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O Desenvolvimento Sustentável tornou-se um objetivo para a sociedade humana desde que os primeiros sinais de deterioração ambiental foram sendo expostos e seus efeitos se tornaram irreversíveis. E o que fazer para identificar o que é mais relevante em termos ambientais para ser mantido e protegido no tempo e no espaço, além de acompanhar as estratégias adotadas nesse sentido e os resultados que vêm sendo obtidos? A resposta pode ser uma ampla pesquisa de estratégias e ações adequadas a cada tipo de problema, complementada com indicadores adequados para acompanhar o desenvolvimento sustentável em uma comunidade, cidade, país, região numa esfera tão ampla que possa englobar o planeta. Isso requer conhecimento do que é importante para a viabilidade da existência do ecossistema envolvido, o que irá contribuir para a sua perpetuação.

A insustentabilidade ambiental é uma ameaça à existência da sociedade humana. Contudo essa ameaça é vista como algo distante, talvez longe demais para ser apropriadamente reconhecida. Isso leva o ser humano a não enxergar, hoje, motivos para preocupação e a imaginar que, com o passar do tempo, tal ameaça desaparecerá ou então alguém achará uma forma de superá-la, apesar da complexidade que as questões ambientais envolvem.

O Desenvolvimento Sustentável possui várias dimensões: ambiental, material, ecológica, social, econômica, legal, cultural, política e psicológica (BOSSEL, 1999), que requerem acompanhamento. Ao se elencar uma série de indicadores, um para cada dimensão, serão obtidas informações segmentadas, relacionadas a cada indicador, o que vai dificultar o entendimento do todo. Pesquisadores propõem diversas formas de detalhamento para o estudo da sustentabilidade. Bossel (1999), por exemplo, apresenta uma divisão em três sistemas (humano, de suporte e natural) e seus respectivos subsistemas (figura 1.2), que se relacionam entre si. Cada um desses subsistemas pode ser visto como uma variável vital para o desenvolvimento do sistema como um todo, e a escolha de bons indicadores contribui para o monitoramento da eficiência das ações e estratégias adotadas, ratificando ou não um melhor desempenho do conjunto.

Figura 1.2-1 Os sete subsistemas da antroposfera e suas principais relações

Fonte: Bossel, 1999.

Cada relação entre dois subsistemas pode gerar uma série de indicadores e a sua quantidade de varia de acordo com o tipo de resposta que se queira obter. No caso do tema em estudo, o uso de recursos naturais no Brasil, a relação mais direta passa pela demanda que os subsistemas “economia” e “infraestrutura”, exercem sobre o subsistema “recursos naturais”. E os indicadores de desenvolvimento sustentável que permitem monitorar essa demanda são baseados na contabilização dos fluxos mássicos extraídos da natureza e retornados a ela, quer seja na forma tradicional de resíduos sólidos, efluentes líquidos ou emissões gasosas, quer seja como produtos dissipados quando do seu uso, matéria erodida pela atividade agrícola ou removida do solo pela exploração de minerais.

Já foram desenvolvidas diversas ferramentas de contabilização e diversos modelos informatizados que propiciaram o surgimento de sistemas de informação integrando dados de uso dos recursos naturais, econômicos e os que indicassem os resultados das políticas ambientais mais efetivas. Resumidamente, podemos citar alguns exemplos dessas ferramentas: Norris (1997) comenta o LCNetBase, que analisa dados econômicos e ambientais de bancos de dados americanos (EPA e US Bureau of Economic Analysis). Maenpaa e Juutinen (1997) apresentam o modelo finlandês FMS criado no início dos anos 80, que trabalha com as variáveis: energia, floresta, metais, emissões e recursos naturais e que tem sido usado para modelar o setor florestal naquele país. Guineé (1997) cita o M-P

chain, um sistema formado por fluxos de produtos e materiais combinando dados de

processos, preços, demandas, cadeias produtivas, que permite a busca de alternativa de materiais e simula os impactos ambientais e econômicos. O EMI 2.0 (HOHMEYER, 1997) foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisa Econômica Europeia e mede os efeitos das emissões

Sistema Humano Sistema de Suporte Sistema Natural Meio Ambiente Desenvolvimento do Individuo Social Infraestrutura Economia Governo Recursos Naturais

diretas e indiretas das atividades econômicas no meio ambiente. Sua base de dados contempla a investigação de 12 poluentes atmosféricos, 60 tipos de resíduos sólidos e 4 tipos de efluentes residuais, de 58 setores da economia alemã. Radermacher (1997) explica que o MEFIS (Material and Energy Flow Information System) foi criado num formato de cubo virtual em que cada cubo contém as informações setoriais e seus fluxos de entradas e saídas e que o Physical Input Output Table – PIOT, originado das tabelas de entradas e saídas da área financeira, contempla dados desde a extração da matéria-prima ao descarte de resíduos, passando pelo balanço completo de cada atividade de consumo e produção. O RSS (Reference Sustainable System) é um modelo adaptado para cidades e possui a função custo social minimizada, em que os impactos ambientais são internalizados como custos financeiros para a sociedade (FOXON, 1997). O MARKAL (MARKet ALocation) foi desenvolvido para estratégias energéticas de longo prazo, contém um banco de dados com centenas de tecnologias e seus parâmetros técnicos, financeiros e ambientais. Com mais de 15 anos no mercado, tem sido usado por mais de 50 instituições em 27 países (GIELEN, 1997). E finalmente a Análise de Fluxo de Massa – AFM, ferramenta adotada pela Comissão Europeia (CEC, 2001) para padronizar o procedimento de obtenção de um banco de dados estatísticos e que refletisse de forma confiável o inventário nacional de uso dos recursos naturais de todos os Estados membros da Comunidade Europeia.

Mais recentemente a Universidade de Yale (2008) publicou o Coeficiente de Desempenho Ambiental (Environmental Performance Index), em que o item Produção de Recursos Naturais faz parte de uma das famílias de indicadores. Nesse item, somente a produção de pesca, de floresta e de agricultura é contabilizada, a produção de metais não compõe o seu cálculo. Por outro lado, as Nações Unidas (s.d.) através da Comissão para o Desenvolvimento Sustentável, elaborou um guia para a confecção de indicadores para o desenvolvimento sustentável, que está dividido em três grandes temas: social (19 indicadores), ambiental (19) e econômico (18). O único indicador relacionado com o uso dos recursos naturais foi classificado como indicador econômico (Uso intensivo de material) e contabiliza somente os metais.

Dentre as ferramentas identificadas a AFM é a única que aborda todos os fluxos mássicos, quer sejam bióticos ou abióticos e, portanto, foi a escolhida para acompanhar a demanda de uma economia a partir dos recursos naturais explorados.