Aluna: Ana Filipa Figueiredo de Oliveira (Nr. 11434) Curso: Mestrado em Turismo e Comunicação 2017/2019
Universidade: Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril/ Universidade de
Lisboa (FLUL – IGOT)
Associação: Associação do Património e da População de Alfama Responsável: Maria de Lurdes Pinheiro
Posição na associação: Presidente da direção Idade: 65 anos
Contexto:
Recentemente tem-se observado, que Lisboa tem sentido um boom turístico muito forte. A cidade de Lisboa tornou-se numa cidade, que tem tido uma grande procura por turistas de todo o mundo. Isto tudo, porque o sector de turismo tem feito imensas alterações e mudanças na cidade. O governo, assim como as autoridades de turismo, tem feito o maior esforço para reconstruir a capital, para que possam melhorar e transformar a imagem desta
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cidade. Mas infelizmente, é mesmo só a imagem que conta, pois a realidade é preocupante: obras e casas abandonadas e incompletas, lojas antigas e tradicionais a desaparecer, a sobrelotação de turistas, cada vez menos verdadeiros lisboetas a viver no centro de Lisboa, conflitos entre habitantes e autoridades. Vê-se claramente a insatisfação da população portuguesa, mas o que parece ainda mais claro é desconhecimento do governo perante os conflitos atuais. Olhando para esta situação, as pessoas, incluindo os turistas, percebem cada vez mais que isto não é o caminho certo. Pois no fim disto tudo, somos nos, os lisboetas, que dão uma identidade e imagem a esta cidade tão maravilhosa.
1. Por favor explique qual é o papel da vossa associação dentro do contexto do turismo na cidade de Lisboa, desde o início da sua fundação, até hoje (especialmente na parte histórica de Alfama).
A APPA tem intervenção como associação só dentro do Bairro de Alfama, claro que temos opinião sobre o que se passa na cidade, mas no âmbito do Movimento Morar em Lisboa, pois fazemos parte deste movimento. A APPA foi fundada há mais de trinta anos, numa época em que Alfama estava com o seu edificado muito degradado, sendo que maior parte dele era municipal, pois a CML era a dona da maior parte dos edificado de Alfama. A APPA surgiu com uma palavra de ordem “Alfama Recuperação ou Morte” nesse tempo a ação era pela reabilitação de Alfama, hoje temo-la reabilitada, mas sem pessoas, está toda vocacionada para o turismo. Alfama está-se a transformar num parque temático. São objetivos da APPA a proteção da população de Alfama e do património. Com a Lei do Arrendamento Urbano (Lei dos despejos, assim mais conhecida) a situação de Alfama piorou, assim como em toda a cidade. Há um grande desequilibro entre o turismo e os moradores. Neste momento a nossa intervenção em conjunto com outras associações e movimentos é parar os despejos de pessoas que viveram toda a vida na cidade e estão a ser expulsos para muito longe devido à especulação imobiliária que se sente em toda a cidade.
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2. Qual é a sua opinião sobre o hype (a elevada procura) que surgiu acerca do turismo de Lisboa? Está a favor, ou contra este recente desenvolvimento? Porquê?
Não estamos contra o turismo, estamos sim contra a este desequilíbrio e falta de controle e falta de medidas para que se pare esta sangria que está a acontecer à cidade e a outras. Estamos sim contra a especulação imobiliária, e a falta de medidas do governo e do município para conter esta situação. Os nossos governantes estão completamente deslumbrados com o dinheiro que entra, isto tem de parar.
3. Ainda considera e reconhece o turismo em Lisboa como “autêntico”? O que é que mudou ao longo destes anos? Que imagem de Lisboa é transmitida para chamar os turistas?
4. Quais são os conflitos que enfrentam os habitantes de Lisboa? Quais são as insatisfações? Porquê?
As expulsões de suas casas, o não poderem alugar uma casa na cidade, o barulho do Alojamento Local, os preços elevados das rendas, o encerramento do comércio tradicional e abertura de comércio direcionado ao turismo, a abertura desenfreada de hotéis.
5. De qual forma é que a vossa associação ajuda nestes conflitos? De qual forma é que apoiam a população local? Qual é a frequência das reuniões com as autoridades para discutir a situação atual do turismo e os seus impactos nesta área? O que é que é realmente discutido nessas reuniões?
Ouvimos os problemas e orientamos.
Quando necessário, e em defesa da população e do património de Alfama utilizamos os meios judiciais, promovemos abaixo assinados e intervimos na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal Lisboa.
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6. Qual é a sua opinião sobre a experiência dos turistas em Lisboa? Acha que os turistas estão conscientes dos verdadeiros problemas desta cidade?
7. Alfama é uma parte de Lisboa, que tem um grande influxo de turistas, assim como contempla uma grande variedade de nacionalidades a viver em conjunto. De que forma é que os “lisboetas” lidam com esta situação? De que forma é que os turistas experienciam este mix cultural?
Alfama sempre foi visitada por muitos turistas, sempre conviveu com pessoas de outras nacionalidades, atualmente os poucos que ainda vivem no bairro, querem-se ver livre dos turistas, há demasiado barulho, demasiadas pessoas a passear no bairro, há demasiado alojamento local, o choque de culturas é grande e tem criado alguns problemas. Tudo se tem agravado também devido ao Terminal de Cruzeiros, barulho, poluição e Alfama não ganha nada com este turismo de massas.
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Muito obrigada pela atenção e pela colaboração com este estudo!
Proteção de Dados:
Declaro que as suas respostas irão ser utlizadas no contexto da dissertação, e serão mantidas estritamente confidenciais. As respostas irão ser citadas e apresentadas na dissertação, e não irão ser utlizadas para quaisquer outros fins.
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