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5. ADEQUAÇÃO DA ABSTRATIVIZAÇÃO AO SISTEMA DE CONTROLE DIFUSO E

5.3 Influência na efetividade e proatividade do Poder Judiciário

O controle de constitucionalidade tem importante função sistêmica de, num aspecto técnico-legislativo, manter a coerência do ordenamento jurídico; mas, além disto, tem importante força de política jurisdicional quando permite aos juízes e tribunais, especialmente ao Supremo Tribunal Federal (STF), adequar uma lei aos parâmetros da Constituição.

Por causa deste segundo viés o STF tem atuado nos últimos anos de forma mais marcante, exercendo a função de proferir a última palavra em casos de alto impacto social, ganhando com isto a atenção da mídia e da população como um todo.

Tais situações repercutem diretamente na sociedade em geral, que anseia pela atuação proativa dos Poderes da República de modo a darem respostas às mazelas sociais, além de expandirem e efetivarem direitos. Neste ponto, a atuação mais ativa do Judiciário por meio da extensão dos efeitos de suas decisões e do suprimento de omissões legislativas tem grande relevo social.

Esta atuação mais forte do Poder Judiciário esbarra na esfera de atuação de outros poderes que, por vezes, podem considerar atingida a sua parcela de autonomia.

Tais conflitos já levaram à discussão dos limites da competência do Senado Federal, na forma do art. 52, X, da CF/88, o qual, inclusive, foi alvo de entendimento alterando a sua interpretação por mutação constitucional por força de liminar deferida na Recl. 4.335-5/AC, conforme exposto em capítulo anterior.

Neste panorama, surgiram situações nas quais o STF atribuiu efeitos mais amplos a decisões proferidas em sede de controle incidental. Por um viés, esta atuação demonstra uma maior interatividade da Corte Suprema com os anseios sociais e dá maior credibilidade ao judiciário, que ganha o respeito e apoio da sociedade, já que está atuante na promoção e garantia de efetividade a direitos e garantias constitucionalmente protegidas.

Por outro lado, a expansão da produtividade do Supremo Tribunal causa certa instabilidade na organização do sistema jurídico e político, em especial na relação entre os poderes; notadamente o legislativo.

Também na comunidade jurídica a atuação do judiciário causa alvoroços, especialmente quando se fala da adoção de novo instituto, como o aqui abordado, conforme se depreende das divergentes posições doutrinárias.

Em especial quanto ao tema objeto deste estudo, destacam-se as decisões do STF no julgamento dos Mandados de Injunção de ns. 670 e 712, nos quais se discorreu sobre a efetivação do direito de greve dos servidores públicos.

Neles foi aplicado o pensamento inovador acerca da extensão automática dos efeitos da decisão sem a necessidade de intervenção do Senado, especialmente por se tratar de típico caso de omissão de legislação regulatória, que é tratada por meio do Mandado de Injunção.

O posicionamento do tribunal manifestou tendência de transformação do modelo de controle de constitucionalidade adotado no Brasil, especialmente no que toca aos efeitos das decisões proferidas. Como visto, tal atuação mais proativa, no entanto, não está perfeitamente delimitada, havendo incerteza quanto à extensão subjetiva dos efeitos dos julgados, em especial no caso do controle difuso de constitucionalidade, no qual, em regra os efeitos afetam as partes do processo.

Em meio aos estudiosos do direito estes paradigmas e pensamentos geraram diversas teorias favoráveis e contrárias à consolidação da nova sistemática adotada pelo Tribunal Excelso nestes casos particulares.

No âmbito dos poderes da república, no entanto, esta ampliação dos efeitos das decisões da Suprema Corte impactou os parlamentares, que já tem propostas legislativas para alterar a Constituição permitindo ao Senado sustar a eficácia de atos normativos do Poder Judiciário que ultrapassem o seu poder regulamentar.

Neste sentido, as recentes PEC’s de n. 33/2012 e de n. 171/2012 propõe a alteração do art. 49, V, da CF/88 para permitir ao Senado que possa sustar não somente os atos do Poder Executivo, mas também do Poder Judiciário, quanto exorbitarem dos limites do poder regulamentar.

Na justificativa das referidas propostas está previsto expressamente que haveria desequilíbrio entre os poderes, pois o Judiciário pode declarar a inconstitucionalidade de atos do poder legislativo, enquanto este não teria medida semelhante em relação ao judiciário.

No entanto, tal previsão provoca verdadeiro desequilíbrio, pois manteria qualquer ato do Poder Judiciário, inclusive o de controle de constitucionalidade, sob o crivo do Poder Legislativo.

Na mesma linha de limitação da atuação do Poder Judiciário está a Proposta de Emenda à Constituição de n. 33/2011, que tramita no Senado Federal e que tem causado celeuma entre os poderes e também tem sido alvo de divulgação pela mídia.

Este projeto é menos incisivo, trazendo previsões mais restritivas, mas de teor moderado, só que também é bem mais amplo, alterando de várias formas o processo de controle de constitucionalidade e de atuação da Corte Suprema.

A primeira sugestão que traz é a ampliação do quórum previsto no art. 97, da CF – cláusula de reserva de plenário, de maioria absoluta para 4/5 dos membros. Tal votação qualificada também passa a ser exigida na aprovação de Súmulas Vinculantes, além de limitar o conteúdo das mesmas ao estritamente previsto nas decisões que a originaram.

Também se prevê a necessidade de deliberação do Congresso Nacional, no prazo de noventa dias para que se aprove o efeito vinculante da súmula, ao fim do qual será reconhecido tacitamente este efeito.

A parte menos moderada e de maior dúvida quanto à possibilidade de aprovação é a interferência direta no processo de controle de constitucionalidade ao prever que: as decisões que declarem a inconstitucionalidade de material de emendas à Constituição Federal não produzem efeitos imediatos e serão encaminhadas à apreciação do Congresso Nacional e, havendo discordância, será a questão submetida a consulta popular. A proposta também veda, em quaisquer hipóteses, a suspensão da eficácia de Emenda à Constituição por meio de medida cautelar.

Em suma, limita completamente a manifestação do Supremo Tribunal Federal sobre a Constituição, retirando o caráter jurídico desta análise e fazendo ela repassar por questões políticas ou sociais.

A partir destas questões surge a discussão aqui travada sobre os limites de atuação do STF para abstrativizar estes efeitos sem ofender a separação dos poderes e de modo a manter o sistema de controle de constitucionalidade idealizado pelo legislador, ao tempo em que se procura encaixar tal instituto no atual sistema de controle de constitucionalidade para lhe dar maior efetividade.

Há que se destacar que as propostas de alteração legislativa que poderiam modificar o sistema de controle de constitucionalidade, afetando diretamente o tema discutido, geraram tamanha agitação que foram alvo de medidas judiciais e de refreamento por parte da presidência da Câmara dos Deputados, que vai redobrar a discussão para o prosseguimento das mesmas.

Diante disto, apesar de possível a modificação do ordenamento no que toca ao controle de constitucionalidade, conclui-se que tal medida não se dará num breve espaço de tempo, ou, pelo menos, sem maior discussão que possa, ainda, alterar o conteúdo dos textos das propostas legislativas, em razão do que não há afetação direta na conclusão deste trabalho, mas mereceu nota por decorrer diretamente da discussão aqui analisada.

5.4 Tendência de fortalecimento da jurisdição constitucional e da uniformização