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A INFLUÊNCIA DAS RENDAS PETROLÍFERAS PARA AS DINÂMICAS LOCAIS FLUMINENSES

Mapa 1 – Evolução da mancha de ocupação do território metropoliano do Rio de Janeiro.

1.3 A INFLUÊNCIA DAS RENDAS PETROLÍFERAS PARA AS DINÂMICAS LOCAIS FLUMINENSES

A descoberta de petróleo na Bacia de Campos, no Norte Fluminense, funciona como um divisor de águas para a indústria petrolífera no Brasil. A implantação da base da Petrobras em Macaé, ainda na década de 1970, representa a imersão do estado do Rio de Janeiro e de alguns municípios em um novo ciclo econômico: o ciclo do petróleo.

Reconhecidos os dois principais conjuntos de municípios fluminenses que mais se relacionam com a indústria petrolífera no estado, passa-se a analisar o quão efetivamente eles se conectam ao petróleo, sendo o termômetro mais elementar desta participação o recebimento de rendas petrolíferas.

É necessário refletir sobre os mecanismos que permitem aos governos equacionar os benefícios e impactos da indústria petrolífera sobre o ambiente, uma vez que a espacialização dessas atividades produz efeitos diferenciados, segundo as escalas de análise, ou seja, nos planos nacional, regional, estadual e municipal (ROCHA, 2011). O mecanismo que influencia diretamente os espaços é a forma de distribuição das receitas geradas a partir do petróleo, estabelecida pelo governo federal.

Os royalties colocam os municípios produtores entre os detentores dos orçamentos mais ricos dos municípios brasileiros, em termos proporcionais (per

capita). Segundo Serra e Carla P. (2003), os recursos são suficientes para fazer

quase tudo o que pode almejar um austero gestor. A combinação entre forma de repasse dos recursos e sua aplicação é foco de acalorados debates na sociedade e no Congresso Nacional.

O recebimento de rendas petrolíferas,24 sejam elas royalties ou

participações especiais, exerce um forte peso político e econômico nos jogos de

24 Constitui uma espécie de compensação pelos direitos adquiridos. A palavra, de

origem inglesa (Royal) se relaciona com realeza. No contexto dos recursos energéticos é uma compensação financeira que os exploradores dão aos entes federativos pela riqueza explorada. São pagos mês a mês e as porcentagens incidem sobre o valor total da produção de óleo e gás por campo, com uma alíquota de 10% sobre a produção. Já as participações especiais constituem compensações financeiras extraordinárias, que são pagas quando ocorre grande volume de

poder no território.25 Ele propicia a crescente elevação de capital que circula nas

economias de alguns municípios fluminenses, que em muitos casos nem estão inseridos verdadeiramente no setor petrolífero, pois alguns são limítrofes a outros que possuem frente marítima para os poços produtores.

O fato é que o massivo recebimento de royalties por parte dos entes federativos municipais produtores e limítrofes aos campos de petróleo impulsiona o crescimento de outros setores, tais como comércio, serviços, imobiliário, construção civil e administração pública. Porém, embora o desempenho econômico se eleve, como se observa com os municípios fluminenses, sobretudo os da Ompetro, nas áreas que abrigam a atividade petrolífera muitos problemas urbanos se agravam, devido ao aumento da população e da demanda por serviços essenciais como habitação, saúde e educação.

Outros países latino-americanos ricos em petróleo, assim como o Brasil, enfrentam dificuldades similares para transformar as riquezas provenientes da exploração do produto em melhoria das condições de vida da população. É o caso da Venezuela, país vizinho que possui uma das maiores reservas provadas de petróleo no cenário mundial.

À diferença do Brasil, que distribui renda diretamente aos estados e municípios onde se encontram as reservas, as rendas do petróleo no pais bolivariano estão concentradas nas mãos do governo central, mais especificamente pela estatal Petróleos de Venezuela, a PDVSA. Assim, as rendas petrolíferas provocam um impacto limitado na concentração local de riqueza na comparação com um país federativo no qual existem a separação e a autonomia entre os entes municipal, estadual e federal, como é caso do Brasil. Aqui, a lei determina a segmentação destes recursos, beneficiando sobremaneira os estados produtores e municípios próximos aos campos de exploração de reservas.

produção ou de grande rentabilidade. É paga por campo de concessão, a partir do trimestre que ocorre a data de início da respectiva produção.

25 Um exemplo deste peso político econômico é representado pela trajetória de poder

político alcançado pela família Garotinho no estado do Rio de Janeiro, oriunda de Campos dos Goytacases, município que mais recebe royalties no Brasil.

Até o final da década de 1960, as rendas petrolíferas, sintetizadas como a soma de royalties e participações especiais, é repassada aos estados e municípios somente em relação aos blocos continentais. O valor correspondente a 5% da produção é repassado da seguinte maneira: 1% entre os municípios e 4% para os estados produtores.

A partir de 1985, com a lei nº 7.453/85, após a descoberta da Bacia de Campos, são estabelecidos critérios (bastante questionados até os dias atuais) para repasse de receitas aos municípios e estados com frente marítima para os blocos de exploração em mar. O IBGE desenvolve um estudo pioneiro26 no Brasil para

determinar o conceito de extensão dos limites territoriais dos estados e municípios litorâneos na plataforma continental, tornando o fator geográfico um determinante para a distribuição de recursos provenientes da exploração dos poços. Conjugadas com a autonomia política e fiscal das esferas de governo subnacionais, as rendas petrolíferas beneficiam sobremaneira os entes estaduais e municipais produtores (ROCHA, 2011).

Com a lei de 1985, continuam a valer os 5% relativos aos preços de referência mensal de venda do produto, a serem aplicados ao petróleo produzido em cada campo. A alíquota básica de royalties corresponde a 10%. No entanto, agora há mais gente repartindo esse montante. Segundo a lei,27 a distribuição das

receitas do petróleo e gás dá-se, basicamente, da seguinte forma: 1,5% para os estados confrontantes a poços; 1,5% para os municípios confrontantes aos poços produtores e também àqueles pertencentes às áreas geoeconômicas dos municípios produtores (os que não possuem frente marítima com poços, mas fazem limite com municípios produtores); 1,0% para o Ministério da Marinha; e o 1% restante para o Fundo Especial a ser distribuído entre todos os outros estados e municípios da Federação.

A concentração espacial das reservas na frente marítima do estado do Rio de Janeiro e a destinação privilegiada de royalties aos municípios que se encontram perto dos poços produtores têm determinado o acúmulo de riquezas

26 Para mais detalhes sobre o assunto, ver Serra (2005).

27 Para uma explicação didática e mais profunda sobre a repartição dos royalties, ver

provenientes da exploração de petróleo e gás no estado. Assim, entre os dez municípios que mais se beneficiam do recebimento de royalties no Brasil, oito localizam-se na área de influência da Bacia de Campos (AJARA; PIRES NETO, 2006).

Nos Gráficos 3, 4 e 5 é possível comparar os valores recebidos de

royalties e participações especiais pelo conjunto de municípios da Ompetro e do

Conleste, no período de 2000 a 2013. Utiliza-se, para tanto, a base de dados online sobre royalties e participações especiais disponibilizada pela Universidade Cândido Mendes (Ucam), unidade Campos dos Goytacazes. Os indicadores organizados pela Ucam Campos trazem dados de recebimento de royalties por todas as entidades ou fundos nacionais28 que recebem rendas petrolíferas, em reais, em

séries anuais, a partir de 1999. Adicionalmente, para os municípios, é possível contar com as receitas orçamentárias anuais, que são disponibilizadas pelo Tribunal de Contas de cada estado. Esses dados, sistematizados, constituem uma ferramenta didática, que ajuda a compreender facilmente como os entes locais podem ser afetados e dependentes das receitas oriundas de royalties, o que ocorre efetivamente com alguns municípios fluminenses.

28 Faz referência às seguintes entidades: Comando da Marinha, Fundo Especial,

Ministério de Ciência e Tecnologia, Ministério do Meio Ambiente, Ministério das Minas e Energia, Fundo Social, Educação e Saúde, estados e municípios.

Gráfico 3 – Royalties e participações especiais recebidos. Conleste e Ompetro, 2000-2013.

Fonte: Inforoyalties (2016). Elaboração própria.

Os valores são sempre muito superiores para os municípios da Bacia de Campos, no Norte Fluminense do estado, que provêm ainda a maior parte do petróleo do país. Porém, nota-se um incremento recente para os municípios do Conleste, no Leste Fluminense, devido à exploração dos poços do Pré-sal. Observa-se uma leve diminuição do recebimento dos recursos, para o ano de 2012, para o grupo da Ompetro.

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 M il e s R$ OMPETRO CONLESTE

Gráfico 4 – Royalties e participações especiais recebidos. Municípios do Conleste e da Ompetro, 2013.

Fonte: Inforoyalties (2016). Elaboração própria.

Gráfico 5 – Participação nas receitas municipais das rendas provindas do petróleo. Itaboraí, Maricá, Macaé e Rio das Ostras, 2000-2012.

Em %

Fonte: Inforoyalties (2016). Elaboração própria.

0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400

CAMPOS DOS GOYTACAZES