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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

Capítulo 7 – Apresentação e Interpretação de dados

7.2. Análise e interpretação de dados

7.2.6. Iniciativas

Os estatutos de três associações (A1; A9; A10) não indicam que iniciativas serão desenvolvidas para que a associação atinja os objectivos a que se propõe. Nos restantes estatutos são referidas iniciativas concretas que integram diversas áreas de intervenção (social, cultural, económica, saúde e bem estar, património natural e construído) e dife- rentes tipos: pontual "c) realização de sessões culturais e recreativas, como: festas, audi- ções musicais e radiofónicas, espectáculos de teatro e cinema. " – [A2]; consuetudinário

e) criar e manter actividades consideradas de educação física, tais como ginás- tica, atletismo, etc.; – [A7]; 3. contribuir para a implantação de um esquema de panificação da produção suinícola abrangente da Associação propondo às enti- dades oficiais normas que definam uma política global que melhor sirva a eco- nomia da região; 4. acompanhar os estatutos técnicos de suinicultura, abran- gendo todas as áreas envolvidas com base nas experiências científicas à escala nacional, tidos em conta os problemas, dificuldades e experiências regionais, e instruir os associados com todos os ensinamentos que contribuam para melho- rar a exploração das suas instalações transmitindo-lhes informações concretas e práticas em linguagem acessível; (…); 6. Corrigir sistematicamente todos os elementos e informações que resultam de experiências e operação das explora- ções dos associados, analisá-los e difundir as conclusões a que chegar; 7. repre- sentar os criadores produtores associados em todos os estudos e decisões governamentais que se relacionem com a suinicultura da raça alentejana; 8. colaborar com todas as entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, no domínio do seu objecto social; 9. organizar e manter actualizado o arrola- mento dos efectivos das explorações dos associados; 10. contribuir por todos os meios possíveis ao seu alcance para a preservação do património genético do porco alentejano em raça pura, fomentando e desenvolvendo o registo genealó-

164 gico, ou criar novos livros de registo de acordo com a legislação em vigor; 11. contribuir para a demarcação da zona de produção, tipificação e denominação de origem dos produtos de salsicharia tradicional do porco alentejano, de forma a preservar a sua qualidade sui generis dos produtos transformados; 12. estudar e promover o mercado regional, nacional, comunitário e internacional para os produtos citados na alínea anterior; (…); 14. requerer junto das competentes entidades oficiais o direito de ser a Entidade Certificadora de todos os produtos de salsicharia tradicional derivados do porco alentejano, quer em pureza, quer em cruzamento – [A8]

A8, nos seus estatutos, faz referência à educação do tipo formal – "5. organizar serviços próprios para apoio aos associados no campo comercial, tecnológico de forma- ção profissional e higiénico sanitária com vista a minimizar os riscos e optimizar os resultados das explorações". Em todos os outros estatutos, de modo menos explícito (com excepção para A5 – "Promover a formação, tendo em vista a integração social") é identificável uma educação não formal e informal:

a) promover e desenvolver acções de cooperação com as instituições de solida- riedade e segurança social; b) realizar conferências e palestras, criar bibliotecas e desenvolver todas as manifestações de carácter sociocultural; c) criar e desenvolver agrupamentos artísticos, grupos de teatro, dança e música; d) pro- mover festas, espectáculos, audições musicais, exposições artísticas e outros actos de interesse cultural; e) criar e manter actividades consideradas de educa- ção física, tais como ginástica, atletismo, etc; f) promover e desenvolver activi- dades de salão como xadrez, damas, convívios e outras no âmbito desta colec- tividade – [A8]

Acerca deste aspecto os formadores referiram que as iniciativas devem inserir-se nos domínios contemplados pelos objectivos, numa perspectiva de desenvolvimento local e aprendizagem individual e colectiva, partindo da identificação dos interesses e necessidades locais.

As associações devem em primeiro lugar definir a sua intervenção, as necessi- dades, os interesses das pessoas, do meio onde está inserida. De um modo geral devem realizar um trabalho a todos os níveis, do sociocultural o mais formativo – [F6] (…) Cada vez mais há que apostar num dinamismo das terras, das gen-

165 tes no sentido de um desenvolvimento, de uma aprendizagem. – [F4] Julgo que isso depende dos objectivos para que são criadas. De qualquer forma, a sua acção deve estar relacionada com o desenvolvimento das populações e da loca- lidade onde actuam. Actividades que dinamizem e envolvam a população. Actividades de valorização das mais-valias da região, dos saberes de cada um, e ainda, iniciativas que provoquem novas aprendizagens – [F1]

Em relação ao formal, informal ou não formal, estes interlocutores indicam o informal e não formal como o principal tipo que as iniciativas devem ter. Não obstante, F1 reforça esta ideia, mas acrescenta que "se as associações tiverem meios" devem avançar "também na linha da certificação". F5 é apologista de que "Devem continuar a promover uma formação de todos os tipos e a todos os níveis. Isto porque as pessoas estão em níveis diferentes e hoje em dia a aprendizagem ao longo da vida é essencial".

Os presidentes indicam que as iniciativas se destinam à " comunidade em geral" – [P10] do concelho de Ourique, embora, de acordo com P9 "Bom, depende da iniciativa, mas à partida é para todos os adultos, mais velhos ou mais novos". P5 e P6 manifestam a preocupação de promover um diálogo entre gerações" É também preocupação da associação que as gerações comuniquem e façam actividades em conjunto."; "também actividades que os mais velhos e mais novos possam participar em conjunto."

Quanto a propostas e organização das iniciativas, metade dos entrevistados (P2; P5; P6; P7 e P10) refere que as propostas são feitas pela Direcção ou por sócios, mas, de um modo geral, quase todos indicam a Direcção, com o apoio das entidades locais (Câmara Municipal, Juntas de Freguesia) como os organizadores. Com excepção para a associação P8, que defende que organiza iniciativas do tipo formal "Organizamos cur- sos de formação, com certificação específica, conforme o curso, as restantes iniciativas são do tipo não formal "Contactamos outras associações para participarmos em work- shops de dança." – [P5] e do tipo informal, com carácter pontual "Fazemos festas no pavilhão da Junta de Freguesia, como bailes. Realizamos provas de BTT, de paintball,

166 de todo o terreno" – [P9], e consuetudinário "Fazemos a festa anual" – [P2]. O marke- ting de divulgação das iniciativas é feito essencialmente "através da conversa entre as pessoas" – [P6], mas também por cartazes colocados pelo concelho, revistas e rádio de um concelho limítrofe e ainda por e-mail entre associados. P1 considera que a divulga- ção é escassa devido à falta de recursos financeiros. Porém, consideramos que este argumento parece não fazer muito sentido, na medida em que, é unânime na opinião de todos os entrevistados, de que "A comunidade participa muito e está sempre desejosa de novas actividades." – [P10] Das diversas opiniões concomitantes com esta ideia, parece- nos evidente que a dinâmica de marketing e a publicidade de divulgação das iniciativas está a surtir o efeito pretendido – a participação da comunidade nas iniciativas promovi- das.

Para o futuro está patente nas declarações dos presidentes o desejo de manter a intervenção local ao nível económico, social e cultural, através do incentivo à participa- ção mais activa dos sócios, da criação de uma rede efectiva de parcerias, de utilização e recurso às tecnologias de informação e comunicação e da valorização dos recursos natu- rais:

Queremos arranjar um jipe para ir ao circuito. Mais visitas guiadas a pé. Levar a palavra preservação do ambiente ao extremo. Tentar arranjar campanhas de sensibilização para o meio ambiente. Temos vontade de começar a trabalhar com outras associações. Futuramente estamos a pensar editar um livro com fotografias antigas e ir buscar o know how de outra associação que publicou os cadernos culturais de Ourique, para nos ajudar a fazer o livro e ter sucesso. Há poucos dias foi assinado um protocolo com a Câmara Municipal e a Direcção Regional para fazermos um dia por ano um encontro de cante ao baldão e ficar o Castro da Cola como a zona onde o cante ao baldão fique enraizado, quase a capital do baldão. Queremos ir buscar pessoas de outras freguesias, incentivar mais pessoal do concelho para as actividades. Queremos também trabalhar com jovens, com desportos radicais, organizar mais passeios. Temos de começar a ser mais ferozes na publicidade das iniciativas. Queríamos fazer uma página na internet. Talvez com a escola de Ourique e com o grupo de informática possa- mos fazer isso – [P1] (…) garantidamente a ACPA tem um espaço de interven- ção, vai manter a actividade. Tem todo o sentido de continuar a existir. Preten- demos modificar o Alentejo. Fazer disto uma força económica. Criar um social

167 e renovar a vida das populações nas freguesias, promover a aprendizagem de cada um, promover o turismo rural. Gostava que pudéssemos criar desenvol- vimento, aprendizagens. Manter a saúde mental das pessoas no sentido de valo- rizarem os produtos autóctones, a zona onde vivem, as tradições. Que as pes- soas valorizem e reconheçam uma identidade cultural e local e tenham orgulho nela e a preservem – [P8]

Consideramos que se identifica nestas afirmações uma visão integrada do desen- volvimento e da aprendizagem, pela aposta na promoção e divulgação do património local (como o circuito do Castro da Cola e o cante ao baldão) e a possibilidade do traba- lho de parceria com outras associações e com a escola. A aprendizagem e o desenvol- vimento futuro de que fala P8 tem necessariamente de enquadrar o passado conhecido e interpretado que se manifesta na memória social local e se revela na coesão promovida pela identidade local de Ourique. As associações são agentes importantes na construção das identidades locais e, consoante as suas iniciativas, funcionarão como motor educati- vo e cultural – motor de desenvolvimento e aprendizagem.

No referente às perspectivas futuras de formação, três presidentes não apontam desejo de que as associações que representam enveredem pelo caminho da formação do tipo formal. P1 afirma que os elementos da Direcção fazem formação deste tipo fora do âmbito da associação. P7 e P9 indicam a falta de meios como justificação para a não aposta na formação do tipo formal "Ao nível da formação mais formal, não é nosso objectivo. Não temos meios para o fazer. Agora formação não formal ou informal con- tinuaremos a fazer." – [P9] P4 manifesta ambições nesse sentido, porém "não temos, neste momento, muitas capacidades de ir muito além daquilo que estamos a fazer. Even- tualmente como entidade promotora, porque não temos a massa crítica interna para o fazer." Os presidentes, P2 e P3 defendem que, pelo facto da população ser, na sua maio- ria uma população envelhecida, não reúne condições para que as associações que inte- gram promovam formações do tipo formal. Apontam a Câmara Municipal como a res-

168 ponsável por este aspecto "Formação… Não. Não temos massa humana cá na terra. A população está envelhecida. A Câmara é que trata disso." – [P3] P5 é apologista de que com a evolução técnica dos jovens que frequentam as aulas de dança, a associação terá de evoluir nesse sentido. O presidente de A6 anseia que no futuro a associação que representa possa recorrer-se dos saberes na área das Tecnologias de Informação e Comunicação que os seus associados mais jovens detêm, para promover uma formação do tipo não formal para a população mais idosa. Deste grupo de entrevistados, P8 é pre- ponderante ao afirmar "Continuaremos a apostar na formação contínua, seja ao nível formal, não formal ou informal."