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A evolução tecnológica ocorrida no processo produtivo da indústria têxtil provém dos avanços ocorridos na produção de matérias-primas, especialmente no desenvolvimento das fibras sintéticas, além das inovações nas máquinas e equipamentos utilizados em todo o processo produtivo, conforme destacado no segmento de fiação.

Dessa forma, o setor têxtil caracteriza-se por ser incorporador de tecnologia desenvolvida em outros setores, implicando a inexistência de barreiras de acesso às novas tecnologias, pois a difusão destas faz parte do processo competitivo das indústrias em que são geradas.

De acordo com o Boletim do DIEESE (1996), as empresas produtoras de bens de capital para a indústria têxtil fornecem projetos para instalação, ampliação ou modernização de unidades industriais como parte de sua estratégia de concorrência. No caso das fibras sintéticas e corantes, são prestados serviços de laboratório, desenvolvimento de produtos a partir de novas fibras e informações técnicas.

Segundo Rolim (1997), a automação na indústria têxtil é feita através de microprocessadores e sistemas automáticos de transporte e movimentação, sendo que a utilização da microeletrônica, aplicada ao monitoramento, controle e automação da produção, têm procurado atender aos seguintes objetivos:

• Processo controlado por microprocessador;

• Coleta, armazenamento e registro dos dados do processo; • Controle do fluxo de material;

• Controle dos ajustes/regulagens das máquinas;

• Integração dos sistemas de monitoramento e regulagem das máquinas.

A automação do processo produtivo implica uma grande redução da utilização da mão-de-obra pouco qualificada. As operações mais intensivas em trabalho podem ser realizadas por robôs, ou por monovias aéreas entre etapas sucessivas. Apesar dos avanços na automatização, ainda não foi possível vincular fiação e tecelagem num só processo.

Observa-se que a modernização do setor têxtil não se prendeu apenas ao processo produtivo, pois, cada vez mais, são exigidos o conhecimento necessário em design, marketing e uma ampla variedade de requisitos organizacionais.

A flexibilização da produção, resultado da adoção de novas técnicas de gestão e da modernização tecnológica, permite que as empresas inovem em produtos, o que pode significar maior número de coleções por ano e maior variedade de itens por coleção, permitindo também uma mudança relativamente rápida de características do produto para acompanhar a variação da moda, o que é fundamental para a cadeia têxtil.

Uma tendência observada mundialmente, nos dias atuais, é a utilização dos chamados sistemas integrados de gestão do tipo ERP (Enterprise Resources Planning). O uso de pacotes de sistemas integrados de gestão é recente na indústria têxtil, apesar de se tornarem fundamentais para facilitar o gerenciamento no ambiente globalizado e altamente competitivo.

Sabe-se que as exigências de investimento e tecnologia na indústria do vestuário são bem menores do que as observadas nos elos iniciais da CTC (Cadeia Têxtil e Confecções), anteriormente citadas. As inovações introduzidas de forma significativa ao longo dos últimos anos ocorreram nas fases iniciais do processo produtivo – desenho, enfestamento e corte – com o início da utilização dos sistemas CAD/CAM.

Na etapa de desenho e corte das peças, foram obtidos avanços significativos a partir da introdução da tecnologia CAD/CAM, o que propiciou uma redução nas perdas de tecido e um grande aumento de velocidade na criação, especificação técnica das peças e modelagem dos tamanhos.

Na organização do processo produtivo ocorreram algumas mudanças significativas nos últimos anos especialmente no arranjo físico (layout), onde se observa uma tendência atual de utilização das chamadas “células de produção”, o que leva à incorporação de modernas técnicas de gestão da produção, tais como o Just-in-time e o Kanban.

A reestruturação produtiva tenderia a trazer melhores condições de trabalho ao operariado por vários motivos: a mentalidade empresarial altera-se vendo o operário como um parceiro que deve ser respeitado e principalmente ouvido em algumas decisões; técnicas

de qualidade total como o kaizen e o 5S melhoram o ambiente de trabalho e ajustam as operações à melhor ergonomia; o trabalhador volta a ter uma visão mais completa do processo total da produção e muitas vezes passa a poder interferir na intensidade da linha produtiva.

Para Ruas et al (1994), o setor têxtil se destaca pela empregabilidade e também pelas diversas formas organizacionais que estão sendo utilizadas, adequadas às novas tendências empresariais. Mecanismos alternativos de gestão são utilizados para minimizar os efeitos da concorrência, que põem em risco a sobrevivência das empresas locais

Por outro lado foram eliminados métodos organizacionais tradicionais que usavam a hierarquia verticalizada e a especialização profissional. Conseqüentemente, estas transformações resultaram em alteração no relacionamento com a mão-de-obra, havendo um aumento do envolvimento dos trabalhadores com o processo produtivo.

Todas essas inovações visam a um incremento na produtividade do trabalho, com a redução do tempo de trabalho morto no processo produtivo e a busca da adesão do trabalhador à ideologia empresarial. Com efeito, as atuais políticas de gestão e de controle do trabalho tentam mobilizar o trabalhador a aderir integralmente aos objetivos de lucratividade das empresas. O trabalhador deverá assimilar e praticar a idéia empresarial de competitividade, eficácia e qualidade na sua atividade cotidiana. (AUBERT et al, 1991 apud BRESCIANI, 1997).

A reorganização espacial das fábricas e a implantação de células de produção, têm se consolidado como mais um elemento do complexo processo de reestruturação produtiva no setor têxtil. Esse novo modo de organizar o trabalho gera um ambiente de competição entre as trabalhadoras, no qual cada uma se encarrega de cobrar o trabalho da colega buscando uma maior qualidade, rapidez e produtividade.

Ainda em relação à qualificação dos trabalhadores, as indústrias passaram a encontrar dificuldades em recrutar força de trabalho qualificada. A rapidez das inovações tecnológicas e o fato de o setor ter passado por um período relativamente longo de desaquecimento ocasionaram a formação de uma massa de desempregados têxteis que não teve acesso aos treinamentos com as novas máquinas (JINKINGS, 2003).

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APÍTULO

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A preocupação básica deste estudo é analisar como o processo de modernização e inovação tecnológica e organizacional é percebido pelos trabalhadores e empresários em seu ambiente de trabalho, em especial da indústria têxtil sergipana. O capitulo irá procurar entender o foco das mudanças do operariado após o processo de reestruturação produtiva. A partir da análise dos dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego - RAIS - que é uma fonte de dados com grande potencial para estudos relativos ao mercado de trabalho, ver-se-á aqui um breve histórico da dinâmica da indústria têxtil no estado e do processo de reestruturação do setor em seguida faremos uma comparação de Sergipe com os demais estados brasileiros, analisaremos o perfil do trabalhador têxtil, para posteriormente, a partir de estudo de caso, compreender visão do trabalhador com as mudanças em seu ambiente de trabalho.