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A família é uma instituição que, ao longo da história da humanidade, tem servido como apoio, sustento e um veículo de transmissão de valores e tradições. No entanto, essa noção de família tem sofrido algumas alterações estruturais devido às rápidas transformações sociais e culturais a que temos assistido nos últimos anos.

De acordo com algumas investigações, o suporte familiar é um fator importante para minorar os problemas que afetam as crianças e os adolescentes, principalmente as consequências dos comportamentos de bullying (Brank et al., 2012).

Segundo Morgado et al., 2013, a sociedade e as famílias portuguesas têm sofrido mudanças com novas realidades, laços e relações com novas adaptações mentais e sociais muito exigentes. O conceito tradicional de família tem sofrido alterações, dando lugar a famílias monoparentais ou reorganizadas, ficando cada vez mais vulneráveis quer ao nível da saúde, quer ao nível da educação.

De acordo com um estudo (Gonçalves, 2013) sobre o efeito na educação dos filhos em famílias monoparentais femininas, verificou-se a existência de dificuldades económicas, de patologias de natureza psicológica e de consumo de substâncias, fatores que potenciam a exclusão social e dificulta a transmissão das competências sociais necessárias à socialização e educação dos filhos.

Em relação aos conflitos existentes antes e depois de um divórcio, poderão atingir as ligações afetivas entre a criança e o pai e/ou a mãe, o que poderá aumentar a vulnerabilidade aos desajustes emocionais e comportamentais da criança (Hack & Ramires, 2010).

As variáveis familiares parecem contribuir para a participação de uma criança no bullying. Se o pai de um aluno foi condenado por um crime, essa criança provavelmente será um bully (Farrington & Baldry, 2010). As crianças que testemunham violência doméstica entre os pais também são mais propensas a intimidarem na escola (Bowes et al., 2009; Carrell & Hoekstra, 2010). Além disso, se houver um histórico de envolvimento familiar com os Serviços de Proteção Infantil pode tornar uma criança mais propensa a ser um bully (Mohapatra et al., 2010).

Pelo fato de uma família ser destruturada e existirem maus tratos por parte dos pais leva a que as crianças sintam um grande impacto no seu bem-estar e no seu desenvolvimento. Segundo Seeds et al. (2010), os maus tratos de forma continuada por parte da figura paterna,

23 provoca uma baixa perceção do suporte parental na criança e poderá, mais tarde, resultar em sintomatologia depressiva.

De acordo com Gaertner et al. (2010) quando a criança tem uma baixa perceção do suporte parental vê nos amigos uma fonte de suporte a quem podem recorrer, ou seja, é nas relações de amizade que procuram colmatar as falhas das relações com os seus pais. Sendo a relação com os amigos e o grupo um forte fator de influência.

No que diz respeito à influência familiar, Cummings (2010) verificou que o tipo de família em que a criança está inserida influencia o seu comportamento e, muitas vezes, as crianças que observam e vivem com a violência em casa, refletem essa violência para dentro da escola. Sobretudo as relações de desigualdade de poder na família e na escola, a ambivalência no envolvimento emocional com pais, irmãos e colegas, com clima emocional frio e assimétrico.

De acordo com Pereira (2008; 2006), as relações de desigualdade de poder na família revelam um lar com um dia a dia hostil e permissivo em que há o uso da violência como forma de disciplina, sem quaisquer habilidades para a resolução de conflitos, o que leva as crianças a transportarem essas condutas com os colegas e até com os professores.

Podemos afirmar que as crianças com comportamentos de bullying provêm de famílias que têm a violência como forma de comunicar poder e com pouco ou nenhum afeto, ou seja, as crianças com problemas no seio familiar têm mais probabilidades de serem agressivas.

Segundo Silva (2010), a grande maioria dos pais age de forma tolerante com os filhos e fingem não ver os comportamentos agressivos praticados pelos mesmos na escola. Trata-se de uma compensação pela distância dos pais para com os filhos, mas, o resultado, é que cada vez mais as crianças habituam-se a fazerem o que querem, sem a presença dos pais para impor os limites. A maioria dessas crianças não seguem as regras sociais e não pensam nem se preocupam com o que os seus comportamentos agressivos podem causar aos outros.

Por outro lado, existem agressores que vêm de uma família estruturada, que não têm atitudes agressivas, mas têm preconceitos com as diferenças e transmitem esse preconceito para os filhos que agem na escola de uma forma preconceituosa (Ramos, 2008).

Também é importante considerar que crianças de famílias com recursos socioeconómicos baixos experimentam mais ambientes domésticos desfavoráveis, inclusive enfrentam castigos mais severos, práticas parentais com restrições autoritárias, vivenciando maiores níveis de violência entre irmãos, e sendo mais frequentemente expostos a incidentes de violência doméstica. Do ponto de vista da teoria da aprendizagem social, relacionamentos precoces das crianças em casa moldam como eles interagem com os outros mais tarde na vida.

24 Experimentar violência ou abuso em casa pode afetar a capacidade das crianças de formar e manter relacionamentos entre pares coesos e saudáveis (Tippett & Wolke, 2014).

A presença dos pais na vida dos filhos torna-se de extrema importância quer nos que são vítimas, agressores e nos que são testemunhas dos bullys, no sentido de ajudarem as crianças a desenvolverem as capacidades para se expressarem e se relacionarem de uma forma adequada para que se tornem adultos saudáveis, equilibrados e principalmente saberem conviver com as diferenças.

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