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2.2. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

2.2.4. INFORMAÇÃO E PODER: INSTRUMENTOS E FONTES

Santos (2002) argumenta que as relações de poder funcionam, quer abrindo novos caminhos, quer fixando fronteiras, considerando que poder é:

[...] qualquer relação social regulada por uma troca desigual. É uma relação social porque a sua persistência reside na capacidade que ela tem de reproduzir desigualdades mais através da troca interna do que por determinação externa. As trocas podem abranger virtualmente todas as condições que determinam a ação e a vida, os projetos e as trajetórias pessoais e sociais, tais como bens, serviços, meios, recursos, símbolos, valores, identidades, oportunidades, aptidões e interesses (SANTOS, p. 266).

Weber conceitua poder como “a possibilidade de alguém impor a sua vontade sobre o comportamento de outras pessoas”, ou seja, para a configuração do poder, exige-se a existência de uma “vontade”, de uma “capacidade” para fazer valer a vontade, assim a produção dos “efeitos desejados”, e, finalmente, da certeza de que é preciso agir, pois os efeitos não aconteceriam “espontaneamente” (GALBRAITH, apud SILVEIRA, 2000, p. 79-80).

Para conhecer, conceber ou divulgar uma “vontade” e também para avaliar a “capacidade” operacional, o poder demanda informação. Por isso também se afirma que informação é poder, ou mais que isso, é fator multiplicador e também medida de avaliação do poder (DIZARD, apud, SILVEIRA 2000, p. 80).

A investigação sobre quais os verdadeiros objetivos que orientam o exercício do poder representa um desafio, dado às possibilidades de dissimulação e engodo que permeiam as relações nesse/desse exercício. Na sociedade moderna, em que há um condicionamento social para a crença nos valores democráticos e da livre iniciativa, sobram casos de manipulação do “mercado” e de influências políticas por parte de grandes empresas (SILVEIRA 2000, p. 80).

Foucault (1999) oferece uma melhor compreensão deste quadro quando diz que: [...] a questão do poder fica empobrecida quando é colocada unicamente em termos de legislação, de Constituição, ou somente em termos de Estado ou de

aparelho de Estado. O poder é mais complicado, muito mais denso e difuso que um conjunto de leis ou um aparelho de Estado. Não se pode entender o desenvolvimento das forças produtivas próprias ao capitalismo, nem imaginar seu desenvolvimento tecnológico sem a existência, ao mesmo tempo, dos aparelhos de poder (FOUCAULT, 1999, p. 221).

Para Galbraith, (apud SILVEIRA, 2000) há três instrumentos para o exercício do poder:

• a coação – que gera o poder “condigno”, no qual a submissão se dá pela imposição de alternativa “suficientemente desagradável ou dolorosa” à não capitulação;

• a recompensa – gerando o poder “compensatório”, em que a oferta de uma compensação (pecuniária ou social) leva à aceitação da submissão; e

• a persuasão – que gera um poder “condicionado”, no qual a submissão é conseguida pelo convencimento do que é apropriado.

A distinção entre os que detêm o poder e os que a ele se submetem se dá por meio das três fontes de poder:

• a personalidade – que se pode entender como características pessoais que dêem acesso a um ou mais instrumentos de poder (coação, compensação ou persuasão);

• a propriedade – entendida aqui como riqueza e renda e normalmente associada à compensação, embora a posição na estrutura social também possa induzir à submissão por coação ou persuasão;

• a organização – que se manifesta comumente na forma de poder “condicionado”, pela capacidade de estruturar modelos sociais e obter daí a submissão necessária, embora também ofereça acesso ao poder “condigno” (normalmente por meio do Estado), bem como ao poder “compensatório”, em grau compatível com sua riqueza (GALBRAITH, apud SILVEIRA, 2000, p. 80).

São as organizações que movem o mundo: exércitos, empresas, governos e outras formas de associação. Com a organização, os instrumentos do poder – coação, recompensa e persuasão – ganham forma e estrutura, sendo que a efetividade da ação organizacional está relacionada ao seu grau de submissão interna, de onde advém sua capacidade para imposição dos seus objetivos a outros fora do seu contexto (SILVEIRA 2000, p. 81).

Para a análise que efetuamos é importante destacar o poder da persuasão exercido pelas organizações das mais diversas naturezas (sejam estas de capital privado, multinacionais, multilaterais, instituições de formação etc, ou mesmo o (s) Governo (s) de qualquer país) umas sobre as outras, bem como, e principalmente, sobre o público em geral. Este destaque vale-se das expressões hodiernas factuais pela “guerra” de interesses, muitas vezes literal, que predominam definindo as relações, as significações e os sentidos.

Assim, os instrumentos utilizados para que esse condicionamento social se efetive funcionam como meios de legitimadores de uma realidade à qual se adere como verdade, circunstância esta a que Foucault (2000) atribui: (a) as regras de direito que delimitariam formalmente o poder, e (b) os efeitos de verdade que este poder produziria, gerando assim o triângulo: poder – direito – verdade. É também Foucault (2000) que afirma: “não há exercício do poder sem uma certa economia dos discursos de verdade que funcionam nesse poder, a partir e através dele. Somos submetidos pelo poder à produção da verdade e só podemos exercer o poder mediante a produção da verdade” (FOUCAULT, 2000, p. 28-29) e arremata:

[...] Para assinalar simplesmente, não o próprio mecanismo da relação entre poder, direito e verdade, mas a intensidade da relação e sua constância, digamos isto: somos forçados a produzir a verdade pelo poder que exige essa verdade e que necessita dela para funcionar; temos de dizer a verdade ou encontrá-la. O poder não pára de questionar, de nos questionar; não pára de inquirir, de registrar; ele institucionaliza a busca da verdade, ela a profissionaliza, ele a recompensa. Temos de produzir a verdade como, afinal de contas, temos de produzir riquezas, e temos de produzir a verdade para produzir riquezas. E, de outro lado, somos igualmente submetidos à verdade, no sentido de que a verdade é a norma; é o discurso verdadeiro que, ao menos em parte, decide; ele veicula, ele próprio propulsa efeitos de poder. Afinal, somos julgados, condenados, classificados, obrigados a tarefas, destinados a uma certa maneira de viver ou a

uma certa maneira de morrer, em função dos discursos verdadeiros, que trazem consigo efeitos específicos de poder. Portanto: regras de direito, mecanismos de poder, efeitos de verdade. Ou ainda: regras de poder e poder dos discursos verdadeiros (FOUCAULT, 2000, p. 28-29).

Os recursos utilizados pelo poder (principalmente político) configuram não só discursos, como também se estruturam em organizações através de ações muitas vezes coercitivas, mas também utilizando instrumentos para o condicionamento, institucionalizando regras, conformando direitos, constituindo-se assim verdades pelo exercício do poder de persuasão.

Para o exercício continuado do poder, faz-se fundamental dispor de meios de comunicação de massa comprometidos com a manutenção do “sistema” (manutenção do status quo) e de um sistema educacional que perpetue o pensamento dominante, de forma que o condicionamento seja cada vez mais implícito que explícito – mais aceito como natural que aceito por convencimento. O poder da imprensa, do rádio e da televisão deriva como o da religião, da organização; seu principal instrumento de imposição, como o da religião, é a crença – o condicionamento social (SILVEIRA 2000, p. 82).

Retomando a relação informação e poder nas concepções da SI, pode-se ampliar a reflexão trazendo alguns elementos do cenário internacional no âmbito das organizações