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Informação e excesso

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A sociedade contemporânea, sem dúvida, é reflexo das transformações que veio recebendo durante o passar dos anos e que foram sendo incorporadas no dia a dia dos cidadãos, os conduzindo e orientando para uma revolução social e cultural, no que tange à reestruturação de ideias, comunicação e principalmente a maneira como tratamos a informação.

A informação virou uma das moedas mais importantes no século XXI. Ela é um recurso que movimenta a economia global e um diferencial para as nações desenvolvidas. As grandes empresas se utilizam desse recurso, dando muito destaque aos dados que podem ser extraídos e preparam suas estruturas internas, seja com pessoal e com milhares de equipamentos e servidores, para que possam de maneira cada vez mais efetiva extrair, analisar e arquivar esses dados, transformando informação bruta em vantagem competitiva.

O dia inteiro, todo dia, captamos informações por meio de nossos órgãos dos sentidos (visão, audição, olfato, paladar, tato, etc.). O dia inteiro, todo

dia, rejeitamos as informações que julgamos irrelevantes para nossas necessidades e propósitos. Reconhecemos algumas informações como imediatamente úteis e reagimos a elas, por exemplo, quando freamos bruscamente para evitar uma colisão ou atendemos o telefone quando ele toca. Muitas das informações que captamos não são de utilidade imediata; temos consciência de estar recebendo-as, mas nada fazemos. Outras informações são captadas sem que delas tenhamos consciência imediata, como quando lembramos de algo que talvez tenhamos visto, mas, como dizemos, não percebemos. Reajamos ou não a isso naquele momento, essa informação pode ser guardada e vir a afetar muito do nosso comportamento ulterior (MCGARRY, 1999, p. 6).

Para Claude Shannon (1948), autor do respeitado artigo “A teoria matemática da comunicação” (Figura 10), a informação é tudo aquilo que reduz à incerteza. Ocorre que com a quantidade absurda de conteúdos sendo produzidos diariamente, uma verdadeira explosão de fatos e dados, que de maneira isolada não tem significado algum e não produz compreensão, acaba por aumentar e não reduzir as incertezas, por isso esses conteúdos são chamamos de “não- informação”.

Figura 10 - Modelo teórico-matemático da comunicação

Fonte: Medium.com (2016)17

17 Disponível em: <https://medium.com/das-teorias/muito-al%C3%A9m-da matem%C3%A1tica-86ea952e10bf>. Acesso em: 13 out. 2018. A data entre parênteses se refere à postagem da figura.

O escritor Umberto Eco, em entrevista ao jornalista Luís Antônio Giron (2013), diz que a Internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio – ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário. Com a adoção da rede por parte de usuários de todo o mundo foi inevitável a sobrecarga de informação, conforme Eco:

A Internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A Internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar (GIRON, 2013, on-line).

A sobrecarga já faz parte do nosso cotidiano. Para se ter uma ideia do volume de dados e informação que nós produzimos em uma simbiose com a tecnologia, a cada 12 meses produzimos hoje 8 milhões de canções, 2 milhões de livros, 16 mil novos filmes, 30 bilhões de posts em blogs, 182 milhões de tuítes e 400 mil novos produtos (KELLY, 2017). A população hoje vive conectada, seja com o celular no bolso, acessando o computador em casa ou no trabalho, com a televisão e outras telas ligadas de maneira simultânea, o que nos causa uma necessidade de estarmos sempre de olho no que está acontecendo, sempre alertas.

[...] informação é o que é capaz de alterar estruturas mentais; é buscada quando o indivíduo se percebe em estado anômalo de informação, situação de deficiência informacional em relação a um problema ou demanda. Não nos parece plausível supor que as estruturas cognitivas de alguém possam ser modificadas em excesso; por outro lado, podemos inferir que a sobrecarga, no âmbito dessa teoria, pode ser entendida como uma incapacidade de resolver o estado anômalo de informação, pela quantidade descomedida de “respostas” encontradas. Assim sendo, a sobrecarga de informação é algo que trava o processo de incômodo, procura e absorção; um estado anômalo prolongado, sem termo (RIBEIRO, 2017, p. 38).

A sensação de estar conectado sempre, por meio de redes sem fio e aparelhos móveis, fortalece uma visão de empoderamento e liberdade, além da capacidade que os meios digitais oferecem de inclusão e abrangência. Pellanda (2008) afirma que os espaços físicos permeados pela rede representam a completude de um dos anseios humanos, a onipresença, em um ambiente de mídia always on.

A intensidade com que as novas tecnologias e meios digitais de comunicação se colocaram na vida cotidiana provocou indubitavelmente uma revolução

cultural na sociedade ainda imensurável completamente, a qual é independente da vontade e consciência individual das pessoas, pois o uso coletivo supera as necessidades de cada um, introduzindo novas práticas de comunicação e de acesso à informação. O que antes dependia do tempo e espaço, hoje em dia, com um clique, em poucos segundos e em qualquer lugar, superam-se limitações que anteriormente pareciam intransponíveis (SANTOS, 2013, p. 20).

James Gleick (2013) cita que depois que surgiu a “teoria da informação”, logo se seguiram a “sobrecarga de informação”, “saturação de informação”, “ansiedade de informação” e “fadiga de informação”, sendo que esta última já possui até definição pelo tradicional Oxford English Dictionary, desde 2009 como síndrome atual:

Apatia, indiferença ou exaustão mental decorrente do contato com informação em demasia, esp. (no emprego mais recente) o estresse induzido pela tentativa de assimilação de quantidades excessivas de informação a partir da mídia, da Internet ou do ambiente de trabalho (GLEICK, 2013, p. 412).

A sobrecarga e o excesso atingem diretamente não somente o profissional que atua com banco de dados, catalogação, gestão da informação e outras carreiras ligadas diretamente a dados e informação, mas também de maneira muito agressiva o usuário da Internet. Hoje, o conteúdo que o próprio cidadão gera na rede já é considerado assustador. Carlos Castilho (2015) trouxe um dado a partir de um número estimado e minimamente confiável. Segundo o pesquisador, o volume de dados acumulados por dia em toda a rede é de 3,38 exabytes a cada 24 horas, o que equivale a 3,28 bilhões de gigabytes por dia ou quase cinco pilhas de CD-ROMs da altura da distância entre a Terra e a Lua. Este comportamento se deve, em grande parte, a um número cada vez maior de usuários conectados, aos inúmeros aparelhos eletrônicos ligados em rede e às mídias sociais que induzem ao compartilhamento de imagens e notícias, troca de mensagens entre os usuários e a dinâmica atual da própria Internet que transforma o usuário, que era receptor, em produtor de conteúdo.

O volume de informações disponível para qualquer pessoa aumentou exponencialmente nos últimos anos, com o crescimento da Internet e a disseminação das redes sociais, smartphones, tablets e outros dispositivos tecnológicos portáteis de acesso à rede, que fazem chover informações na nossa mão a hora que quisermos. Por outro lado, o ano continua a ter 12 meses; os meses continuam a ter 4 semanas; as semanas continuam a ter 7 dias; e os dias continuam a ter apenas 24 horas cada. Informações não faltam. Mas tempo, falta. (ESCOBAR, 2014, on-line)

O que chamamos de conteúdo excessivo e sobrecarga de informação a que o usuário está exposto pode não ser encarado da mesma maneira por outro usuário que tenha um objetivo de pesquisa ou que consiga superar a capacidade de armazenar essa carga, ou ainda, que já

tenha uma inteligência em trabalhar com dados. Mas uma coisa é certa: “A Internet está criando o maior acervo de dados e informações já reunido na história da humanidade. Não se trata de um arquivo inerte, uma espécie de museu da informação, mas algo vivo que se altera sempre que alguém buscar algum dado” (CASTILHO, 2015, on-line). Portanto, essa busca intensa por informação, o impacto que ela causa e o acesso através da Internet por dispositivos móveis ou não já são requisitos mais que suficientes para caracterizar a hiperconexão, que trataremos a seguir.

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