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3 A UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA E A

3.1 INFLUÊNCIAS PARA UMA UNIVERSIDADE DE CARÁTER REGIONAL

A ideia de uma universidade regional não data do século XXI. Segundo o Plano de desenvolvimento institucional (PDI) 2013-2017 da UNILA, na década de 1960 a intencionalidade de construção de um projeto universitário voltado à região aparece no espaço da União de Universidades da América Latina e Caribe (UDUAL) (UNILA, 2013a, p. 9). Quanto à UDUAL, se faz interessante mencionar que a integração latino-americana aparece em um dos objetivos da Carta de Universidades Latino-americanas, cuja assinatura se levou a cabo na III Assembleia Geral do organismo em 1959. Dito objetivo consiste em “alcançar a integração cultural da América Latina” (UDUAL, on-line). Apesar da não menção atual da ideia de uma universidade regional, há que se sublinhar a importância do organismo em relacionar a educação superior com a integração e, mais profundamente, a integração cultural.

A concepção da universidade como locus estratégico para os Estados e para a intensificação de suas relações bilaterais e multilaterais também foi frequentemente apontada na década de 1990, sob forte influência da proposta neoliberal de internacionalização do ensino superior promovida pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Isso para ressaltar que foram e continuam sendo diversas as intencionalidades que posicionam a universidade como essencial na lógica internacional.

Passando para a primeira década do século XXI, volta-se a pensar a educação, e especialmente a educação superior, como eixo importante de integração regional. Interessante notar que é no espaço do Mercado Comum do Sul (Mercosul), organismo criado com forte objetivo comercial e cujos princípios se dão no contexto de maior intensidade do neoliberalismo, que essa pauta toma certo impulso. A conjuntura política da região e os alinhamentos de políticas externas mais independentes das relações “Norte-Sul” também moldou relativamente este organismo, que amplia suas pautas para além da lógica meramente comercial, incluindo uma dimensão maior de temas sociais e culturais. Iniciativas como o Foro Consultivo Econômico-Social (FCES), o Fórum Universitário do Mercosul (FOMERCO), a Reunião Especializada em Agricultura Familiar (REAF), a Reunião

de Altas Autoridades sobre Direitos Humanos e Chancelarias do MERCOSUL e Estados Associados (RAADH), o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos (IPPDH) e a Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul (RECAM) são alguns exemplos que o organismo aponta como tentativas de maximização da participação social (MERCOSUL, on-line).

No entanto, há que se destacar a existência de fragilidades nesse processo de participação social, dadas majoritariamente pela estrutura institucional do Mercosul que complexifica a chegada de demandas e proposições socioculturais advindas de movimentos sociais e demais coletividades participantes dos espaços de discussão. Nesse sentido, a transposição entre o discurso do organismo e a prática ainda se mostra um desafio.

Esse panorama nos ajuda a compreender melhor a conjuntura mais recente do papel da educação superior nas instâncias do órgão. Vale ressaltar que mesmo no contexto neoliberal já se sublinhava essa intencionalidade, inclusive com a criação, no Setor Educacional do Mercosul (SEM), de uma área dedicada à educação superior, a Comissão Regional Coordenadora de Educação Superior (CRC-ES) (KRAWCZYK; SANDOVAL, 2012). Essa informação é extremamente relevante para identificar as diversas formas de posicionamento da educação nas políticas regionais, algumas das quais se verificam como fortemente atreladas a uma noção neoliberal de internacionalização e integração educacional ao mercado.3

Quando anteriormente apontamos certa modificação, ainda que de difícil prática, no âmbito do Mercosul, queremos dar alguns elementos para uma análise conjuntural no organismo durante a primeira década do século XXI e isso também acabou por permear os posicionamentos quanto ao tema educacional no bloco.

A presente contextualização mercosulina se faz essencial principalmente porque a UNILA surge em grande parte da ideia de uma Universidade do Mercosul. Há poucos registros do período de idealização dessa

3 Como analisamos no segundo capítulo, a educação – e especialmente a superior – é considerada como estratégica para a consolidação da conjuntura neoliberal ao redor do orbe. O Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio possuem políticas, cartilhas e diretrizes muito específicas para os países quanto ao tema. Para mais informações, conferir: BANCO MUNDIAL. La enseñanza superior. Washington, D.C. 1995.

proposta, mas pode-se verificar seu início como iniciativa bilateral entre Brasil e Argentina, especificamente em um protocolo de cooperação cuja firma se deu em 2006 entre os ministros Fernando Haddad e Daniel Filmus (LORENZONI, 2006).

Dentro do espírito do Plano de Ação 2006-2010 do SEM de conferir à educação um papel fundamental e estratégico dentro do projeto de integração regional do Mercosul e da necessidade de construção de políticas que articulem a educação com o processo de integração, Brasil e Argentina assinaram o “Protocolo de Criação do Mecanismo Permanente Conjunto em Temas Educacionais” em Buenos Aires, no dia 19 de julho de 2006, um mês após a XXX Reunião de Ministros da Educação do Mercosul. (ALMEIDA, 2015)

Ainda durante o ano de 2006, entre 18 e 19 de setembro, realiza-se o Seminário de Educação Superior e Integração Regional na cidade de Foz do Iguaçu, espaço no qual a proposta de uma Universidade do Mercosul é oficialmente discutida entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai (BASTOS, 2006).

No entanto, a proposta não obteve avanço significativo no bloco regional e com maior dificuldade nos âmbitos internos dos países. Diversos motivos podem ser levantados para essa dificuldade: as condições de assimetria ainda predominantes entre os países, as conjunturas educacionais muito diversas, as intencionalidades em termos de política externa por parte do Brasil, entre outros.

O Brasil continua a impulsionar a ideia em suas instâncias governamentais, o que pode ser verificado no Projeto de Lei n° 17 de 2007 no Senado Federal, e segundo a qual “Autoriza o Poder Executivo a criar a Universidade do Mercosul, com sede no Estado do Rio Grande do Sul e dá outras providências” (BRASIL, 2007). Em seu artigo 2°, apresenta como objetivo da instituição “[...] a oferta de educação superior, compreendendo atividades indissociadas de ensino, pesquisa e extensão, tendo como focos de atenção as questões dos países membros do Mercosul e o atendimento aos estudantes dessas nações.” (BRASIL, 2007, p. 1). Há, ainda, a menção de sua contribuição institucional ao “desenvolvimento científico, artístico e cultural” (BRASIL, 2007, p. 3) dos países do bloco.

Esse breve transcurso pela proposta de uma Universidade do Mercosul nos auxilia a compreender a posterior construção da ideia de uma universidade brasileira vocacionada à integração latino-americana.

latino-americana pelo Brasil, há que se destacar sua inserção ao que se passou a caracterizar como universidades da integração, projetos de instituições brasileiras de educação superior com vocações singulares. Além da UNILA, conformam esse grupo a Universidade da Integração Luso-Afro-Brasileira (UNILAB), a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e a Universidade Federal da Integração Amazônica (UNIAM), hoje Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) (LORENZONI, 2009).

O Presidente da CI-Unila comenta a apresentação de Alessandro Candeas e destaca duas questões: a) a Unila será a contribuição brasileira ao Espaço Regional do Mercosul; b) a Unila além de valorizar sua inserção no Mercosul, pretende através do conhecimento compartilhado contribuir para a integração da América Latina, do México, passando pela América Central até a Argentina e o Chile. (TRINDADE, 2008 apud IMEA, 2009)

Apesar de ainda ser considerada por muitos como a universidade do Mercosul devido à influência desse projeto inicial, a UNILA possui identidade própria, mais abrangente em âmbito sociocultural, e cujas dificuldades majoritariamente derivam da estrutura institucional e do sistema educacional brasileiros.

A proposta da Universidade Federal da Integração Latino-americana resulta de múltiplos anseios e influências de seus idealizadores, mas poder-se-ia dizer que, indiretamente, conflui ideias mais subjetivas de uma universidade regional.

3.2 A IDEALIZAÇÃO E A ATIVIDADE DA COMISSÃO DE IMPLANTAÇÃO DA UNILA