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PARTE III: UMA COMPREENSÃO DO OBJETO

INFORMANTE 3 Idade: 34 anos

Sexo: Masculino

A) Sou de uma família de classe média e sempre morei em um bairro da

periferia de Vitória (Jesus de Nazareth), onde resido até hoje. Cursei o 1o grau

parte em escola pública (1a a 4a série) e parte em escola particular (5a a 8a

série). Meu pai sempre se preocupou em dar o melhor estudo para seus filhos, por isto fazia questão de pagar escola particular, mesmo não tendo uma renda tão alta assim. Graças ao seu esforço – cursou o segundo grau e fez curso técnico à noite, trabalhando como servente durante o dia – proporcionou uma razoável melhoria na renda familiar, possibilitando o custeio de nossos estudos.

Neste período, o meu contato com a disciplina Educação Física ficou restrito

praticamente ao tempo em que estudei ne escola pública (1a a 4a serie). A

escola era localizada junto ao Centro de Educação Física do Governo do Estado (antigo DED), hoje também chamado de DEARES. Foi mais ou menos entre 1973 e 1977, e o regime militar dava muita ênfase à prática esportiva nas escolas públicas. Já durante o tempo em que estudei na escola particular (Colégio Martim Lutero), quase não tinha aulas de Educação Física. Em compensação, pude praticar esporte (mais especificamente o futebol), de forma mais intensa e lúdica, durante os recreios e horários livres. Antes, por ter uma educação rígida – e até certo ponto repressora – não tinha tempo para me divertir junto de meus amigos que na maioria não estudavam ou pouco estudavam, mas que jogavam gostosas “peladas” o tempo todo.

B) Cursei o 2o grau na antiga Escola Técnica Federal do Espírito Santo (hoje

CEFET), no período de 1981 a 1983, concluindo o estágio em 1984 e me formando em Técnico em Estradas. Neste período a disciplina Educação Física teve um papel muito importante na minha vida. A escola dava ênfase muito grande a essa disciplina em diversos esportes (vôlei, natação, handebol, futebol, futsal, atletismo e basquete), com orientação precisa e adequada de professores capacitados e qualificados. Nesta época participei da equipe de futsal da escola, o que me possibilitou integrar a equipe infanto-juvenil de futsal do Clube Álvares Cabral.

Em 1984 surgiu uma oportunidade de estagiar na CVRD, no município de Governador Valadares/MG, fazendo com que eu abdicasse de praticar o Futsal por um clube, sem, no entanto, nunca ter me afastado das práticas esportivas, pois participava de jogos de várzea, “peladas”, campeonatos de empresa, etc. Após concluído o estágio – em 1984 – fui aprovado em concurso e admitido na CVRD, passando a residir em Governador Valadares até março de 1989. Em 1988, iniciei o Curso de Administração de Empresas na Faculdade de Administração de Governador Valadares, sendo que me transferi para a FAESA, em 1989, na mesma ocasião em que fui aprovado no

Concurso da Caixa Econômica Federal, onde trabalho até os dias atuais. Depois do meu retorno à Vitória, voltei a praticar o futsal atuando na categoria principal (adulta) em diversas equipes de pequena expressão, além de continuar praticando o futebol de forma lúdica em campeonatos de empresa e em “peladas” de final de semana. Concluí o curso de Administração em 1991, tendo posteriormente (1992) cursado o curso de pós-graduação “lato sensu” (Especialização) em Administração de Recursos Humanos.

Apesar de ter feito um curso de graduação em uma área que tinha muita afinidade com o meu emprego atual, não era realmente aquilo que eu idealizava como realização profissional. Sempre gostei muito de praticar esporte e sempre enxergava a Educação Física como uma forma prazerosa de ganhar o meu sustento.

O fato de ter tido uma postura questionadora e de sempre estar ligado ao movimento sindical (participei de forma intensa dos movimento grevistas e hoje sou diretor suplente do Sindicato dos Bancários e Diretor Administrativo da APCEF/ES – Associação do Pessoal da caixa Econômica Federal do ES, cedido com ônus para a empresa), faz com que minha perspectiva dentro da empresa seja um tanto quanto cercada, em virtude do movimento desfavorável à classe trabalhadora.

O trabalho realizado pelos professores da Escola Técnica e a minha curta passagem pelo futsal, durante essa trajetória, tiveram influência decisiva na minha escolha atual pelo curso de Educação Física. Devo destacar, também, que, em meu atual emprego como bancário da Caixa Econômica Federal, não vejo perspectiva de crescimento profissional nem de realização pessoal, pelos fatos já mencionados.

C) O curso de Educação Física da UFES tem sido extremamente gratificante para mim. De fato eu necessitava ampliar meus horizontes de conhecimento além de buscar fazer aquilo que realmente me interessava. Já ingressei na UFES sabendo o que me esperava, pois conversei com vários amigos da área que são profissionais recém-formados e obtive informações importantes acerca do curso. Ainda assim, obtive uma grata surpresa ao ver o engajamento político e o compromisso com a transformação da sociedade demonstrado por vários professores. Além do mais, passei a enxergar o esporte e a prática da atividade física sob uma nova ótica, fazendo com que revisse alguns conceitos e reaprendesse a questionar e a ver as coisas por vários ângulos. Uma de minhas poucas frustrações é em relação ao engajamento de meus colegas, que hoje não demonstram grande interesse pelas questões políticas, nem tampouco sabem aproveitar, na plenitude, a oportunidade de estarem em uma universidade pública, gratuita e de qualidade. Ingressei no curso no período 98/2, mas tive que atrasar o curso

em um período – hoje estou cursando o 5o – para poder estudar no turno

matutino, que é mais adequado, pois não conflita com o meu horário de trabalho.

Estou cursando as minhas duas primeiras disciplinas optativas e escolhi Futebol I e Atletismo I. No caso do futebol, não nego que escolhi por afinidade com o esporte. Em relação ao atletismo, optei pela disciplina em virtude de querer vivenciar todas as áreas possíveis de atuação. Aliás, pretendo cursar o máximo de disciplinas optativas, mesmo que para isso tenha que atrasar a conclusão do curso por mais um ou dois períodos, podendo assim vivenciar o máximo de experiências, usufruindo o máximo do conhecimento oferecido.

Se antes eu imaginava saber a minha futura área de atuação ao término do curso, hoje pairam dúvidas – que considero benéficas – sobre esta questão. Já tenho uma certa experiência com o trabalho em escolinhas de futsal, e pretendo aprender mais sobre outras áreas para depois definir o meu futuro profissional.

ANEXO B – Entrevista em grupo

1) A condição socioeconômica de vocês influenciou na escolha pelo curso? De que forma?

Aluno 1 – A condição socioeconômica, de certa maneira, não influenciou praticamente nada na escolha do curso; o que influenciou mais na escolha do curso foi a questão do esporte. Na época, eu praticava natação, já tinha tido contato com vários outros esportes, ciclismo, futebol. Eu sempre gostei de

de esporte e fiz o 3o ano todo pensando em fazer vestibular pra Direito. Na

hora da matrícula que eu mudei de... na hora de fazer a inscrição que eu mudei de opinião e coloquei é... Educação Física, mas mais por causa dessa questão do esporte, nem tanto pela socioeconômica.

Aluno 2 – É... da mesma forma, a condição socioeconômica não influenciou, não consigo ver a forma dela ter me influenciado na opção do curso, até mesmo porque, como eu coloquei no é... no memorial, poderíamos dizer no memorial, que eu não sei bem ao certo o que me motivou a fazer o curso de Educação Física. Talvez, a falta de opção, né, de fazer outro curso, né, e eu fiz, eu fiz o vestibular é... com a expectativa de provavelmente não passar,

não tava estudando pra passar. Depois que eu passei na 1a fase, eu levei

mais à sério é... e tava pensando em fazer depois um cursinho e tal, mas naquele momento, eu não sei nem por que os motivos que me levaram a fazer, mas o certo qual o motivo eu não tenho [pesquisadora: Você colocou no memorial a dificuldade de falar o que foi realmente]. Um dos fatores maiores que eu acho que eu coloquei no memorial foi um tio que eu tenho em São Mateus que ele ficou: “Vem, faz vestibular aqui”. Ligou pra mim, eu falei: “É mais fácil passar [...] a concorrência é menor [...].

Aluno 3 – A condição socioeconômica influenciou na escolha do curso de