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4.4 INDICADORES: CARACTERÍSTICAS E PRINCIPAIS TIPOS

4.4.2 Indicadores de pobreza monetária

Indicadores de pobreza monetária são indicadores indiretos do direito ao acesso a alimento. O padrão de pobreza do Banco Mundial é de USD1,25/dia por pessoa (Chen & Ravallion, 2008).30 O uso de indicadores de pobreza monetária em segurança alimentar

parte da lógica de substituição potencial entre a demanda por bens alimentícios versus a demanda por bens não alimentícios. Alguns pesquisadores, especialmente economistas, preferem indicadores de pobreza monetária ao invés de indicadores de calorias, já que preços mais altos de alimentos, conforme visto na discussão anterior, não necessariamente reduzem o consumo de calorias, no entanto, reduzem significativamente despesas com produtos não alimentícios.31 Há também o vínculo empírico que o próprio cálculo das linhas

30 Para uma discussão sobre os valores e índices de medidas monetárias de pobreza, veja Chen & Ravallion,

2008, além de Deaton, 2010.

31 Harvey [1973] (2009), desenvolve um conceito que remete aos indicadores de pobreza monetária. Renda

monetária seria o que o indivíduo ganha em dinheiro. Existe também a renda real, que é o que este de fato dispõe, independente de ser monetizado. Por exemplo, um morador urbano que dispõe de assistência médica e seus filhos na escola, tende a ter renda real acima da monetária. Em contrapartida, se este mesmo indivíduo gastar, em relação à sua renda, muito tempo e dinheiro com deslocamento para e do seu trabalho, sua renda real será menor do que a monetária. No caso da segurança alimentar e nutricional, por exemplo, agricultores que dispõe de terra e recursos e que cultivam para o auto-consumo detêm o potencial para ter uma renda real maior. Porém, quando migram para a cidade, essa renda não monetária se perde. Se a família é incluída em um programa de segurança alimentar de alimentos em espécie, a renda real da família aumenta, enquanto a monetária não muda. Se, no entanto, for um programa de transferência de renda em dinheiro condicionada

122 de pobreza absoluta com as necessidades de consumo mínimo de calorias potencialmente produz (Headey & Ecker, 2012).

Linhas separam, assim sendo, linhas de pobreza são pontos de corte que, teoricamente, separam “pobres” de “não pobres”. Em geral, a medida da pobreza está baseada na comparação entre recursos e necessidades. Uma pessoa ou família é identificada como pobre quando seus recursos ficam abaixo do limiar de pobreza. As linhas podem ser monetárias, tais como níveis de consumo, ou não monetárias, tais como níveis de educação formal. Em geral, usam-se linhas de pobreza relativa e linhas de pobreza absoluta (Foster, 1998).

Linhas de pobreza relativa são definidas em relação à distribuição geral de renda ou consumo em um país. Por exemplo, a linha de pobreza pode ser estabelecida em 40% da renda média ou consumo médio do país. Já linhas de pobreza absoluta são definidas a partir de padrões dados como absolutos daquilo que as unidades familiares ou unidades de compartilhamento de recursos, necessitam para satisfazer suas necessidades básicas. No caso de linhas de pobreza monetária, as estimativas estão baseadas no custo de necessidades alimentares básicas, tido como mínimo em um dado país e por sua vez baseado em uma cesta de alimentos, isto é, uma cesta básica. Além das necessidades básicas de alimentação, uma alocação para o consumo de bens não alimentícios é adicionada. Linhas de pobreza absoluta são mais utilizadas para países em desenvolvimento com PIBs baixos ou médio-baixos, pelo fato de que um percentual maior da população vive próximo da linha de pobreza. Dois métodos são mais utilizados para a definição da linha de pobreza absoluta:

I. O método de consumo de energia de alimentos (calorias): a linha de pobreza é definida pelo nível de renda ou de despesas de consumo pelo qual uma pessoa típica padronizada teria o mínimo necessário para sobreviver em relação à um padrão de necessidade de energia de alimentos predeterminado. Reconhecidamente, dentro de um mesmo país, o padrão de consumo de alimentos do grupo populacional que consome apenas o necessário de quantidade de nutrientes varia. Por essa razão, este método pode gerar diferenciais em linha de pobreza em excesso do diferencial de custo de vida enfrentado pelos mais pobres; II. O método de custo de necessidades básicas: parte da valoração de uma cesta de

alimentos tipicamente consumidos pelos pobres primeiramente em preços locais. Após essa valoração inicial, uma quantia específica consistente com os gastos dos pobres é adicionada para gastos não relacionados à alimentação.

(conditional cash transfer – CCT), o oposto ocorre. Essa conclusão pode ter bastante relevância na opção de política pública.

123 Conforme pode ser entendido, toda linha de pobreza, independentemente do método de definição sempre tem um alto grau de arbitrariedade, já que, por exemplo, deve-se assumir como o limiar de consumo de calorias varia para o grupo populacional em questão. Por vezes, as linhas de pobreza relativa e de pobreza absoluta são utilizadas em conjunto para que a situação de desigualdade e a posição relativa da família possam ser levados em consideração e simultaneamente se reconhece a necessidade de um mínimo absoluto abaixo do qual a família não tem como sobreviver.

Há também considerações de natureza mais qualitativa que precisam ser levadas em consideração. Por exemplo, normas sociais de diferentes sociedades têm o mesmo número de entendimentos sobre o que representa uma linha de pobreza e o que o mínimo representa quanto o número de normas sociais mais um. Em alguns países, o salário mínimo (naqueles em que tal conceito econômico é levado em consideração) ou algum benefício de algum programa de auxílio social do governo que sejam amplamente reconhecidos podem representar o mínimo (Banco Mundial, 2011; Ravallion, 1998; Ravallion, 2003).

Da validade transversal (cross-sectional validity)

O tendão de Aquiles dos indicadores de pobreza monetária é exatamente a validade transversal. Converter gastos de família em algo comparável internacionalmente em uma moeda internacional por meio do uso de Paridade do Poder de Compra (purchasing power parity – PPP) é temerário devido a dois problemas:

I. Em geral, as paridades de poder de compra não são derivadas dos padrões de consumo dos pobres;

II. Há erros de mensuração devido a escolha equivocada de instrumentos de pesquisa além de limitações das instituições que realizam pesquisas, especialmente em países em desenvolvimento.

Além das dificuldades de conversão internacional, há limitações mesmo dentro de um mesmo país, especialmente no que tange a comparação entre pobreza urbana e pobreza rural (Deaton & Paxson, 1995; Deaton & Dupriez, 2011).32 Explicações possíveis são, por

exemplo,

i. A dificuldade de se precificar o consumo de subsistência característicos de populações rurais;

ii. Déficits sazonais são relevantes na zona rural mais do que na urbana;

32 Na Índia, por exemplo, as diferenças entre o consumo de calorias e proteínas per capita entre campo e cidade

124 iii. Serviços e utilidades públicos como educação, saúde e planejamento familiar não são capturados por indicadores monetários e acabam por distorcer desigualdades (Deaton & Tarozzi, 2008; Deaton & Drèze, 2009; Headey & Ecker, 2012).

Validade intertemporal

Tal como no caso de indicadores de consumo de calorias, no cerne de indicadores de pobreza monetária se encontram as pesquisas de consumo/ orçamento doméstico ou familiar. Conforme visto, pesquisas de consumo e orçamento doméstico frequentemente contêm imprecisões consideráveis. Em pesquisas em áreas rurais, precificação de gêneros alimentícios que não são normalmente vendidos em feiras ou mercados geram espaço para estimativas errôneas. Os preços também variam de família em família, às vezes em escalas consideráveis devido a diferenças na qualidade, quantidade, período, negociação, relações pessoais, erros de cálculo, variedade de pesos e medidas e aferição (Smith & Subandoro, 2007).

Além dessas questões, pesquisas de consumo são onerosas e por isso, são realizadas apenas de tempos em tempo. Essa infrequência dificulta a análise de sazonalidade e praticamente impossibilita a medição do impacto de choques, mesmo grandes, como o choque de preços de 2008. Há estudos que usam simulações para estimar esses impactos na ausência de pesquisas de consumo. Contudo, essas simulações esbarram em uma série de dificuldades técnicas que limitam o poder de previsão. A solução seria pesquisas de consumo e orçamento doméstico mais frequentes. Evidentemente, o problema é o custo destas pesquisas, especialmente onde são mais necessárias: países menos desenvolvidos (Headey & Ecker, 2012).

Relevância nutricional

Indicadores de pobreza monetária não possuem relevância nutricional direta, pois não incluem nenhuma variável que meça ingestão de nutrientes ou que a represente, embora sejam utilizados como indicadores substitutos (proxy indicators).