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O direito à educação no Brasil, que durante muitos anos significou o direito ao acesso (matrícula) à escola, com o advento da Constituição Federal de 1988, que trouxe muitos avanços sobre direitos individuais fundamentais consagrados na Carta, ganhou uma abrangência maior, significando também o direito ao aprendizado. Em decorrência disso, a escola precisou se comprometer e responsabilizar mais com a aprendizagem dos alunos, independente da sua classe social e condições culturais ou financeiras.

Para isso, foram criados diversos projetos para aperfeiçoamento e valorização dos professores, facilitação do acesso do aluno aos livros didáticos, criação de parâmetros curriculares, implantação de ciclos de progressão continuada e, inserção de avaliação externa.

A partir de algumas experiências educacionais69, ocorridas antes de

promulgação da Constituição de 1988, discutiu-se sobre a importância de se implantar um sistema de avaliação em larga escala, que pudesse avaliar o desempenho dos alunos. Em decorrência, em 1988, o MEC (Ministério da Educação) instituiu o Saep (Sistema de Avaliação da Educação Primária), que logo após alterações, passou a chamar Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica)70. O objetivo era oferecer

subsídios para a formulação, reformulação e fiscalização de políticas públicas, contribuindo, dessa forma, para a melhoria da qualidade do ensino brasileiro.

Daí que:

o conceito de avaliação que emergiu privilegiou a avaliação externa em todos os níveis de ensino, sob a lógica da competitividade entre as organizações ou entre os professores, em que a qualidade era produto da própria competição pela construção de uma coleção de indicadores legitimados socialmente pelos atores.71

A avaliação externa dos sistemas de ensino foi assim adotada pelos governos como um instrumento de controle político do desenvolvimento social. Dessa forma, os resultados dos exames aplicados aos estudantes passaram a ocupar um lugar de destaque na política educacional, considerados a maneira mais inteligível para aferir a qualidade da educação.

Esses resultados se relacionam com o sistema escolar em sua plenitude, compreendendo recursos, infraestrutura, números de evasão e distorção série-idade, aproveitamento escolar (rendimento), etc. Contudo, não se pode confundir estes resultados com aqueles que dizem respeito à aprendizagem dos estudantes.

As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica defendem que a qualidade da Educação Básica de qualidade é o “alicerce indispensável e condição

69 Entre 1985 e 1986, estava em curso o Projeto Edurural, um programa financiado com recursos do

Banco Mundial e voltado para as escolas da área rural do nordeste brasileiro. Com o objetivo de se ter um instrumento que pudesse medir a eficácia das medidas adotadas durante a sua execução, estudou- se a elaboração de uma pesquisa que avaliasse o desempenho dos alunos que estavam frequentando as escolas beneficiadas pelo Projeto e compará-lo com o dos alunos não beneficiados. Brasil. Ministério da Educação. PDE : Plano de Desenvolvimento da Educação: SAEB : matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília : MEC, SEB; Inep, 2008.

70 Ver HORTA NETO, J. L. .Um olhar retrospectivo sobre a avaliação externa no Brasil: das primeiras

medições em educação até o SAEB de 2005. Madrid: ReMadrid: ReRevista Iberoamericana de Educación (Online), v. 42, p. 1-14, 2007. Disponível em www.rieoei.org/ deloslectores/1533Horta.pdf .

71 Freitas, 2004, apud Marchelli, 2010. In: MARCHELLI, Paulo, Sérgio. Expansão e Qualidade da

Educação Básica no Brasil. Cadernos de Pesquisa n. 140, v. 40. Fundação Carlos Chagas. São Paulo, 2010. Disponível em: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/177/192. Acesso em julho de 2017.

primeira para o exercício pleno da cidadania e o acesso aos direitos sociais, econômicos, civis e políticos.”72

No entanto, no mesmo diploma, assevera que as avaliações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) são subsídios que orientam as políticas públicas de equidade no campo educacional. Levanta indagações se esses instrumentos de avaliação estão em consonância com a realidade das escolas, inclusive relacionando com o planejamento e operacionalização do currículo escolar.

Outrossim, questiona se os estudantes que se encontram submetidos a esse tipo de avaliação não estariam sendo punidos pelos péssimos resultados. E lamenta, embora tantos questionamentos, a ausência de alternativas para o aperfeiçoamento das avaliações nacionais.

É bem verdade que esses testes, em alguma medida, procuram verificar até que ponto as escolas estão preparando seus jovens para exercer o papel de cidadãos na sociedade contemporânea.

Nessa senda, pode-se constatar que a questão da qualidade da educação (ou a falta dela) é mais latente nas escolas públicas, uma vez que os resultados das avaliações externas (indicadores como o IDEB, a nível de Educação Básica), reforçam ainda mais a sensação de que elas são incapazes de oferecer um ensino de qualidade, pois se encontram ainda muito distantes das metas projetadas.73

Embora o indicador se preste, de acordo com os condicionantes já esposados, revelar a qualidade da educação, as provas que avaliam o desempenho dos estudantes e que contribuem para determinar tal índice se baseiam no currículo formal, mais especificamente em conteúdos de Matemática e Língua Portuguesa, que

72 Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais

Gerais da Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013, p. 4.

73 Sobre as metas projetadas do IDEB para as escolas estaduais da Bahia, no 9º ano do Ensino

Fundamental, ver tabela abaixo:

Disponível em: http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultado.seam?cid=12093246. Acesso em: 27 de julho de 2017.

são desenvolvidos nas escolas. Dessa maneira, não se relacionam diretamente com disciplinas da parte diversificada.

Estas constatações nos levam a refletir na relação entre os resultados das avaliações externas, notadamente a Prova Brasil, que subsidia o cálculo do índice da qualidade da educação no ensino fundamental e o currículo proposto pela Secretaria de Educação e executado pelas instituições públicas. As disciplinas da parte diversificada estariam contribuindo positivamente para melhorar tal índice?

No próximo capítulo, dados revelarão, em alguma medida, a opinião de professores que lecionam disciplinas da parte diversificada do currículo...

Dessa forma, revela-se importante analisar o currículo escolar que é efetivado na escola, ao qual os estudantes estão submetidos, e que determina, em alguma medida, a que qualidade se quer para os egressos da rede estadual de ensino, bem como a extensão desse direito fundamental.