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Influências formativas e as redes colaborativas:

TRAJETÓRIA DO PROFESSOR AQUINO – ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES

5.2 Influências formativas e as redes colaborativas:

Ao narrar sua trajetória, em ambos os documentos (entrevista ao CPDOC e capítulo do livro Ser professor no Brasil), Aquino descreve um percurso recheado de redes colaborativas que se constituíram a partir de relacionamentos e vínculos construídos ao longo de sua história de vida. Dentre as influências de maior ênfase em seu discurso estão aquelas do âmbito familiar (pai; primeira esposa e sogro) e do espaço formativo (professores da Faculdade Nacional de Filosofia e do pré-vestibular). Ao pensarmos nestas influências, precisamos compreender a importância de analisá-las a partir de uma lente maior, que holisticamente nos proporcione a visão integrada acerca do lugar que os papéis dessas pessoas significaram na constituição de sua experiência de ensino.

Há uma tensão implícita, por exemplo, nos embates familiares representados pela concepção política da figura paterna, que o impactam diretamente. O conservadorismo do seu pai, a ojeriza ao comunismo e ao envolvimento político e o papel estatal que seu pai ocupava (general do exército) condicionavam sua opção formativa a correspondência às aspirações familiares, que iriam desaguar no avanço dos estudos que o levariam a ser um advogado. Esse ser idealizado configura-se como um dos primeiros rompimentos pelo mesmo, que vivencia os primeiros movimentos de resistência a partir de suas referências originárias, que se contrapunham aos anseios e escolhas que ele estava fazendo.

Em sua narrativa, Aquino salienta em seus relatos uma relação marcada por brigas e por revoltas (de sua parte), que quebravam as regras paternas em uma busca de liberdade para a efetivação de sua participação política (ex: a passeata de que ele participa quando jovem). Logo, romper com o ambiente familiar era desatar vínculos que o impelissem a se restringir a estas únicas referências e de certa forma, era a possibilidade de alargar seu campo formativo, encontrando em novas relações, novos paradigmas existenciais. A figura da primeira esposa assim como do sogro, materializam a hipótese descrita acima, uma vez que essas novas relações formam um ciclo distinto de aprendizados. O novo ambiente familiar proporciona a atmosfera politizada que o incita e o desafia a novas descobertas. Seu sogro era filiado ao Partido Comunista e dirigia o Jornal do partido (Imprensa Popular) e sua primeira esposa comunista, era uma assídua ativista das atividades partidárias (fazia propagandas de rua; esquetes com Mário Lago na rádio). Ambos incentivavam a consecução de seus estudos, a fim de que realizasse a formação universitária.

É no ambiente universitário que o contínuo alargamento formativo se expande e se desdobra em encontros que transpõem as relações formalizadas e hierarquizadas entre professores e alunos e estabelecem influências e parcerias, amizades e colaboradores de sua trajetória formativa. Dentre os nomes citados por Aquino está o professor Hélio Viana (catedrático do curso de história na Faculdade Nacional de Filosofia); Hugo Weiss e Guy de Hollanda que se tornam relevantes no processo de construção da sua escrita e Manoel Maurício de Albuquerque (assistente de Hélio Vianna, na época e que, posteriormente foi impedido de atuar na Universidade pelo regime militar) que se torna um amigo e parceiro; que, por exemplo, o ajuda em seus primeiros entraves como professor de história quando Aquino experiencia limitações

em ensinar a história da América quando na sua inserção no magistério. Além de José Luis Werneck da Silva (professor de pré-vestibular), que não estava no ambiente acadêmico, mas ocupa um lugar central na influência do modo de dar aulas que o Aquino se fundamenta. Diante do exposto, percebemos a progressão de suas referências exteriores (fora do ambiente familiar) e de sua própria construção pessoal como uma referência para seus alunos (quando na sua inserção no magistério em escolas particulares e pré-vestibulares).

Os colaboradores que contribuem no seu processo de descoberta como professor talvez também o tenham influenciado, em sua percepção de uma necessária rede de formação que se cria e recria através das relações, com potenciais renovadores, como aquelas associadas ao magistério. E talvez seja essa compreensão que significa um percurso formativo marcado por coparticipações em seus projetos como na criação do exitoso livro didático História das Sociedades (onde reúne ex-alunos do pré-vestibular, como Oscar, Chico Alencar e Marcos Vinicius para a elaboração do livro) e em outros livros autorais que contam com a participação de vários coautores.

5.3 - Modelo acadêmico e Inserção no Magistério (a experiência dos pré- vestibulares e das escolares particulares):

Segundo Aquino, dentre as motivações que o impulsionaram à escolha pelo curso de história estão fatos relacionados a múltiplas experiências, como por exemplo, as memórias afetivas associadas ao professor de história do ginásio que o inspirou e definiu uma simpatização e desejo pelo assunto; assim como o seu interesse pelas questões sociais e sentimentos de revolta frente às problemáticas relativas à injustiça desde a infância.

Seu ingresso no magistério também é delineado por contradições como a pouca disposição em ensinar e dar aulas (ser professor) devido a sua timidez e medo, mas ao mesmo a urgente necessidade de introduzir-se na carreira docente para o sustento e manutenção das condições financeiras de sua família. Ainda que não almejasse ser professor, similarmente pouco se identificava com a possibilidade de ser pesquisador no âmbito acadêmico.

Desta forma sua carreira é iniciada e continuada em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares (devido a impossibilidade de lecionar em escolas públicas pelas restrições políticas acerca dos atestados de ideologia). E é exatamente nesta interseção de espaços aparentemente divergentes (em termos de modelos curriculares) que Aquino aperfeiçoa confluências harmoniosas de “invenções” que são acomodadas a partir de suas práticas educativas que constituem seu saber próprio. Talvez, nosso grande esforço investigativo esteja pautado principalmente em perceber e analisar a forma, modo pelo qual este professor desenvolve um ato educativo tão relevante, que cruza as horizontalidades e verticalidades de modelos curriculares, que podem ser (supostamente) teóricos e práticos (da academia e dos cursinhos pré-vestibulares, respectivamente) e alcançam efeitos materializáveis nos processos de ensino de história e de formação (de seus alunos e de muitas outras pessoas que se utilizam, por exemplo, do livro didático produzido por ele.

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