• Nenhum resultado encontrado

1.1 Avaliação do ciclo de vida

1.1.7 Iniciativas para introdução de gestão de risco em ACV

A preocupação com a integração entre a Avaliação do Ciclo de Vida e a Gestão de Risco está presente em todas as discussões sobre segurança e qualidade ambiental, desenvolvimento de políticas e mitigação de impactos ambientais, constituindo-se ainda em um desafio. A evolução do tema tem acompanhado o desenvolvimento de novas técnicas e abordagens. Inicialmente o tema era tratado a partir da harmonização entre as metodologias de avaliação de impacto (AICV) com necessidades específicas da análise e avaliação de risco, como colocado por Assies (1998), em sua proposta de integração entre ACV e AR.

Heijungs e Suh (2002) introduziram uma nova possibilidade de integração, a partir da introdução controlada de perburbações em inventários de dados, dando novo impulso ao tema. Em 2015 Fang e Heijungs (2015) avançaram detalhando mais profundamente esse processo, agora associado aos fatores de caracterização. Nas Tabelas 2, 3 e 4, trazemos algumas iniciativas de integração entre ACV e risco, descrito na Tabela como AR – análise e avaliação de riscos. Quando oportuno, outras terminologias são empregadas e esclarecidas:

Tabela 2: Proposta de integração entre ACV e Gestão de Risco (continua)

Autor(es)/Data Discussão

(KHAN; SADIQ; HUSAIN, 2002)

É apresentada a metodologia GreePro-I, desenvolvida com o propósito de auxiliar aos tomadores de decisão nos processos iniciais de tomada de decisão sobre custos, viabilidade e impactos ambientais do desenvolvimento de novos produtos.

(SCHOECH; BETZ, 2001)

O processo de Gestão de Riscos é considerado como essencial nas definições das estratégias corporativas, em consonância com outros, como a ACV. A utilização da ACV na gestão estratégica de riscos começa com a identificação de riscos com base em fluxos de matéria e energia, e a aplicação da AR permite identificar a relevância do risco de fluxo de substâncias para o produto e para a empresa. A combinação da perspectiva ambiental da ACV com modelos econômicos como a análise de portfólio, por outro lado, oferece uma nova abordagem interdisciplinar. Destaca-se que assim se torna possível às empresas lidarem com os mercados altamente dinâmicos e complexos do futuro.

Tabela 3: Proposta de integração entre ACV e Gestão de Risco (continua)

Autor(es)/Data Discussão

(MATTHEWS; LAVE; MACLEAN, 2002)

Embora não propondo solução de integração, os autores, partindo de uma discussão sobre os impactos quantitativos e qualitativos ao meio ambiente produzidos pelas descargas ambientais, destacam que a AR, embora adequada para a caracterização de um risco à saúde pela exposição a um agente tóxico, não é capaz de tratar as implicações políticas decorrentes. Uma estrutura mais ampla, como a ACV, é necessária para se encontrar a alternativa mais adequada que provavelmente reduzirá um risco sem criar novos impactos em outros espaços. Os autores concluem que os analistas de risco devem buscar na ACV o entendimento das consequências dos impactos na formulação de políticas, enquanto a ACV precisa da ajuda da AR para ir além de suposições simplistas sobre as implicações de impacto. Concluem afirmando que as duas disciplinas estão intimamente conectadas, uma vez que cada uma delas tem muito a contribuir para a outra.

(SONNEMANN, AUTHORS GUIDO; CASTELLS;

SCHUHMACHER, 2004)

Os autores apresentam uma proposta bastante completa de integração entre a ferramenta de Avaliação de Risco Ambiental com ACV, em uma abordagem que permite estimar impactos crônicos e transientes. O modelo desenvolvido é aplicado a uma usina de incineração de resíduos municipal localizada em Tarragona, na Catalunha, mostrando assim o potencial da proposta. Os impactos decorrentes são monetizados.

(NISHIOKA et al, 2005)

Uma modelagem que incorpora a variabilidade regional, conforme tratada por AR, e no tratamento de emissões e exposições humanas em uma abordagem de insumo/produto de ACV, é apresentada. O método estrutura-se em cálculos de risco ao longo do rastreamento de um produto e na estimativada exposição de uma população.

(SHIH; MA, 2011) A metodologia de Life Cycle Thinking é integrada com a AR, resultando em método que permite avaliar riscos em uma perspectiva de ciclo de vida de políticas envolvidas no reaproveitamento de cinzas resultantes da queima de resíduos urbanos. Destacam que o método foi útil na definição de cenários de menor risco para os trabalhadores e população, identificando as principais fontes contaminantes, receptores e vias de exposição ao longo do ciclo de vida das atividades de reutilização das cinzas, seja por inalação ou contato dérmico.

(GRIEGER et al, 2012) São discutidos os avanços na integração entre ACV e AR especificamente na área de nano materiais. Reconhecendo a complementaridade entre ACV e AR, os autores destacam que foram identificados na literatura apenas três métodos que combinam as metodologias destacadas e com foco em nano materiais. Como os métodos encontrados tem base em pesquisas envolvendo produtos químicos tradicionais, verificaram lacunas no conhecimento necessário na avaliação das consequências ambientais e riscos de nano materiais, recomendam maiores estudos para a área de nano materiais.

Tabela 4: Proposta de integração entre ACV e Gestão de Risco (conclusão)

Autor(es)/Data Discussão

(BARBERIO et al, 2014)

Desenvolvida para apoiar a sustentabilidade de tecnologias emergentes, focando na saúde e segurança de trabalhadores, os autores combinam as metodologias de ACV e da AR. Na atividade, os autores buscaram utilizar o potencial da ACV para identificar processos com melhor desempenho ambiental e da AR para a seleção dos cenários de maior risco aos trabalhadores. A aplicação da técnica desenvolvida em cenários de produção de alumina nano fluída permitiu destacar trade-off entre os resultados da ACV e AR. Concluem que embora os métodos tenham objetivos diferentes, têm um papel complementar na descrição dos impactos de produtos, substâncias e tecnologias.

(WALSER et al, 2014)

Trabalho desenvolvido especificamente para avaliar os impactos produzidos sobre a saúde humana e o meio ambiente pela presença de tolueno. Os autores destacam que enquanto a RA trabalha com níveis de limiar, ACV assume que cada emissão tóxica provoca uma mudança incremental no impacto total. O método combinado entre ACV e AR fornece informações para a avaliação combinada de todos os aspectos relativos a contaminação pelo elemento químico analisado.

(HARDER et al, 2015)

Os autores promovem extensa análise de 30 estudos de caso focados na avaliação ambiental da emissão de poluentes e patógenos, que propuseram alguma forma de integração, combinação, hibridização ou uso complementar entre ACV e AR, recuperados a partir do ano de 2002. Os autores destacam a existência, ainda, de dificuldades no uso mais rigoroso das terminologias específicas de cada método, como risco, unidade funcional, entre outras. Comentam ainda que o uso complementar de AR e ACV oferecem oportunidades para adaptar estudos de caso de avaliação ambiental a um contexto específico de tomada de decisões

(MILAZZO; SPINA, 2015)

Discute-se uma proposta de integração entre ACV e AR (avaliação de risco) com o objetivo de quantificar impactos da produção de biodiesel de soja sobre a saúde humana. A integração entre os diferentes métodos permitiu definir um indicador de ciclo de vida mais amplo, acomodando o foco local/regional da AR na abordagem holística da ACV. Sobre esse tema, os autores concluem que os métodos podem ser relacionados entre si.

(LINKOV et al, 2017) Os autores comentam que embora as iniciativas para a integração entre a Gestão de Riscos e a ACV tenham sido uma característica consistente na pesquisa ambiental nos últimos anos, as dificuldades nessa atividade parecem recomendar a sua aplicação em paralelo, analisando-se seus resultados em conjunto, como uma forma mais pragmática para a orientação aos tomadores de decisão.

(LIN; YU; MA, 2018) O trabalho desenvolvido pelos autores concentra-se na análise da deterioração de bacias hidrográficas na presença de poluentes químicos. ACv é integrada a avaliação de riscos associada a poluentes específicos, com auxílio de ferramentas de SIG. A dimensão espacial é incorporada na AICV por meio do desenvolvimento de fator de caracterização específico para o poluente de interesse, permitindo assim se obter um resultado geograficamente integrado. A ferramenta destina-se a auxiliar os tomadores de decisão na seleção de opções de mitigação de impactos.