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CAPÍTULO 3: MODELAGEM RECURSIVA DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO

3.4 INDICADORES DO DESEMPENHO ECONÔMICO DAS ATIVIDADES

O cálculo do custo de produção empregado nesta tese é baseado na metodologia do custo operacional, proposta pelo IEA (MATSUNAGA et al., 1976) e que vem sendo

empregada pelo CEPEA/ESALQ/USP (OSAKI, ALVES & SOUZA, 2006; ALVES, FELIPE & BARROS, 2005), com adaptações.

Segundo Matsunaga et al. (1976), no custo operacional incluem-se as despesas efetivamente desembolsadas pelo agricultor, mais uma taxa de depreciação de máquinas e benfeitorias e o custo estimado da mão-de-obra familiar. A remuneração devida a todos os outros fatores de produção não incluídos fica a cargo do “resíduo”: a diferença entre o custo operacional e o valor de venda.

Matsunaga et al. (1976) explicitam que o custo operacional de produção compõe- se de todos os itens de custos considerados variáveis (ou despesas diretas) representados pelos dispêndios em dinheiro, mão-de-obra, sementes, fertilizantes, defensivos, combustível, reparos, alimentação, vacinas, medicamentos, juros bancários. Acrescentando-se a estes itens os impostos e taxas, tem-se o que os autores denominam de custo operacional efetivo. Ao se adicionar, enfim, a parcela dos custos fixos (ou indiretos) representados pela depreciação dos bens duráveis empregados no processo produtivo e pelo valor da mão-de-obra familiar, chega-se ao custo operacional total. Os itens comuns à empresa agrícola devem ser rateados proporcionalmente entre as diferentes atividades, propondo os autores o rateio em função da renda bruta das mesmas.

Nesta tese, trabalha-se no modelo com a maximização da margem bruta da unidade produtiva, considerando o conjunto de atividades realizadas nas unidades típicas de produção, segundo o padrão tecnológico adotados pelos produtores. Considera-se que a margem bruta de uma atividade corresponde ao valor bruto da produção da atividade, subtraído dos desembolsos efetuados com ela. Assim, restam-se do produto bruto os custos com insumos (inclusive combustíveis), manutenção de máquinas e benfeitorias, seguro de máquinas, juros pagos por financiamentos, custos com arrendamentos de terras, mão-de-obra contratada, assistência técnica, impostos, e outros possíveis dispêndios. Deste modo, a margem bruta que se obtém, ao final, para a unidade de produção, deve remunerar os fatores fixos: terra, trabalho familiar, capital e gestão do empresário familiar.

Como artifício da modelagem - que é tratada detalhadamente em item específico-, e para tratar da questão do rateio de itens comuns na unidade de produção, as contratações de mão-de-obra permanente e temporária, assim como os juros pelo financiamento do custeio de cada cultura/criação, são considerados como atividades em si e tratados separadamente das culturas e criações, podendo o modelo alocá-los no sistema de produção de acordo com a exigência das atividades produtivas selecionadas.

A não inclusão, no modelo, do valor da mão-de-obra contratada permanente diretamente no fluxo de caixa de cada atividade se deve ao fato de que ela está sendo contabilizada na disponibilidade de mão-de-obra da unidade de produção. Trata-se de um artifício para evitar dupla contagem. O mesmo raciocínio se presta aos serviços contratados por empreita: para evitar dupla contagem seu valor está incluído no fluxo de caixa, mas a quantidade de dias-homem que ela representa fica de fora das exigências da cultura, não competindo pela mão-de-obra disponível na unidade produtiva, representada pelos trabalhadores familiares e pelos trabalhadores contratados de forma permanente.

Vale destacar, enfim, que o modelo prevê a troca de máquinas no período declarado pelos produtores, pagando o juro bancário pertinente pelo financiamento.

3.4.2 Valor Presente Líquido (VPL) e Valor Presente Líquido Anualizado (VPLA)

Um dos instrumentos considerado como dos mais consistentes para análise de investimentos é o Valor Presente Líquido (VPL). Ele estima o valor de hoje de um fluxo de caixa, usando para isso uma taxa básica de atratividade do capital (DOSSA, 2000).

O VPL é calculado pela expressão:

(

)

(

)

(

)

n n i FC i FC i FC FC PL + + + + + + + = 1 ... 1 1 2 2 1 1 0 V

onde: VPL = Valor presente líquido; FC = Fluxo de caixa anual; i = Taxa de desconto, considerada aqui como 6% ao ano; e n = período considerado (em anos).

Para se comparar projetos com fluxos de caixa de vidas úteis diferentes frequentemente se utiliza o Valor Presente Líquido Anualizado (VPLA). É considerado um critério extremamente útil para comparar investimentos com períodos, ou horizontes, desiguais (MOORHEAD & DANGERFIELD, 1998). Entre outras denominações, é também chamado de Valor Anual Equivalente (VAE), ou, Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE).

Trata-se da expressão anual (uniforme) do valor presente líquido no horizonte de planejamento computado, a uma determinada taxa de desconto (FLORIANO, 2008). Ou seja, através do VPLA pode-se demonstrar quanto de ganho líquido um projeto de investimento poderá propiciar período a período.

O VPLA é calculado pela expressão:

(

)

(

)

      − + + = 1 1 1 n n i i i VPL VPLA

onde: VPLA = Valor presente líquido anualizado; VPL = Valor presente líquido; i = Taxa de desconto, aqui de 6% ao ano; e n = período considerado (em anos).

Neste trabalho empregou-se o VPLA para se comparar atividades com diferentes horizontes de produção.

3.4.3 Estimativa do Valor da Árvore em Pé de Espécies Nativas

Apesar da importância do mercado da madeira para o país, diversos autores atestam sobre a carência de estatísticas para o setor. Castanho Filho (2008b) ressalta a falta de estatísticas confiáveis principalmente sobre produção, consumo e preços, inclusive para as florestas plantadas. Sobral et al. (2002) enfatizam que as informações

sobre o mercado de madeira amazônica são extremamente escassas: não há informações quantitativas sobre consumo de madeira amazônica e os estudos qualitativos são raros. Os estudos de mercado disponíveis na literatura, segundo estes autores, são meramente especulativos e baseados em dados de produção madeireira inconsistentes.

Nesta tese, a carência de informações se faz sentir especialmente em relação a dados de preços de madeira de espécies florestais nativas. Não há séries históricas de preços de madeira nativa em pé para o Estado de São Paulo, que possam ser utilizadas na modelagem dos sistemas de produção para quantificar mais criteriosamente os benefícios econômicos da reserva legal implantada segundo modelo do LERF.

Perez & Bacha (2007) já advertiam para a escassez de dados acerca da comercialização da madeira de espécies nativas no Brasil, tais como a causalidade e estacionalidade de preços e a margem de comercialização, importantes para caracterizar a comercialização e a formação dos preços da madeira serrada brasileira. Machado (2000) também destacou a ausência de dados de madeira em pé de nativas em São Paulo, esclarecendo a necessidade de se fazer uso de estimativas, baseadas na maioria dos casos em espécies nativas da Amazônia e na experiência de profissionais atuantes na área de exploração da madeira.

Nesta tese, o valor da madeira em pé na unidade de produção foi calculado “descontando-se” do valor da madeira serrada comercializada na Grande São Paulo (série do IPT) as estimativas de desdobro das toras (considerando-se 50% de aproveitamento) e dos custos relacionados a corte, processamento, transporte, impostos e margens de lucro estimadas dos agentes envolvidos.

A partir de dados obtidos em entrevistas junto a serrarias próximas à região estudada, adotaram-se os seguintes parâmetros, relativos ao ano de 2008: i) imposto pago pelo produtor de 2,3% sobre o produto comercializado; ii) custo de R$ 40,00/m3 de tora para corte e carregamento na área sob manejo da reserva legal (limite de exploração de 25% do total de indivíduos); iii) custo de transporte da tora equivalente a R$ 0,30/m3/km, da unidade até a serraria (máximo de 50 km); iv) taxa de desdobro de 50%; v) valor de R$

188,00 cobrado pela serraria para cada 1m3 de madeira serrada, incluídos aqui custos de produção, impostos e margem de lucro; vi) custo de R$ 0,41/m3/km para o transporte da madeira serrada de Mogi Guaçu até a Grande São Paulo; vii) margem de 30% sobre a revenda da madeira serrada.

Além desses valores, considerou-se um diferencial de preços de acordo com a qualidade da madeira explorada segundo o manejo sustentável proposto pelo LERF. O valor da madeira média considerou-se como o equivalente a 40% daquele da madeira final (de primeira qualidade). Esta proporção está apoiada em dados de levantamento do preço da madeira serrada realizado pelo Imazon em 1997-98 em 75 polos madeireiros da Amazônia Legal, dados que estão apresentados no relatório “Acertando o Alvo ...” (SMERALDI & VERÍSSIMO, 1999, p.22). Foram comparados os preços de comercialização, na Amazônia, das espécies coincidentes ao modelo do LERF.

Já o valor da lenha de espécies nativas foi considerado como o equivalente a 70% do valor da média da lenha de pinus e eucalipto, baseado no relato de profissionais atuantes em serrarias da região.

3.5 FORMULAÇÃO DOS MODELOS EMPÍRICOS DE PROGRAMAÇÃO