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INOVAÇÃO – A MOTIVAÇÃO PARA EDUCAÇÃO CORPORATIVA

Em uma sociedade globalizada, onde o conhecimento é a principal fonte de poder, as grandes organizações corporativas, principalmente as empresas multinacionais (algumas com orçamento maior que o PIB de muitas nações), têm ocupado papel de destaque na formação de profissionais. Esta formação tem sido predominantemente orientada, em tese, para a geração de competências (conceito que será aprofundado no próximo tópico) que tenham a ver com o negócio da organização, que gerem ganhos presentes ou futuros oriundos de processos cada vez mais eficazes, diferenciais competitivos e identificação de novas oportunidades de negócios. É neste contexto de relações, cada vez mais elaboradas da empresa

com o mercado e concorrentes, da empresa com seus empregados, e dos empregados com o mercado de trabalho, que uma característica passou a ser cada vez mais comum às organizações que resistem e se renovam diante das constantes turbulências: a inovação.

Autor ícone da moderna administração, Drucker (1998) apregoou que as empresas (estas grandes detentoras de poder global) precisam desenvolver profissionais inovadores, e que o conhecimento, como já vimos no tópico anterior, é o principal recurso para o indivíduo e a economia.

Entendo que é importante diferenciarmos inovação de criatividade, para não gerar uma sensação de contradição ou concorrência equivocada dos conceitos, pois tenho observado a utilização destas palavras com um mesmo significado, ou com significados invertidos.

Proponho a utilização do dicionário Michaelis para investigar significados, inclusive de algumas outras palavras, visando alinhar os conceitos e diminuir a possibilidade de confusão do que é inovação e do que é criatividade:

a) Criatividade - 1 Qualidade ou estado de ser criativo. 2 Capacidade de criar;

b) Criar - 3 Imaginar, inventar, produzir, suscitar;

c) Inventar -1 Criar na imaginação, idear, ser o primeiro a ter a ideia de: Inventara Bell o telefone;

d) Inovar - 1 Fazer inovações, introduzir novidades em (leis, costumes, artes etc.). 2 Produzir algo novo, encontrar novo processo, renovar: Inovar a execução de um trabalho. 3 Introduzir (palavras) pela primeira vez em uma língua.

e) Inovação - 1 Ato ou efeito de inovar. 2 Coisa introduzida de novo. 3 Renovação.

No ambiente organizacional, criatividade tem a ver com invenção, com inventividade. Pensar em algo que ainda não existe, “ser o primeiro a ter a ideia”. A invenção do carro, do mp3 player, do método científico, etc. Inovar está ligado ao novo ou renovado, às novas formas de fazer algo que já fazemos ou que já existe. Por exemplo, o Ipod é uma inovação, pois a Apple utilizou vários recursos que já existiam e renovou o seu uso, ao combiná-los em um novo produto. Já existia o

formato digital de músicas, já existiam dispositivos portáteis para sua reprodução, etc.

A história da humanidade está repleta de exemplos de invenções que não vingaram, por que não tinham aplicação prática ou eram economicamente inviáveis de ser produzidas ou implementadas. Por isto, temos muito mais inovações do que invenções. Tome-se, por exemplo, o automóvel que foi inventado por Henry Ford, mas que passou e continua passando por um sem número de inovações.

Desta forma, um indivíduo pode ser criativo, mas se não tiver a capacidade de dar aplicação prática ao que cria, ele não é inovador. Inovação é uma capacidade que vai além da criatividade. Pensando em termos organizacionais, se o profissional consegue pensar numa série de novas formas de fazer seu trabalho, mas elas são, por exemplo, economicamente inviáveis para a organização, sua criatividade não se converterá em inovação nos processos em que está envolvido.

Por estes motivos, a discussão no âmbito das organizações se dá muito mais no sentido da inovação.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem por objetivo alcançar altos níveis de desenvolvimento econômico mundial sustentável e estável, e o estabelecimento de relações comerciais justas. A OCDE edita o Manual de Oslo, que é a principal fonte internacional de diretrizes para coleta e uso de dados sobre atividades inovadoras da indústria.

[...] uma inovação tecnológica de produto é a implantação/comercialização de um produto com características de desempenho aprimoradas, de modo a fornecer objetivamente ao consumidor serviços novos ou aprimorados. Uma inovação de processo tecnológico é a implantação/adoção de métodos de produção ou comercialização novos ou significativamente aprimorados. Ela pode envolver mudanças de equipamento, recursos humanos, métodos de trabalho ou uma combinação destes (Manual de Oslo, OCDE, 2004, p. 21).

Schumpeter (apud Oslo, OCDE, 2004) divide a inovação em radical e incremental. A inovação radical repercute em grandes mudanças, de abrangência na esfera global e envolve novas tecnologias por isto chamadas de Technology Push Innovation (inovação impulsionada pela tecnologia). Já a inovação incremental melhora produtos e processos já existentes visando maior eficiência ou custos mais baixos, o que justifica sua classificação como Market Pull Innovation (inovação puxada pelo mercado). Para ele, as empresas precisam inovar para alterar o equilíbrio do mercado a seu favor, deixando para trás seus concorrentes. Quando

mais elaborada for a inovação implementada, mais tempo os concorrentes demorarão para alcançar o inovador, que contabilizará lucros por mais tempo. Este autor inspirou toda uma geração de economistas adeptos da Teoria Evolucionária na Economia, como Nelson e Winter (2002), que refutam as condições de equilíbrio de mercado afirmadas pela Teoria Econômica Neoclássica, por não conseguir analisar a concorrência de mercado como um processo dinâmico. Estes autores se focaram em estudar que rotinas guiam as ações das empresas de sucesso no mercado, e como estas empresas mudam o tempo todo e inovam para superar a sua concorrência.

Contudo, tanto Schumpeter como os Economistas Evolucionários trataram a inovação sob seu viés mais técnico e mecânico.

Um enfoque de inovação um pouco mais fluido e moderno é o da inovação disruptiva que, em um processo bastante simples, coloca a organização em posição de vantagem sobre a concorrência e destaque no mercado. Este tipo de inovação geralmente tem sua origem em empresas menores, emergentes no mercado, e tem alto potencial de sucesso e baixo custo (ANTHONY; CHRISTENSEN, 2007). São voltadas aos clientes negligenciados, longe daqueles clientes entendidos como mais lucrativos pelas empresas tradicionais e líderes do mercado. Contudo, tem um grande potencial de rentabilidade. Este tipo de inovação requer novas formas de pensar (mindsets) que possam desencadear o crescimento disruptivo:

a) Mindset 1 – Critérios de mensuração adequados. Nas etapas iniciais dos processos de inovação, números rígidos poderão gerar uma falsa percepção de ineficiência. É necessário se ter parâmetros mais amplos, trabalhar com padrões;

b) Mindset 2 – É preciso contar com a incerteza. Saber lidar com ambiguidades é importante para não descartar alternativas que poderiam ser as verdadeiras e adotar outras de menor risco, mas também com menor impacto na inovação;

c) Mindset 3 – O fracasso pode ser positivo. Não se trata de estabelecer tolerância à imprudência e sua repetição. A dinâmica organizacional contém um alto grau de incertezas, e diante destas incertezas o medo de errar, para evitar a condenação pelo erro, muitas vezes paralisa os

profissionais. Erros baseados em dados e fatos, e nos níveis de risco aceitáveis pela organização, devem ser admitidos.

d) Mindset 4 – A escassez pode ser uma vantagem. Injetar cifras desmesuradas em um projeto de inovação pode ser como “dar um tiro no pé”. A escassez de recursos, ou recursos alocados de forma muito justa, funcionam como uma alavanca para o surgimento de alternativas inovadoras, para aperfeiçoar o aproveitamento destes recursos.

O desafio atual sobre o tema inovação está em estabelecer processos de gestão de conhecimento, o que, por si só, já requer um grande esforço organizacional, ao qual se deve somar uma nova forma de pensar, principalmente entre os gestores.

Para a evolução do tema, no contexto da Educação Corporativa, adotarei a criatividade como um dos fatos geradores da inovação, mas não o seu limitador; não me aprofundando na pesquisa sobre processo de inovação, pois entendo que o terreno é muito amplo e, poderia, por si só, ser tema de outra pesquisa.

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