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A construção civil é um setor da economia que costuma apresentar uma demanda crescente de trabalho, às vezes se deparando com o problema da escassez de mão-de-obra masculina. Em contrapartida, a força de trabalho feminina vem ganhando campo nos mais diversos setores da economia, inclusive na construção civil, onde as mulheres se misturam com os homens com naturalidade para realizar as mesmas tarefas que eles e com a mesma competência.

As mulheres têm assumido tarefas na construção civil que até então eram exclusivamente masculinas, e elas têm surpreendido o empresariado ao se destacar pelo capricho detalhista no desempenho de suas atividades. Afora o fato de as mulheres exercerem as mesmas funções dos homens na construção civil, elas ainda se destacam especialmente na precisão com que realizam os acabamentos da obra e no capricho e na organização do local da obra. Outro ponto positivo em favor das mulheres no canteiro de obras é o fato de que as mulheres são naturalmente mais precavidas e menos ousadas, ou seja, elas se expõem menos

aos riscos do ambiente laboral e se protegem mais com o uso de equipamentos de segurança, assim evitando os acidentes de trabalho com melhores resultados que os homens.

É também fator de destaque da participação feminina na construção civil o fato de que elas também trazem maior economia para a obra, uma vez que elas desperdiçam menos que os homens. “O mercado notou, através de pesquisas, que as mulheres têm uma preocupação maior com o trabalho, realizando os serviços com mais cuidado e evitando o desperdício de material. Isso faz com que as obras sejam executadas com mais economia e qualidade”179, segundo o professor

Alexandre Urquiza do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). No Estado da Paraíba foi criado o projeto “Mulheres na Construção Civil” (MCC)180, no qual as mulheres recebem capacitação para a área da construção civil. Este é um projeto desenvolvido e realizado pelo IFPB, visando a promover a formação intelectual, técnica e cultural das trabalhadoras. O coordenador do projeto, professor Alexandre Urquiza, explicou sobre a relação custo- benefício e sobre a economia que pode ser gerada nas construções devido ao trabalho das mulheres, da seguinte forma:

A justificativa que alguns empresários apresentam é que para contratar mulheres seria necessário fazer um investimento maior na questão de estrutura no canteiro de obras. Um exemplo citado por eles é na questão dos banheiros, que precisam ser adaptados e separados para a divisão de acordo com o gênero do profissional. Porém, mostramos através dos cursos que o investimento feito pelos empresários é compensado no ganho que a obra tem com a maior qualidade e menor desperdício que estas profissionais trazem para o empreendimento181.

No Rio de Janeiro foi criado o projeto “Mão na Massa”182, que consiste numa proposta de qualificação profissional para as mulheres no setor da construção civil, voltado para mulheres de 18 a 45 anos, de baixa escolaridade e em situação de vulnerabilidade social. Este projeto passa a incrementar a oferta de mão-de-obra no setor e, principalmente transforma a vida dessas mulheres que até então eram excluídas socialmente e profissionalmente. O projeto oferece cursos gratuitos de pedreiras, carpinteiras, pintoras e eletricistas que, além do diploma, também recebem equipamento de proteção individual e um “kit” de ferramentas para começar a trabalhar e a ganhar uma renda.

No Amapá foi firmada uma parceria entre o governo do Estado (através da Secretaria de Trabalho e Empreendedorismo) e a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM (vinculada ao Ministério da Integração Nacional), para realização de um

179 Disponível em: <http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2014/11/mulheres-recebem-capacitacao-para-area-de-

construcao-civil-na-paraiba.html> Acesso em: 18/12/2014.

180 Ibid. 181 Ibid.

programa de capacitação chamado “Mulheres na Construção Civil”183, cuja finalidade é

qualificar profissionalmente as mulheres nas funções de azulejistas e pintoras de obras, bem como promover a inclusão social das mulheres no setor produtivo, combatendo a discriminação e a vulnerabilidade da população feminina de Macapá184.

No Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, a Secretaria das Políticas Públicas para as Mulheres, através do programa RS Mais Igual, promove periodicamente a oficina “Cimento e Batom”185, na qual as mulheres recebem orientação e qualificação na área de hidráulica. Este é

um programa voltado para mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade social e que são beneficiárias do Bolsa Família, possibilitando às participantes não só o contato com a área da construção civil, mas sim uma forma de ingressar no mercado de trabalho, num setor ainda dominado pelos homens186.

Ainda no Rio Grande do Sul, a Prefeitura de São Leopoldo187, através da Secretaria de Política das Mulheres, também oferece cursos gratuitos para mulheres no setor da construção civil, nas funções de pedreira; aplicadora de azulejos, cerâmicos e assemelhados; pintura de edificações; instaladora elétrica e instaladora hidráulica.

Em Caxias do Sul/RS, as mulheres também têm a chance de aprender a manusear cimento, tijolo e pincel, assim ajudando a incrementar a mão de obra voltada à construção civil, através de curso de qualificação gratuito que é oferecido pela Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social /Coordenadoria da Mulher. O “Curso de Construção Civil para Mulheres”188 está inserido no Programa Mulheres Construindo Autonomia na Construção

Civil da Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal, tem o objetivo de oferecer capacitação para geração de trabalho e renda, a fim de combater o desemprego e atender o conjunto de mulheres caxienses, em especial aquelas em maior situação de vulnerabilidade social ou situação de risco189. Os cursos são de assentamento de placas cerâmicas; construção em alvenaria e de instalações elétricas.

Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, extraídos através do Cadastro- Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) e da Relação Anual de Informações Sociais

183 Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/05/parceria-viabiliza-programa-de-qualificacao-

de-mulheres-na-construcao-civil> Acesso em: 18/12/2014.

184 Ibid.

185Disponível em: <http://www.estado.rs.gov.br/conteudo/197570/mulheres-recebem-formacao-na-area-da-

construcao-civil-em-porto-alegre/termosbusca> Acesso em: 18/12/2014.

186 Ibid.

187 Disponível em: <http://www.saoleopoldo.rs.gov.br/> Acesso em: 18/12/2014.

188 Disponível em: <http://www.pioneiro.clicrbs.com.br/rs/noticia/2010/08/curso-treina-mulheres-para-a-

construcao-civil-em-caxias-do-sul-3020568.html> Acesso em: 18/12/2014.

(RAIS 2011), a participação da mulher no mercado de trabalho tem sido crescente nos últimos anos, sendo que as mulheres têm passado a exercer atividades antes restritas aos homens, como na construção civil, onde a participação das mulheres aumentou em 65 % na última década190.

No setor da construção civil a participação da mulher evoluiu principalmente em atividades como construção de estações e redes de telecomunicações, onde a participação feminina passou de 12,96% em 2010 para 13,68% em 2011; perfuração e construção de poços de água, que passou de 11,75% para 12,31%; e ainda na montagem e instalação de sistemas e equipamentos de iluminação e sinalização em vias públicas, postos e aeroportos, onde a participação feminina passou de 14,14% em 2010 para 14,36% em 2011, segundo dados do MTE191.

Dessa forma, o aquecimento da economia, o crescimento das cidades e a expansão no setor da construção civil trouxe maior oportunidade de inclusão das mulheres no setor produtivo, numa área que tradicionalmente era composta apenas por trabalhadores do sexo masculino. São serventes, carpinteiras, pedreiras, azulejistas, pintoras, instaladoras elétricas e hidráulicas, ajudantes de obra, soldadoras, técnicas em segurança do trabalho, engenheiras e arquitetas que estão conquistando mais uma parcela do mercado de trabalho e rompendo com o preconceito de que determinadas profissões só podem ser exercidas por homens.

Enfim, a força de trabalho da mulher é o novo alicerce da construção civil moderna e representa para a própria mulher, uma forma de emancipação e de inclusão social e profissional na realidade brasileira.