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Influência do El Niño e do La Niña na variabilidade da precipitação

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4. Variabilidade interanual da precipitação por áreas homogêneas

4.4.4. Influência do El Niño e do La Niña na variabilidade da precipitação

impactos do El Niño no regime de precipitação das regiões Sudeste e Sul do Brasil, entretanto os sinais da influência do La Niña não estão tão nítidos. No mais, o comportamento da precipitação em presença do El Niño não é linear, apresentando variabilidade nos níveis de chuvas dependendo da localidade estudada. Com o objetivo de melhor delimitar a influência do El Niño e esclarecer ou prover indícios da influência do La Niña, nas precipitações do Sudeste e do Sul, são analisados quatro casos de El Niño, quatro de La Niña e dois casos de anos classificados como normais pelo critério de Trenberth (1997).

4.4.4.1. Influência do El Niño na precipitação

As Figuras 134, 135, 136 e 137 apresentam as anomalias de precipitação (em %) para totais anuais de precipitação para 1972, 1982, 1993 e 1997, anos sob influência do El Niño de forte intensidade.

Salvo nas áreas I (Vale do São Francisco e do Jequitinhonha) e II (Minas Gerais centro-norte), nota-se que, sob influência de El Niño de forte intensidade há uma tendência a ocorrerem anomalias positivas de precipitação, entre 20% e 30%, em todas as demais áreas homogêneas.

Contudo não há padrão característico de mudança no regime pluviométrico nas áreas III (Minas Gerais centro-sul); IV (Zona da Mata, norte - RJ e Litoral – ES), V (Minas Gerais – Sul e Cuestas Basálticas), VI (Planalto Arenito-Basáltico), VII (Vale do Paraíba), VIII (Paraná central); IX (Bacia do Chapecó-Iguaçu); X (São Paulo Sul) e XI (Vale do Itajaí – Planaltos de Lages). Podendo inclusive, nas áreas V, VIII e IX ocorrer anomalias negativas de precipitação acima de 20%.

Figura 134: Anomalias de precipitação (%) para total anual, El Niño de 1972., arrumar anos

Figura 135: Anomalias de precipitação (%) para total anual, El Niño de 1982/83.

Figura 136: Anomalias de precipitação (%)

para total anual, El Niño de 1992/93. Figura 137: Anomalias de precipitação (%) para total anual, El Niño de 1997/98.

Algumas áreas tais como, Bacia do Uruguai, Triângulo Mineiro e áreas isoladas de grandes altitudes (serra da Mantiqueira, Serra do Espinhaço) tendem a apresentar as mais fortes anomalias positivas de precipitação, enquanto as regiões equivalentes às áreas I (Vale do São Francisco e do Jequitinhonha) e II (Minas Gerais centro-norte) tendem a apresentar anomalias negativas de precipitação.

Segundo Cruz (2006) o evento El Niño de 1982/1983 foi de grande intensidade na região Sul, sobretudo, na cidade de Blumenau (SC), no Vale do Itajaí, onde chegou a chover mais de 800 mm no mês de julho de 1983. No entanto, nota-se que o ano de 1982 apresentou anomalias positivas de precipitação muito mais intensas para a região Sudeste do que para a região Sul (Figura 135, mostrada anteriormente).

Neste sentido, ressalta-se a importância dos estudos relativos as chuvas intensas nas localidades sujeitas a estes fenômenos (Oliveira et al. 1998). Pois, ao que tudo indica, as inundações que ocorrem no Vale do Itajaí, sem considerar aqui o processo de ocupação do solo, estão ligadas mais diretamente a este fenômeno do que ao El Niño.

Entende-se, ainda, que embora o coeficiente de variação (CV) e o índice de irregularidade meteorológica (IIM) forneçam uma boa descrição da variabilidade do regime de precipitação, como já foi comentado anteriormente, pode ocorrer, em alguns casos uma compensação entre os anos e os meses mais chuvosos e, consequentemente, essas estatísticas podem não refletir variações mais pontuais do regime de precipitação, por exemplo: o caso das chamadas chuvas extremas. Neste sentido, observa-se que embora a Área VII (Vale do Paraíba) apresente indicadores favoráveis, CV=13,03% (variabilidade interanual) e IIM= 1,9, algumas cidades (Campinas, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santos, São Paulo, Taubaté e Ubatuba) localizadas nesta área têm sido prejudicadas pelas chuvas intensas ocorridas em determinados anos e meses do ano.

Como argumentou Silva et al. (2003), a variabilidade interanual (CV=14%) da precipitação, para o período de 1914 a 2000, na cidade de Uberaba é baixa porque ocorre uma compensação entre os meses mais secos e os mais chuvosos do ano, fazendo com que totais anuais de precipitação sejam mais uniformes de ano para ano do que no interior dos anos. O coeficiente de variabilidade interanual não mostra, por exemplo, que em Uberaba a variabilidade sazonal mensal na estação seca foi de 61,37% (mês de abril) a 161,08 % (mês de agosto).

Indica-se também que fatores estáticos locais podem influir na variabilidade da precipitação, como bem mostrou Azevedo et al. (2002) para a Bacia do Iguaçu, Silva et al. (2004) para as bacias do Uruguai e do Rio Ibicuí; e Martins et al. (1998) para o Rio Grande do Sul.

4.4.4.2. Influência do La Niña na precipitação

A precipitação apresenta comportamento diferenciado, conforme o evento de La Niña. As Figuras 138, 139, 140 e 141 apresentam as anomalias de precipitação (em %)

aos totais anuais para anos sob influência do La Niña: 1974 (forte intensidade), 1975 (forte intensidade), de 1985 (fraca intensidade) e 1999 (forte intensidade).

No evento de 1974, salvo, as áreas I (Vale do São Francisco e do Jequitinhonha), V (Minas Gerais - sul e Cuestas Basálticas) e VI (Planalto Arenito- Basáltico) observa-se que todo o restante da área de estudo apresentou anomalias negativas de precipitação. É possível que a precipitação do Planalto Arenito-Basáltico, sob influência de alguns casos de La Niña de forte intensidade (Figura 138), seja modulada pela Baixa do Chaco. Em 1975, salvo a Área IV (Zona da Mata, Norte - RJ e litoral – ES) todas as demais áreas apresentaram anomalias negativas de precipitação (Figura 139).

Figura 138: Anomalias de precipitação (%) para total anual, La Niña de 1974.

Figura 139: Anomalias de precipitação (%) para total anual, La Niña de 1975.

No ano de 1985, toda região acima da Área V (Minas Gerais – Sul e Cuestas Basálticas) apresentou anomalias positivas de precipitação (Figura 140). No ano de 1999, somente a Área I apresentou anomalias de precipitação ligeiramente positivas (Figura 141).

Figura 140: Anomalias de precipitação (%)

para total anual, La Niña de 1985 Figura 141: Anomalias de precipitação (%) para total anual, La Niña de 1999

Os anos de La Niña se caracterizam por uma tendência a chover, ligeiramente, abaixo da normal climatológica nas áreas II, III IV e VI. Nas áreas VIII, IX, XI, XII e XIII observa-se moderada tendência a diminuição da precipitação, e nas áreas V e VI, ora ocorrem anomalias positivas, ora ocorrem anomalias negativas de precipitação.

4.5. Influência da variabilidade sazonal da atmosfera no regime de precipitação das regiões Sudeste e Sul

Dentre os fatores atmosféricos que influem na variabilidade espacial da precipitação na América do Sul, assinalam-se a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). A ZCAS influencia o comportamento da precipitação das regiões Sudeste e Sul do Brasil, enquanto a ZCIT influencia a precipitação da região Nordeste. A ocorrência de veranicos e enchentes severas nas regiões Sudeste e Sul no período de verão está associada à ZCAS. A identificação dos padrões de circulação associados a estes fenômenos auxiliam na previsão do tempo e do clima, sendo de grande utilidade na prevenção dos impactos negativos que afetam a agricultura e a sociedade. A variabilidade sazonal e interanual da precipitação dependem ainda, de outras características relacionadas como, circulação atmosférica (ciclones, anti-ciclones e frentes frias) e também dos fenômenos relacionados à interação da atmosfera com o oceano tais como, o El Niño e o

La Niña. Nas próximas seções identifica-se e analisa-se a influência desses fenômenos no

regime de precipitação das regiões Sudeste e Sul do Brasil.