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2 CONHECIMENTO, INOVAÇÃO, EMPREENDEDORISMO E

2.1 A INOVAÇÃO E O EMPREENDEDORISMO

2.1.1 Inovação

A inovação tem sido reconhecida por sua importância no desenvolvimento econômico e social de regiões, estados e países, bem como motor de competividade e crescimento das organizações

(EUROPEAN COMMISSION, 2001). A inovação é um tema de grande importância, pois estimula o crescimento sustentável em um mercado altamente competitivo (BANERJEE, 2014).

O termo inovação é notadamente impreciso, não possuindo uma única definição ou medida (ADAMS; BESSANT; PHELPS, 2006) universalmente aceita. Numa tentativa de clarificar os conceitos existentes, Quintane et al. (2011) realizaram uma extensa revisão da literatura e apresentaram um framework que considera duas dimensões: a primeira diz respeito à inovação como um processo ou como o resultado desse processo; a segunda, refere-se à importância dada ao conhecimento no conceito de inovação e considera tanto a literatura tradicional sobre inovação, quanto a literatura relacionada à gestão do conhecimento (QUINTANE et al., 2011).

Na literatura tradicional, a inovação é conceituada sem levar explicitamente em consideração a base subjacente de conhecimento. Já na literatura sobre a gestão do conhecimento, este é considerado a essência da inovação (QUINTANE et al., 2011). O Quadro 3 apresenta alguns dos conceitos identificados pelos autores, complementados com conceitos descritos em literatura adicional.

Enquanto resultado, a inovação pode ser vista como a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas (OECD, 2005). Sob tal definição, quatro tipos de inovação podem ocorrer: inovação em produto, inovação em processo, inovação organizacional e inovação de marketing. As atividades de inovação são etapas científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais que conduzem, ou visam conduzir, à implementação de inovações. Algumas destas atividades são em si inovadoras e outras não, mas necessárias à implementação de inovações (OECD, 2005).

Também o Marco Legal de Ciência Tecnologia e Inovação (CT&I) do Brasil considera a inovação como um resultado ao defini-la como “introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo e social que resulte em novos produtos, serviços ou processos ou que compreenda a agregação de novas funcionalidades ou características a produto, serviço ou processo já existente que possa resultar em melhorias e em efetivo ganho de qualidade ou desempenho” (BRASIL, 2016). Sob esta definição, as inovações podem ocorrer em produtos, processos e serviços. Embora esta definição seja um pouco menos abrangente do que a definição dada pelo Manual de Oslo, ela

explicitamente considera que as inovações podem ocorrer tanto no ambiente produtivo quanto no ambiente social.

Quadro 3 Definições de inovação de acordo com as dimensões propostas Inovação como Processo Inovação como Resultado

Literatura Tradicional

• O desenvolvimento e a implementação de novas ideias por pessoas que ao longo do tempo realizam operações com os outros dentro de uma ordem institucional (VAN DE VEN, 1986).

• A invenção e implementação de uma prática de gestão, processo, estrutura ou técnica que é novo para o estado da arte e destina-se a novas metas organizacionais

(BIRKINSHAW; HAMEL; MOL, 2008).

• O processo de trazer novas ideias de resolução de problemas em uso (KANTER, 1984).

• Processo de várias etapas através do qual as organizações transformam ideias em produtos novos/ melhorados, serviços ou processos, a fim de avançar, competir e

diferenciar-se com sucesso em seu mercado (Baregheh, Rowley e Sambrook, 2009).

• Uma invenção introduzida no mercado, no caso de um novo produto, ou a primeira utilização no processo de produção, no caso de um processo (UTTERBACK, 1971). • Qualquer pensamento, comportamento ou coisa que é nova porque é qualitativamente diferente de formas existentes (BARNETT, 1953).

• A implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente

melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método

organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas (OCDE, 2005). • A introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços (BRASIL, 2004). Literatura Gestão do Conhecimento • Processo de desenvolvimento da ideia, resolução do problema e implementação da solução (MYERS; MARQUIS, 1969).

• Processo iterativo iniciado pela percepção de um novo mercado ou oportunidades de serviços para uma invenção de base tecnológica que leva às tarefas de desenvolvimento, produção e comercialização, visando ao sucesso comercial

• Conhecimento que possui concomitantemente as características de ser duplicável, ser novo no contexto em que é introduzido e de demonstrar utilidade (QUINTANE et al., 2011).

da invenção (GARCIA; CALANTONE, 2001). • Processo de criação de novas conexões sociais entre as pessoas e os recursos que elas possuem, de forma a produzir

novas combinações

(OBSTFELD, 2005).

Fonte: Adaptado de Quintane et al. (2011)

Já como um processo, Baregheh, Rowley e Sambrook (2009) afirmam que a inovação “é o processo de várias etapas por meio do qual as organizações transformam ideias em produtos novos/melhorados, serviços ou processos, a fim de avançar, competir e diferenciar-se com sucesso em seu mercado”. Corroborando com o conceito de inovação como um processo, Birkinshaw, Hamel e Mol (2008) a conceituam como a invenção e implementação de uma prática de gestão, processo, estrutura ou técnica que é novo para o estado da arte e destina-se a novas metas.

A literatura sobre inovação, baseada no conhecimento, analisa o conteúdo de conhecimento na inovação com foco particular em três áreas: a definição do conceito de conhecimento nas organizações, a criação de conhecimento no processo de inovação e os mecanismos que relacionam o conhecimento com a inovação (QUINTANE et al., 2011). Vista como um processo, a inovação pode ser entendida como um processo iterativo iniciado pela percepção de um novo mercado ou oportunidade para um serviço ou uma invenção de base tecnológica que leva às tarefas de desenvolvimento, produção e comercialização visando o sucesso comercial da invenção (GARCIA; CALANTONE, 2001, p. 112). Pode ser entendida ainda como o processo de desenvolvimento da ideia, resolução do problema e da implementação da solução (MYERS; MARQUIS, 1969).

Na revisão realizada como Quintane et al. (2011), constatou-se que embora na literatura tradicional a inovação seja conceituada tanto como processo quanto como resultado, a literatura sobre inovação na gestão do conhecimento não apresenta um conceito (ou definição) clara da inovação como um resultado. Assim, eles a conceituaram a partir de dois aspectos: no argumento de que inovação é, em essência, conhecimento novo e nos atributos específicos da inovação como resultado. Portanto, do ponto de vista do conhecimento, a inovação pode ser definida como conhecimento novo que possui concomitantemente as

características de ser duplicável, novo no contexto em que é introduzido e demonstrar utilidade (QUINTANE et al., 2011).

Neves e Neves (2011) defendem que o conceito de inovação ganhou nova formulação e abrangência, extrapolando o âmbito da estrita transformação de conhecimento em valor econômico. Nesta nova acepção, inovação é a transformação de conhecimento numa aplicação capaz de gerar soluções para problemas concretos na economia, na sociedade e na política, e com perspectiva de ganhos econômicos privados ou de ganhos na concepção e nos resultados da prestação de serviços de interesse e caráter públicos (NEVES; NEVES, 2011).

Sendo assim, eles distinguem dois domínios da inovação: um, é a inovação para o mercado e outro, a inovação para a sociedade. A inovação para o mercado tem por finalidade a transformação do conhecimento em valor econômico (NEVES; NEVES, 2011). Já a inovação para a sociedade agrega valor social, e pode ser exemplificada nas mudanças para a melhoria do sistema escolar, do sistema de trânsito e na saúde. Uma inovação é social na medida em que é aceita e difundida amplamente por toda a sociedade ou em certos sistemas dela, sem o interesse do lucro, para ser, finalmente, institucionalizada como prática social nova ou tornada rotina (HOWALD; SCHWARZ, 2010).

Ainda segundo Howaldt e Schwarz (2010), uma inovação social é uma nova combinação ou uma nova configuração de práticas sociais em determinadas áreas de ação ou contexto social, promovidas por determinados atores com o objetivo de melhor satisfazer ou responder às necessidades e problemas da sociedade. Já para Murray, Caulier-Grice e MULGAN (2010), as inovações sociais são novas ideias (produtos, serviços e modelos) que simultaneamente satisfazem necessidades sociais e criam novas relações ou colaborações sociais, aumentando a capacidade de ação da sociedade (MURRAY; CAULIER-GRICE; MULGAN, 2010).

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