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4. DISCUSSÕES E RESULTADOS

4.3 Atitude: querer fazer/ interesse/ determinação

4.3.1 Iniciativa de ação e decisão

A categoria iniciativa no trabalho foi analisada com base nos depoimentos dos entrevistados quando relatam suas experiências nos momentos em que lhes são requisitadas posicionamentos nas relações de trabalho. Nesse sentido, as

reações observadas diante de tais ocasiões podem ser interpretadas como atitudinais na medida em que observa-se que os estagiários não declinam de tomar decisões.

O depoimento da aluna do curso de Química, dentro do contexto da entrevista, deixa evidente uma característica de não imparcialidade conforme se pode observar no decorrer de sua explanação: “eu via os outros estagiários muito quietinhos, sem tomar atitude, então algumas vezes eu tomei iniciativa, então considero que tenho o perfil de atitude, quando é necessário tomar uma decisão eu vou lá e faço”. A aluna reflete, ainda, que não tinha esse estilo antes de entrar no estágio, “(...) então, questão de atitude eu, realmente, não tinha. Mas criei uma coragem lá que eu não sei de onde veio, mas sempre tomava cuidado para não ser intrometida”. (Entrevista, Química, Braskem, 18/02/14)

Seguindo por essa mesma linha de pensamento outro aluno relata que se considera uma pessoa prática, que gosta de planejar, organizar e implementar projetos e apesar de nunca ter tido a oportunidade de assumir posição de liderança acredita que desempenharia bem tal função. (Entrevista, Química, Braskem,14/02/14).

Para Durand (2000, apud Brandão, 2001b) a atitude diz respeito a aspectos emocionais e afetivos relacionados ao trabalho. Para esse autor são as atitudes que definem o curso de ações adotado por uma pessoa. A atitude amplia a reação positiva ou negativa do indivíduo, ou seja, sua predisposição em relação à adoção de uma ação específica.

Na pesquisa um dos alunos conta que: “eu tenho um perfil de tomar a responsabilidade para mim, gosto de ficar sabendo o que está acontecendo ao meu redor, senão fico inseguro”. Esta narrativa permite inferir que por conta do sentimento “insegurança” este aluno adota uma atitude de enfrentamento dos problemas sem, contudo, deixar de compartilhar com os outros colegas: “eu gosto de compartilhar com os demais, mas me sinto responsável pela resolução das situações” (Entrevista, Química, Petrobrás, 15/02/2014)

Outro entrevistado lembra que na época de escola nunca gostava de estar na dianteira dos projetos, preferindo ficar nos bastidores dando sugestões. Mas, no estágio, foi designado para assumir a liderança de um determinado grupo e assim era necessário delegar funções, buscar informações e dizer as ações que cada um deveria desenvolver. Segundo ele, a princípio, foi uma situação incômoda,

pois, era muita responsabilidade mas com o tempo “eu pude ver que era uma experiência boa, no final quando você acaba de armar as estratégias e vê que deu tudo certo que suas ações foram corretas, a sensação é muito boa”.(Entrevista, Mecânica, Cristal, 05/02/14).

O entrevistado de Automação Industrial ao ser inquerido quanto às suas atitudes em situação de trabalho, conta que na empresa onde estagiava ele mantinha-se sempre atento às oportunidades e, assim, ao vislumbrar uma oportunidade na estação de tratamento de água tomou uma atitude no sentido de ser direcionado para aquele setor. Segundo narra a primeira ação que adotou foi provocar uma situação em que pudesse expor seus conhecimentos ao chefe, e assim, “eu fui conversar com ele com o pretexto de tirar dúvidas, mas na verdade eu queria mostrar a ele todo conhecimento que eu tinha e que podia ficar sozinho na estação. Ao que parece deu certo porque “Teve um dia que meu chefe disse que eu iria substituir o rapaz e eu aceitei, foi muito legal essa experiência” (Entrevista, Automação, Cristal, 06/02/14).

Alguns entrevistados declararam que sentem receio em tomar decisões e, portanto, preferem não ficar em evidencia no trabalho, um deles admite que chegou a recusar um cargo na empresa: “(...) inclusive em um trabalho anterior tive a oportunidade de ser supervisor, mas, eu não quis. Talvez mais para a frente, acho que o tempo vai dizer.” (Entrevista, Mecânica, Cristal, 10/02/14). Outro aluno do mesmo curso demonstra que prefere se esquivar de situações que envolvem iniciativa e liderança, já que apesar de declarar que: “gosto muito de sugerir, participar de debates”, quando se trata de dar o primeiro passo tomar as rédeas das questões ele se esquiva: “(...) acho que não, coordenar, tomar decisões , não é meu perfil (Entrevista, Mecânica, Cristal, 05/02/2014).

As divergências de posicionamentos entre os entrevistados reforçam que a questão da atitude é inerente ao indivíduo ao seu desejo de realizar algo no trabalho, conforme defende Durand (2000, apud Brandão e Borges-Andrade, 2007). A ausência de atitude no trabalho observada em alguns entrevistados, talvez seja um indício de que estes não estão confortáveis com as atividades desenvolvidas, uma vez que Sansone (1986, apud Brandão, 2007) entende a atitude como um fator motivacional intrínseco aquela relacionada ao desejo, à disposição ou à satisfação pessoal do indivíduo pelo trabalho que realiza.

É importante salientar que os entrevistados que declararam que se sentem confortáveis em tomar decisões são os mesmos que já foram, em algum momento, líderes de classe no período escolar, fato que indica que, talvez, a experiência de identificar e apontar alternativas diante dos conflitos vividos na escola auxilia estes futuros profissionais também no trabalho na medida em que os habitua a ser proativos, a querer fazer.

Apesar das declarações de alguns entrevistados mostrarem que estes não são pessoas de iniciativa no trabalho, a grande maioria evidenciou saber o que desejam e emitir ações que conduzem aos seus objetivos. Essas ações se iniciaram na escola e foram expandidas nas relações de trabalho o que sinaliza para um incremento da competência relacionada à atitude.