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Objectivos de Aprendizagem do Capítulo

No final deste capítulo o empresário deverá:

 Conhecer os conceitos de “Inovação” e “Criatividade”;

 Reconhecer a inovação como fonte de diferenciação entre as empresas e, consequentemente, como algo fundamental;

 Saber como promover a inovação na sua empresa;  Conhecer e implementar ferramentas de inovação.

Cenário

O nome 3M possivelmente não lhe dirá muito. Contudo, todas as pessoas conhecem os famosos Post-it, tradicionalmente amarelos, utilizados em todo o mundo para deixar recados, mensagens ou lembretes. A 3M, criadora dos Post-it, está actualmente classificada em número 104 entre as 500 maiores empresas mundiais. Possui 132 fábricas, mais de 67 000 trabalhadores e vendas em mais de 200 países, facturando anualmente mais de 20 biliões de dólares!

O que poucas pessoas sabem é que a criação do Post-it resulta de um engano. A cola original foi criada em 1968 por Spencer Silver, que procurava um adesivo muito forte, mas que só conseguiu algo com fraca capacidade para colar. Sem nenhuma utilidade aparente, a invenção foi guardada até 1974, quando um colega, Arthur Fry, procurou algo que lhe permitisse marcar o seu livro da Igreja, enquanto via outras páginas. Este trabalhador apresentou a sua ideia para um novo marcador de livros à sua chefia, que a recusou por ser inútil. Arthur Fry deixou-os com a sua secretária para os deitar fora, mas, em vez disso, ela deu-lhes o uso que actualmente conhecemos. Seguindo as instruções de Arthur Fry, a secretária distribuiu-os por todos os directores de topo da empresa. Quando eles começaram a pedir mais daquelas “folhinhas amarelas”, os pedidos foram encaminhados para a chefia, que começou a reparar no potencial da invenção. Em 1977 surgiram os primeiros protótipos e entre 1980 e 81, após uma forte campanha publicitária, os Post-it entraram no mercado com um estrondoso sucesso!

Dado os bons resultados obtidos com a inovação, actualmente 25% dos resultados da 3M vão para o desenvolvimento de novos produtos, o que representa um enorme investimento e demonstra a importância dada à inovação.

Estratégia

Inovação e Criatividade

Belmiro de Azevedo (2004) define inovação como “a transformação metódica do conhecimento em novos produtos, processos ou serviços”.

“Criatividade” não é o mesmo que “inovação”. A criatividade é o “processo por meio do qual as ideias são geradas” (Gramigna, 2004). A inovação é aplicação da criatividade em algo útil, relevante e diferenciador. Assim, no caso dos Post-it, a criação da cola revelou-se um processo criativo, mas a sua aplicação prática foi um caso de inovação.

Existem alguns mitos sobre a criatividade e inovação que podem limitar a postura do empresário, nomeadamente:

 É um dom de génios;

 As pessoas criativas não são pessoas sérias;

 Criatividade e desorganização caminham em conjunto;  Ser criativo e inovador é ser um pouco louco.

É importante eliminar esses mitos porque actualmente é reconhecido por todos os gurus da Gestão que a Inovação será cada vez mais o factor crítico de diferenciação entre empresas e que levará os clientes a escolher uma em detrimento da outra.

Se eu for dono de um cabeleireiro, por exemplo, como fazer com que os clientes escolham o meu estabelecimento e não o outro três quarteirões abaixo? Poderia tentar praticar preços mais baixos, mas rapidamente chegarei à conclusão que eu nunca serei o “mais barato”, porque haverá sempre alguém que, trabalhando em casa, por exemplo, cobra menos! Também posso investir em ter trabalhadores muito qualificados e dar aos clientes qualidade, mas isso também é facilmente imitado pelos meus concorrentes…

A diferença entre a sua empresa e as restantes consegue-se quando dá aos seus clientes algo que nenhuma outra dá. Numa palavra: Inovação!

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Porque é que pensa que os cabeleireiros, por exemplo, começaram a disponibilizar serviços complementares como manicura, pedicura e esteticista? Ou a vender produtos especializados para o cabelo? Tudo isso são tentativas de inovar, de dar algo aos clientes que os outros não fornecem.

Assim sendo, a inovação é a chave para, perante os clientes, sermos reconhecidos e vistos como únicos. Se quiser sobreviver no mundo das empresas tem de estar permanentemente alerta para desenvolver novas ideias, novos processos, novas tecnologias, novas pessoas, novos produtos e novos serviços. Nunca fique satisfeito com aquilo que fornece aos seus clientes, porque a concorrência está sempre à procura de algo diferente e inovador!

Princípios na Inovação

Segundo Gramigna (2004) existem cinco princípios básicos na inovação:

 Disposição Mental (nenhum empresário consegue ser criativo se não dedicar tempo e energia a tal. Se, diariamente, viver submergido em tarefas operacionais, dificilmente será capaz de “pensar diferente”. Para além disso, o empresário não pode ter medo de errar, sob pena de nunca tentar algo novo. Isso não significa que deve avançar com todas as ideias, sem qualquer estudo ou planeamento, mas sim que deve manter uma mente aberta e disposta à descoberta);

 Crença de que a inovação é o elemento chave para a diferenciação entre empresas (como visto anteriormente, a inovação permite às empresas serem diferentes e destacarem-se no mercado. Como tal, o desenvolvimento de novos produtos / serviços deve ser parte central da sua estratégia de negócios, não uma actividade complementar ou um mero “acidente”);

 Percepção da inovação como factor estratégico de visibilidade (a inovação bem gerida e bem aproveitada gera simpatia, adesão dos clientes e visibilidade no mercado);

 Patrocínio à inovação (na sua empresa devem existir estímulos à inovação, sob a forma de prémios, apoio moral, disponibilização de recursos necessários, partilha de lucros, elogios e agradecimentos, entre outros);

ideias dos trabalhadores, dar espaço para o erro e para o insucesso. Ele próprio deve dar o exemplo, ouvindo as pessoas, experimentando novas possibilidade e admitindo abertamente os erros, quando acontecerem).

Assim, na sua empresa, deve procurar:

 Definir uma estratégia de desenvolvimento de novos produtos e serviços (ou seja, o seu negócio também é criar algo novo);

 Estar permanentemente focado nos clientes (quanto mais próximo estiver do cliente mais conhecerá as suas necessidades e mais facilmente poderá criar algo direccionado para elas);

 Realizar pesquisas sobre as necessidades e expectativas do mercado (ouvir o cliente, fazer inquéritos, questionar os empregados, visitar e frequentar feiras e exposições e saber o que noutros mercados se está a fazer, são opções possíveis para o empresário);  Trabalhar com trabalhadores responsáveis, dedicados e envolvidos com o negócio

(não deixe que a responsabilidade de inovar seja exclusivamente sua. Lembre-se dos post-it: quem inovou foi um empregado sem qualquer cargo de direcção! Crie uma equipa coesa, com pessoas preocupadas com o negócio e alerta para novas ideias);

 Estimular as pessoas com incentivos e reforços (há alguns anos, numa empresa de dentífricos, um trabalhador sugeriu alargar em alguns milímetros o diâmetro do bocal dos tubos da pasta de dentes. Como recompensa, a empresa decidiu oferecer uma pequena parte dos lucros obtidos com essa sugestão. O trabalhador em causa recebeu milhões de dólares pela sua boa ideia, porque as pessoas começaram a gastar mais pasta e, consequentemente, a comprar mais! Nesta empresa, imagina o estímulo que existe para “pensar diferente”?);

 Definir mecanismos de avaliação de resultados da inovação (uma inovação só é considerada válida se trouxer resultados positivos. Existem muitas boas ideias que não se traduzem em inovação! Para conhecer até que ponto uma inovação foi de facto benéfica,

O Empresário e a Liderança da Empresa 84 ela deve ser medida: aumentou o grau de satisfação dos clientes? Trouxe mais vendas e lucro? Aumentou a motivação dos trabalhadores? Como afectou isso a actividade da empresa? Todas estas questões devem ser medidas e avaliadas, para conhecer até que ponto valeu ou não a pena, investir naquela ideia.

Ferramentas para Estimular a Criatividade

Para estimular a criatividade pode utilizar várias ferramentas, das quais destacaremos:  Turbilhão de ideias;

 Mapeamento mental;  Relaxamento criativo.

Todas estas ferramentas servem para criar na sua empresa uma cultura de inovação e experimentação, essencial à sobrevivência do negócio!

Analisemos em detalhe cada uma das ferramentas.

Turbilhão de Ideias

Imagine a seguinte situação: tem verificado através dos indicadores e do seu contacto diário que no seu restaurante o número de clientes tem diminuído. Indagou alguns clientes mais fiéis, foi visitar a concorrência mais próxima, falou com os seus trabalhadores para perceber as reclamações mais frequentes e percebeu que os dois principais problemas do seu restaurante são as ementas pouco variadas e o espaço barulhento e pouco acolhedor. Decidiu juntar a equipa para recolher ideias e ajudá-lo a chegar a uma solução.

O Turbilhão de Ideias permite, ao juntar a equipa, elaborar um grande número de ideias, que serão posteriormente analisadas. Fomenta a participação dos trabalhadores e envolve-os no problema, estimulando-os e motivando-os. O objectivo principal é gerar ideias, sem qualquer crítica ou julgamento, dando total liberdade para a imaginação funcionar.

Se pretender utilizar o Turbilhão de Ideias, deverá:  Juntar a equipa;

 Clarificar qual a lógica que vai usar;

 Apresentar o problema a resolver de forma clara e directa. Preferencialmente registe-o por escrito, em grandes letras e exponha-o para todas as pessoas verem;

 Salientar que se pretende recolher o máximo de ideias para resolver o problema em mãos, sem as analisar ou criticar;

 Focar-se num problema de cada vez (na nossa situação, primeiro resolva a questão das ementas pouco variadas e depois avance para a melhoria do espaço);

 Escrever cada ideia num cartão ou post-it e colocá-las num local visível para todos;

 Não permitir críticas ou o rejeição de ideias;

 Dar um tempo limite e um número mínimo para a criação de ideias;

 Se a equipa for pouco participativa ou as pessoas não estiverem habituadas a processos desta natureza, propor uma ordem (da esquerda para a direita ou vice-versa, por exemplo);

 Após ter o número pretendido de ideias, tentar agrupá-las em categorias e analisar a aplicabilidade e grau de sucesso delas;

 Pode fazer mais uma ronda a solicitar ideias, para o caso de terem surgido algumas à última hora;

 No final deve ficar com duas ou três ideias que lhe pareçam mais prometedoras e que irá analisar com mais cuidado, tendo em conta factores como os custos, o tempo, a qualidade, o impacto no negócio e nos clientes ou outros factores relevantes;

 Agradecer às pessoas a sua participação;

 Quando tiver tomado uma decisão final, comunicá-la à equipa, justificando o porquê da escolha.

Com o Turbilhão de Ideias conseguirá abordagens que nunca considerou anteriormente, aumentando as probabilidades de sucesso na resolução de problemas.

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Mapeamento Mental

Encontra esta técnica em variados livros, normalmente sob o nome “mind map”. Utilize-a para organizar informação, planear algo ou memorizar algo.

Imagine a seguinte situação: a sua loja especializada em queijos e charcutaria tradicional vai realizar um evento de apresentação dos seus produtos. Para tal, pretende convidar vários potenciais clientes e fazer algo que deixe uma boa imagem da empresa e dos produtos, para que as pessoas regressem. Gostaria de fazer algo extraordinário e deixar uma forte marca, porque compreende que é também com eventos assim que construirá uma sólida imagem no mercado! Pode começar por realizar um Turbilhão de Ideias com a sua equipa para chegar a uma boa ideia sobre o que fazer e depois avançar com o Mapeamento Mental para planear e organizar o evento.

O mapa mental é um desenho, feito à mão, com aspecto semelhante a raízes de uma árvore, onde, a partir de um tema central, irradiam várias fases, ideias, necessidades, etc.

Imagine que decidiu que o evento consistirá numa prova de queijos e charcutaria, ao som de fado. Para minimizar custos e alargar o leque de interesse, propôs a sua ideia a um amigo que tem uma loja de vinhos e ele concordou em associar-se ao evento. Neste momento precisa de preparar a situação, garantindo que nada falta.

Com o mapa mental consegue resumir toda a informação necessária, de forma sintética e facilmente perceptível. Na página seguinte encontra um exemplo de um possível mapa para a situação apresentada. Repare que é desenhado na horizontal, não se utilizam frases, mas apenas palavras-chave ou imagens e que deverá ser o mais colorido possível (estimula o cérebro). Poderá utilizar esta técnica para preparar palestras ou discursos, planear projectos, elaborar a agenda do dia, resumir informação de um livro e definir a implementação de uma solução ou mudança na sua empresa. Precisa de alguma prática, mas com o tempo verá que a estruturação fornecida por esta técnica e a facilidade de memorização da informação compensam largamente o trabalho tido.

Relaxamento Criativo

É difícil ser criativo quando estamos permanentemente a correr, a resolver problemas, a tratar de assuntos operacionais da empresa… ter o corpo e mente relaxados é fundamental para gerar ideias e ser inovador!

O Relaxamento Criativo consiste em, através de várias técnicas possíveis, eliminar a tensão física e psicológica, recuperando a calma e o equilíbrio. Pode ser apenas uma pausa para café, o almoço (onde não se fale de trabalho), exercícios para aliviar a tensão na coluna, passeios pedestres, ouvir música…

Pode realizá-lo em equipa, convidando-os, por exemplo, para uma cerveja no final do trabalho ou um almoço ao ar livre no fim-de-semana. Essas situações, onde as pessoas estão relaxadas e de mente aberta, são ideais para trocar ideias, resolver problemas, analisar situações ou simplesmente descansar.

Sem um corpo e mente relaxados, não se consegue ser criativo!

Acima de tudo, a sua empresa deve estar permanentemente aberta à inovação, à mudança, ao fazer algo diferente. Peça ideias aos trabalhadores, procure novas formas de trabalhar, conheça a concorrência nacional e internacional. Quando ocorrerem erros ou uma ideia se revelar má, não puna o criador. Agradeça-lhe, analise a situação para perceber onde erraram e evite cometer erros semelhantes no futuro. Não se esqueça de dar o exemplo: seja criativo, pergunte-se se não existirão maneiras mais fáceis, rápidas ou baratas de realizar determinada tarefa, invente… da qualidade da inovação depende a sobrevivência da sua empresa.

Recomendações para a Acção

Disposição Mental

Percepção da Inovação como Factor Estratégico

Crença na importância da Inovação

Patrocínio à Inovação Acções de Apoio

INOVAÇÃO

 Inclua nas suas funções a Inovação

 Fale continuamente com clientes, trabalhadores e fornecedores  Reserve tempo para ser criativo

 Esteja atento à concorrência  Procure no estrangeiro o que está

a ser feito

 Visite feiras, leia livros e revistas especializadas

 Defina como parte da estratégia o desenvolvimento de novos produtos

 Realize pesquisas sobre as necessidades e expectativas do mercado

 Crie prémios e recompensas pelas boas ideias

 Agradeça e elogie as sugestões  Disponibilize os recursos

necessários

 Partilhe os lucros obtidos

 Peça ideias e ouça as dos outros  Avalie o impacto das inovações

introduzidas

 Se não funcionar, não recrimine e analise o porquê daqueles

Solução para o Cenário

No caso dos Post-it temos um processo criativo que se revelou uma grande inovação.

Revendo os princípios básicos da inovação, aplicados ao caso analisado, tem-se:

 Disposição mental: porque razão o inventor da cola não a deitou fora? Porque possivelmente a sua ideia foi: “não é útil agora, mas poderá vir a ser”. Porque razão Arthur Fry foi tão insistente para avançar com a sua ideia? Porque possivelmente sentia a necessidade e a inclinação para encontrar formas de se diferenciar dos concorrentes;  Crença na importância da inovação: todos os envolvidos no sucesso dos Post-it

perseveraram na sua ideia e não desistiram perante as adversidades possivelmente porque acreditaram no potencial criativo e porque reconheceram a inovação como um factor fundamental para o sucesso da 3M;

 Inovação como Factor Estratégico de Visibilidade: actualmente o nome 3M é conhecido pelos Post-it, sendo sinónimo de qualidade, originalidade e utilidade. “Empurrados” pelo sucesso dos Post-it, a 3M criou uma série de outros produtos paralelos, também de sucesso;

 Patrocínio à Inovação: não sabemos qual a recompensa que Arthur Fry obteve por ter transformado uma boa ideia numa grande inovação. Acreditamos, porém, que o simples facto de conhecermos o seu nome já foi uma das formas de reconhecimento a que ele teve direito;

 Acções de Apoio: actualmente a cultura empresarial da 3M promove activamente a inovação, valorizando novas ideias e as suas aplicações práticas.

Olhando para o caso da 3M, concluímos que a inovação é possível e vantajosa, sempre que a cultura da empresa e a mentalidade dos trabalhadores e chefias estiverem para tal orientadas.

Exercícios para Resolver

Identifique formas de promover a inovação na sua empresa. Seja criativo e específico!

Olhe para a sua vida: recorde duas situações em que tenha introduzido com sucesso uma inovação. Descreva as situações e recorde como chegou até às ideias finais.

Olhe para o seu negócio: identifique uma inovação que poderá introduzir e que seja vantajosa para si, para os clientes e para os trabalhadores.

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