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4. Metodologia da Investigação

4.7. Técnicas e instrumentos de recolha e análise de dados

4.7.2. Inquérito por entrevista

O inquérito por entrevista é uma das técnicas de recolha de dados mais importantes numa investigação qualitativa, permitindo ao investigador “recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito” e “desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (Bogdan & Biklen, 1994, p.134). De acordo com Bogdan e Biklen (1994), a entrevista “consiste numa conversa intencional entre duas pessoas com o objectivo de obter informações” (p.134) e, por isso, possibilita a “recolha de dados de opinião que permitem não só fornecer pistas para a caracterização do processo em estudo, como também conhecer, sob alguns aspectos, os intervenientes do processo” (Estrela, 1994, p.342).

Máximo-Esteves (2008), refere dois tipos de entrevista, a entrevista informal próxima dos diálogos do quotidiano, distinguindo-se pela sua intencionalidade e por ter como objetivo complementar os dados obtidos através da observação e, ainda, a entrevista formal caraterizada por ser algo mais estruturado podendo ser utilizada como único elemento de recolha de dados, dado não visar complementar os dados já obtidos anteriormente. Também Bogdan e Biklen (1994) defendem que as entrevistas qualitativas variam quanto ao grau de estruturação, podendo ser estruturadas, semiestruturadas e não estruturadas. Por outro lado, Colás e Buendía (1992, citados por Aires, 2015) enunciam a existência de diferentes entrevistas, apresentando três características diferenciadoras:

a) as entrevistas desenvolvidas entre duas pessoas ou com um grupo de pessoas; b) as entrevistas que abarcam um amplo espectro de temas (ex.: biográficas) ou as que incidem sobre um só tema (monotemáticas) (Ruiz Olabuenaga, 1996:168) e c) as entrevistas que se diferenciam consoante o maior ou menor grau de pré- determinação ou de estruturação das questões abordadas - entrevista em profundidade ou não- directiva, entrevista focada e entrevista estruturada ou estandardizada (Colás, 1992b) (p.28).

69 Assim, para uma maior segurança da investigadora no sentido de assegurar a recolha dos dados necessários, optaram-se por entrevistas focalizadas, na linguagem de Colás e Bundía (1992) ou semiestruturadas de acordo Bogdan e Biklen (1994). Deste modo, foram efetuadas três entrevistas semiestruturadas à educadora cooperante (Cf. Apêndices V, W e X) e quatro entrevistas semiestruturadas aos participantes (Cf. Apêndices R, S, T e U). A primeira entrevista à educadora aconteceu no ano letivo 2016/2017, antes de se iniciar o projeto “Vamos dinamizar a área da matemática” e a segunda e a terceira entrevista decorreram após a conclusão do projeto com a história A Casa da Mosca Fosca no ano letivo 2016/2017 e com a história O Nabo Gigante no ano letivo 2017/2018.

Para cada entrevista foi escrito um guião, constituído por blocos, objetivos e dez questões gerais passíveis de serem alteradas durante a conversação, podendo-se incluir novas questões, eliminar ou alterar a sua ordem, o que vai ao encontro do que referem Bogdan e Biklen (1994), nomeadamente que “as entrevistas, devem evitar perguntas que possam ser respondidas “sim” e “não”, uma vez que os pormenores e detalhes são revelados a partir de perguntas que exigem exploração” (p.136). Na elaboração das questões do guião formularam-se questões que não suscitassem dúvidas ou constrangimentos e intimamente relacionadas à problemática da investigação. As entrevistas foram audiogravadas, tendo existido o cuidado de pedir autorização a cada entrevistado para a realização e gravação da mesma, assegurando- se a confidencialidade dos dados. Após a realização das entrevistas, a investigadora ouviu e transcreveu o que foi dito para posteriormente realizar a sua análise. Para a análise dos dados recolhidos, emergiram diversas subcategorias, inseridas nas categorias presentes no guião da entrevista.

A primeira entrevista realizada à educadora teve como principal objetivo conhecer as suas conceções e as do grupo de crianças da sua sala de atividades relativamente ao domínio da matemática, bem como as motivações subjacentes à implementação da área da matemática na sala de atividades. Com a segunda e terceira entrevistas pretendeu-se avaliar conjuntamente o projeto promovido pela estagiária, identificando as conceções da educadora face ao modelo pedagógico privilegiado (Trabalho de Projeto), à articulação entre a literatura para a infância e a matemática, ao projeto “Vamos dinamizar a área da matemática” e à área da matemática da sala de atividades. Nas entrevistas aos participantes foram utilizados outros procedimentos, pois de acordo com Graue e Walsh (2003) e Máximo-Esteves (2008) as entrevistas com as crianças assumem um conjunto de particularidades. Por exemplo, o ato de entrevistar crianças

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não prossupõe “um acto formal em que dois interlocutores estão sentados frente a frente” (Máximo-Esteves, 2008, p.100). Para Graue e Walsh (2003), o principal propósito das entrevistas às crianças é fazê-las falar do que sabem, uma vez que “sabem mais do que elas próprias sabem que sabem” (p.139).

A negociação é fundamental do ponto de vista de Graue e Walsh (2003), considerando- a, inclusivamente, como o primeiro passo numa entrevista com crianças. Os mesmos autores sugerem indicações específicas sobre como entrevistar crianças: entrevistas aos pares ou em pequenos grupos, potenciando uma maior descontração e, ainda, uma veracidade e diversidade das afirmações; presença de adereços ou objetos de apoio, uma vez que a “atenção das crianças pode ser mantida mais facilmente quando têm algo concreto em que se concentrar” (p.141); formular perguntas hipotéticas que permitam transformar a entrevista numa situação de faz-de-conta; formular perguntas na terceira pessoa; utilizar as conversas (formato conversacional) como entrevista; e atender ao momento mais oportuno.

Assim, as primeiras entrevistas às crianças, realizadas em ambos os anos letivos, decorreram com o grande grupo, dado o reduzido contacto entre o investigador e os participantes, no início do projeto. A este respeito, Máximo-Esteves (2008) alerta para “a possibilidade de a criança não ter muita experiência de comunicação com adultos que mal conheça, ou ser familiarmente orientada para atitudes de reserva perante estranhos que a interpelem” (p.101). No entanto, as entrevistas finais aconteceram em pequeno grupo, ou seja, apenas com os quatro participantes. O guião das duas entrevistas apresentou questões formuladas na terceira pessoa, assentando numa dimensão cognitiva e afetiva e privilegiando-se a discussão entre as crianças. As primeiras entrevistas, compostas por cinco questões, aconteceram num momento de reunião do tapete e as entrevistas finais, com oito questões, decorreram em vários momentos, tais como de manhã antes da entrada para a sala de atividades ou enquanto as outras crianças realizavam as rotinas (reforço da manhã ou higiene), pois as entrevistas às crianças devem ser céleres e não exaustivas, dado o menor tempo de concentração das crianças, assim como para tentar assegurar uma maior espontaneidade nas respostas obtidas. Nestas segundas entrevistas, os participantes estiveram perto da área da matemática, podendo recorrer aos jogos da área sempre que pretendessem para exemplificar o que queriam dizer.

Por fim, apesar de as entrevistas, inicial e final, realizadas à educadora, terem questões diferentes, emergiram categorias e subcategorias idênticas em ambas, possibilitando a

71 sua análise comparativa. Por outro lado, as entrevistas aos participantes tiveram cinco questões comuns, ainda que na entrevista final emergissem três novas questões.

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