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1.3 A Ecologia da Paisagem no Planejamento da Recuperação de Áreas de APP

1.3.1 Indicadores ou métricas da Ecologia de Paisagem

Segundo Wu (2013), a Ecologia de Paisagem é uma ciência interdisciplinar e, este fato possibilita uma melhor compreensão da relação entre padrões espaciais e processos ecológicos em diversas escalas. Assim, nas últimas três décadas as pesquisas nessa temática ganharam destaque, principalmente, nas análises do uso e ocupação do solo, consequências da fragmentação das florestas e condições da biodiversidade diante das alterações na paisagem.

Dentre os critérios básicos de análise, a Ecologia de Paisagem faz uso dos estudos dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), que por sua vez, fornecem dados acerca da estrutura da paisagem por meio das métricas ou indicadores (SYRBE; WALZ, 2012;WU, 2013). Os indicadores do padrão da paisagem (métricas) podem proporcionar medidas simples, que quantificam os elementos especializados na paisagem, servindo de base para a

verificação de transformações e prováveis efeitos, além da modelagem de condições futuras (KUPFER, 2012; NEVES et al., 2014; SILVA; SOUZA, 2014).

De forma geral, os indicadores são parâmetros de caráter quantitativo que representam e traduzem fenômenos, construindo um panorama da situação atual analisada. Assim, seu uso e aplicação possibilitam a correção de ações aplicadas, a fim de que objetivos e metas posteriormente planejados sejam alcançados (SILVA et al., 2012). No planejamento ambiental, os indicadores apresentam a capacidade de explicar uma situação complexa, sistematizando o objeto de estudo por meio de uma visão totalizadora. Justamente por este fato, podem ser utilizados em diversos contextos, contribuindo tanto para a avaliação quanto para a elaboração de políticas públicas (MMA, 1996).

Dentre as métricas aplicadas, é possível identificar duas classes principais: os índices de composição e disposição. Os índices de composição enfatizam as unidades de paisagem e, especificam: a riqueza e área ocupada pelas manchas, o que aponta a dominância espacial dos fragmentos. Com os índices de disposição, entretanto, a conformação espacial é evidenciada com respostas relacionadas a: intensidade da fragmentação, conectividade e formas dos fragmentos. Ambos (de composição/disposição) poderão ser aplicados para uma unidade de mancha, classes ou paisagem como um todo (METZGER, 2006).

Além das categorias citadas (composição/disposição), os indicadores de paisagem poderão ser agrupados em métricas de estrutura da paisagem: borda, forma, área núcleo (core) e isolamento, descritas a seguir de acordo com os estudos de Volotão (1998), Metzger (2006) e Lang (2009).

a) Métricas de área: Indicam a extensão de área presente na área/classe/paisagem. São úteis para relacionar com estudos ecológicos sobre riqueza e abundância de espécies e a fragmentação. Exs: CA (Total de área por classe); ZLAND (Porcentagem de área ocupada pelas manchas;

b) Métricas de borda: Analisam as possíveis ocorrências de áreas de borda (ecótonos), o que pode se caracterizar como um importante aspecto sobre alterações nos fragmentos. Exs: TE (Total de bordas na área); ED (Densidade de bordas na área);

c) Métricas de forma: complementam as análises de borda, pois, avaliam a propensão dos fragmentos em apresentar formas regulares (que se assemelha a um círculo) ou mais complexas (irregulares), o que consequentemente, aumenta as possibilidades das manchas apresentarem maior área de borda. Exs: MSI (índice de forma médio); AWMSI (índice de forma médio ponderado de acordo com o tamanho das manchas);

d) Métricas de área núcleo (core): quantificam a área central da mancha, a partir de uma distância de borda estabelecida. Relaciona-se geralmente com as condições da área enquanto hábitat de espécies mais sensíveis, vulneráveis às transformações da área de borda. Exs: TCA (área central total); TCAI (Porcentagem da área núcleo em relação à área total da paisagem);

e) Métricas de isolamento: analisa o grau de distância entre fragmentos mais próximos (vizinhos), considerando o contexto de apenas um fragmento, classe ou paisagem. Esse indicador relaciona-se ao grau de isolamento da área, bem como a sua influência para o deslocamento e dispersão das espécies, demosntrando as condições de conectividade estrutural. Exs: MNN (Distância média do vizinho mais próximo); MPI (Índice de proximidade média).

Além das condições de estrutura, é possível identificar como as condições de funcionalidade, para isto utilizam-se geralmente as medidas de conectividade funcional. Segundo Forero-Medina e Vieira (2007), a conectividade funcional difere da estrutural pelo fato de ir além dos aspectos físicos e enfatizar a relação organismo-paisagem, determinada pelos padrões de dispersão das espécies.

Para a análise da conectividade funcional tem-se o Conefor Sensinode, baseado na Teoria dos Grafos, onde cada grafo é formado por um conjunto de “nós” e são identificadas as ligações ou “links” estabelecidos. No contexto de paisagem, consideram-se as ligações entre os fragmentos a partir de um limiar de deslocamento determinado, o que irá indicar as possíveis redes presentes (SAURA; PASCUAL-HORTAL, 2007).

Assim, com o Conefor são calculadas as métricas de: conectividade integral (IIC), probabilidade de conectividade (PC), número de ligações (NL), número de componentes (NC) etc., destacando-se dentre estas o IIC (Índice de Conectividade Integral) e PC (Probabilidade de Conectividade) para os estudos em paisagens fragmentadas (SAURA; PASCUAL- HORTAL, 2007).

Dentre as métricas citadas, destacam-se o IIC e PC, com estas métricas especificamente, é possível verificar dentro do raio estabelecido quais as áreas que apresentam maiores ligações na paisagem. Além disso, à medida que cada fragmento analisado apresente maior contribuição para o estabelecimento de ligações, maior será o seu valor de importância atribuído pelo software Conefor (SAURA; RÚBIO, 2010; CROUZEILLES; LORINI; GRELLE, 2013).

Para a aplicação dos indicadores da paisagem, vários softwares poderão ser utilizados, como os softwares ou extensões gratuitas, denominados de “SIG’s de código aberto

(STEINIGER; HAY, 2009). Porém, mesmo existindo a diversidade de recursos e acessibilidade para o uso das métricas, faz-se necessário que esse método não se restrinja a uma “análise quantitativa”, ou seja, sua validade se dará quando este for vinculada a questionamentos, hipóteses, delineamento experimental do estudo, dados biológicos e aplicações (METZGER, 2006).

Nesse sentido, Vidon et al., (2011) considera ainda a necessidade de que as métricas de paisagem sejam consideradas em conjunto, sob a ótica da preservação e conservação dos hábitats. E, diante da heterogeneidade de uso e ocupação no meio, os arranjos espaciais fornecem informações dos componentes naturais, com vistas à manutenção das funções ecológicas que fornecem benefícios diretos à humanidade (SYRBE; WALZ, 2012).

Assim, principalmente nas circunstâncias de planejamento, onde as abordagens detalhadas e quantitativas são essenciais para a tomada de decisão, os indicadores de paisagem são extremamente válidos. E, as informações geradas pelas métricas subsidiarão os planejamentos territoriais, a exemplo dos trabalhos de Recuperação de Áreas Degradadas, contribuindo para o direcionamento de esforços e recursos para áreas prioritárias (CLARK et al., 2013).

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