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Inovação e o seu Impacto na Despesa em Saúde

Capítulo IV – Inovação

4.3 Inovação e o seu Impacto na Despesa em Saúde

Existe sempre um grande dilema associado à investigação e introdução de novos medicamentos: será que funciona melhor que o “status quo”? É mais caro que o “status quo”? Se a resposta para ambas as perguntas for positiva então teremos um medicamento inovador que mais pessoas irão usar dada a sua eficiência comprovada em relação às terapias existentes. No entanto, ao ser mais cara que as terapias existentes, implica mais custos o que influencia diretamente as despesas totais em cuidados de saúde e a sustentabilidade financeira do sistema de saúde.

Uma inovação terapêutica é considerada um investimento financeiro se, a longo prazo, diminuir os custos a ou melhorar os resultados em saúde. Deste modo, se através de determinada inovação forem atingidos os mesmos ou melhores resultados relativamente aos tratamentos existentes mas por menos dinheiro ou se, da inovação terapêutica, mesmo esta sendo mais cara, resultar um aumento da esperança média de vida ativa para o doente tornando-o capaz de contribuir para a economia e riqueza do país, então diz-se que a inovação diminui as despesas em saúde.

Por outro lado, pode-se considerar que as novas tecnologias aumentam as despesas em saúde quando são aplicadas a novos grupos de doentes, aumentando a procura e consequentemente exigem uma maior capacidade de oferta pelo sistema de saúde, ou quando da aplicação da inovação tecnológica resulta o aumento da esperança média de vida mas sem que se aumente a produtividade/vida ativa do paciente. É o que acontece quando a inovação terapêutica mantém a pessoa viva por mais tempo sendo esta incapaz de contribuir para a economia do país.

A despesa total em saúde representa uma porção significativa da economia e em quase todos os países da Europa tem se assistido a um aumento das despesas em saúde ao longo dos anos, quando comparado com o produto interno bruto (PIB) e a causa é atribuída principalmente à crescente procura por novas terapêuticas e a introdução de novos medicamentos no mercado. O PIB é um indicador macroeconómico usado para quantificar a atividade económica de um país, uma vez que consiste na soma de todos os bens e serviços produzidos, em valores monetários, num período de tempo por uma

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determinada região. Em poucas palavras o PIB é a riqueza que um país consegue criar, permitindo que se avalie o desempenho da sua economia.

Este aumento também se verifica na despesa com medicamentos em valor absoluto, tanto em proporção da despesa total em saúde ou em proporção do PIB, o que torna difícil o equilíbrio entre a procura e o impacto financeiro causado pela sua introdução.

Figura 7 – Gastos com medicamentos per capita e em proporção do PIB, nos países da OECD no ano de 2013 ou próximo (Fonte: OECD, 2015)

Dados publicados pela OECD relativamente as anos próximos de 2013 revelam que os países pertencentes à OECD gastam uma média de 515 USD em produtos farmacêuticos per capita e a despesa em medicamentos corresponde a 1,4% do PIB. Nos extremos desta análise, como países que mais gastam e menos per capita encontra-se os Estados Unidos da América, que gasta o dobro da média da OECD, enquanto que a Dinamarca gasta menos de metade desse valor e é também o país que tem menor despesa com medicamentos em percentagem do PIB.

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Figura 8 – Crescimento médio anual da despesa total em saúde e despesa em medicamentos nos países da OECD, per capita, entre os anos 1990 a 2013. A linha a cheio representa a despesa em medicamentos, a tracejado a despesa geral em saúde. (Fonte: OECD, 2015)

Quando se analisa a Figura 8 pode-se verificar que a despesa e medicamentos aumenta rapidamente entre os anos 2000 a 2009 pelos países da OECD, crescendo uma média de 3,5% por ano, sendo que em 2009 atingiu uma média de 18-19% da despesa total em saúde. Tal facto é consequência de que, até 2005, os medicamentos serem considerados o componente mais dispendioso dos cuidados de saúde, tanto no regime ambulatório como no de internamento, sendo por isso a despesa em medicamentos considerada o maior contribuidor para o aumento das despesas em saúde no geral com uma taxa de crescimento superior à dos restantes componentes dos cuidados de saúde (WHO, 2015).

Nos anos que sucedem 2009 (Figura 9), como resultado da crise económica e financeira, o crescimento médio da despesa em medicamentos entre os países da OECD foi negativo, atingindo uma média de -0,9%. Esta redução foi mais abrupta para os países que mais sentiram os efeitos da crise financeira, entre eles a Grécia, Estónia e Portugal de tal modo que a maioria destes países teve que adoptar medidas de contenção de custos de modo a garantir a sustentabilidade dos sistemas de saúde e o acesso aos medicamentos por parte dos cidadão.

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Figura 9 – Crescimento médio anual per capita, da despesa em medicamentos entre 2000 e 2011 (Fonte: OECD, 2013)

Tal como foi anteriormente referido, Portugal foi um dos países afetados pela crise financeira sendo que, relativamente ao crescimento anual médio da despesa farmacêutica, per capita e termos reais, pode-se observar que entre 2000 e 2009 o crescimento foi de 1,5% mas entre 2009 e 2011 este foi negativo (-5,9%), bastante menor que o da OECD (-0,9%) e apenas ultrapassado pela Grécia (-10%) e pela Estónia (-7,2%).

Num contexto de crise económica e no âmbito do Programa de Assistência Financeira da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional foi estabelecido um memorando de entendimento com o Estado Português com o objetivo de, até 2013, diminuir para 1,0% do PIB a despesa pública com medicamentos (Furtado, 2013).

Para tal foram adotadas medidas, tanto do lado da procura de medicamentos como do lado da oferta, para a redução da despesa em medicamentos. As medidas que atuaram no lado da procura tiveram como principal objetivo influenciar o comportamentos dos cidadãos em relação ao medicamento, principalmente através de copagamentos e o SPR, e também o comportamento da classe médica prescritora para

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que estes aconselhassem e promovessem o uso dos medicamentos genéricos (Barros e Nunes, 2011).

Já do lado da oferta ocorreu a adoção de um maior número de medidas para a contenção despesa, diminuição dos preços dos medicamentos de referencia e também dos genéricos, alterações no sistema de comparticipação e uma aquisição/compra centralizada de medicamentos, entre outras.

Figura 10 – Crescimento médio da despesa farmacêutica em ambiente hospitalar e no retalho (em farmácias) entre 2005 e 2013 (Fonte: OECD, 2015)

Porém, ao analisar a Figura 10 pode-se constatar que, para o mesmo período de tempo, alguns países viram a despesa em medicamentos de uso exclusivo hospitalar aumentada. Tal facto deve-se essencialmente ao aumento do número de medicamentos de especialidade, já que na maioria das vezes estes são dispensados em ambiente hospitalar e não em farmácias.

Assim sendo, embora esforços tenham sido feitos para que se abrandasse a despesa com produtos farmacêuticos no retalho, isto é, em farmácias, a inovação terapêutica e a inserção de novos medicamentos de especialidade em ambiente hospitalar continua a fazer aumentar a despesa farmacêutica em ambiente hospitalar o que realça mais uma vez a importância de um equilíbrio entre a procura por inovação terapêutica e o impacto causado pela sua introdução (OECD, 2015).

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