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Capítulo I: Inclusão e Escolas Inclusivas: Políticas, Culturas e Práticas Inclusivas

1.4 Cabo Verde: Políticas inclusivas implementadas e em construção

1.4.2 Iniciativas em matéria da legislação

1.4.2.1 Destaques de alguns artigos da Constituição, LBSE e PNA – EPT

Em relação à Constituição, merecem destaque:

(i). O artigo 23.º – Princípio da igualdade –, onde se lê que:

Todos os cidadãos têm igual dignidade social e são iguais perante a lei, ninguém podendo ser privilegiado, beneficiado ou prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de raça, sexo, ascendência, língua, origem, religião, condições sociais e económicas ou convicções políticas ou ideológicas.

(ii). O artigo 27.º – Direito à vida e à integridade física e moral –, advertindo no ponto um, que “a vida humana e a integridade física e moral das pessoas são invioláveis” e no ponto dois que “ninguém pode ser submetido a tortura, penas ou tratamentos cruéis, degradantes ou desumanos, e em caso algum haverá pena de morte”.

(iii). O artigo 73.º – Direitos das crianças –, em especial os três primeiros pontos:

1. Todas as crianças têm direito à protecção da família, da sociedade e dos poderes públicos, com vista ao seu desenvolvimento integral.

2. As crianças têm direito a especial protecção em caso de doença, orfandade, abandono e privação de um ambiente familiar equilibrado.

3. As crianças têm ainda direito a especial protecção contra: a) Qualquer forma de discriminação e de opressão;

b) O exercício abusivo da autoridade na família e nas demais instituições a que estejam confiadas;

c) A exploração de trabalho infantil; d) O abuso e a exploração sexual.

(iv). O artigo 74.º – Direitos dos jovens – prima pela continuidade e pelo reforço das políticas de poio, como podemos verificar, através do que passamos a apresentar

1. Os jovens têm direito a estímulo, apoio e protecção especiais da família, da sociedade e dos poderes públicos.

2. O estímulo, o apoio e a protecção especiais aos jovens têm por objectivos prioritários o desenvolvimento da sua personalidade e das suas capacidades físicas e intelectuais, do gosto pela criação livre e do sentido do serviço à comunidade, bem como a sua plena e efectiva integração em todos os planos da vida activa.

3. Para garantir os direitos dos jovens, a sociedade e os poderes públicos fomentam e apoiam as organizações juvenis para a prossecução de fins culturais, artísticos, recreativos, desportivos e educacionais.

4. Também para garantir os direitos dos jovens, os poderes públicos, em cooperação com as associações representativas dos pais e encarregados de educação, as instituições privadas e organizações juvenis, elaboram e executam políticas de juventude tendo, designadamente, em vista:

a) A educação, a formação profissional e o desenvolvimento físico, intelectual e cultural dos jovens;

b) O acesso dos jovens ao primeiro emprego e à habitação; c) O aproveitamento útil dos tempos livres dos jovens.

(v). O artigo 75.º – Direitos dos portadores de deficiência – salvaguarda o primeiro ponto do artigo 24.º da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada em Agosto de 2006, pela ONU, onde faz saber que:

Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. Para realizar este direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes deverão assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, com os seguintes objetivos:

a) O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e auto-estima, além do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana;

b) O desenvolvimento máximo possível personalidade e dos talentos e criatividade das pessoas com deficiência, assim de suas habilidades físicas e intelectuais;

c) A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre (Organização da Nações Unidas, 2006).

Efectivamente, no artigo 75.º, é defendido que

1. Os portadores de deficiência têm direito a especial protecção da família, da sociedade e dos poderes públicos.

2. Para efeitos do número anterior, incumbe aos poderes públicos, designadamente:

a) Promover a prevenção da deficiência, o tratamento, a reabilitação e a reintegração dos portadores de deficiência, bem como as condições económicas, sociais e culturais que facilitem a sua participação na vida activa;

b) Sensibilizar a sociedade quanto aos deveres de respeito e de solidariedade para com os portadores de deficiência, fomentando e apoiando as respectivas organizações de solidariedade;

c) Garantir aos portadores de deficiência prioridade no atendimento nos serviços públicos e a eliminação de barreiras arquitectónicas e outras no acesso a instalações públicas e a equipamentos sociais;

d) Organizar, fomentar e apoiar a integração dos portadores de deficiência no ensino e na formação técnico-profissional.

(vi). O artigo 77.º – Direito à educação – o qual revela, nos dois primeiros pontos, orientações dos documentos internacionais como a Declaração Universal dos

Direitos do Homem (1948), a Declaração de Salamanca (1994) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006). Isto é, o Estado de Cabo

Verde, em 1999, definiu que:

1. Todos têm direito à educação.

2. A educação, realizada através da escola, da família e de outros agentes, deve:

a) Ser integral e contribuir para a promoção humana, moral, social, cultural e económica dos cidadãos;

b) Preparar e qualificar os cidadãos para o exercício da actividade profissional, para a participação cívica e democrática na vida activa e para o exercício pleno da cidadania; c) Promover o desenvolvimento do espírito científico, a criação e a investigação

científicas, bem como a inovação tecnológica;

d) Contribuir para a igualdade de oportunidade no acesso a bens materiais, sociais e culturais;

e) Estimular o desenvolvimento da personalidade, da autonomia, do espírito de empreendimento e da criatividade, bem como da sensibilidade artística e do interesse pelo conhecimento e pelo saber;

f) Promover os valores da democracia, o espírito de tolerância, de solidariedade, de responsabilidade e de participação (Constituição da República de Cabo Verde, na versão dada pela Lei Constitucional n.º 1/V/1999).

Essas preocupações estão também visíveis no Plano Nacional de Educação Para Todos – (PNA – EPT) e na Lei de Bases do Sistema Educativo Cabo-verdiano (LBSE). No PNA – EPT é sublinhado que a política educativa tem como âncoras os princípios que norteiam a Inclusão, nomeadamente, a qualidade, a equidade, a pertinência social e económica, o envolvimento e a participação das famílias na gestão do sistema. Acrescenta que os indicadores terão que estar virados para os seguintes vertentes:

(i) beneficiários das acções em termos de grupos alvo, (ii) de regiões atingidas, (iii) parcerias envolvidas, (iv) participação das famílias, (iv) capacitação dos docentes, (v) construção e reabilitação da rede física, (vi) apoios sócio-educativos, (vii) evolução dos indicadores de acesso e participação, eficácia interna e externa e (viii) resultados dos testes da avaliação aferida (PNA – PET, 2002, p. 15).

Em relação à LBSE, são dignos de destaque o artigo 4.° pelo facto de, por um lado, vir reforçar o “Princípio da igualdade” e o Direito à educação, direitos defendidos, respectivamente, nos artigos 23.º e 77.º da Constituição; por outro, por instar a sociedade cabo-verdiana a assumir a Educação como um Dever, bem como o artigo 6.° – Livre acesso ao sistema educativo –, defendendo que: “O sistema educativo dirige-se a todos os indivíduos

independentemente da idade, sexo, nível socio-económico, intelectual ou cultural, crença religiosa ou convicção filosófica de cada um”. Na verdade, este último incorpora o sétimo princípio, isto é, o “princípio fundamental das escolas inclusivas” da Declaração de Salamanca (1994).

Não podemos ignorar algumas das medidas legislativas que concorrem para a defesa dos direitos das pessoas portadoras de deficiência; de destacar a Lei Orgânica do Ministério da Educação, 2001, na qual são atribuídas responsabilidades às Direcções de Ensino Pré-escolar, Básico e Secundário de criar condições favoráveis à integração das crianças com NEE no sistema regular de ensino; o Decreto-Lei 5/79 de 17 de Janeiro criado para regulamentar a isenção de taxas e impostos aduaneiros em relação à importação de equipamentos e materiais de apoio aos portadores de deficiência, o Decreto-Lei n.º 38/93 de 6 de Julho, cujo propósito é facilitar a educação, o emprego e a promoção de pessoas com distúrbios mentais, o Decreto- Lei n.º 66/94 de 28 de Novembro, na qual foram definidas atribuições do Conselho Nacional da Condição do Deficiente (CNCD) e a Lei 122/V/2000 – Lei de Bases da Prevenção, Reabilitação e Integração de Pessoas Portadoras de Deficiência, virada para dois grandes objectivos: (1) assegurar a igualdade de direitos e oportunidades e de participação; (2) servir de suporte na integração das pessoas com deficiência no ensino e formação profissional. Deste modo, o que podemos constatar é que as grandes limitações são, por um lado, a ausência da legislação específica sobre a Inclusão e a lentidão com que as coisas acontecem, uma vez que, se compararmos Cabo Verde, por exemplo, a Portugal, que é um país amigo, onde 3 anos depois da Declaração de Salamanca, foi produzido o Despacho 105/97, consagrando os princípios de Salamanca e, por outro lado, o fraco envolvimento da sociedade civil na toma de decisões e uma fraca parceria entre as instituições públicas e privadas. Enfim, por tudo isto, justifica-se a pertinência da preocupação de Rodrigues (2003), quando questiona: “‘Poderá existir uma escola inclusiva numa sociedade que não é?’” (p. 91).

1.4.3 Iniciativas das instituições públicas e organizações não governamentais