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INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DA PAISAGEM URBANA SOBRE AS

4 DISCUSSÃO

4.4 INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DA PAISAGEM URBANA SOBRE AS

Assim como nas análises realizadas para verificar a influência da urbanização sobre as abelhas, a porcentagem de área verde (PLAND) e o índice de diversidade de Shannon da paisagem (SHDI) também foram as variáveis preditoras mais explicativas nas análises realizadas com as propriedades de rede. Esse resultado demonstra que a quantidade de habitat e a heterogeneirade da paisagem, além de serem importantes para a preservação da assembleia de abelhas, também são relevantes para a manutenção das propriedades das redes de polinizadores em áreas urbanas. Nas análises sem a área do Passeio Público, apenas SHDI foi selecionado, o que demonstra que perdas menores na diversidade das classes de vegetação em relação à porcentagem de área verde já provocaram respostas na estrutura da rede, neste caso no índice de especialização. Além disso, as escalas mais importantes destas variáveis preditoras, assim como das variáveis relacionadas à fragmentação do habitat (como o número de fragmentos de área verde) também se mantiveram as mesmas.

As análises de seleção de modelos demonstraram a importância de avaliar as redes mutualísticas apenas com os dados das fêmeas, uma vez que houve variações nos resultados obtidos utilizando redes com e sem os machos, principalmente nas

análises realizadas com o índice de especialização de rede (H2´). Algumas áreas tiverem seus valores diminuídos enquanto outras aumentaram. Além disso, os valores dos pesos de evidência (wi) foram muito superiores apenas com os dados das fêmeas. Essa variação ocorre provavelmente porque os machos não coletam recurso para o ninho e podem ser menos seletivos quanto aos recursos florais. As análises com a modularidade (Q) variaram menos com a retirada dos dados dos machos. Os valores obtidos para cada área mostram que praticamente todas elas tiveram valores maiores apenas com os dados das fêmeas, assim, os dados dos machos deixam as redes menos modulares, provavelmente por estes serem menos seletivos. Apesar disso, a variação dos valores entre as áreas continuou semelhante, gerando resultados parecidos nos GLM realizados. A partir dos dados aqui obtidos, a rede mutualística torna-se mais especialista (maior H2´) quanto menor a heterogeneidade ambiental, a qual está associada com uma maior urbanização. Ou seja, nestes locais há uma menor sobreposição de nicho em relação ao recurso floral utilizado pelas abelhas. Porém, uma rede mais especializada não significa que as espécies generalistas foram perdidas da rede e que apenas as especialistas sobrevivem em ambientes altamente urbanizados. O que está ocorrendo em relação as abelhas é que as espécies generalistas tornam-se mais seletivas nestes ambientes mais hostis. Este resultado também foi encontrado por Machado e colaboradores (2020), que verificaram que Melipona quadrifasciata anthidioides, coletou uma maior variedade polínica em ambientes com maior heterogeneidade ambiental e baixa interferência humana. Os resultados aqui apresentados, de que as abelhas oligoléticas estão sendo perdidas nos ambientes mais urbanizados e as poliléticas são as espécies que conseguem se manter nestes locais, porém com uma menor sobreposição de nicho entre elas, é o reflexo de que a paisagem urbana provê uma menor gama de recursos florais para as abelhas como um todo. Este resultado vai ao encontro do descrito por Aizen e colaboradores (2012), onde o cerne das relações entre espécies generalistas seria o último grupo a ser perdido nos processos de perda de habitat.

O uso da terminologia “especialista” para inúmeras formas de especialização muitas vezes pode atrapalhar a interpretação dos resultados e dificultar a comunicação entre os membros da comunidade científica. Neste estudo as abelhas foram definidas como oligoléticas ou poliléticas a partir de literatura específica, informações estas

externas à rede obtida (MICHENER 2007, MARTINS et al. 2013). Esta incorporação de informações sobre cada espécie é de extrema importância, uma vez que são características inerentes às suas identidades, a qual independe da situação ecológica em que se encontram. O mesmo já ocorre para a classificação dos outros grupos funcionais, que sempre são definidos com dados externos. De acordo com Kaiser-Bunbury e Blüthgen (2015), a inserção de informações externas é importante para melhorar a análise e interpretação dos resultados obtidos com redes de interações.

A resposta obtida para a modularidade (Q), foi semelhantes à obtida para H2´, ou seja, quanto menor a heterogeneidade da paisagem, mais modulares as redes se apresentaram. Ou seja, as espécies de abelhas interagem mais com plantas dentro dos seus próprios módulos, tornando a rede mais compartimentalizada. Isso ocorre provavelmente pelas espécies como um todo estarem se tornando mais seletivas em utilizar determinadas plantas nestas áreas. Porém, a resposta foi mais difusa com Q do que em relação à H2´, apresentando modelos selecionados apenas quando a área do Passeio Público esteve presente nas análises. Este resultado ocorre provavelmente porque a modularidade depende da quantidade de interações de todas as espécies dentro e fora dos seus módulos, bem como da quantidade de módulos que a comunidade como um todo está estruturada e não apenas da especialização de cada espécie da rede. Por fim, foi demonstrado que a riqueza de abelhas de cada área está diretamente relacionada à riqueza de plantas por elas utilizadas. Apesar desta relação ser significativa, sete áreas apresentaram valores praticamente iguais de riqueza de plantas, apenas duas apresentaram valores diferenciados (menores), o Passeio Público e o Campus Jardim Botânico, áreas que estão entre as mais urbanizadas deste estudo. Desse modo, as análises realizadas entre as variáveis da paisagem e a riqueza de plantas mostrou que os valores dessas áreas exerceram muita influência nos resultados. Isso significa que a riqueza de plantas pode explicar um pouco a variação da riqueza de abelhas entre as áreas, mas que não seria a variável mais explicativa. Esse resultado fortalece os resultados das análises anteriores que demonstraram que a riqueza de abelhas e de seus grupos funcionais variaram com relação aos processos de urbanização muito mais devido às características inerentes de cada espécie do que apenas pelas áreas mais urbanizadas apresentarem menos espécies de plantas. Estudos relacionados

às modificações na flora devido à urbanização mostram a complexidade deste tema, uma vez que muitos traços florais podem se beneficiar no meio urbano e muitos podem desaparecer (WILLIAMS et al. 2015), influenciando a ocorrência de cada espécie de abelha de forma diferenciada.