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A resposta ao estresse em mamíferos é mediada via sistema nervoso simpático, concomitantemente à ativação do eixo HPA, além de envolver mudanças nos mecanismos imunológicos, endócrinos e neurais (MCEWEN, 2007; ULRICH-LAI e HERMAN, 2009).

O eixo HPA é um dos mais importantes sistemas adaptativos do organismo, possibilitando que o mesmo responda à situações de estresse e desafios (MCEWEN e STELLAR, 1993; MCEWEN, 1998). Três hormônios, em particular, são usados como indicadores dos níveis de estresse: o fator de liberação de corticotropina (CRF), o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e o cortisol (ou corticosterona, dependendo da espécie). Então, uma das estratégias do organismo em resposta ao estresse envolve o aumento nas concentrações dos hormônios associados ao eixo HPA. Por outro lado, em condições não estressantes, esses hormônios tem um importante papel na manutenção da homeostasia e do balanço energético do organismo (SAPOLSKY e cols., 2000; MENDONÇA-FURTADO, 2006)

Qualquer estímulo, físico ou fisiológico, que cause um aumento na atividade do eixo HPA é identificado como um estressor. Com base no período de exposição a um agente estressor e considerando a propensão de cada indivíduo, há um aumento mensurável na liberação de CRF por neurônios especializados no núcleo paraventricular do hipotálamo, que subsequentemente induz a liberação de ACTH pela hipófise anterior, culminando com a estimulação da glândula adrenal e liberação de glicocorticoides pela sua região cortical (SAPOLSKY e cols., 2000; ULRICH-LAI e HERMAN, 2009).

Dentre os glicocorticoides, o cortisol é o principal indicador de estresse. Relacionado ao comportamento alimentar, o cortisol tem sido visto como um fator de motivação à ingestão de alimento na ausência de necessidades calóricas. Indivíduos que exibem uma resposta elevada ao cortisol, induzida por estresse agudo, consomem mais alimentos ricos em açúcar e gordura (EPEL e cols., 2001; RUTTERS e cols., 2009). TATARANNI e cols (1996) demonstraram ainda que doses terapêuticas de glicocorticoides induzem à obesidade, um efeito relacionado à habilidade dos mesmos agirem diretamente ou indiretamente na regulação central do apetite.

A capacidade de regulação do eixo HPA se dá pelo mecanismo de retroalimentação negativa, possibilitando que o organismo responda de forma aguda à demanda energética, enquanto minimiza a longo prazo altas concentrações de corticosteroides que podem ter consequências deletérias ao organismo (SAPOLSKY e cols., 2000). Esta alça de feedback negativo é ativada após a elevação de glicocorticoides circulantes e impede mais estimulação do eixo HPA via ativação de receptores localizados no hipotálamo, hipocampo, córtex pré-frontal medial, e glândula hipófise (JONES e cols., 1977; MAHMOUD e cols.,

1984; SAPOLSKY e cols., 1984; DIORIO e cols., 1993; RADLEY e cols., 2008). É importante mencionar que os receptores de glicocorticoides também podem ser encontrados fora do eixo HPA, como é o caso do hipocampo. Esse exerce forte influência na liberação de corticosteroides. Corroborando essa ideia, já foi demonstrado que ratos idosos exibem uma perda de receptores de glicocorticoides no hipocampo e assim exibem uma resposta incompleta ao estresse (SAPOLSKY e cols., 1986).

Contudo, após ajuste homeostático, as concentrações hormonais tendem a voltar ao seu nível normal, enquanto que comportamentos (estereotipados) persistem por mais tempo (SCHAPIRO e cols., 1993). Com isso, faz-se necessário a utilização tanto da resposta endócrina, quanto a comportamental, para uma análise mais completa da resposta ao estresse. Além disso, a atividade do eixo HPA é influenciada por uma ritmicidade circadiana, caracterizada por picos de concentração hormonal na corrente sanguínea no início da fase de atividade do animal e uma queda nos mesmos, durante a fase inativa/repouso (KALSBEEK e cols., 1996).

A ativação aguda do eixo HPA, em resposta ao estresse, promove a sobrevivência do organismo via adaptações fisiológicas e comportamentais. No entanto, a exposição ao estresse crônico e a superestimulação do eixo HPA podem resultar em alterações fisiológicas com efeitos prejudiciais e distúrbios metabólicos, incluindo a obesidade (BLACK, 2006; MCEWEN, 2007).

Em consonância com o exposto, o eixo HPA tem sido associado ao controle do metabolismo e liberação de neurotransmissores em várias regiões cerebrais, facilitando o direcionamento adequado de recursos energéticos para promover a sobrevivência após o estresse (KYROU e TSIGOS, 2007; MCEWEN, 2007; DALLMAN, 2010; BOWERS e cols., 2012).

A regulação do apetite, a ingestão do alimento e a escolha da dieta estão intimamente relacionadas à percepção e resposta ao estresse (OLIVER e WARDLE, 1999; GIBSON, 2006; MORRISON, 2009; DALLMAN, 2010). A ligação entre estresse e comportamento alimentar é reforçada pela sobreposição de circuitos neurais e pelo envolvimento dos mesmos neuropeptídeos (BOWERS e cols., 2012; MANIAM e MORRIS, 2012). Em humanos e animais, o estresse exerce um impacto significativo na ingestão de alimento, podendo promover perturbações metabólicas (OLIVER e WARDLE, 1999; GIBSON, 2006; BLOCK e cols., 2009; DALLMAN, 2010; MANIAM e MORRIS, 2012) e/ou desencadeamento de quadros de obesidade e transtornos alimentares (GLUCK e cols., 2004).

De fato, um aumento nos níveis de estresse tem sido associado a um aumento na motivação pelo consumo de alimentos altamente palatáveis e calóricos (OLIVER e cols., 1999; EPEL e cols., 2001). Alguns indivíduos exibem um comportamento hiperfágico

induzido por estresse, enquanto outros apresentam hipofagia; no entanto, todos aumentam o consumo de alimentos altamente palatáveis e densamente calóricos (GIBSON, 2006; DALLMAN, 2010). Corroborando tal premissa, alguns estudos demonstraram que o estresse crônico aumenta o consumo de alimentos altamente palatáveis (DALLMAN e cols., 2003), como também precipita o desenvolvimento de um comportamento alimentar compulsivo (HAGAN e cols., 2003).

Após a ingestão desse tipo de alimento, as respostas indicativas de estresse parecem ser reduzidas. Propõe-se que a ingestão de alimentos densamente energéticos diminui os efeitos negativos associados ao estresse crônico (“comfort eating”; DALLMAN e cols, 2003). Isso pode ser atribuído à capacidade do estresse gerar uma hiperatividade do sistema neural de recompensa. Estudos desta natureza são de suma importância para elucidar a ligação entre as vias de estresse e o desequilíbrio do comportamento alimentar, o que culmina com o desencadeamento de distúrbios alimentares. De fato, vários fatores têm sido propostos na patogênese das desordens alimentares (ZANDIAN e cols., 2007; KAYE, 2008), como vulnerabilidade, exposição ao estresse e restrição calórica (CASPER e cols., 2008).