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Influência do tempo de cultivo das plantas Crotalaria juncea na fitorremediação

Quando se observam os sintomas de fitotoxicidade nas plantas de P. Glaucum em função dos diferentes tempos de cultivo da C. juncea, nota-se que os melhores resultados foram obtidos para os 75 e 100 dias após a semeadura (DAS) (Tabela 18). A partir desse período, não houve diferença estatística entre a dose 0 g ha-1 (testemunha) e a dose de 400 g ha-1. Onde o solo foi fitorremediado com a C. juncea por 25 dias, o P. Glaucum apresentava sintomas de fitotoxicidade bem acentuados (65%), mas onde a C. juncea foi cultivada por 50 dias, os sintomas de fitotoxicidade no P. Glaucum foram reduzidos em mais de 40%, chegando próximo a 21%. Provavelmente, as menores taxas de fitotoxicidade observadas nas plantas de P.

Glaucum, quando cultivadas 75 DAS da C. juncea, devem-se à remediação do

composto pelas plantas. Além disso, maior tempo de permanência da planta pode favorecer as interações simbióticas com microrganismos capazes de promover a degradação do sulfentrazone, conhecida por rizodegradação (PIRES et al., 2009), via mais importante de degradação do produto no solo (RODRIGUES & ALMEIDA, 2005).

Tabela 18. Fitotoxicidade (%) em plantas de P. Glaucum semeadas após o cultivo prévio de C. juncea, em quatro tempos de cultivo, em solo contaminado com dois níveis do herbicida sulfentrazone

Tempo de cultivo (dias) Dose do herbicida sulfentrazone (g ha

-1 ) 0 400 25 0 b 65,00 a 50 0 b 21,25 a 75 0 a 8,75 a 100 0 a 5,00 a

* Médias não seguidas de mesma letra, na linha, diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Os sintomas de fitotoxicidade nas plantas de P. Glaucum, em função dos diferentes períodos de cultivo da C. juncea, estão representados na Figura 25. Nota-se claramente que, à medida que o tempo de cultivo aumenta, os sintomas de fitotoxicidade diminuem de forma significativa e que a partir de 75 DAS, a redução aproxima-se de zero.

Tempo de cultivo (dias)

0 25 50 75 100 Fi tot ox ic idade (% ) 0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 400 g ha-1 Y= 184,897e(-0,04199 X) R2= 0,99

Figura 25. Fitotoxicidade apresentada por plantas de P. Glaucum, semeadas após o cultivo prévio de C. juncea, em quatro períodos de permanência e em um solo contaminado com o herbicida sulfentrazone.

A altura das plantas de P. Glaucum (Tabela 19), quando cultivadas em solo tratado com sulfentrazone, na dose de 400 g ha-1, foi reduzida apenas quando o solo foi fitorremediado com a C. juncea por 25 dias. Quando a fitorremediação ocorreu por períodos maiores (50, 75 e 100 dias), não houve diferença estatística entre a dose 0

e 400 g ha-1. Desse modo, a fitorremediação com plantas de C. juncea por menos de 50 dias acarreta maior risco de carryover em um cultivo posterior de espécie sensível ao sulfentrazone, pois a planta ainda se encontra em fase de estabelecimento, não tendo seu sistema radicular totalmente desenvolvido, limitando, portanto, a capacidade de absorção/extração do contaminante do solo. Outra questão que parece clara é a cinética de absorção da planta. Por mais alta que seja a translocação, existe uma limitação fisiológica intrínseca da planta, havendo, portanto, a necessidade de um período de tempo maior de contato planta/solo/contaminante para sua retirada do solo.

Tabela 19. Altura das plantas de P. Glaucum semeadas após o cultivo prévio de C.

juncea, em quatro períodos de permanência, em solo contaminado com dois níveis

do herbicida sulfentrazone

Tempo de cultivo (dias) Dose do herbicida sulfentrazone (g ha

-1 ) 0 400 25 40,12 a 18,50 b 50 45,81 a 38,56 a 75 49,12 a 46,50 a 100 50,12 a 50,80 a

* Médias não seguidas de mesma letra, na linha, diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Observa-se que há um acréscimo na altura das plantas de P. Glaucum com o aumento do tempo de cultivo (Figura 26), tanto no solo contaminado com sulfentrazone quanto no solo não contaminado, obedecendo ao crescimento normal da planta e ainda com um possível efeito benéfico da C. juncea, promovendo aporte de nutrientes no solo e reutilizado pelo milheto. Resultado semelhante foi observado por Carmo et al. (2008b), trabalhando com herbicida picloram sendo fitorremediado por Panicum maximum cv. Tanzânia.

Tempo de cultivo (dias) 0 25 50 75 100 A ltura de plant a (c m ) 0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 0 g ha-1 Y= 49,3239(1- e(-0,064719 X)) R2= 0,94 400 g ha-1 Y= -27,2846+80,6857(1- e(-0,03356 X)) R2= 0,99

Figura 26. Altura das plantas de P. Glaucum, semeadas após o cultivo prévio de C.

juncea, em quatro períodos de permanência e em um solo contaminado com dois

níveis do herbicida sulfentrazone.

O acúmulo de massa fresca da parte aérea (MFPA) das plantas de P. Glaucum (Tabela 20) acompanhou a mesma tendência dos resultados verificados para altura das plantas dessa espécie. O ganho de MFPA das plantas de P. Glaucum cultivado em solo tratado com sulfentrazone, na dose de 400 g ha-1, foi reduzida apenas quando o tempo de fitorremediação com a C. juncea foi de 25 dias. Quando o solo foi fitorremediado por períodos maiores (50, 75 e 100 dias), não houve diferença estatística entre a dose 0 e 400 g ha-1 para essa característica. Isso demonstra o efeito benéfico da sucessão dessa espécie, reforçando a possibilidade da utilização da C. juncea em programas de fitorremediação que envolvam a liberação da área para o plantio de espécies susceptíveis ao sulfentrazone.

Observa-se na figura 27, que houve menor acúmulo de biomassa para o P. Glaucum cultivado após a C. juncea, sob a dose de 400 g ha-1, quando o tempo de cultivo foi menor que 50 dias. As duas curvas são muito semelhantes e têm o mesmo modelo ajustado. Segundo Silva et. al (2002), adubos verdes devem ser incorporados ao solo, de preferência, após o florescimento e antes da frutificação. O decréscimo observado no acúmulo da MFPA no P. Glaucum cultivado após a C. juncea no tempo de cultivo de 100 DAS ocorre, provavelmente, porque para frutificar a C.

juncea reutilizou aqueles nutrientes aportados no solo que seriam utilizados pelo P. Glaucum.

Tabela 20. Massa fresca da parte aérea das plantas de P. Glaucum semeadas após o cultivo prévio de C. juncea, em quatro períodos de permanência, em solo contaminado com dois níveis do herbicida sulfentrazone

Tempo de cultivo (dias) Dose do herbicida sulfentrazone (g ha

-1 ) 0 400 25 123,44 a 54,69 b 50 130,89 a 105,81 a 75 124,35 a 107,81 a 100 107,96 a 108,62 a

* Médias não seguidas de mesma letra, na linha, diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Tempo de cultivo (dias)

0 25 50 75 100 M ass a fr esc a da parte aérea (g ) 0 14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 0 g ha-1 Y= 105,105+0,98008 X - 0,009536 X2 R2= 0,99 400 g ha-1 Y= -9,6025+3,17066 X - 0,020124 X2 R2= 0,95

Figura 27. Massa fresca da parte aérea das plantas de P. Glaucum, semeadas após o cultivo prévio de C. juncea, em quatro períodos de permanência e em um solo contaminado com dois níveis do herbicida sulfentrazone.

Quanto mais rápida for a descontaminação realizada por uma determinada espécie fitorremediadora, mais rápida será a liberação da área para o cultivo de uma espécie reconhecidamente sensível ao xenobiótico previamente utilizado e, também, menor a probabilidade desse composto lixiviar no solo e atingir os mananciais de água presentes no subsolo. Carmo et al. (2008b, c) concluíram que tanto a Eleusine

dias em solos contaminados com picloram para promover sua descontaminação de modo a permitir que tanto a soja quanto o tomate se desenvolvam nesses solos. Os resultados do presente trabalho mostram que com um período de cultivo da C.

juncea de 50 dias em solos contaminados com sulfentrazone foi suficiente para

promover em níveis satisfatórios o crescimento e o ganho de matéria fresca das plantas de P. Glaucum cultivado em sequência. No entanto, os sintomas de fitotoxicidade apresentados pelo P. Glaucum, cultivado em sequência à C. juncea por 50 dias são acentuados, o que não acontece em períodos de cultivo acima de 75 dias. Dependendo da espécie e do tipo de contaminante, um tempo maior de permanência da espécie fitorremediando a área pode ser suficiente para a efetividade da fitorremediação com apenas um cultivo, o que seria muito desejável. Na Figura 28 é apresentado um registro das plantas de P. Glaucum cultivadas após diferentes períodos de cultivo da espécie fitorremediadoras (C. juncea).

Figura 28. Plantas de P. Glaucum após o cultivo prévio de C. juncea na dose 0 g ha-

1

(testemunha) representada pela primeira planta da esquerda para direita, e na dose 400 g ha-1, em quatro períodos de permanência.

O uso da fitorremediação pode resultar em maior segurança do plantio de espécies sensíveis em áreas onde esse herbicida tenha sido aplicado. Além disso, pode contribuir para a redução do risco da ocorrência de impactos ambientais adversos, como a contaminação de recursos hídricos subterrâneos. No entanto, a continuação

25 dias 50 dias 75 dias 100 dias

dos estudos de fitorremediação, utilizando-se essa espécie, é necessária, agora, em campo, visando à confirmação dos resultados obtidos.

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