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V- O Infarmed I.P à luz da Lei-Quadro das Entidades Reguladoras

5.2 O INFARMED I.P

Em 2012, foi aprovada a lei orgânica do INFARMED, através do Decreto-Lei n.º 46/2012, de 24 de fevereiro. Os seus estatutos são regulados pela Portaria nº 267/2012, de 31 de agosto160. O INFARMED vê-lhe também aplicada a Lei-quadro dos Institutos Públicos, com uma derrogação daquele regime nas especificidades do INFARMED, conforme resulta da leitura dos artigos 48.º nº1 alínea i) da LQIP.

Começando pela sua Natureza, o INFARMED é uma entidade reguladora com a natureza de instituto público, fazendo parte da administração indirecta do Estado e estando dotado de autonomia administrativa, financeira e património próprio de acordo com o artigo 1.º n.º 1 do decreto-lei nº46/2012.

Como referido anteriormente, uma entidade administrativa nem sempre segue a forma de entidade reguladora independente. No caso, a natureza que tem esta entidade é a de Instituto Público, enquadrando-se na administração indireta do Estado. Um instituto público é “uma pessoa colectiva pública, de tipo institucional, criada para assegurar o desempenho de determinadas funções administrativas de caracter não empresarial pertencentes ao Estado ou a outra pessoa colectiva pública”161, que está sujeita ao controlo do estado pelos mecanismos de tutela e superintendência, de acordo com os artigos 41.º e 42.º da Lei-quadro dos institutos públicos. A lei avança igualmente um conceito para Instituto Público, sendo este o consagrado no artigo 4.º nº1 da LQIP.

Enquanto Instituto Público, o INFARMED I.P está sujeito a superintendência e tutela, pelo Ministério da Saúde, de acordo com o artigo n.º 1 do Decreto-Lei n.º 46/2012. Fazendo parte da administração indirecta, o INFARMED I.P prossegue o interesse público, de forma descentralizado em relação ao aparelho estadual, actuando através de pessoas colectivas distintas do Estado e com personalidade jurídica própria, bem como autonomia administrativa e financeira. Estas Pessoas Colectivas Públicas, são titulares de poderes públicos e deveres, distinguindo-se das Pessoas Colectivas Privadas, que possam exercer funções públicas. Esta distinção consiste no facto de as Pessoas Colectivas Privadas não actuarem em

160 Portaria n.º 267/2012, de 31 de agosto – Disponível em:

https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-

/search/174826/details/normal?q=Portaria+n.%C2%BA%20267%2F2012

161 Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, Vol. I –, Almedina, 3ª ed., 5ª

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nome próprio e um Instituto Público, enquanto Pessoa Colectiva Pública, actua em nome próprio, enquanto titular de poderes e deveres públicos.

Enquanto Instituto Público o INFARMED integra-se na Administração Pública, fazendo parte da Administração Indirecta. Entendendo Administração Pública, num sentido material como: “a actividade típica dos serviços públicos e agentes administrativos desenvolvida no interesse geral da colectividade, com vista à satisfação regular e continua das necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar, obtendo para o efeito os recursos mais adequados e utilizando as formas mais convenientes”162

Os institutos públicos, enquanto administração indirecta, diferenciam-se da administração directa do Estado por: não se enquadrarem na pessoa colectiva Estado, não estarem integrados na estrutura hierárquica do mesmo, actuarem de modo indirecto e não imediato de acordo com a estrutura estadual. Contudo, prosseguem os mesmos fins que a Administração Directa do Estado. Distinguindo- se da administração independente, pela imputabilidade dos administradores na administração independente, pela sua composição e principalmente pela sujeição dos institutos públicos aos poderes de tutela e superintendência, sendo que ambos os tipos de administração prosseguem o interesse público.163 A tutela administrativa é o “conjunto dos poderes de intervenção de uma pessoa colectiva publica na gestão de outra pessoa colectiva, a fim de assegurar a legalidade ou o mérito da sua actuação”.164 Por sua vez, a superintendência é a definição de objetivos ou directrizes à actuação das pessoas colectivas públicas com um determinado fim, por parte do Estado ou de outra pessoa colectiva com variados fins, que a lei submeta a sua dependência. Adiante, aquando da sua análise à luz da LQERI, identificaremos a possibilidade ou não do INFARMED ser uma entidade administrativa independente.

162 Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, Vol. I, Almedina, – 3ª Ed., 5ª

reimpressão, Outubro 2010

163 Posição contrária, que considera o INFARMED como uma entidade administrativa

independente, pode ser encontrada no Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa relativo ao processo

164/14.6YUSTR-A.L1 -5, disponível em.

http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/2e5587fe9196416f8 0257ec2003197f8?OpenDocument

164 Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, Vol. I, Almedina, – 3ª Ed., 5ª

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De acordo com o artigo 2.º da sua lei orgânica, o INFARMED exerce os seus poderes sobre todo o território nacional, estando sediado em Lisboa.

O INFARMED I.P, actua com a missão de “regular e supervisionar os sectores dos medicamentos de uso humano e dos produtos de saúde, segundo os mais elevados padrões de protecção da saúde pública, e garantir o acesso dos profissionais da saúde e dos cidadãos a medicamentos e produtos de saúde de qualidade, eficazes e seguros”165, tendo as suas atribuições fixadas no nº 2 do artigo 3.º da sua lei orgânica.

O INFARMED I.P tem como órgãos o conselho directivo, conselho consultivo, conselho fiscal único, as comissões técnicas especializadas e o Conselho Nacional da Publicidade de Medicamentos e Produtos de Saúde, de acordo com o previsto no artigo 4.º da lei orgânica. Os membros do Conselho Directivo são designados por despacho do Ministro de tutela e têm um mandato de 5 anos e renovável por uma vez, de acordo com os artigos 19.º4 e 20 nº 1 e 3 da LQIP. Os seus membros podem ser, por motivo justificado, destituídos de funções, conforme resulta do artigo 20 nº9 da LQIP. Os membros dos órgãos de fiscalização são igualmente nomeados por membros do governo, de acordo com o artigo 6.º da lei orgânica do INFARMED, que remete para regime da LQIP, e em consequência para o seu artigo 27.º da LQIP. Daqui podemos retirar, que a autonomia orgânica destas entidades encontra-se bastante limitada, devido à participação governativa na nomeação dos membros dos seus órgãos, bem como a possibilidade de recorrer a critérios bastante amplos para a destituição dos membros dos órgãos, como se pode observar pelas possibilidade enumeradas no do artigo 20 nº 9.º , que conferem ampla margem de decisão ao governo, ainda que a decisão tenha de ser fundamentada , como por exemplo a necessidade de imprimir nova orientação à gestão .

Em relação ao seu regime financeiro, o INFARMED I.P dispõe das receitas que lhe advenham de dotações designadas do orçamento de Estado, dispondo igualmente de receitas próprias, enumeradas no artigo 12.º nº2. Porém, de acordo com o nº 3 do artigo 12.º, “As receitas próprias referidas no número anterior são consignadas à realização de despesas do INFARMED, I. P., durante a execução do orçamento do ano a que respeitam, podendo os saldos não utilizados transitar para o

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ano seguinte, nos termos da lei”166. Da leitura destes artigos e do artigo 35.º da LQIP167, podemos verificar que a independência financeira do INFARMED é a dos serviços e fundos autónomos.

O INFARMED dispõe de património próprio, sendo este constituído pela totalidade dos bens, direitos e obrigações de que seja titular, como deve retirar da leitura dos artigos 1.º nº1 e 14.º n.º 1 da LQIP.

Em relação aos seus poderes, vêm a ser estabelecidos no artigo 15.º e seguintes da lei orgânica. Este tema será adiante tratado, ao tipo de regulação exercido pelo INFARMED. Contudo, dizer já que este detém amplos poderes de regulação e supervisão, tendo igualmente poderes sancionatórios.

A sua autonomia funcional, como já referido, encontra-se limitada, por esta estar sujeita à tutela administrativa e superintendência do governo.

166 Decreto-Lei n.º 46/2012, de 24 de fevereiro

167 Artigo 35.º Lei- Quadro 3/2004, de 15 de janeiro - “Os institutos públicos encontram-se

sujeitos ao regime orçamental e financeiro dos serviços e fundos autónomos, à excepção dos institutos públicos desprovidos de autonomia financeira, aos quais são aplicáveis as normas financeiras dos serviços com autonomia administrativa, sem prejuízo das especificidades constantes da presente lei.”

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