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3.2 Modelos de Carregamento

3.2.1 Carregamento de Pressão Interna

3.2.1.1 Influxo de Fluidos da Formação para o Interior do Poço

Para avaliação do esforço sobre o revestimento como consequência de um influxo de fluidos para dentro do poço, o perfil de pressão interna deve ser construído considerando-se a possibilidade de propagação de fratura da formação logo abaixo da sapata após o fechamento do poço. As formações geológicas suportam um certo nível de pressão atuante2 sobre elas,

a partir do qual fraturas preexistente são reabertas; qualquer pressão adicional é drenada para o interior da formação, resultando em sua propagação. Admite-se que tal fratura será propagada caso a pressão atuante sobre a mesma exceda um valor pré-determinado (Pfratura).

Assim, partindo-se da pressão de poros na zona de influxo, desconta-se a pressão hidrostática do fluido invasor

P = γ D (3.1)

onde P é pressão causada pela imersão em um fluido com um gradiente de pressão γ a uma profundidade D. Se, e somente se, a pressão for representada em psi e a profundidade em metros, a equação Eq. (3.1) pode ser expressa em função da densidade ρ do fluido, segundo a equação Eq. (3.2).

P = 0,1704 ρ D (3.2)

O desconto da pressão hidrostática do fluido invasor permite o cálculo da pressão na sapata (Psapata). De posse deste valor, dois cenários são possíveis:

Psapata > Pfratura neste caso, admite-se que haverá propagação de fratura na sapata. O

excesso de pressão será então drenado para dentro da fratura, aliviando as pressões no interior do poço. Assim, a pressão considerada na profundidade da sapata será o próprio valor de Pf ratura. Acima deste ponto, abate-se a pressão hidrostática dos

fluidos que serão considerados no interior do trecho revestido. Observa-se, assim, uma descontinuidade no perfil de pressão interna na profundidade da sapata do revestimento anterior;

Psapata < Pfratura nesta situação, a formação se mostra competente. Portanto, na

profundidade da sapata, atua a própria Psapata, não havendo descontinuidade no perfil

de pressão interna no poço. Acima deste ponto, subtrai-se a pressão hidrostática dos fluidos que serão considerados no interior do trecho revestido.

2 Na verdade, uma formação apresenta um nível de resistência à fratura P

fratura,iquando íntegra. Quando

esse nível é excedido, a formação sofre uma fratura. Caso o carregamento de pressão seja retirado e subsequentemente reaplicado, excessos de pressão tendem a reabrir e propagar as fraturas existentes. O nível de pressão necessário para tal, Pfratura,f, é menor do que a resistência da formação à fratura

quando íntegras. O fraturamento inicial pode ainda ser causado por fenômenos geológicos, por exemplo o tectonismo, de forma que neste trabalho será assumido que as formações estão previamente fraturadas.

As Figuras 2 e 3 ilustram os perfis de pressão para as condições supracitadas.

Figura 2 – Perfil de pressão para Psapata > Pfratura. Fonte: Souza (2015, p. 36)

Figura 3 – Perfil de pressão para Psapata < Pfratura. Fonte: Souza (2015, p. 37)

Nas Figuras 2 e 3, ρzie Pzise referem ao peso específico e à pressão do fluido invasor,

respectivamente, e T Cv se refere ao topo do cimento (TOC).

O perfil completo de pressão interna depende ainda da pressão calculada no SCPS. Em um cenário de fechamento do poço, caso este valor ultrapasse PSCP S > 10 ksi,

admite-se que a velocidade de preenchimento do poço será alta; quando o mesmo for finalmente fechado, estará completamente preenchido pelo fluido invasor. Dessa forma, a

pressão interna em um ponto arbitrário equivale à pressão interna na sapata descontada do gradiente de pressão do fluido invasor, conforme representado na Figura 4. Na figura, o perfil corresponde à situação onde não ocorre a fratura na sapata (Figura 3).

Figura 4 – Perfil de pressão interna para PSCP S > 10 ksi (sapata sem fratura). Fonte: Souza

(2015, p. 42)

Por outro lado, caso a pressão calculada no SCPS não ultrapasse PSCP S 6 10 ksi,

assume-se que a velocidade de preenchimento será menor; é razoável admitir que, após fechar o poço, ainda reste fluido de perfuração dentro do revestimento. Especificamente, admite-se que 70% de seu trecho superior (uma vez que o fluido invasor é menos denso que o fluido de perfuração) é tomado pelo fluido invasor, permanecendo o restante preenchido com fluido de perfuração. O perfil passa a assumir a forma da Figura 5. Na figura, o perfil corresponde à situação onde não ocorre a fratura na sapata.

Além do perfil de pressão interna atuante no revestimento, é necessário calcular também o perfil de pressões no espaço anular. Esse perfil é comumente chamado de back-up à pressão interna, ou simplesmente back-up, uma vez que sua ação atenua a magnitude da carga de pressão interna. O back-up dependerá da configuração do poço em termos de cimentação, conforme exposto a seguir.

Cimento previsto para não cobrir a sapata anterior

Quando o programa de cimentação prevê que o TOC estará abaixo da sapata anterior, expondo a rocha abaixo desta, o perfil de pressões no anular (pa) é formado por dois trechos

de características distintas, conforme mostra a Figura 6.

No trecho de revestimento defronte às formações, deve-se considerar a pressão de poros. Em pontos acima da sapata anterior, deve-se abater a pressão hidrostática do fluido de

Figura 5 – Perfil de pressão interna para PSCP S < 10 ksi (sapata sem fratura). Fonte: Souza

(2015, p. 40)

Figura 6 – Perfil de pressão anular para o caso em que a sapata anterior não é coberta pelo cimento. Fonte: Souza (2015, p. 25)

maior massa específica da fase. A adoção de um back-up conforme descrito acima é oriunda de duas hipóteses básicas:

• Pode haver perda de fluido para a formação de forma que a coluna de fluido remanescente entre em equilíbrio hidrostático com a pressão de poros na profundidade da sapata anterior; e

• Abaixo da sapata anterior, a pressão de poros é transmitida diretamente para o revestimento, não havendo distinção entre a porção cimentada da não cimentada. Cimento previsto para cobrir a sapata anterior

Por outro lado, caso o programa de cimentação preveja o TOC acima da sapata anterior, o perfil de pressões no anular pa é constituído de três trechos de características

distintas. Defronte às formações, adota-se a curva de pressão de poros. Acima da sapata do revestimento anterior no trecho cimentado, abate-se a pressão hidrostática da água de mistura (base para a fabricação das pastas de cimento). Finalmente, acima do topo do cimento, subtrai-se a hidrostática do fluido de maior massa específica prevista em projeto. A Figura 7 ilustra a composição do perfil de pressões ao longo de todo o revestimento a ser dimensionado.

Figura 7 – Perfil de pressão anular para o caso em que a sapata anterior é coberta pelo cimento. Fonte: Souza (2015, p. 26)

A adoção de um back-up com essas características advém de duas hipóteses básicas: • Pode haver perda de fluido para a formação após a operação de cimentação, seja com a pasta ainda líquida ou já endurecida, mas com um cimento pobre (canalizado).

Admite-se que na região cimentada, acima da sapata, a hidrostática será ditada pela água de mistura; e

• Abaixo da sapata anterior, a pressão de poros é transmitida diretamente para o revestimento.

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