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1. INTRODUÇÃO 14

1.5. DMO, hábitos de vida e outros fatores

1.5.3. Ingestão de Cafeína

O café é uma das bebidas mais populares no mundo. Cada 600mL de café contém aproximadamente 330mg de cafeína (69) mas é importante salientar que o teor de cafeína depende da variedade da planta, método do cultivo, aspectos sazonais, das diferentes marcas comercializadas, quantidade de pó, tipo do produto (torrado, instantâneo ou descafeinado) e do processo utilizado no seu preparo (70). A cafeína está presente em outros alimentos/bebidas como refrigerantes, chocolates e chás.

Estudo nacional avaliou o teor de cafeína em cafés brasileiros. Diferentes amostras de café em pó e instantâneo, comercializados em supermercados na cidade de Campinas -SP-Brasil foram analisadas em três épocas distintas para obter três lotes diferentes de cada uma das marcas. Os cafés expressos foram adquiridos prontos em cafeterias locais. O teor de cafeína extraída do café preparado com o pó fervido junto com a água durante dois minutos foi 19% a 30% superior

ao teor obtido das mesmas marcas com o pó de café coado onde a água passa através do pó. O teor de cafeína encontrado no café expresso foi maior, cerca de 70mg/60mL, como esperado, pois a quantidade de pó utilizada para o seu preparo é praticamente o dobro. O teor de cafeína em amostras de café instantâneo variou entre as marcas e entre os tipos dentro da mesma marca sendo, em geral, relativamente maior (44mg/60mL) do que a quantidade presente no café em pó (36mg/60mL). Adicionalmente, a variedade de grãos utilizada para a fabricação do café instantâneo são sementes GDHVSpFLH³5REXVWD´TXHWHPPDLRUWHRUGDFDIHtQDGRTXHDVVHPHQWHVGD³$UiELFD´XWLOL]DGDVQD obtenção do café em pó torrado. Em conclusão, a quantidade de cafeína na bebida depende da quantidade de pó utilizada, do tipo do café e da forma de preparo (70).

Os estudos têm mostrado controvérsia em relação ao efeito do café na saúde óssea. Alguns estudos associam o consumo de café como deletério para a DMO (56,71), enquanto outros referem-se à sua ação protetora (68,69,72,73,74). Como possíveis efeitos deletérios são citadas a menor absorção do Ca (75) associada à sua maior excreção urinária (76) e o efeito do café na viabilidade dos osteoblastos aumentando a apoptose celular (77). Em contrapartida, como efeito protetor é citado o efeito estrogênico do café, pois contém substâncias que se ligam aos receptores de estrogênio; a ação anti-oxidante devido a presença de compostos polifenóis, que incluem as substâncias flavonóides (presentes em frutas como uva, morango, maçã, romã, blueberry, framboesa; em vegetais como brócolis, espinafre, couve e cebola; em cereais e sementes como nozes, soja, linhaça; no vinho tinto, chá, café e cerveja; no chocolate e no mel) e não-flavonóides (ácido clorogênico), estas últimas, apresentam potente efeito inibidor da osteoclastogênese e também o efeito protetor secundário à ação antiinflamatória mediante inibição da síntese de óxido nítrico e da expressão da cicloxigenase 2 (COX-2) nos sítios inflamatórios (69).

Estudos de corte transversal descreveram associação positiva entre a ingesta de café e a saúde óssea. Estudo com 4.066 mulheres Coreanas no pós-menopausa, idade média 62,6 anos, foi realizado para avaliar os efeitos do café na saúde óssea. Mediante recordatório alimentar sobre o consumo de café as mulheres foram estratificadas em: 872 mulheres sem consumo ou raramente consumo (<1x/mês); 785 com uso regular >1x/mês e <1x/dia; 1.421 mulheres com consumo 1x/dia e 988 com consumo >1x/dia (2 a 3x/dia). O risco para osteoporose foi menor com o maior consumo de café, o odds ratio para coluna lombar foi de OR=0,44 (95% IC: 0,34-0,56) (p<0,001) e para o colo femoral foi de OR=0,32 (95% IC: 0,24-0,42) (p<0,001). Os autores concluíram que o consumo moderado de café teve efeito protetor na saúde óssea de mulheres Coreanas no pós-menopausa e

consideraram como limitações do estudo o fato de não terem sido avaliados a fabricação do café e a adição de ingredientes como leite, creme, açúcar e consumo de café descafeinado, etc (69).

Estudo de corte transversal realizado com 600 mulheres Japonesas, com 55 a 74 anos de idade, avaliou informações sobre nutrição, dentre elas o consumo de café ou chá preto, consumo este categorizado em ausente, algumas vezes, 1x ao dia e t 2x ao dia, além da avaliação da DMO por meio de DXA. O consumo de chá preto ou café foi positivamente associado com a DMO de coluna lombar (p=0,004) e fêmur total (p=0,003). Uma suposição para o efeito protetor do chá em relação à DMO seria atribuído aos flavonóides. Uma limitação considerada pelo autor foi não ter separado o consumo da café e o do chá, pois foram questionados e analisados em conjunto (74).

Um total de 120 mulheres Croatas no pós-menopausa, com média de idade de 59,9 anos, foram avaliadas em relação à recordação alimentar dos três dias anteriores, hábito alimentar, composição corporal, DMO (DXA), atividade física e exames laboratoriais. Dentre todas as participantes, 33 tinham osteoporose. Não houve associação entre consumo de café e DMO, porém, foi ressaltado pelos autores que na Croácia o café é consumido com a adição de leite, aproximadamente 1/3 da bebida é composta pelo leite (68).

Estudo prospectivo acompanhou uma coorte de 66.651 mulheres Suíças que foram convidadas para realizar mamografia e, na ocasião (entre 1987-1990), responderam um questionário alimentar com recordatório dos últimos seis meses incluindo a avaliação sobre a ingesta de café, chá, café descafeinado, refrigerantes e chocolate. Em 1997 um segundo questionário foi enviado e dentre o total de convidadas, 31.527 participaram do estudo prospectivo. O consumo de café foi categorizado em <1copo/dia (n=2.520 mulheres), 1 copo/dia (n=4.128), 2- 3 copos/dia (n=18.703; 59%) e t4 copos/dia (600mL; n=5.887; 19%). O consumo de um copo de café 150mL correspondeu a 80mg de cafeína. Durante o seguimento de 10,3 anos, foram observadas 3.279 casos de osteoporose com fratura, O maior consumo foi associado ao aumento do risco de fratura OR=1,20 (IC 1,07-1,35) (56). Entre 2003-2009 estas mulheres foram convidadas a responder um terceiro questionário e a realizarem avaliação da DMO por meio de DXA, quando foi composta uma amostra de 5.022 mulheres. O consumo de café foi categorizado em <1 copo/dia (177 mL), 1 copo/dia, 2-3 copos/dia ou t4 copos/dia; e 60% das participantes referiram consumo diário de 2-3 copos de café/dia. Os dados sobre as fraturas foram obtidos do Swedish National Registry e dos registros dos hospitais locais. O estudo descreveu que não houve associação entre o

consumo de café e risco de fratura. O alto consumo de café foi associado à redução de 2 a 4% na DMO (p<0,001) (71).

Outro estudo prospectivo realizado com 1.460 mulheres Australianas com idade acima de 75 anos e média de 80 anos, teve como objetivo determinar se a alta ingestão de chá teria associação com a redução do risco de fraturas, considerando o chá como um dos alimentos ricos em flavonóides (fitoquímico), como algumas frutas e vegetais (73). O chá preto é o principal tipo consumido na Austrália. Este estudo avaliou o total de flavonóides e sete principais classes de flavonóides: os flavonóis, flavan-3-óis, proantocianidinas, antocianinas, flavanones, flavonas e isoflavonas. As participantes do estudo foram questionadas sobre o número de copos de chá consumidos nas últimas 4 semanas, no momento basal (n=1188 mulheres), em 2005 (n=996 mulheres) e em 2008 (n=824 mulheres). No momento basal, as participantes foram classificadas em relação ao consumo de chá e referiram baixo consumo 17% (d1 copo/semana), 30% consumo moderado (>1copo/semana e < 3copos/dia) e 53% alto consumo (t3 copos/dia). Os dados sobre fraturas em 10 anos foram obtidos através do banco de dados Western Australian Hospital Morbidity Data System e os dados sobre hospitalizações por fratura foram obtidos através do International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems. Os resultados deste estudo mostraram que o alto consumo de chá preto e flavonóides foram associados ao menor risco de hospitalização por fraturas em mulheres mais velhas, ou seja, mulheres sabidamente com alto risco para fraturas (73).

Um estudo de metanálise revisou os estudos publicados no período de 1996 a 2013 com o objetivo de avaliar a associação entre consumo de café e chá e o risco de fratura de quadril. Dentre os 1.723 estudos selecionados, 14 foram analisados, seis prospectivos e oito caso-controles. Dos analisados, 10 referiam-se ao consumo de café e chá, três estudos referiam-se ao consumo de café e um apenas ao consumo de chá. Não houve associação entre o consumo de café e o risco de fratura de quadril. Quando o consumo de chá foi de 1-4 copos/dia houve redução do risco de fratura de quadril. A redução foi de 28% quando o consumo foi de 1-2 copos/dia (0,72 IC= 0,56-0,88), de 37% quando o consumo foi de 2-3 copos/dia (0,63 IC= 0,32-0,94) e de 21% quando o consumo foi de 3-4 copos/dia (0,79 IC= 0,62-0,96) (72).

Estudo prospectivo com usuárias do AMPD de 14 a 40 anos de idade foi realizado para avaliar a associação entre DMO e ingestão de cafeína. Os grupos foram compostos por 263 usuárias do AMPD e 363 não usuárias do método, pareadas por idade. As participantes responderam

semestralmente um questionário sobre o consumo de cafeína, referente aos seis meses anteriores (ingestão de café, café com leite, refrigerantes com cafeína, chá). O consumo foi categorizado em sem consumo (0mg/dia), baixo consumo (d200mg/dia) e alto consumo (>200mg/dia). A DMO foi mensurada no início do estudo e semestralmente por meio do DXA. Em relação ao consumo de cafeína no início do estudo 26,2% das usuárias do AMPD (n=69) não consumiram cafeína, 45,2% (n=119) referiram consumo baixo e 28,5% (n=75) referiram alto consumo; o consumo das mulheres do grupo comparação foi de 33,6% (n=122), 38,8% (n=141) e 27,5% (n=100) para as mesmas categorias. Este estudo concluiu que o consumo de cafeína afetou de forma adversa a DMO no grupo de usuárias do AMPD (57).

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