• Nenhum resultado encontrado

Incumbências de Polícia Criminal

No documento Dissertação Nilton Rodrigues (páginas 52-54)

CAPÍTULO II ORGANIZAÇÃO, ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS

II.2. Funções Subjacentes aos Parâmetros de Intervenção Moderna

II.2.2. Incumbências de Polícia Criminal

Para melhor perceber as funções de polícia criminal levadas a cabo pela PNCV, emerge a necessidade de estudar, entre as demais, quatro diplomas fundamentais, que indubitavelmente obedecem à CRCV. O Código de Processo Penal, que aparece como documento central e regulador dos procedimentos a adotar, tendo em vista as finalidades do processo penal; a Lei de Investigação Criminal, que se consubstancia no diploma que regula as diligências destinadas, no âmbito do processo penal, a recolher os indícios do crime, descobrir e recolher as provas e a determinar os seus agentes, atribuindo ainda a PNCV competências investigatórias em certos tipos de crime; a Lei Orgânica da PNCV, que estabelece a prevenção e repressão da criminalidade como uma das suas principais missões e ainda a Lei de Segurança Interna (LSI), que define a atividade a desenvolver pelo Estado, através das FSS, bem como as medidas cautelares de polícia a adotar, para garantir a ordem, a segurança e tranquilidade públicas, o regular exercício dos direitos e liberdades fundamentais das pessoas e prevenir a criminalidade. Importa salientar que no âmbito da LSI, os agentes da Polícia Nacional atuam revestindo o manto de polícia administrativa e

42 não no âmbito penal. Porém, se no decorrer das suas atribuições, se deparar com um ilícito criminal, essas diligências passam a reger-se no domínio das funções de polícia criminal.

Trata-se de um conjunto de diplomas que, de um modo geral, atribui à Polícia Nacional o estatuto de Órgão de Polícia Criminal, quer pelas suas funções preventivas, quer pelos seus atos repressivos63. Consta ao longo dos seus textos, artigos com epígrafes reservados aos

“Órgãos de Polícia Criminal”. Nesta continuidade aparecem como atribuições da PNCV

coadjuvar as Autoridades Judiciárias64, estando estes muitas vezes na dependência funcional do Ministério Público, e desenvolver as ações ou diligências de investigação que lhes sejam atribuídas pela lei65. Contudo, no exercício das funções de polícia judiciária / criminal, entendemos que a PNCV encontra-se dotada de autonomia técnica e tática66.

Segundo MANUEL VALENTE (2012: 68), a qualidade jurídica de Autoridade de Polícia

Criminal está adstrita à natureza de polícia judiciária. Por analogia a este raciocínio, será legítimo dizer que a qualidade jurídica dos Órgãos de Polícia Criminal está adstrita à natureza de polícia judiciária que se afere da função de prevenção criminal. Aliás, numa perspetiva constitucional, a atividade de prevenção criminal cabe nas funções de defesa da legalidade e de garantia da segurança interna, da tranquilidade pública e dos direitos dos cidadãos, de acordo com o dispositivo pertinente da CRCV67.

Neste âmbito, cabe à PNCV prevenir e reprimir a criminalidade e os demais atos contrários à lei e aos regulamentos; prevenir a criminalidade organizada e o terrorismo, em coordenação com as demais forças e serviços de segurança; prevenir e reprimir as infrações fiscais e aduaneiras; prevenir e reprimir o tráfico de pessoas e emigração clandestina; adotar as medidas de prevenção e repressão dos atos ilícitos contra a aviação civil; prosseguir atribuições que lhe forem cometidas por lei em matéria de processo penal; exercer, nos termos da lei, as competências específicas que lhe são conferidas quanto à realização de

63 Para ANTÓNIO FRANCISCO DE SOUSA (2003: 49) a prevenção é o fundamento de toda a atividade da polícia

e pode exercer-se em diversas oportunidades. Antes do dano, durante a produção do dano e depois da produção do dano. A prevenção orienta-se a um fim futuro – trata-se de impedir que um perigo surja ou se concretize em dano – e, para que esteja justificada, há de haver uma ligação direta entre uma conduta contrária à lei e ao direito e um perigo de dano previsto. Diferentemente da prevenção, a repressão, na sua parte de prevenção indireta, consiste numa reação a um ilícito, conhecido ou suspeito, orientando-se ao passado.

64 Cfr. art.º 69.º do Código de Processo Penal de Cabo Verde.

65 Conforme JORGE CARLOS FONSECA, nas palavras proferidas em Sintra em dezembro de 2006 a convite da

IGAI, os Órgãos de Polícia Criminal no sistema Cabo-verdiano não são verdadeiros sujeitos processuais (penais) mas sim sujeitos processuais acessórios ou secundários, no exato sentido em que podem ter competências para a prática de atos processuais, mas sempre para atos singulares, que não sirvam para codeterminar o processo como um todo, tendo em vista a decisão final.

66 Cabe a polícia definir o seu modus operandi no âmbito da recolha dos meios de prova, bem como definir as

suas táticas de intervenção.

43 diligências de investigação criminal e cooperar com os demais Órgãos de Polícia Criminal; colher as notícias dos crimes, investigar os seus agentes nos limites das suas competências específicas; impedir as consequências dos crimes e praticar as diligências e os atos cautelares necessários para assegurar os meios de prova, bem como apreender os objetos provenientes ou relacionados com a prática de factos puníveis nos termos da lei do processo penal68.

As funções de polícia criminal, devido à complexidade das diligências e das exigências do serviço, exigem da PNCV uma máquina cada vez mais complexa, pelo que, no nosso entender, seria útil a implementação de um Comando de Investigação Criminal no país a fim de agilizar o cumprimento do dever de cooperação previsto no art.º 8.º da LIC.

Não obstante estas duas formas de caracterização da atividade da polícia, entendemos que existe uma linha ténue entre as funções de polícia administrativa e as funções de polícia criminal, pelo que surge alguma dificuldade em qualificar certas competências oriundas da Lei Orgânica da Polícia Nacional.

II.3. PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES, PRINCÍPIOS DE ATUAÇÃO E

No documento Dissertação Nilton Rodrigues (páginas 52-54)