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2   REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM AMBIENTES DIGITAIS

2.4   INFRAESTRUTURA NACIONAL DE DADOS ESPACIAIS 39

Vários países do mundo vêm adotando uma infraestrutura nacional de dados espaciais. De acordo com o inciso III, do Art. 2º do decreto 6.666 , de 27 de novembro de 2008 que “institui, no âmbito do Poder Executivo Federal, a Infra- Estrutura Nacional de Dados Espaciais - INDE, e dá outras providências”, uma infraestrutura nacional de dados espaciais – INDE é o

conjunto integrado de tecnologias; políticas; mecanismos e procedimentos de coordenação e monitoramento; padrões e acordos, necessário para facilitar e ordenar a geração, o armazenamento, o acesso, o compartilhamento, a disseminação e o uso dos dados geoespaciais de origem federal, estadual, distrital e municipal (BRASIL, 2008, p. 1)

Certamente, esta é uma iniciativa no sentido de buscar as respostas para as questões impostas pelo cenário digital (a julgar pelos termos presentes nesta definição: integrado, políticas, padrões, acesso, compartilhamento e disseminação), mas, baseado em exemplos de outros países que já implantaram a INDE, este é, realmente, apenas o ponto de partida, necessário, mas não suficiente.

O modelo de comercialização de informações geoespaciais digitais adotado no Reino Unido, por exemplo, implica que os demais setores do governo, para os quais a informação geoespacial é insumo, paguem à agência nacional de mapas e

dados geográficos (Ordnance Survey) pelo acesso. Ou seja, parte dos impostos que foi utilizada para a coleta, processamento e armazenamento das informações geoespaciais é utilizado para garantir o acesso. No caso do Reino Unido, os estudos apontam que 50% da receita proveniente do acesso são pagos pelos próprios órgãos públicos. Um cenário diferente existe na África do Sul que mudou, no ano 2000, de um modelo de acesso pago às informações geoespaciais para um modelo em que os impostos são utilizados para todas as atividades de coleta, processamento, armazenamento e disponibilização da informação geoespacial digital e o acesso é cobrado pelo custo do acesso, ou seja, é gratuito. Esta mudança, nas palavras do diretor chefe da agência de mapas da África do Sul (Directorate of Surveys and Mapping - CDSM), Derek Clarke, não trouxe impacto negativo na operação da agência e, o mais importante, aumentou em 6 vezes o acesso às informações geoespaciais pelos setores público e privado, permitindo que empresas reduzissem seus custos, gerassem mais negócios, mais empregos, compensando as “perdas” pela não cobrança do acesso através da geração de mais impostos (ARTHUR, 2007).

O Reino Unido, entretanto, vem dando sinais de mudanças nas políticas que regulam a disponibilização da informação geoespacial digital. A campanha “Free Our Data” (liberte nossos dados) encabeçada pelo jornal The Guardian, com o objetivo de persuadir o governo a "abandonar os direitos de autor sobre dados nacionais essenciais, tornando-os disponíveis livremente para qualquer pessoa, mas mantendo a tarefa crucial de coletar os dados nas mãos das agências financiadas pelos contribuintes" (STRATTON, 2009, p. 2), foi uma das responsáveis pela decisão anunciada pelo primeiro-ministro Gordon Brown, em 17 de novembro de 2009, de identificar caminhos para permitir que todos os mapas do Ordnance Survey sejam acessíveis livremente on-line a partir de abril de 2010. A decisão do governo britânico também foi inspirada pelo sucesso do projeto crime mapping16, que permite que cidadãos avaliem a segurança de áreas geográficas com base em informações governamentais livremente acessadas.

Outra iniciativa européia incentivadora do acesso livre aos dados geográficos foi a premiação às soluções de infraestrutura de dados espaciais mais promissoras. A premiação foi organizada pela eSDI-NET+17 , uma rede para promoção do diálogo

16 Disponível em < http://www.crimemapping.com/>. Acesso em 11/11/2009.

entre os países e para a troca de informações sobre as melhores práticas em Infraestruturas de Dados Espaciais (IDE) no continente europeu. Foram avaliadas 135 IDE, regionais e locais, de 26 países, das quais 12 IDE, de nove países, foram contempladas com o título de excelência. Os responsáveis pelas IDE premiadas apontaram como fatores-chave de sucesso o fornecimento de serviços de visualização dos dados geoespaciais aos usuários, a troca de informação com a comunidade de usuários, a disponibilização de dados livre de taxas e a necessidade de iniciar pequeno e crescer rapidamente.

Os Estados Unidos proíbem expressamente as suas agências federais de protegerem seus trabalhos por copyright, colocando tais recursos em domínio público. A principal razão para esta abordagem é que a imposição de direitos autorais sobre informações do governo seria uma restrição ao direito do cidadão de estar informado para verificar abusos da administração pública. Além disso, há uma crença em que

os indivíduos devem ser capazes de obter benefícios a partir dos bens públicos e educação (ou seja, o acesso crescente a informação) é um bem por si só. Esta posição do Congresso americano vem encorajando indivíduos e empresas a criarem mercados de negócio a partir das informações governamentais e tem encorajado a distribuição destas informações em prol do interesse público (ONSRUD, 2004, p. 4).

O Brasil passa, neste momento, por um período importante de implementação de política pública relacionada à informação geoespacial. O plano de ação para a implantação da INDE brasileira está em execução desde agosto de 2009 baseado em uma estratégia de implantação em ciclos, com a visão para 2020 de permear

todos os setores produtivos da sociedade, além do governo, e se consolidando como uma referência para busca, acesso e exploração de dados e informações geoespaciais [e com a missão de] transformar a INDE brasileira na principal ferramenta de busca, exploração, acesso e aplicação de dados e informações geoespaciais do Brasil, em suporte à formulação de políticas públicas pelo setor governamental (CONCAR, 2009, p. 26).

Uma atividade como esta é bastante relevante para um país em desenvolvimento com a tarefa de adequar as necessidades da população à disponibilidade de recursos, aliada à preocupação com a sustentabilidade social, econômica e ambiental. Todo esse esforço de implementação pelo qual vários países do mundo já passaram (ver Quadro 1 abaixo) e da qual muitas sociedades já se beneficiam, especialmente aquelas que caracterizaram as suas estruturas de

informação geoespacial com o ciclo virtuoso do uso do recurso público para financiar a coleta e disponibilização da informação, livre acesso à informação, redução de custos para geração de novos empregos, mais empregos gerados, mais impostos gerados e, finalmente, melhor infraestrutura pública e desenvolvimento com sustentabilidade, corrobora a necessidade de termos cada vez mais políticas públicas relacionadas à informação que garantam o livre acesso do cidadão.

Quadro 1 - Marcos Legais de IDE Nacionais e Continentais Marco

Legal Nome da IDE País / Continente

2008 INDE Brasil 2006 IDEMEX México SNIT Chile 2004 IEDG Equador NSDI Estados Unidos (revisada) 2003 INSPIRE Europa IDERC Cuba 2002 IDEE Espanha 2001 CDGI Canadá ANZLIC Austrália e Nova Zelândia 2000 ICDE Colômbia

1996 NSDI Estados Unidos

1995 SNIG Portugal

Fonte: Adapatado de (CONCAR, 2009, p. 6)

Vale ressaltar que uma estrutura como a que será disponibilizada pela INDE será também utilizada com fins científicos na medida em que subsidiará pesquisas e geração de conhecimento novo, que, da mesma forma, precisará ser disseminado para que esse ciclo não seja interrompido. Uma infraestrutura nacional de informação de toda natureza, então, é necessária para garantir a sustentabilidade científica nacional e a consequente melhoria de condições internamente no país e de posicionamento do Brasil em relação aos demais países do mundo.

O objetivo primário da lei de copyright é “encorajar a expressão de idéias em uma forma tangível, desta forma as idéias se tornam acessíveis para os outros e pode beneficiar a comunidade como um todo” (ONSRUD, 2004, p. 2), mas tem-se observado que, em alguns casos, a utilização da lei de copyright tem surtido o efeito contrário, dificultando o acesso à informação, devido a barreiras econômicas, e

quebrando o ciclo de geração de conhecimento novo. Em consequencia, países que precisam se desenvolver e se tornar autossuficientes ficam dependentes de ciência e tecnologia de países desenvolvidos, visto que não conseguem desenvolver a sua própria. Outras maneiras de incentivo à criatividade precisam ser pensadas e colocadas em prática e, principalmente, dissociadas do interesse financeiro que tem subsidiado as soluções atuais. Uma premissa para novas soluções é que ao invés de se pensar em acesso limitado com custo elevado, é mais viável e sustentável acesso abrangente com custo baixo, permitindo que um número maior de pessoas possam contribuir e se beneficiar do modelo. Essas pequenas modificações quantitativas é que levarão à mudança qualitativa.

A ideia é direcionar as possibilidades trazidas pela tecnologia para o uso cada vez mais disseminado pela população, como em uma economia de escala onde a maior quantidade diminui o custo e aumenta o benefício para todos os envolvidos.

2.5 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E A REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO