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> Investimento sobre o faturamento (%) 5,8 5,4 4,3 5,1 8,1 6,7 6,1 (*) - % do investimento em equipamentos e

máquina 80 80 80 80 80 80 80 80

- áreas de concentração dos equipamen-

tos eletrônicos na produção USINAGEM DE HASTES, CLPs DE COMANDO

INDÚSTRIA E

> Investimento sobre o faturamento (%) 8,0 1,3 2,8 4,9 8,5 7,5 5,2 6,1

- % do investimento em equipamentos e

máquina 100 100 100 100 50 50 100 100

- áreas de concentração dos equipamen-

tos eletrônicos na produção ELETRÔNICA E INJETORAS

(*) Informação não disponível

A indústria E, por sua vez, aumentou significativamente, a partir de 1992, seu investimento em imobilizado, dedicando-o quase que exclusivamente a comprar máquinas e equipamentos, com exceção do período 1993/1994, quando ampliou suas instalações, duplicando-as, para fazer frente à encomenda de uma das montadoras sua cliente para produção de um subconjunto eletrônico especial. Nesses dois anos, 50% dos investimentos foram destinados à construção da nova ala da fábrica. Destaque-se aqui que, segundo declaração do Gerente Industrial, o grupo industrial é reconhecido mundialmente por utilizar tecnologia de ponta.

As inovações tecnológicas de maior porte se localizaram no setor de Planejamento da Produção, através da instalação de três estações de trabalho CAD/CAM (computer aided design/computer

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desenho de ferramentas e produtos em tempo real, simultaneamente com a matriz alemã.

No processo de produção propriamente dito, as inovações tecnológicas de base microeletrônica se concentraram nas áreas Eletrônica – através de máquinas de inserção de componentes de solda – e Injetoras de plástico, através de dispositivos programáveis. Além disso, em toda a produção os testes finais de linha passaram a ser realizados com equipamentos mais complexos que os usados anteriormente.

Portanto, tanto a indústria M como a E, dirigiram o grosso do investimento aplicado em novas máquinas e equipamentos para os setores de Planejamento da Produção e Engenharia de Produtos. Na produção propriamente dita, a tônica foi a instalação de dispositivos programáveis pontuais, objetivando controlar melhor tanto o fluxo produtivo, como o trabalho.

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As inovações tecnológicas aplicadas ao trabalho fabril têm representado, historicamente, um grande desafio para os trabalhadores: elas racionalizam o trabalho, reconfiguram a sua natureza e as relações sociais que organizam a atividade produtiva.

A evolução da tecnologia e sua incorporação em máquinas, equipamentos e ferramentas – independentemente do setor econômico em que venha a ocorrer – tem cumprido a função de promover patamares cada vez mais elevados de racionalização do trabalho humano. No início do século XX, por exemplo, Ford inovou ao criar a linha de montagem alimentada por esteiras rolantes, na fábrica de automóveis de Detroit. A organização da produção foi

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reestruturada, seguindo um princípio de tempos impostos, distribuindo a cadência de forma exterior ao trabalhador. O nível da produtividade do trabalho deu um enorme salto, pois se instaurou um novo ritmo de produção, com diminuição de tempos mortos (o trabalhador não precisava mais sair do lugar uma vez que as esteiras rolantes o abasteciam continuamente), passando a depender do ritmo determinado pela esteira (Zuboff, 1988, Heloani, 1996).

Nos anos 70, como explica Coriat (1984), o desenvolvimento da eletrônica e da microeletrônica dará suporte à automatização das fabricações industriais e à geração de informações sobre o processo de trabalho, durante o próprio processo. Essa capacidade de associação entre meios mecânicos e eletrônicos será, inicialmente, aliada às máquinas-ferramenta e depois aos robôs industriais. O papel da microeletrônica seria renovar o suporte técnico e material, permitindo a obtenção de novos progressos no rendimento do trabalho humano e uma nova gestão dos fluxos produtivos, dentro do sistema de produção e trabalho de inspiração taylorista/fordista.

Coriat identifica três direções atuais no uso produtivo da microeletrônica fabril. A primeira visa a aumentar o rendimento do trabalho através do aumento da intensidade do trabalho humano diminuindo os tempos mortos, bem como através do aumento do tempo realmente utilizado das máquinas, encurtando as fases de preparação e manutenção. A segunda direção objetiva melhorar o controle do trabalho e da qualidade dos produtos através da introdução de aparatos e dispositivos acoplados às máquinas, o que permite dispensar a vigilância do contramestre e reduzir o retrabalho e o refugo e, finalmente, a terceira tem em vista melhorar a adaptação e a flexibilidade da linha de produção frente às variações da demanda.

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A tecnologia tem se apresentado aos trabalhadores como uma fonte inesgotável de geração de sentimentos ambivalentes e contradições.

Em primeiro lugar, frente às novas máquinas, o trabalhador experiencia sentimentos opostos como fascínio e medo.

Leite, M. (1994, p. 184 a 202), ao estudar a percepção dos trabalhadores frente à automação microeletrônica em indústrias metalmecânicas identifica essa postura ambivalente. De um lado, os trabalhadores se sentiam atraídos pelas MFCN (máquinas-ferramenta por comando numérico) de base microeletrônica, pois ao mesmo tempo que desejavam dominar uma nova tecnologia, esse desejo era reforçado pela empresa via outorga de um status diferenciado, acompanhado de promoção aos operadores das novas máquinas. Como conseqüência, vicejavam disputas internas para operá-las. Por outro lado, entretanto, frente às mesmas máquinas, os trabalhadores sentiam medo de perder o emprego, questionavam-se sobre as chances dos filhos e das novas gerações se inserirem em ocupações industriais, pois são poupadoras de mão-de-obra. Eram, também, tomados, pelo menos no início, por insegurança quanto à própria qualificação, temiam não serem capazes de trabalhar com as novas máquinas.

Quer dizer, as inovações tecnológicas reconfiguram a natureza do trabalho e alteram as relações sociais que organizam o espaço produtivo. A esse respeito, também Zuboff (1988) relata e analisa as alterações ocorridas no trabalho dos operadores em uma indústria química, à época da introdução do monitoramento microeletrônico do processo. Para aqueles homens e mulheres acostumados com o trabalho de “campo”, onde sinais sonoros, luminosos, temperatura, vibrações e odores eram plenos de significado, a tecnologia da informação promoveu uma desestabilização profunda. Trabalhar

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passou a significar se mover em terreno abstrato, através da manipulação de símbolos, sem o precioso apoio do conhecimento sensorial e, como conseqüência, a natureza das habilidades requeridas sofreu redefinição, exigindo-lhes todo um período de readaptação física e mental.

Conforme aumenta a intimidade do trabalhador com os novos mecanismos e a partir do momento em que ele domina o processo desenvolvido pelas máquinas, o fascínio e a sensação de inadaptação iniciais dão lugar a outros sentimentos e percepções. Os trabalhadores passam a sentir a monotonia e o cansaço mental decorrentes da repetição infindável das mesmas rotinas e, em sistemas fabris mais automatizados, onde o trabalho assume um caráter mais abstrato, ressentem-se também da ausência de participação do corpo no trabalho e daquele estado mental alerta e atento, indispensável para realizar ajustes exigidos pelas antigas máquinas a cada etapa do processo (Zuboff, 1988; Leite, M. 1994).

Também, conforme vão se habituando com as novas máquinas, incluindo o conhecimento do seu funcionamento no cotidiano de trabalho e dominando os novos ritos para operá-las, o medo e a insegurança iniciais arrefecem, trazendo, concomitantemente, conforto ao trabalhador mas também o risco de baixar o nível de questionamento e de reflexão que o desafio da sua presença provocou. Os trabalhadores passam a encarar a nova situação como conhecida, familiar, manejável, indiferenciada em relação à situação anterior, tão incorporada ao dia-a-dia que é percebida como “natural” (Zuboff, 1988; Kergoat,1989)24.

24 O risco de os trabalhadores compreenderem como “ natural” sua adaptação às mudanças tecnológicas pontuais ocorridas constituiu um desafio para esta análise, uma vez que aquelas inovações foram sendo introduzidas no processo de produção paulatinamente e em diferentes momentos do tempo, no decorrer dos últimos 5 a 8 anos, tempo médio de casa dos entrevistados, particularmente daqueles da indústria M.

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Em segundo lugar, ao se defrontarem com as novas tecnologias, os trabalhadores têm que lidar com situações das quais afloram várias contradições.

A primeira delas reside no fato de toda inovação tecnológica ser poupadora de esforço físico humano, ao mesmo tempo em que propicia maior rapidez no trabalho. O trabalho torna-se mais fácil e leve de realizar, mais seguro, exige menos movimentação física do trabalhador, menos desgaste do seu corpo. Em contrapartida, aquelas mesmas inovações que facilitam o trabalho, “puxam” o ritmo da produção, o que, por sua vez, traz desconfortos novos, provenientes da utilização excessivamente rápida e recorrente de certos conjuntos de músculos e articulações. O resultado é o surgimento de novos problemas de saúde entre os trabalhadores, como o stress físico, a LER (lesões por esforços repetitivos), o desgaste mental derivado do aumento da atenção, necessário para acompanhar o novo ritmo de produção, problemas de postura derivados da nem sempre conveniente colocação física do operador, no afã de acompanhar a cadência.

Os depoimentos dos entrevistados denunciam vários desses aspectos e, ao mesmo tempo, deixam claro o propósito maior ao qual a própria tecnologia serve: a busca continuada de maior produtividade do trabalho e a menor dependência do capital em relação ao trabalho humano:

O ritmo aumentou... porque tem um alimentador automático nas máquinas. Achava que não ia dar conta. Eles ficaram observando... (Josélia, operadora multifuncional na indústria

M, nov. 1996).

O ritmo aumentou muito... antes as máquinas eram de botões e cansava muito trabalhar nelas. O trabalho era mais manual. Hoje o trabalho está mais mecanizado e isso facilita a nossa atividade. Agora não precisa mais ficar apertando botão, os equipamentos são com carinho. Antes as máquinas não

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tinham segurança. Hoje tem mais, porém o stress é maior. Há bastante LER, eu tenho. A empresa colocou uma sala de fisioterapia (Márcia, operadora de máquina na indústria E,

abril 1997).

Antigamente a máquina era de controle por pedal, mas era perigosa porque v. poderia enfiar os dedos no processo se não prestava atenção de tirar as mãos na hora de acionar o pedal. Depois ela foi modificada para uma máquina de dois botões, tinha maior segurança porque só era acionada se apertasse os dois botões com as duas mãos. Mas as pessoas reclamavam que machucava a mão porque o movimento era incômodo. Agora a máquina é acionada com um leve toque no sensor (eletrônico), com as duas mãos. É bem melhor e mais rápida também, do que a com pedal (Rita, operadora

multifuncional na indústria M, nov. 1996).

A evolução da tecnologia e sua incorporação em máquinas e dispositivos – independentemente do setor econômico em que venha ocorrer –, parece proporcionar sempre uma maior segurança ao trabalhador, uma diminuição do esforço físico necessário para a realização do trabalho, mas também, uma intensificação do seu ritmo. Segnini (1998, p. 140-141), ao analisar numa perspectiva histórica, a função caixa de banco nas representações dos bancários, depara-se com essas mesmas constatações, a partir do depoimento de uma entrevistada que, por estar naquela função há mais tempo, pôde comparar seu trabalho anterior, feito em máquina não mecanizada, com o atual, no sistema on-line, totalmente informatizado.

Outra fonte de contradição – presente na relação tecnologia e trabalho – vem do fato de que só é possível tornar o trabalho mais fácil de executar através da apropriação do saber, tanto intelectual, como físico do trabalhador e sua posterior incorporação às máquinas com o concurso de softwares. Os futuros operadores dessas máquinas terão a natureza das suas interferências no processo produtivo modificadas. A fala de João, operador multifuncional na indústria M, informa essa faceta da relação tecnologia e trabalho humano:

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O ritmo ficou mais intenso... as máquinas antigas sempre são mais difíceis para o operador trabalhar. Antigamente os controles eram elétricos, tinham uma porção de botões. Hoje as máquinas são mais fáceis de operar, a gente chama de “máquinas inteligentes”, os controles são eletrônicos e de programação. Hoje v. só identifica qual o modelo de amortecedor que vai fazer e escolhe o programa. Antigamente, para mudar o modelo de amortecedor precisava regular uma porção de chaves (nov. 1996).

Ao mesmo tempo em que as máquinas antigas eram mais difíceis de operar porque se precisava, por exemplo, conhecer a função e manusear adequadamente um conjunto de chaves toda vez que fosse necessário começar a fabricar um novo modelo de amortecedor, o operador tinha conhecimento das chaves que devia manusear, quais os efeitos que o seu acionamento provocava sobre o material a ser trabalhado, qual a seqüência correta de acionamento das chaves etc.

Dito de outra forma, o conhecimento de gerações de operadores foi incorporado aos novos mecanismos digitais de programação. É o programa escolhido que levará a máquina, automaticamente, a realizar todas as operações antes desenvolvidas por corpos e mentes humanos. Ao operador resta apenas escolher o programa e apertar o

start. A partir daí, o conhecimento de gerações de operadores migra

para outra categoria de trabalhadores, os técnicos que elaboram os programas das máquinas. Acentua-se, assim, o fosso entre o “pensar” e o “fazer” nas diversas categorias de trabalhadores no espaço da fábrica.

Deve-se considerar, entretanto, que se o operador deixou de manusear os dispositivos das antigas máquinas, dele passou a ser solicitada toda uma nova gama de conhecimentos, como, por exemplo, saber identificar qual o programa a escolher, supervisionar o trabalho da máquina, proceder a pequenos acertos no programa,

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efetuar uma certa manutenção na máquina, controlar a qualidade do produto produzido etc.

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A questão da relação entre qualificação dos trabalhadores e novas tecnologias – e a polêmica desqualificação versus requalificação – vem sendo recolocada continuamente, cada vez que ocorre a introdução de máquinas e equipamentos inovadores no processo de produção. Ao analisar historicamente a passagem da manufatura para a indústria moderna mecanizada, Marx mostrava que o capital vai procurar superar a sua dependência em relação aos conhecimentos e habilidades do trabalhador, através do desenvolvimento da maquinaria, para tanto usando intencionalmente a ciência. O acúmulo de saberes, até então patrimônio do trabalhador, pela primeira vez na história, é separado dele e incorporado ao capital. Ainda segundo Marx, a produção capitalista traria como tendência intrínseca a desqualificação da maioria dos trabalhadores e a criação de uma minoria altamente especializada, perpetrando a separação do trabalho intelectual do trabalho manual (Bryan, 1997; Marx, 1974, Livro I, cap. XIII).

Durante as décadas de 70 e 80 proliferaram discussões e diferentes posicionamentos teóricos a respeito dos efeitos da polarização das qualificações frente ao avanço dos novos automatismos. Uma das correntes vai considerar a tecnologia como um recurso especial à disposição do capitalista para aumentar o controle sobre os trabalhadores, na medida em que simplifica e intensifica o trabalho e diminui os custos de produção. A tecnologia teria, ainda, a função histórica de diminuir a dependência do capital em relação às habilidades e conhecimentos do trabalhador, pois provocaria a polarização das qualificações: na fábrica moderna

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conviveriam, de um lado, uma grande massa de desqualificados e, de outro, uma minoria bastante especializada (Braverman,1974).

Uma outra linha de interpretação vai argumentar que o operador (das máquinas-ferramentas, por ex.) pode não ter sido desqualificado. Ao contrário, ele poderia ter sido requalificado uma vez que tarefas novas de controle da nova máquina, associadas a uma função de programação especializada tenderiam a renovar seus conhecimentos, fazê-lo adaptar-se ao saber abstrato e formal que acompanha a evolução da tecnologia (Adler e Borys, 1988). Freyssenet (1984) e Coriat (1983) se inscrevem nesta linha de argumentação. Este último autor apresenta uma visão mais alargada da questão, abrangendo não apenas um determinado posto de trabalho, mas o conjunto deles. Analisando esse processo na indústria metalmecânica, argumenta que a entrada de robôs e autômatos na fábrica provocaria profunda mudança no sistema de postos de trabalho e funções. Parte dos postos de manutenção e alimentação de máquinas, geralmente realizadas por operários não qualificados, seria suprimida, bem como tenderiam a desaparecer algumas das profissões clássicas da mecânica, exercidas por trabalhadores qualificados como torneiros, fresadores, cada vez que essas tarefas, mais ou menos parceladas e repetitivas, fossem asseguradas por meios automáticos de trabalho. Concomitantemente, aumentariam as tarefas de programação de um lado, e de comando/orientação/ controle dos autômatos, de outro. Frente a um ambiente tecnológico onde prevaleceria grande integração das máquinas e seu alto custo, o operador deveria manter muita atenção e vigilância e estar pronto para antecipar ou intervir, rapidamente, em casos de panes ou disfunções do fluxo produtivo.

A realidade parece, entretanto, ser mais complexa que estudos derivados dessas duas correntes teóricas têm mostrado. Conforme

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elucida Wajcman (1995), em relação aos níveis de qualificação requeridos para certos trabalhos, tendências opostas de crescente complexidade e de grande simplificação e padronização têm coexistido, o que torna extremamente importante considerar outras variáveis indicativas de processos sociais pré-existentes, as quais serão determinantes nas análises a respeito da repercussão da introdução das novas tecnologias sobre a qualificação dos trabalhadores. Ainda segundo a mesma autora, a tecnologia não é uma força independente e a forma como ela vai afetar a natureza do trabalho é condicionada por aquelas relações pré-existentes. As diferentes posições dos trabalhadores afetados pelas tecnologias em relação ao conjunto deles em termos de hierarquia e de poder, as relações de gênero, o grau de fragmentação do trabalho anterior às inovações, as intenções dos empregadores em determinado período são alguns exemplos dessas variáveis.

As novas tecnologias industriais e a possibilidade de a elas ter acesso, de manuseá-las acabam, na verdade, por se transformar em instrumento de poder nas mãos de certas categorias de trabalhadores. São os homens qualificados que serão chamados, preferencialmente, para operar as novas máquinas, fato que tende a aumentar a sua distância social e psicológica em relação aos outros homens e às mulheres da produção. Conforme esclarece Wajcman (op. cit. p. 38/39), “há importantes conexões entre o poder masculino

no local de trabalho e seu domínio da maquinaria... mas a tecnologia não é um requisito masculino, deve-se entender a masculinidade da tecnologia como um produto social. Por isso, a afinidade masculina com a tecnologia é vista como constitutiva da identidade masculina”.

Na história do trabalho industrial, aqueles homens que tradicionalmente haviam trabalhado os materiais para construírem as ferramentas (artífices e artesãos) adaptaram seus conhecimentos e

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habilidades na era da maquinaria. Mais adiante, foram os mesmos personagens (homens qualificados) que acabaram se envolvendo na construção de máquinas para o trabalho de homens e mulheres nas fábricas e que iniciaram as práticas defensivas e associativas, as quais dariam origem aos sindicatos profissionais. Consciente e ativamente, esse mesmo segmento empreendeu constantes esforços para circunscrever o trabalho dos outros homens e das mulheres às ocupações que demandavam trabalho manual e eram pior remuneradas (Cockburn, 1992).

Nesse contexto é que se deve situar o leque de possibilidades que determinados grupos de trabalhadores tiveram e têm de manusear a tecnologia, bem como a construção de estereótipos de qualificação e de gênero que permeiam a relação dos homens e das mulheres com as máquinas industriais.

Exemplos explícitos de que as novas tecnologias não agregam poder, status ou vantagens adicionais a um coletivo de trabalhadores indiscriminadamente, são dados pelas trajetórias profissionais dos entrevistados. As montadoras, as operadoras e os operadores de máquinas e o fresador-ferramenteiro permaneceram nas mesmas funções (salvo exceções devidas à inadaptação individual ao ritmo de trabalho), depois que as inovações tecnológicas foram introduzidas em suas áreas de trabalho. Eles são, em sua maioria, trabalhadores semi-qualificados e nas suas empresas tiveram que lidar com inovações de caráter pontual, que significaram um incremento à maquinaria já instalada. As inovações mais significativas não foram instaladas em suas áreas de trabalho, ou ainda, como no caso do fresador-ferramenteiro, a única máquina CNC da ferramentaria não era operada por ele. Não lhes foi exigido, portanto, maior nível de abstração mental. Para eles, o corpo continuou participando intensamente do processo de produção, mas a atenção teve que ser

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