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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2. Experimento II – Avaliação clínica e laboratorial de equinos com enfoque

4.2.4. Comparação entre as técnicas sorológicas

4.2.5.1. Inspeção

Setenta e nove (79) animais foram submetidos ao exame clínico. À inspeção observou-se 81,01% (n=64) dos animais com comportamento alerta, 16,50% (n=13) apáticos e 2,50% (n=2) agressivos. Analisando-os de acordo com os grupos não reativos e reativos nas técnicas sorológicas, não foi determinada diferença (p>0,05) na distribuição de frequência para o comportamento (Tab.15). Independente do resultado apresentado pela sorologia, 81,01% (64/79) dos animais estavam alertas e apenas 16,46% (13/79) apáticos.

Quanto ao ECC, 52 (65,82%) animais apresentavam índice igual ou superior a três e 27 (34,18%) estavam na faixa considerada abaixo do ideal com índice menor que três. Não houve diferença na distribuição entre os grupos dos resultados sorológicos (Tab.16).

Tabela15. Comparação do comportamento entre os animais não reativos e reativos, de acordo com a técnica sorológica, em investigação da soroprevalência equina para infecção por Leishmania sp.. Belo Horizonte, 2012. Amostras Comportamento Não reativo (n,%) RIFI (n,%) ELISA (n,%) RIFI +ELISA (n,%) Alerta 10 (66,67) 28 (84,85) 8 (88,90) 18 (81,80) Apático 3 (20,00) 5 (15,15) 1 (11,10) 4 (18,20) Agressivo 2 (13,33) 0 0 0 Total 15 (100) 33 (100) 9 (100) 22 (100) Teste do Qui-quadrado, p=0,153.

Tabela 16: Comparação do escore de condição corporal (ECC) entre os animais não reativos e reativos, de acordo com a técnica sorológica, em investigação da soroprevalência equina para infecção por Leishmania sp.. Belo Horizonte, 2012.

Amostras

ECC Não reativo RIFI ELISA RIFI + ELISA

< 3 4/27 (14,81%) 10/27 (37,04%) 5/27 (18,52%) 8/27 (29,63%) > 3 11/52 (21,15%) 24/52 (46,15%) 4/52 (7,70%) 13/52 (25,00%)

Teste do Qui-quadrado, p>0,05

Trinta e quatro animais (43,03%) apresentaram lesão ou alteração dermatológica como nódulo ou alopecia. Analisando-os dentro dos grupos sorológicos, não houve diferença (p>0,05) na resposta humoral entre animais com ou sem lesão, com as técnicas agrupadas ou separadamente (Tab.17 e18).

Quanto à localização, os membros foram mais acometidos com 38,24% (13/34), seguidos de distribuição difusa (20,59%), cabeça (17,65%), dorso (17,65%) e

cernelha (5,88%) (Fig.16; Fig.17). A distribuição é similar àquela encontrada no ser humano com LT e próxima das descritas pelos pesquisadores europeus em equinos com LV. A maior ocorrência de lesões, seja por L. braziliensis ou L. infantum, ocorre nos membros inferiores e superiores, cabeça, tronco, abdome e genitália (Aguilar et al., 1984; Nogueira e Sampaio, 2001; Passos et al., 2001; Marques et al., 2006; Brasil, 2010).

Tabela17: Comparação dos animais com ou sem lesão, de acordo com a reatividade, independente da técnica sorológica, em investigação da soroprevalência equina para infecção por Leishmania sp.. Belo Horizonte, 2012.

Lesão

Amostras Ausente Presente Total

Não reativas 9 (60,00) 6 (40,00) 15 (100,00)

Reativas 36 (56,25) 28 (43,75) 64 (100,00)

Teste do Qui-quadrado, p=0,792

Tabela 18: Comparação dos animais com ou sem lesão, de acordo com a reatividade e técnica sorológica, em investigação da soroprevalência equina para infecção por Leishmania sp. Belo Horizonte, 2012.

Técnica sorológica Lesão Total

Ausente Presente Não-reativas 9 (60,00) 6 (40,00) 15 (100,00) RIFI 18 (54,55) 15 (45,45) 33 (100,00) ELISA 6 (66,67) 3 (33,33) 9 (100,00) RIFI + ELISA 12 (54,55) 10 (45,45) 22 (100,00) Total 45 34 79 Teste Qui-quadrado, p=0,912

80

Müller et al. (2009), estudando cavalos da Alemanha e Suíça, detectaram 66,67% (6/9) de nódulos causados por L. infantum localizados na cabeça. A região genital, tanto em fêmeas quanto em machos, apresenta-se como um dos locais de predileção entre os casos relatados de equinos (Vexenat et al., 1986; Yoshida et al., 1988; Barbosa-Santos et al., 1994; Solano-Gallego et al., 2003).

Dentre os asininos (Equus asinus),

Bonfante-Garrido et al. (1981) determinaram 76,5% (13/17) de lesões na bolsa escrotal, sendo descrito também casos no pênis, cauda e orelha (Aguilar et al.,

1984). Morales et al. (2010) descrevem lesões típicas de LTA, comprovadas por imuno-histoquímica, no prepúcio, nos membros e nas regiões cervical, axilar e glútea.

A não detecção de lesões na região genital pode estar relacionada à falta de diagnóstico, pois na realização do exame físico, as circunstâncias poucas vezes permitiram a análise da genitália em fêmeas e a tornava impraticável nos machos. A propensão para o maior relato nessa região pode estar relacionada à maior facilidade de repasto sanguíneo dos flebotomíneos vetores em regiões glabras.

Figura 16: Lesão sugestiva de leishmaniose. Equino examinado na URPV Delta, na Regional Noroeste, apresentando lesão no chanfro, com formato arredondado, crostosa e com bordas elevadas. Belo Horizonte, 2012.

Figura 17: Distribuição da localização das lesões encontradas em 34 equinos de tração no município de Belo Horizonte, em investigação da soroprevalência equina para infecção por Leishmania sp.. Belo Horizonte, 2012.

Quando se analisou os animais com lesão, seis (17,65%) foram negativos em ambas as técnicas sorológicas e 28 (82,35%) foram positivos. Dez (29,41%) foram positivos em ambas as técnicas apresentando títulos na

RIFI de 1:40 (6/9), 1:80 (3/9) e 1:160 (1/9). Quinze (44,12%) foram positivos somente na RIFI e três (8,82%) somente no ELISA (Fig.18).

Figura 18: Distribuição das amostras reativas e não reativas, dos animais que apresentavam lesão ao exame clínico, em investigação da soroprevalência equina para infecção por Leishmania sp. de acordo com a técnica sorológica. Belo Horizonte, 2012 (n=34).

18%

6%

20% 18%

38%

Cabeça Cernelha Difuso Dorso Membros

RIFI

ELISA

10 (29,41)

6 (17,65)

15 (44,12)

3 (8,82)

82

Deve-se considerar a L. braziliensis como um possível agente etiológico de lesões cutâneas em equinos, pois 82,35% dos animais suspeitos apresentaram positividade em pelo menos uma técnica sorológica e 29,41% em ambas. Considerando o fato dos casos descritos no país serem, até o momento, exclusivos por esta espécie, sugere-se a inclusão de tal afecção como diagnóstico diferencial na rotina da Clínica Médica Equina de áreas endêmicas para LTA.

Apesar da alta reatividade nos animais com lesão, na análise dos animais sorologicamente positivos, 43,75% (28/64) apresentaram alteração dermatológica, embora estivesse ausente em 56,25% (36/64). Salienta-se, ainda, proporção de animais sorologicamente positivos em ambas as técnicas mas sem alteração dermatológica aparente (54,55%), corroborando com a hipótese dos equinos do município de Belo Horizonte estarem em contato com os agentes L. braziliensis e L.

infantum, apresentando a infecção, tanto

nas formas clínicas quanto oligossintomática, assintomática e/ou auto limitante, podendo representar um mantenedor do ciclo de ambos os parasitos na natureza.