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A INDÚSTRIA DAS EMBARCAÇÕES DE RECREIO 1 – A madeira e a revolução das resinas epóxidas

No documento OS PROBLEMAS E AS SOLUÇÕES (páginas 36-44)

Existem condições para uma nova expansão da construção em madeira, que permitem considerá-la um material moderno:

o Novas técnicas de construção, só possíveis com as colas epóxidas e a associação com o PRF,

o Presente surto de normalização europeia, associada ao mercado único e à marca CE

O cumprimento das normas permitirá aos nossos construtores um salto de qualidade e facilitará a conquista de outros mercados.

Por outro lado, as técnicas modernas facilitam muito o trabalho dos carpinteiros navais, mas estes têm de adquirir novas competências, que incluem:

o Utilização de novos materiais (epóxidos, contraplacados, espumas, fibras) e ferramentas (mecânicas e “cordless”)

o Conhecimento de normas e de gestão formal da qualidade

o Conhecimentos de gestão: planeamento (com integração de empreitadas), organização, gestão financeira e, sobretudo, de comercialização e “marketing”

São exemplos de sucesso a Nova Zelândia e a Nova Escócia (Canadá) É necessário mudar para sobreviver.

2 - A marca CE

Nos últimos anos tem havido profundas mudanças na legislação comunitária e na normalização aplicável a embarcações abaixo dos 24m, com destaque para:

o As Directivas 94/25/CE e 2003/44/CE), que embora aplicáveis apenas a embarcações de recreio (até 24m), anunciam tendências extensíveis

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num futuro próximo a outras classes, nomeadamente a garantia de qualidade fornecida por projectistas e construtores, e a simplificação dos procedimentos de aprovação;

o Quase oitenta normas europeias harmonizadas, aplicáveis na totalidade às embarcações de recreio com menos de 24m, cujo cumprimento é necessário para assegurar a posição da marca CE; a legislação de diversos países tem vindo a estender a aplicabilidade destas normas a outras categorias de embarcações.

O cumprimento das normas permite aos construtores um salto de qualidade e facilita a conquista de outros mercados.

 3 – A importância económica do sector

 Sobre a importância económica do segmento das embarcações de recreio na Europa, bastam-nos os números Figura 1 (Refª 5):

 Um total de 2442 pequenos e médios estaleiros europeus, sustentando directamente 39600 postos de trabalho, tem um volume de negócios anual de € 3700 milhões, com 70% de valor acrescentado.

 Podemos fazer alguns cálculos simples:

 O volume médio de negócios por empresa é de € 1,5 milhões

 € 65650 é o valor acrescentado anual por trabalhador (directo e indirecto)

 Supostas 1600 horas de trabalho individual por ano, temos um valor acrescentado de € 41/Hh (trabalhadores directos e indirectos)

 Se considerarmos que 90% dos trabalhadores "dão ponto à obra", e que existe plena ocupação ao longo do ano, o "valor de venda do Hh" será de € 45,6, da ordem de 2,5 vezes o preço de venda dos pequenos estaleiros portugueses.

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Fig. 1 – Importância económica dos estaleiros das embarcações de recreio

 Quer isto dizer, simplificando porque a influência dos subcontratos depende do modo como são contabilizados, que se tivermos uma produtividade global da ordem dos 50% da média europeia, ficamos ainda com boas condições de competitividade internacional.

 4 – O exemplo da Nova Escócia

 Tal como em diversos países da Europa, a redução do mercado das embarcações de pesca ocorreu na Nova Escócia simultaneamente com o aumento da procura de iates e de embarcações comerciais de diversos tipos.

 Não lhes foi muito difícil identificar a receita que necessitavam de aplicar:

o Aumentar a capacidade técnica dos estaleiros, o Juntar esforços através de uma associação para  Melhorar a formação dos executantes,

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 Apostar num marketing intenso e continuado.

 Para a formação, foi feita uma ligação com a Nova Zelândia. Este país fez um notável esforço na criação de uma indústria de embarcações de grande qualidade, que lhe permitiu atingir um volume de negócios de mais de USD 900 milhões (€ 700 milhões) e 10000 empregados, em 2003, com uma projecção de USD 1700 milhões (€ 1300 milhões) em 2015. Estamos a falar de um Estado de 4 milhões de habitantes!

 A New Zealand’s Boating Industry Trading Organization certifica aprendizes na construção de cascos em madeira, alumínio, aço e compósitos, aprestamento de interiores, engenharia de sistemas, aparelho de veleiros, pintura, instalações eléctricas, comercialização de embarcações. O número de aprendizes passou de 60 em 1999 para 530 em 2005.

 Um representante dos estaleiros da Nova Escócia (vendas anuais € 55 milhões) e diversos representantes do governo provincial (Departamentos da Educação e da Agricultura e Pescas), no seguimento de diversos contactos visitaram a Nova Zelândia em 2004 para conclusão de um acordo de fornecimento de currículos de ensino e de material didáctico. Mesmo sem incluir diversas especializações dos neo-zelandeses, o programa de formação inclui a preparação de 50 manuais técnicos de cerca de 75 páginas cada; todos têm sido preparados com o apoio financeiro da província.

 A formação inclui a frequência de lições, ensino por correspondência com a apresentação de testes, e seguimento dos trabalhos oficinais dos formandos.

 O governo provincial concede apoios, que cabem na política geral de ensino.

 A introdução de novas tecnologias, sobretudo na área dos compósitos, responde a solicitações governamentais para redução de emissões, e inclui seminários práticos (“hands on”).

 A Nova Scotia Boatbuilders Association passou de 12 membros em 1999 (apenas construtores), para 41 em 2005 (construtores e fornecedores). A quota anual tem dois níveis: € 340 é o nível básico e € 2030 o nível “gold”. Este inclui diversos benefícios, tais como o apoio dos técnicos da associação e a concessão de financiamentos, a baixo juro, para o desenvolvimento de protótipos destinados à exportação.

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 O principal mercado de exportação é a Costa Leste dos Estados Unidos, o que contribuiu para o desenvolvimento do mercado de recreio, uma vez que este não está abrangido pelo Jone’s Act, ao contrário do das embarcações de trabalho e comerciais.

 Um exemplo de sucesso é o estaleiro Covey Island, que constrói apenas em madeira coberta com PRF (Fig. 3 e 4). Nas colagens e no PRF usam resinas epóxidas. Os cascos são ripados (tabuado estreito e fino) e enfaixados (“cold moulded”); ultimamente passaram à construção de sanduíche de madeira. O estaleiro tinha, em 2003, 18 empregados, sendo quase 10% da força de trabalho utilizada em actividades de “marketing”. Para além da necessidade de dominar a regulamentação americana (certificação ABYC), a empresa está inscrita numa associação inglesa de construtores, o que facilita a aposição da marca CE nas exportações para a Europa.

REFERÊNCIAS

 Nº  Autor /

Publicação

 Título

1 Óscar Mota, 2004

Inovação na Construção Naval em Madeira e seus Compósitos - 1º Caderno: A Madeira como Material de Engenharia Naval

2 Óscar Mota, 2004

Inovação na Construção Naval em Madeira e seus Compósitos - 2º Caderno - Novas Tecnologias e Boas Práticas nos Estaleiros Navais

3 Parlamento Europeu e do Conselho, 1994

Directiva 94/25/CE do, de 16 de Junho de 1994 - Aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-membros respeitantes às embarcações de recreio

4 Parlamento Europeu e do Conselho, 2003

Directiva 2003/44/CE de 16 de Junho de 2003 - Altera a Directiva 94/25/CE

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European Commission – DG Enterprise & Industry, 2006

XIV-41 Apêndice

Memorando - CRIAÇÃO DO CENTRO NÁUTICO DE CASCAIS 1 – Introdução

Nos últimos 20 anos, o desenvolvimento da náutica de recreio na Europa tem sido explosivo.

Mais de 2400 PME, ocupando quase 36000 trabalhadores directos, geram um volume de negócio de 3700 milhões de euros, com um valor acrescentado de 70%.

O valor acrescentado anual por trabalhador (directos e indirectos) é da ordem dos € 65000. Em Portugal quase nada foi feito, a não ser importar cada vez mais!

A produção nacional é muito reduzida e de fraca qualidade, com duas ou três notáveis excepções, mas de pequenas embarcações.

Por que não fazer de Cascais a grande excepção?

2 – Desiderato

Criação de um Centro Náutico de excelência em Cascais, com as seguintes componentes:

a) Núcleo de estudos e projectos, incluindo os de construção de embarcações e a dinamização de intercâmbios com instituições estrangeiras; componente de estudos históricos

b) Pequeno estaleiro de construção e reparação de embarcações, com formação técnica de profissionais e amadores5 – note-se que se trata de um espaço ordenado, agradável à vista e para trabalho – ver Anexo 2.

c) Escola de marinharia, virada sobretudo para a prática da vela

3 – Justificação

Cascais reúne condições excepcionais para possuir um Centro Náutico de excelência, a nível nacional.

5 Em meu entender, pelo menos em relação à construção, deveríamos limitar-nos à madeira e materiais compósitos

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Pontos fortes

a) Boas condições geográficas e climatéricas – baía abrigada, perto de Lisboa, bom clima, ventos relativamente fortes mas não tempestuosos todo o ano.

b) Centro turístico importante com uma marina e tradição de velejar, embora a prática seja circunscrita por razões económicas.

c) Importantes clubes náuticos.

d) Relativa proximidade do único estabelecimento de ensino superior de arquitectura naval, o Instituto Superior Técnico (IST) – seria perfeitamente possível uma licenciatura em arquitectura náutica. e) Proximidade do Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), que

poderá ter abertura à criação de um centro de excelência e know-

how para apoio.

f) Existência de um Museu do Mar, que pode ser elemento cultural agregador .

Pontos fracos

a) Locais - Ausência de um estaleiro de construção e/ou de reparação de embarcações  teria de ser criado, com um investimento modesto

b) Gerais

o Fraca capacidade económica das pessoas em geral, mesmo aquelas que possam estar interessadas em embarcações de recreio

o Hábito de aquisição de embarcações de recreio estrangeiras

o Poucos conhecimentos nacionais do projecto de embarcações de recreio

o Capacidade limitada da Secção de Engenharia Naval do IST, tanto em termos financeiros como humanos

o Fraco interesse dos portugueses pelo mar

XIV-43 4 – Etapas

4.1 Estudo das condições locais e proposta

a) Condições geográficas e locais de implantação, esboço de estaleiro e de centro de estudo.

b) Recursos humanos necessários.

c) Estimativa de custos e benefícios (nível tecnológico, criação de empregos, lazer).

d) Estudo dos tipos de apoio necessários do IST e do ISQ e contactar com responsáveis.

e) Possibilidades de financiamento: QREN, mecenas individuais, petrolíferas, EDP.

f) Elaboração de um estudo / proposta com componente publicitária - estatuto jurídico do Centro Náutico: Instituto?

4.2. Apresentação da proposta e seu seguimento. a) Câmara Municipal de Cascais.

b) AIM, jornais, mecenas, financiadores do estudo da SAER, Ordem dos Engenheiros.

c) Proposta QREN.

Óscar Mota 15 Setembro 2009

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ANEXO F

The future of the maritime industry in Europe – The sea is the future

Extracto

STRUCTURE OF NAVAL SHIPBUILDING IN WESTERN

No documento OS PROBLEMAS E AS SOLUÇÕES (páginas 36-44)

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