• Nenhum resultado encontrado

Influência dos revestimentos na secagem

2.3 Secagem de materiais porosos

2.3.4 Influência dos revestimentos na secagem

As paredes antigas são, em geral, espessas e compostas por materiais porosos e permitem a absorção de água através das fundações originando então o humedecimento das paredes por capilaridade. Se bem que a ascensão por capilaridade seja talvez a origem mais comum da humidade em edifícios antigos, existem outras possibilidades, como é o caso das condensações ou dos fenómenos de higroscopicidade, também comuns nestes edifícios devido à presença de sais solúveis (Henriques 1994). Estas são algumas das principais razões pelas quais os edifícios antigos apresentam uma maior tendência para problemas de humidade.

Tendo isto em consideração, é evidente que um revestimento por pintura para edifícios antigos não deve, em geral, introduzir uma resistência significativa à evaporação da água que possa estar presente ou vir a existir nos suportes. Assim sendo, a utilização de revestimentos por pintura que não apresentem estas características como, por exemplo, as vulgares tintas “plásticas” presentes no mercado, que dificultam a secagem, podem agravar os problemas de humidade que alguns edifícios antigos apresentam (Gonçalves et al. 2008a).

É frequente encontrar estudos sobre as características dos revestimentos por pintura. No entanto, o que normalmente acontece é a avaliação isolada das tintas, o que poderá ser insuficiente. Oliveira (1996), por exemplo, reuniu diferentes tipos de revestimentos (tintas de borracha, texturada e “plástica”) e aplicou-os de duas formas: sobre betão celular e em forma de película livre. O que se verificou foi que a permeabilidade ao vapor da película livre era maior que a da pintura aplicada em betão, argumentando que a causa seria o facto de a espessura da tinta não ser totalmente igual para os dois casos, uma vez que a tinta aplicada sobre o suporte preenche os poros superficiais deste, aumentado a resistência à difusão de vapor. Isto levou o autor a concluir que a permeabilidade ao vapor das tintas não deve ser determinada apenas sobre película livre, mas sim complementada com um ensaio realizado sobre a pintura aplicada num suporte.

Freitas (1997) testou experimentalmente a permeabilidade ao vapor de pinturas exteriores aplicadas em suportes porosos, tendo concluído que o processo de secagem das

paredes de alvenaria é altamente influenciado pela presença e natureza do revestimento por pintura.

Veiga e Tavares (2002) avaliaram vários tipos de tintas minerais (tintas de silicatos e caiações), nomeadamente no que diz respeito ao desempenho sobre uma argamassa de cal. O que verificaram foi que as tintas de silicatos retardam a absorção de água pelo reboco mas apresentam uma permeabilidade ao vapor mais reduzida (embora pouco significativa) em comparação com as caiações.

Almeida e Souza (2007) afirmam que o uso de emulsões de silicone e outros aditivos siliconados são a solução para a repintura de fachadas de interesse histórico, uma vez que apresentam boa permeabilidade ao vapor devido à presença dos poros abertos no filme, permitindo a “respiração” dos paramentos. Adicionalmente apresentam boa resistência e durabilidade, evitando-se os gastos repetitivos com manutenções.

Realça-se, de facto, frequentemente a importância de uma boa permeabilidade ao vapor dos revestimentos por pintura, com o intuito de permitir a evaporação de água contida nos suportes onde são aplicados (Freitas 1997 ou Veiga e Tavares 2002, por exemplo). É bem aceite a relação de interdependência entre a resistência à secagem e a permeabilidade ao vapor, sendo geralmente o comportamento dos revestimentos em relação à secagem avaliado, de forma indirecta, através da aferição da sua permeabilidade ao vapor de água. Tanto quanto se sabe, é muito raro a realização de ensaios de secagem, que são os que melhor representam os processos reais, não sendo certo se a avaliação indirecta através da permeabilidade ao vapor de água será suficiente para caracterizar os materiais relativamente à influência na secagem.

Veiga e Tavares (2002) procuraram avaliar a resistência introduzida pelo revestimento à secagem do suporte, através de um ensaio de secagem que se baseia num aparelho de medição da resistência eléctrica (Gonçalves 1998). Verificaram que as caiações não dificultam a secagem das paredes, enquanto as tintas de silicatos a atrasam moderadamente. Concluíram as autoras que ambos os tipos de pinturas apresentam um desempenho positivo em edifícios antigos. Note-se que o ensaio de secagem utilizado avalia a secagem de forma indirecta sendo os resultados mais discutíveis. Adicionalmente apresenta algumas limitações relacionadas com a duração do ensaio ou complexidade do aparelho, assim como dificuldades logísticas para testar muitos revestimentos em simultâneo.

Outro aspecto importante da influência dos revestimentos por pintura na secagem do suporte, é o facto de, na realidade de muitas das aplicações em edifícios antigos, os revestimentos serem aplicados sobre paredes com teor de humidade não desprezável, não se sabendo que influência isso poderá ter no comportamento dos revestimentos. De facto,

Capítulo 2 – Estado-da-arte

os resultados conhecidos são de ensaios realizados a seco, quer a nível de investigação independente, quer da indústria, não existindo a certeza de poderem ser extrapoláveis para uma realidade em que a aplicação e cura do revestimento acontece sobre suporte húmido.

A presente dissertação procurou ultrapassar algumas das lacunas acima mencionadas, avaliando em condições controladas e similares um leque alargado de revestimentos por pintura representativos da realidade nacional (tintas de silicatos, de silicone, de hidro-pliolite e de cal) de forma a permitir a sua comparação. Utilizou-se um ensaio expedito, que traduz de forma directa os processos de secagem. Os revestimentos foram ensaiados sobre suporte de argamassa de cal, incluindo-se uma avaliação da influência do estado de humidificação deste suporte no comportamento dos revestimentos. Procurou-se também aferir a eventual correlação entre a permeabilidade ao vapor de água e o desempenho dos revestimentos no ensaio de secagem.

Capítulo 3 - Pesquisas efectuadas no meio técnico

Documentos relacionados