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3. BCEAO e condução da política monetária

3.14. Independência do BCEAO: uma questão fundamental

O principal objectivo de um Banco Central independente consiste na primazia de estabilidade de preços. E esse objectivo, cuja importância tem-se aumentado em resultado não só dos benefícios que tem para a estabilidade e crescimento sustentado da economia mas também, dada a tendência mundial na adopção de política monetária baseada no objectivo de inflação.

De acordo com Swinburne (1991) e Rigolon (1998), citados por Holanda e Freire (2002), a caracterização de um Banco Central independente envolve aspectos institucionais, organizacionais e legais.

Os aspectos institucionais por sua vez envolvem:

I)- Objectivos estatutários, um Banco Central independente é definido pela liberdade que tem na definição dos objectivos a serem alcançados, entre os quais se destaca a estabilidade de preços como a principal;

II) - Responsabilidade na definição da política monetária: neste sentido, tem poder de determinar a política monetária sem interferência do governo;

III) - Limite de financiamento ao défice orçamental: explica que, um Banco Central é considerado independente pela sua capacidade em resistir ao poder política, no que respeita ao financiamento do défice;

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No que se refere aos aspectos organizacionais, podemos citar:

I)- Função, composição, designação e demissão do Governador – o mandato do governador e dos directores dum Banco Central independente é, geralmente “longo” e com prazo pré-estabelecido, de preferência sem coincidir com o do poder político; II) - Financiamento das suas próprias actividades: Um BC independente deve ter poder de elaborar o seu próprio orçamento e com total autonomia financeira em relação ao governo.

Por fim, e referindo-se aos aspectos legais Rigolon (1998) afirma:

“A independência legal, pode ser estimada a partir da legislação que regula as instituições do sistema financeiro. A independência legal sugere que grau de

Independência os legisladores desejam atribuir aos seus bancos centrais”.

Lembrando ainda que:

“A independência real em oposição à legal, depende, da

legislação e de muitos outros factores mais fluidos e mutáveis, tais como personalidades, ideologias e alianças no interior do sector público, relacionamento entre o Banco Central e outras instituições públicas” (Rigolon 1998, apud Holanda e Freire

2002, p. 3)

No caso do BCEAO, devemos referir que a questão fundamental da independência do Banco Central é algo que nem no tratado da UEMOA nem nos Estatutos do BCEAO se referem, pelo menos duma forma explícita. Embora existe uma forte preocupação das autoridades monetárias neste sentido.

O Artigo 12 do Tratado da UEMOA mostra que, é ao Conselho de Ministros que cabe a definição do objectivo da política monetária e do crédito.

O segundo aspecto que nos leva a afirmar que não havia, até anos recentes, duma forma legal referência quanto a independência do Banco Central é a afirmação do actual governador na abertura do quarto colóquio BCEAO/Universidades e centros de investigação que teve lugar em Dakar a 16 de Julho de 2008. O governador, Philippe- Henri DACOURY-TABLEY afirmava:

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“Permitam-me dizer que, esta conferência surge poucos meses depois da entrada em vigor da reforma institucional da UEMOA e BCEAO. Esta reforma atribui à Política monetária do BCEAO um objectivo explícito de estabilidade de preços e reforça a independência do Banco Central”

Ainda no decurso do seu discurso e referindo-se ao objectivo do Banco Central afirma que: “…assim o BCEAO adoptou, ao par de maioria de Bancos Centrais, a estabilidade

de preços como objectivo principal”.

Embora não tenha aparecido duma forma explícita como objectivo da política monetária, o BCEAO prescrevia a estabilidade de preços como objectivo da política monetária.

Os critérios de avaliação da independência de um Banco Central podem passar de qualitativos a quantitativos. Nós vamos debruçar-nos, de uma forma resumida, nos critérios qualitativos.

No que se refere aos aspectos institucionais, é importante referir que os estatutos BCEAO não definem, de uma forma clara, o/os objectivo (os) do Banco, embora estes estejam definidos no seu portal: defesa de valor interno e externo da moeda para garantir a estabilidade de preços e promoção de crescimento económico.

O segundo ponto, de acordo com os autores Swinburne (1991) e Rigolon (1998) refere que não deve haver interferência do governo na definição do seu objectivo da política monetária, o que aparentemente não é o caso no BCEAO, uma vez que os objectivos da política monetária e do crédito são definidos pelo Conselho de Ministros das Finanças. No terceiro ponto discutimos que, um Banco Central independente deve ter capacidade de não ceder perante o poder executivo no que se refere ao financiamento do défice público. A este respeito, Shortland e Stasavage (2009) mostram que, apesar de ser sido decidido que o Banco Central só financiaria défices orçamentais dos países membros, num valor não superior 20% das receitas fiscais do ano anterior, esta norma não foi cumprida no Togo33 em 1995 e 1996 e na Costa do Marfim em 1994.

Portanto, a visão organizacional sobre independência não se pode aplicar completamente no caso do BCEAO.

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Um dos países da UEMOA que não faz parte deste estudo. Lembramos que são oito países ( Benin, Burkina Faso, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Mali, Níger, Togo e Senegal

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Quanto ao aspecto organizacional, o modelo funcional do BCEAO, em termos de mandato dos seus Governadores e financiamento das suas actividades pode ser aplicável à regra de um Banco Central independente.

O aspecto legal também não esclarece a independência do BCEAO, considerando que limita a actuação dos decisores da política monetária a certas decisões do poder executivo.

A análise de diferentes aspectos acima citados, leva-nos a considerar que o BCEAO apresenta apenas uma certa independência em relação ao poder político, apesar de ter vindo a ser reforçada nos últimos anos.

Não obstante os aspectos acima citados, duma forma geral tem-se verificado uma taxa de inflação moderada e compatível com o objectivo de estabilidade de preços preconizado pelo BCEAO. Mesmo durante os anos 90 em que os défices públicos atingiam valores elevados em quase todos os países, a inflação estava sempre sob controlo e raramente ultrapassava os níveis de 3%, em média.

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