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3 A RESERVA ECOLÓGICA DE GURJAÚ COMO OBJETO DE ESTUDO

3.1 A INSERÇÃO DA RESERVA ECOLÓGICA DE GURJAÚ NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

Na tentativa de salvaguardar alguns testemunhos remanescentes da Mata Atlântica na Zona Metropolitana do Recife e, através deles, garantir potencial e qualitativamente o manancial que abastece a Região Metropolitana, além de proteger o relevo e o solo, e de assegurar uma qualidade ambiental urbana, foram definidas, pela Lei nº 9.989, de 13 de janeiro de 1987, as Reservas Ecológicas da Região Metropolitana do Recife (FIDEM, 1987).

A Reserva Ecológica de Gurjaú encontra -se, assim, inserida na porção sul da Região Metropolitana do Recife, precisamente na divisa dos municípios de Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Moreno. Situa-se a noroeste da Usina Bom Jesus, no município de Cabo de Santo Agostinho, entre os engenhos Salvador, São Brás, São João Rochas Velhas, apresentando a seguinte distribuição de suas terras: 744,47 ha no município do Cabo de Santo Agostinho, 175,19 ha em Jaboatão dos Guararapes e 157,44 ha em Moreno, totalizando 1.077,10 ha.

Quadro 3 - Distribuição da área da Reserva Ecológica de Gurjaú nos municípios

integrantes (1987)

DENOMINAÇÃO MUNICÍPIO TOTAL DA RESERVA ha

(1987)

Sistema Gurjaú Cabo

Moreno Jaboatão 744,47 175,19 157,44 Fonte: FIDEM, 1993

Fonte: PERNAMBUCO, 2000a

Figura 2 - Localização da Reserva Ecológica de Gurjaú na Região Metropolitana

do Recife

Com uma área de 2.766 km², a Região Metropolitana do Recife representa cerca de 2,2% da área do Estado e constitui um território de elevado dinamismo econômico, social e cultural. Com efeito, a importância da RMR, que congrega 14 municípios, diante das demais regiões do Estado torna-se evidente quando se constata que, embora representando somente 2,2% do território pernambucano, concentra cerca de 40% da população do Estado, sendo que somente a sede, Recife, concentra 18% da população do Estado e 43% da RMR (PNUD/PCR, 2000). Apresentava uma população de 3.087.847 habitantes, em 1996, com previsão de alcançar, no ano 2010, cerca de 3.630.000 habitantes (FIDEM, 1998), como pode ser observado na tabela 1.

Tabela 1 – População da Região Metropolitana do Recife em relação ao Estado de Pernambuco: 1980,1991 e 1996 1980 Pop.(1000 hab) % 1991 Pop.(1000 hab) % 1996 Pop.(1000 hab) % RMR 2347,10 38,21 2919,98 41,00 3087,91 41,73 RECIFE 1203,90 19,60 1297,00 18,21 1346,04 18,19 PERNAMBUCO 6141,99 100,00 7122,55 100,00 7399,07 100,00 Fonte: PNUD/PCR (2000)

Esta concentração da população na RMR representa uma forte pressão aos poucos remanescentes dos recursos ambientais desta área. Através de uma dinâmica histórica de planejamento, fundamentada na intensidade do uso do solo, a RMR configura uma região que reflete a não-sustentabilidade do seu processo de ocupação espacial, caracterizando, assim, a elevada degradação ambiental da região.

As áreas metropolitanas, nos seus centros urbanos, representam um ambiente mais deteriorado do que as pequenas cidades com menos de 20.000 habitantes. São nas grandes cidades que se verificam os maiores impactos ambientais e é sobre o ambiente metropolitano que recairão os maiores danos à natureza transformada (PAVIANI, 1999?).

Segundo estudos da FIDEM (1998, p. 35), para elaboração do Plano Diretor da Região Metropolitana do Recife, no que se refere à conservação de seus recursos paisagísticos, a RMR apresenta:

[...] um quadro nada positivo. A expansão desordenada da cidade, a ocupação desordenada do solo, as atividades econômicas e o lazer depredador, são os que mais estão comprometendo seriamente os recursos naturais da RMR. A cobertura vegetal, a fauna, os cursos d’água, além dos elementos construídos pelo homem, constituem um bem único, não- renovável, de cuja conservação depende o futuro da Região.

O mesmo estudo refere -se à proteção dos recursos paisagísticos e naturais através de um processo de dinamização, pois os esforços empreendidos no final dos anos 70 e início dos 80, no sentido de institucionalizar, normatizar e proteger estas áreas de interesse ambiental não foram suficientes, sendo necessário prover um uso que dinamize estas áreas, em termos econômicos e de forma sustentável. O estudo considera as áreas como territórios de oportunidade, classificadas de acordo com suas tendências e vocações, estando a região da Reserva Ecológica de Gurjaú voltada para o turismo ecológico e rural, por possuir uma grande riqueza, em termos de acervo ambiental, cultural e histórico.

Em conjunto, os municípios que integram a Reserva Ecológica de Gurjaú abrigam 710.692 habitantes (Tabela 2). Jaboatão dos Guararapes congrega 74,57% do total da população deste conjunto de municípios, seguido pelo município do Cabo de Santo Agostinho.

Tabela 2 - População total dos municípios integrantes da Reserva Ecológica de

Gurjaú

ÁREA POPULAÇÃO TOTAL

MUNICÍPIOS (KM2)

Absoluta % Densidade

Cabo de Santo Agostinho

Jaboatão dos Guararapes

Moreno TOTAL 445 140.764 19,89 326 259 529.966 74,57 2.046 193 39.962 5,63 207 907 710.692 100,00 783 Fonte: Censo Demográfico do IBGE - 2000.

O território do município do Cabo responde por cerca de 69% da área da Reserva Ecológica de Gurjaú, ocupa uma superfície de 445 km² na área da Reserva, tem uma extensão de 744,47 ha e uma população de 140.764 habitantes. É constituído por 4 distritos - Distrito -sede, Santo Agostinho, Ponte dos Carvalhos e Juçaral. A cidade do Cabo (Distrito-sede) constitui o núcleo urbano mais significativo. Implantada em um sítio de topografia acidentada, possui densidade populacional

bastante elevada, apresentando tipologia construtiva predominante de padrão médio baixo.

É na sede que se encontra o Distrito Industrial do Cabo, às margens do Rio Pirapama e da BR-101, onde se concentra o maior número de unidades industriais de grande porte, permitindo à cidade do Cabo ocupar a posição de terceiro município, em arrecadação de ICMS, na RMR.

Jaboatão dos Guararapes responde por uma área de apenas 15% da área da Reserva. Assim como o Cabo, Jaboatão dos Guararapes também se apresenta como um município polinucleado, possuindo três distritos: Jaboatão, Cavaleiro e Jaboatão dos Guararapes. O município é o segundo do Estado, tanto em população, 529.966 habitantes, quanto em arrecadação de ICMS. É extremamente expressiva, no distrito, a concentração de unidades industriais ao longo do corredor: Estrada da Batalha e BR-101.

O município de Moreno, também situado na RMR, ocupando uma área de 16% da área total da Reserva, contrasta com os outros dois municípios, pelo pouco dinamismo de sua economia. Sua base econômica encontra-se vinculada ao setor primário, que absorve o maior contingente de sua população economicamente ativa. Possui 39.962 habitantes e os serviços urbanos são precários.

Os municípios integrantes da área em estudo, e em particular suas sedes municipais, encontram-se articulados por um sistema viário, tendo a cidade do Recife como pólo de irradiação, constituído de uma grande via condutora, de caráter interestadual, a rodovia federal BR-101, de acesso interestadual norte / sul e sua variante. Esta variante encontra-se situada na bifurcação do complexo de viadutos que cruzam a BR-101 com a Estrada da Batalha, no município de Jaboatão dos Guararapes, na altura da Fábrica de Açúcar Sublime, seguindo o sentido norte-sul, à esquerda da BR-101, de quem segue para Pontezinha, terminando quando cruza novamente com a BR-101, logo após o SESI do Cabo de Santo Agostinho.

Este conjunto representa um eixo estruturador de grande importância na ocupação do espaço e na acessibilidade à área e atravessa os assentamentos de Ponte dos Carvalhos e Pontezinha e o Distrito-sede do Cabo. É através da BR-101 e de sua variante, pela estrada de terra que leva à Usina de Bom Jesus, o acesso principal à Reserva Ecológica de Gurjaú.

3.2 UM TESTEMUNHO DE MATA ATLÂNTICA NA REGIÃO METROPOLITANA DO