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A inflação no modelo pós-keynesiano e as políticas propostas para o controle da inflação: crítica ao

4.1 Fundamentos teóricos da economia de Keynes e dos Pós-Keynesianos

4.1.4 A inflação no modelo pós-keynesiano e as políticas propostas para o controle da inflação: crítica ao

Os pós-keynesianos consideram que a taxa de juros não deve ser utilizada para o controle da inflação, visto que, discordam da teoria econômica convencional com relação à natureza do processo inflacionário. Para a teoria pós-keynesiana, a inflação na maioria das vezes é um problema do lado da oferta e a taxa de juros incide sobre o lado da demanda. Ou melhor, quando o produto está abaixo do equilíbrio de pleno emprego dos fatores produtivos, a inflação seria um problema oriundo do lado da oferta, relacionado aos custos dos fatores produtivos.

A idéia keynesiana, em oposição à regra convencional de busca controle da variação do nível de preços, é que uma elevação da taxa de juros atacaria os sintomas da inflação e não a sua causa. Tal elevação dificultaria a passagem de um aumento de custos aos preços (o sintoma), mas não resolveria o problema da elevação de custos (a causa). (SICSÚ, 2003, pg. 30).

Além de atacar somente os sintomas de processo inflacionário e não a sua causa, os teóricos pós-keyenesianos discordam da utilização da taxa de juros tendo como único fim o controle do processo inflacionário, pois a política monetária é um forte instrumento para estimular o investimento e reduzir o desemprego na economia. Ao contrário dos novo- clássicos, os autores dessa escola consideram que a moeda não é neutra nem no curto nem no longo prazo, dessa forma utilizar o instrumento da taxa de juros unicamente para estabilizar o nível de preços seria subutilizar a política monetária.

Apesar da estratégia convencional de controle da inflação ser inadequada, segundo a teoria pós-keynesiana, ela não é considerada de forma alguma ineficiente. Esta política pode ser bem sucedida na medida em que reduz as expectativas de rendimentos futuros dos empresários, diminui os investimentos e aumenta o desemprego. O resfriamento de toda a economia dificulta a passagem de um aumento dos custos aos preços, pois as empresas não encontram demanda para os seus produtos nem a preços correntes, então seria ainda mais difícil vender os seus produtos com preços reajustados. Portanto, é através da diminuição do nível de investimento e do emprego que o aumento da taxa de juros consegue impedir a passagem do aumento de custos aos preços e, assim, segurar a pressão inflacionária (SICSÚ, 2003).

É preciso ficar claro que se a elevação da taxa de juros não causar desemprego (e em alguns casos, falências empresariais) não terá qualquer eficácia antiinflacionária. É preciso ficar claro que não existe outro mecanismo de controle da inflação por intermédio da taxa de juros que não seja através da geração de desemprego. (SICSÚ, 2004).

Assim, o aumento do desemprego não é um efeito colateral da política antiinflacionária, que funciona via aumento da taxa de juros, mas o seu mecanismo fundamental. Além da elevação do desemprego, existem várias distorções que podem ser associadas ao aumento da taxa de juros, entre elas a redução dos salários e a precarização das relações de trabalho (troca de trabalhadores com carteira assinada por prestadores de serviço). Visto que, os empresários buscando recompor as suas margens de lucro, que estavam deprimidas devido a sua impossibilidade de repassar o aumento de custos aos preços, buscam reduzir os custos com a utilização da mão-de-obra (SICSÚ, 2005). Não estamos afirmando com isso que as distorções supracitadas têm como única causa o aumento da taxa de juros, somente estamos destacando que a estratégia de controle da inflação via aumento da taxa de juros pode, em alguns casos, contribuir para gerar essas distorções.

Quando a economia começa a sua recuperação, os empresários procuram recompor a sua margem de lucro que estava deprimida durante a fase de queda da demanda agregada. Dessa forma, existe uma tendência de a economia se manter em um estado de stop-and-go permanente. As pressões inflacionárias iniciais são sempre combatidas com aumento da taxa de juros, que funciona via redução da demanda agregada e do produto. Passado algum tempo, a economia vai recuperar o seu ritmo de atividade econômica inicial, o que pode dar início a novas pressões inflacionárias, que serão novamente combatidas via desaquecimento da economia.

Além disso, a estratégia tradicional de combate à inflação não diferencia as empresas geradoras de inflação daquelas que estão tendo um comportamento compatível com a estabilidade de preços. Algumas empresas “inocentes” não resistem ao elevado custo financeiro e à fraca demanda e entram em processo de falência. Ou seja, a elevação da taxa de juros impõe um resfriamento geral da economia sem se preocupar em diferenciar os setores que podem estar contribuindo mais ou menos para o aumento dos preços, assim alguns setores que contribuem menos para o aumento das pressões inflacionárias acabam sofrendo também as conseqüências dessa política (SICSÚ, 2007).

Diante da constatação das conseqüências da estratégia convencional de controle da inflação, os pós-keyenesianos propõem uma política alternativa para manter a estabilidade de preços na economia. A política pós-keynesiana não sugere o resfriamento de toda a economia via elevação da taxa de juros, mas sim medidas que atinjam diretamente o foco inflacionário, que está normalmente no lado da oferta da economia. Dependendo da causa da inflação deve- se formular uma política específica, sem adotar medidas de desaquecimento generalizantes. O aumento da taxa de juros somente deve ser o principal instrumento de combate à inflação, se a economia estiver próxima ao equilíbrio de pleno emprego dos fatores produtivos.

O método pós-keyenesiano é minucioso: identificada a origem da inflação, busca-se desenhar políticas específicas que possam sufocar a pressão inflacionária sem atingir outros setores que estão tendo um comportamento compatível com a estabilidade de preços. (SICSÚ, 2007, pg.99).

Portanto, segundo a teoria pós-keynesiana, o regime de metas de inflação não seria uma estratégia adequada para combater a inflação. Pois, utiliza unicamente a taxa de juros para o controle da inflação. Segundo os pós-keynesianos, a taxa de juros não deve ser utilizada como principal instrumento de controle da inflação, porque ataca unicamente os sintomas da inflação (aumento dos preços) e não as suas causas (elevação dos custos). De acordo com essa vertente, deveria ser formulada uma política específica para cada tipo de inflação, evitando políticas que promovessem o desaquecimento total da economia. Isso não significa que o regime de metas de inflação, que opera de acordo com essa lógica da teoria econômica convencional, seja ineficiente para combater a inflação, mas sim que essa política gera um custo relevante em termos de produto e número de empregos.

Além disso, a utilização da política monetária tendo como único objetivo o controle da inflação, que é um dos princípios do regime de metas de inflação, seria, segundo o pensamento pós-keynesiano, promover uma subutilização da política monetária. Pois, como vimos na seção anterior, o referencial em questão tem como hipótese central a não-

neutralidade da moeda no curto e no longo prazo, consequentemente a política monetária deve ter também como objetivos a ampliação dos investimentos e do número de empregos.

4.1.5 Controvérsia entre os pós-keynesianos: a flexibilização do regime de metas de inflação