, fundos, registros administrativos e contábeis, etc), estratégia de inserção no mercado, estudos de viabilidade econômica, formação de preços, elaboração de planilhas, programas de investimentos, aspectos tributários, rotinas e definições de papel, considerando a autonomia e a autogestão do grupo, condução de reuniões, elaboração de diagnóstico e planejamento participativo etc., (BARROS, 2003, p.114).

Resumindo, os campos de abrangência das ações de assessoria e formação estão diretamente relacionados à “gestão (viabilidade) econômica, democracia interna (autogestão) e qualificação profissional”, sendo que algumas incubadoras enfatizam ainda o problema da busca de tecnologias alternativa (CRUZ, 2004, p. 16).

Assim, verifica-se que, de um modo geral, as Incubadoras desenvolvem os trabalhos com o coletivo, ou seja, a formação é direcionada ao conjunto dos trabalhadores e não somente aos seus órgãos diretivos. Cruz (2007, p. 17) destaca ser este “um pressuposto de autogestão das cooperativas, já que a tomada democrática de decisões exige um grau determinado de informação e capacidade de decisão fundamentada em variados tipos de conhecimentos”.

Dentre as instituições de ensino que compõem este universo em Minas Gerais, contam-se a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a Universidade Federal de Lavras (UFLA), a Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Universidade Federal dos Vales do Jequitinonha e Mucuri, assim como várias outras instituições de ensino privadas. Essas incubadoras se relacionam com empreendimentos urbanos e rurais, entre os quais, cooperativas e associações vinculadas à agricultura familiar.